Eu sempre odiei que
mandassem em mim!
Desde criança detestava
ouvir coisas como “Você tem que obedecer!”, “Vai fazer isso porque eu
mandei!” e outras frases do tipo que pais costumam dizer aos filhos. Às
vezes eu não obedecia só de raiva pela ordem, mesmo sabendo do risco de apanhar.
E muitas dessas vezes eu apanhava mesmo, por desobediência.
Quando era uma mocinha “espevitada”
(como as vizinhas fofoqueiras me denominavam), comecei a namorar um rapaz de
quem gostava muito. Eu estava apaixonada, fiquei apaixonada um bom tempo antes
de conseguir que ele me desse atenção a ponto de querer ser meu namorado, eu
estava feliz.
Então, em uma tarde de
domingo, fui à casa da irmã dele, onde a gente se encontrava, muito usando uma
saia. Quando a gente ficou sozinho ele me disse que não era para eu usar mais
aquela saia porque era muito curta. Eu perguntei, para conferir, se ele estava
mesmo mandando que eu não usasse a saia, ele confirmou que sim, ele me proibia
de usar saia curta como aquela.
Respirei fundo, disse
algo como “Ok” ou “Tá bom”, não me lembro bem, e fui para a sala da casa conversar
com o cunhado do meu namorado, depois voltei para minha casa.
À noite do mesmo dia
fui à casa do meu namorado usando um shortinho jeans bem curto que, segundo
minha mãe, mostrava metade da bunda e disse para o, a partir daí, meu ex-namorado:
“Eu não aceito nem que meu pai mande em mim, muito menos um cara qualquer, você
não é e nunca será meu dono!”.
Confesso que o
rompimento doeu, eu estava apaixonada! Mas achei que minha liberdade valia
mais.
Ao longo da vida vi
muitos casamentos desfeitos ou infelizes e frustrantes por um dos dois ser muito
“mandão”. A maioria das vezes os mandões são os homens, mas em alguns casos é a
mulher mesmo. Então, assim como não obedeço também não mando, nunca tento
controlar e não me deixo controlar, acho isso fundamental.
Não sei se esse é o “segredo”
de um casamento de sucesso, eu diria que isso não existe porque as pessoas são
diferentes e, consequentemente, os relacionamentos também. Mas eu não
suportaria um relacionamento em que um se comporte como proprietário do outro,
nem com meu filho me relacionei assim.
Daqui a nove dias eu e
meu neguinho comemoramos quarenta anos juntos. Ele nunca sequer tentou mandar
em mim. Nessas quatro décadas tivemos brigas sérias, daquelas que me levaram a
quase desistir do relacionamento antes de parar, olhar para ele e decidir que
ainda o amava , mas e que valei a pena continuar, mas nenhuma dessas brigas foi
por ele tentar mandar em mim ou por eu tentar mandar nele.
Mesmo no nosso cotidiano
mais rasteiro e simples, esse não mandar é regra: Meu marido não cozinha, se eu
resolvo não fazer comida, ele propõe pedir uma pizza, sair para comer alguma
coisa fora, nem que seja um lanche na padaria perto de casa ou faz um sanduiche.
Se acha que tem algo a ser feito na limpeza ou arrumação da casa, ele faz; se
precisa ou quer que eu faça alguma coisa, ele pede e depois agradece. E eu faço
a mesma coisa.
Certamente
eu não estaria prestes a completar quarenta anos de vida em comum com um homem
mandão, por mais tesudo que ele fosse.