Fico indignada com os
grupos evangélicos radicais e intolerantes que vejo pelos noticiários agredindo
pessoas, grupos e terreiros das religiões de matriz africana! Também fico
indignada quando vejo esses mesmos evangélicos atacarem imagens dos santos
católicos. Como o exemplo que vi recentemente em um vídeo: uma mulher quebrando
a pauladas enquanto berrava seu discurso intolerante uma estátua de santa que
ficava do lado de fora do muro de uma casa. Eu acharia o ato normal e nem um
pouco absurdo ou criticável, indigno de ser noticiado ou filmado, se aquela
estátua, aquele muro e aquela casa fossem da mulher, mas não era e por isso
fiquei indignada! Sou contra a intolerância e o preconceito. Sou contra todo
tipo de intolerância e de preconceito. E isso inclui, sem nenhum grau a menos,
a intolerância religiosa!
Dito isso, eu não
entendo por que as pessoas ficam tão furiosas comigo e me acusam de
intolerância religiosa e até mesmo de racismo quando digo que sou contra o
assassinato de animais por qualquer razão que não seja a necessidade alimentar.
Eu tento explicar que
isso se aplica igualmente ao peru de natal, aos peixes da sexta feira santa, aos
“esportes” de caça e pesca e até ao agronegócio, mas não adianta! As pessoas
continuam me vendo como uma intolerante e/ou uma racista digna de todo repúdio
ou, no mínimo, merecedora de uma aula sobre o significado desses sacrifícios e da
explicação de que o animal servirá de alimento depois. Mas o peru e o leitão de
natal não servem de alimento também? E o peixe da sexta feira santa não é
comprado para ser servido à mesa nesse dia?
Se me manifestar
contra a morte de perus pelo natal - como já vi muitos fazerem de várias formas
inclusive com belas e divertidas charges - vão dizer que o tema do meu post é
legal, terei muitos apoiadores e muitos comentários concordantes.
Se me manifestar contra
imagens de leitões inteiros, lembrando cadáveres de bebês recém nascidos, expostos
nas vitrines dos açougues nas vésperas do Natal ou com uma maçã na boca sobre
cama de farofa nas mesas da ceia, terei muitos apoiadores e muitos comentários
concordantes.
Se me manifestar
contra a morte de tantos peixes na sexta-feira santa também terei apoiadores e comentários
concordantes.
Se me manifestar
contra a morte de animais por caçadores que exibem suas armas como falos ou
contra a morte dos peixes por pessoas que consideram a pescaria como um
passatempo relaxante e divertido, terei muitos apoiadores e muitos comentários
concordantes. Certo que mais contra os caçadores do que contra os pescadores,
mas terei!
Se me manifestar
contra a morte de animais em grandes e desumanizados abatedouros do agronegócio
e contra a pesca em escala industrial pelos gigantescos navios que servem aos
grandes empresários, aí então terei muitos apoiadores entusiasmados e muitos
comentários concordantes. Provavelmente terei também comentários com explicações
sociais, filosóficas e biológicas sobre os prejuízos dessas práticas e
possivelmente até pode aparecer algum bozominion tentando defender o “mito” e
sendo rechaçado pelos meus aliados na indignação contra as indústrias da morte.
Agora, dizer que sou
contra o assassinato de QUALQUER animal por QUALQUER razão que não seja a
necessidade alimentar e ousar incluir nessa lista os sacrifícios praticados
pelas religiões de matriz africana, isso eu não posso fazer!
Como ouso dizer um
absurdo desses?
Sou imediatamente
vista como um ser abjeto movido pela intolerância religiosa e pelo racismo
estrutural ou como uma ignorante que ousa falar mal do que nem se deu ao
trabalho de tentar entender.
O que nunca consigo
explicar é que sou contra o assassinato de QUALQUER animal por QUALQUER razão
que não seja a necessidade alimentar e isso inclui os sacrifícios praticados
pelas religiões de matriz africana porque as religiões de matriz africana NÃO
SÃO exceção entre os que matam por uma razão diferente da necessidade
alimentar. Desculpem os sensíveis, mas isso é fato.
Será que, em lugar de
ficarem indignados comigo não seria hora de as pessoas que são adeptas dessas
religiões começarem a repensar esses sacrifícios?
Embora, infelizmente,
isso em geral aconteça com uma lentidão exasperante, o fato é que religiões
também mudam com o tempo. Por que a sua não pode mudar?