Era adolescente, por vezes gritava com um agudo sorriso: Cadelo meu chinelo? Cadela minha blusa vermelha? Cadela minha caneta nova?...
O tempo passou, os cabelos são de neve e a pele de pergaminho. Às vezes grita sem som e sem saudades: Cadela minha vida?
Eu sou quase de mentira Meu sorriso não vem das alegrias mais profundas Meu olhar não é uma janela sem cortinas Há segredos Minha voz não tem o tom do meu pulsar
Eu sou quase de mentira Amo para sempre, mas não todo dia Nunca te esqueço Mas às vezes passo o dia muito ocupada Com outras coisas Sou boa, sou má, sou multifacetada E hora brilho, hora apago
Eu sou quase de mentira Quero muito, quero tudo Quero mais vida E hoje quero morrer A curiosidade me consome E nem quero saber por quê
Eu sou quase de mentira Digo fórmulas, repito falas, dou exemplos Sou convicta de coisas sobre as quais nada sei Durmo sobre minhas certezas E acordo perdida Sozinha numa casa cheia
Eu sou quase de mentira Leio muito, não tenho tempo de ver Olho, penso, nem tenho tempo de ler Ai como sou alegre! Tanta felicidade que choro E saio da festa antes do fim