Palavra atual bem adequada
Uns poucos conseguem viver de renda
Aplicando o dinheiro adquirido pela exploração
Ou explorando para ter o que aplicar
Enquanto a grande massa morre de fome
Ou de ser "efeito colateral"
Na violência
Gerada pela exploração
Era adolescente, por vezes gritava com um agudo sorriso: Cadelo meu chinelo? Cadela minha blusa vermelha? Cadela minha caneta nova?... O tempo passou, os cabelos são de neve e a pele de pergaminho. Às vezes grita sem som e sem saudades: Cadela minha vida?
A íntegra da refutação está aqui: Resposta
a “As Cinco Vias Refutadas”, de Divina de Jesus Scarpim e Daniel Caregnato | by
ALL | Jan, 2021 | Medium
E o texto original está aqui: As Cinco
Vias Refutadas (projetosintropia.netlify.app)
Não sei quanto a você, mas eu
nunca fui entusiasta dessa festa, sempre gostei do feriado, como sempre gostei
de todos os feriados, mas a festa mesmo nunca me atraiu. Quando jovem eu
brincava de ameaçar meu pai dizendo: "Periga de a gente se encontrar em
algum salão!". É que eu soube que meu pai (um "galinheiro",
típico da sociedade machista), costumava ir a bailes de salão. Ele ficava
bravo, dizia que eu não podia frequentar esses lugares, que se me pegasse eu
apanharia muito, e eu só ria. A chance na verdade era zero porque eu não
gostava de bailes de salão nem fora do carnaval. Fui uma vez, quando ainda era
menor de idade, com uma amiga, a um salão da moda da época. Entramos porque a
irmã dela trabalhava no bar que tinha lá dentro e ela quis me mostrar como era.
Forcei minha amiga a sair o mais rápido possível, mal acabei de tomar minha
Cuba-libre gratuita. Um tempo depois, depois que fiz 18 anos e já podia mostrar
a identidade, fui mais duas vezes (no auge das discotecas), uma com algumas
amigas e outra com o namorado, detestei as duas e não fui mais. Não gosto mesmo
de lugares barulhentos e não consigo ver nenhum sentido em ficar me
chacoalhando ao lado de uma multidão aglomerada em um lugar tão barulhento que
ninguém consegue nem ouvir música nem conversar.
Mas, quando morei no Rio de
Janeiro, eu e meu marido gostávamos de sair às ruas à tarde para acompanhar a
pé o pessoal que estava indo para a Rio Branco ver os blocos, às vezes
chegávamos até lá, pegávamos uma cerveja e ficávamos um pouco olhando um dos
desfiles e depois voltávamos passando pelo Largo do Machado onde a gente via as
crianças fantasiadas para o bloquinho infantil que sai de lá. O gostoso é ver
as fantasias criativas e a alegria das pessoas. Até ficamos uma vez no gramado
ouvindo um pouco do Sargento Pimenta. Também não gosto dos desfiles de escola
de samba. Vejo a arquibancada do sambódromo como uma possibilidade de tortura e
não de diversão e não tenho paciência para ficar horas na frente da televisão
vendo o "Desfile das Campeãs". Mas adoro ver gente feliz!
Mudando de assunto, vi o filme
Adú. É muito bom e muito triste. Um daqueles filmes que me provocam sentimento
oposto à caminhada das pessoas para ver os blocos no carnaval. É terrível
pensar que tudo aquilo é real, que tem muitas histórias como a do filme, e
muitas outras piores ainda. Ver aquele cenário de miséria dá uma total
desesperança na humanidade. Sempre que vejo filmes que retratam tragédias como
exploração, escravidão, miséria, penso que a humanidade nunca será mais do que
isso! E penso também que se existisse uma entidade criadora consciente
qualquer, ela seria uma coisa tão abominável que superaria minha capacidade de
imaginar o abominável só pelo fato de ter criado a vida como ela é. Para mim o
maior e mais terrível gesto do personagem deus da bíblia não foi destruir a
humanidade no dilúvio nem mandar Josué cometer genocídio. Foi dizer "Faça-se
a luz".
Faz um tempo que me encasqueto quando
leio ou ouço a frase "perdemos a capacidade da empatia". Será que
perdemos a capacidade da empatia mesmo? Olhando para a história da humanidade
minha tendência é dizer que não podemos perder o que nunca tivemos.
Empatia ao próximo (próximo
mesmo!) é característica antiga da raça humana e até de outros animais, mas
empatia como raça (pela raça) nós nunca tivemos. Uma pequena tribo encontra
outra pequena tribo e surge logo uma guerra. O que quero dizer é que somos
empáticos apenas em âmbito muito restrito, como família, como grupo, não como
raça. Dessa forma não somos empáticos nem nunca fomos, por isso não perdemos a
empatia, não a adquirimos nunca e talvez nunca o façamos. Algumas pessoas têm
esperança de que isso aconteça um dia, mesmo que seja depois de muito tempo,
quando elas já não estarão vivas, eu sou pessimista demais para acreditar que o
ser humano vai se tornar esse animal que "ama o próximo como a si mesmo"
até quando o "próximo" pertence a outro grupo distante ou
diferente. E há muitas maneiras de um grupo humano ser visto por outro grupo
humano como "distante" e como "diferente", e tantas mais
são inventadas de tempos em tempos.
Uso a palavra “raça” no sentido
de raça humana, o único sentido que cabe a essa palavra. Somos uma raça que se
dividiu em grupos e chama alguns grupos de raça em uma separação totalmente
inadequada. De qualquer forma, como raça, continuo dizendo, nunca fomos
empáticos, exceto com os que sentimos como próximos. Sempre tem um grupo que se
separa em "nós" e "eles" para se sentir superior,
escolhido, especial. Isso acontece desde sempre e, a meu ver, vai continuar
acontecendo para sempre até que a raça humana seja parte do passado da Terra.
Tomara que eu esteja errada, mas não acredito que, novamente como raça,
consigamos usar a palavra "nós" para nos referir a todos os seres
humanos do planeta atribuindo a todos os mesmos direitos básicos, de verdade e
não apenas como discurso vazio.
Enquanto existirem fronteiras,
enquanto existir patriotismo, enquanto existir a ideia de que “só o meu deus é
verdadeiro”, enquanto existir a ganância, enquanto existir o "farinha
pouca meu pirão primeiro", não deixaremos de ter as guerras, os países
ricos e os miseráveis, os povos que têm problema de saúde pelo excesso e os que
morrem pela falta, uma única dezena de pessoas detendo a maior porcentagem de
bens disponíveis e trabalhando para acumular mais, os governos que trabalham
para essa dezena e não para a maioria que, iludida, o colocou no cargo. E o que
torna o planeta habitável pela raça humana vai continuar sendo destruído
enquanto essa dezena usará a ciência e todos os avanços tecnológicos futuros (incluindo
os miseráveis que usam desde sempre e que continuarão usando) para dar um jeito
de cair fora do planeta deixando o restante pra trás. De novo e de novo digo:
Torço muito para estar errada, mas não vejo indícios disso. Quanto a odiar os
reaças, penso que eles têm que ser odiados mesmo! Desculpe mas é que só o ódio
aos reaças, a meu ver, tem alguma chance de fazer com que as coisas melhorem. A
tolerância ao intolerante não é uma opção benéfica para os alvos da
intolerância, nunca. Porém, com um restinho de otimismo que consigo reunir,
fico torcendo para que esse ódio não seja o ódio destrutivo que ergue patíbulos
e transforma os "salvadores" em novos algozes. Eu odeio os reaças,
mas não quero matá-los, quero tirar todos os poderes deles, quero que a menor
manifestação de intolerância seja imediatamente rechaçada e o intolerante seja
calado e só lhe seja permitido falar depois de aprender que ele não é superior
a ninguém. Assim como tem cursos para motoristas infratores, quero que tenha
cursos (mais eficientes) de tolerância para humanos infratores. Quero que a
educação seja usada como uma arma para fazer com que as novas pessoas não se
tornem reaças. Esse ódio, eu defendo como um ódio saudável, não acredito que a
raça humana seja capaz dele, mas torço muito para estar enganada e, como
indivíduo, é assim que eu odeio e vou continuar odiando.
Organizando fotos nas
pastas do computador encontrei (de novo) a foto mais antiga que tenho de mim
mesma. Sou uma menina séria, de olhos arregalados e posição claramente
arranjada, que está usando um calçado do tipo sandália, com meias, e um vestido
de babado na gola que tem uma lista clara no alto do peito e que não faço ideia
de que cor era.
Não lembro nada desse
dia! Não lembro desse lugar, não lembro dessas roupas, não lembro se as meias
eram brancas, rosa ou amarelas, se o que calço é um sapato aberto ou uma sandália,
se era preto ou marrom, não lembro de como era o fotógrafo nem dele me
colocando nessa pose. Não lembro da minha mãe nesse dia! E ela certamente estava
ali, naquela mesma sala, em um lugar à direita ou à esquerda que a fotografia
não registrou.
Principalmente não me
lembro daquela pessoa, daquela menina, daquela criança. Eu não a reconheço no
espelho. Há tantos anos não a reconheço no espelho que sequer me lembro de
algum dia ter reconhecido essa foto como sendo uma imagem de mim em duas
dimensões.
Olhando esse rosto
assustado e desconfortável de uma criança que provavelmente preferia estar
brincando e correndo com alguém em algum outro lugar, lembro que li e aprendi –
talvez quando já não a reconhecia como eu - que nenhuma das células que formam meu
corpo agora estava no corpo da menina da foto. E provavelmente nenhum dos
átomos que formam as substâncias e organelas das células que formam meu corpo
hoje.
Todas as células do
corpo daquela menina morreram! Todos os átomos que formavam aquelas células se
espalharam e foram formar outras coisas. Faz décadas que não moro onde essa
menina morava. Então, provavelmente, os átomos que a compunham não chegaram
perto o suficiente da velha que sou hoje para que qualquer um deles pudesse ser
- numa espécie de revisita - uma ínfima parte desse corpo que agora está na
frente de um computador digitando esse texto.
Olho a menina de novo.
Reparo bem nela. Seu rosto assustado e redondo, suas mãos gordinhas, seus
joelhos comuns, seu cabelo escuro com franja curta demais, seus braços magros...
Tento reconhecer algo, qualquer
detalhe dessa foto, e não consigo. Então eu me pergunto:
Essa menina sou eu?