19 de agosto de 2023

O VAZIO DA MÁQUINA



(título roubado do livro de André Cancian, livro que não tem muito a ver com esse texto, mas que li e recomendo muito)

Acho que, por ter lido livros como Anna Karenina, Guerra e Paz e Em busca do tempo perdido e visto séries como The Bridgerton, mais de uma vez me peguei pensando no vazio das pessoas, no exibicionismo absurdo dos títulos de nobreza, na falsidade e futilidade das relações sociais que vi e li nessas obras e comparando com a realidade que a história nos mostra a respeito daquelas e de outras épocas antigas, ou nem tão antigas assim.
Épocas antigas são tantas vezes romantizadas em livros, filmes, séries, textos e comentários! Talvez com algumas dessas obras mais superficiais e menos críticas em mente do que com um mínimo de conhecimento histórico, muitas pessoas usam uma espécie de “saudosismo do imaginário” para tecer críticas a aspectos relacionados aos “dias de hoje”, e à “sociedade atual”.
Principalmente nas redes sociais, é visível que as pessoas que fazem tais críticas, e muitas que as leem, julgam válido o uso desse tipo de saudosismo falsificado como justificativa e comprovação da “verdade” e “profundidade” de suas críticas, que se tornariam muito pertinentes, corretas e graves.
Tais críticas em geral destacam que houve um crescimento terrivelmente anormal e danoso – e até o surgimento - de “relações danosas e erradas”, “juventude perdida” e outras “falhas” que chegaram até nós com o tempo, os avanços tecnológicos e, segundo muitas pessoas, os “retrocessos morais” que temos agora.
Pensando no que li (e em certa medida no que vi e vivi) a respeito “daqueles tempos saudosos”, acho muito difícil concordar com a imensa maioria das análises, levantamentos, críticas e repúdios aos “dias de hoje” que encontro por aí.
O que sempre vejo é uma mistura de memória seletiva que nem mesmo parece ser involuntária com o apagamento nada honesto de aspectos negativos, e até mesmo terríveis, dessa “saudosa” época ideal invocada.
O mais grave, para mim, é o cuidado com que tantas pessoas que viveram ou estudaram os “tempos antigos” que estão romantizando ignoram aspectos negativos e diferenças de todo tipo, fazendo uma seleção e um recorte para listar “maravilhas” inexistentes ou presentes apenas em alguma medida e em uma parte muito pequena de um grupo bastante restrito.
Um exemplo é a “infância livre e feliz” das crianças brancas do sexo masculino das famílias bem estruturadas das classes médias altas nas cidades dos países mais ricos ou “em desenvolvimento”; outro exemplo são as “possibilidades de ascensão social” existentes para os homens brancos das famílias bem estruturadas das classes médias altas com acesso à educação de qualidade nas cidades dos países mais ricos ou “em desenvolvimento”.
Chego a me sentir muito triste ao ver tanta gente propagando, e tanta gente acreditando e reproduzindo, essa mentira tão óbvia de que realmente existiu um tempo em que as pessoas eram felizes porque não havia celular, computador, televisão, feminismo, greve, luta por direitos, paradas LGBTQIA+, ECA... entre outros “vilões” da nossa “pobre” modernidade.

PROVA DE INEXISTÊNCIA



Eu acho que se pode provar a inexistência de deus.
Apenas, a meu ver, antes disso, temos que definir a inexistência de qual deus ou de que tipo de deus estamos provando, e qual é o real "peso" da prova que estamos apresentando.
Porque PROVAR mesmo, com total certeza e sem deixar nenhuma margem para dúvida, não podemos.
Não podemos provar nem mesmo nossa própria existência ou a existência de qualquer coisa que percebemos, ou da nossa própria percepção.
E quanto a "deus", essa palavra é plurissignificativa demais para que apenas o uso dela, sem especificar a que nos referimos quando a usamos. Isso deixaria "fora" do nosso discurso e análise, quase certamente, alguma outra (ou outras) definição existente ou possível da palavra "deus".

7 de agosto de 2023

ESCRITO BASEADO EM UM TEXTO CRÍTICO À JUVENTUDE ATUAL



AS TRISTES GERAÇÕES QUE SE ESTRESSAVAM E SE FRUSTRAVAM MAS NÃO SABIAM DISSO

Homens não lavavam suas cuecas, se casavam cedo para a mulher lavar enquanto se consumia sem direito a desejar nada além de ser "do lar". 
As pessoas não buscavam conhecimento porque ele geralmente estava além de suas posses. Também não buscavam espiritualidade, só a religião, porque era tudo que tinham.
Se encantavam com decorações natalinas, quando tinham acesso a isso, e com um ipê florido no meio da avenida ou na roça onde trabalhavam, se houvesse tempo para apreciar. 
A maioria das pessoas não reivindicavam direitos de expressão porque nem sabiam que podiam ter direitos. 
A maioria dos homens não tomavam nenhuma atitude a não ser, em muitos casos, descarregar suas frustrações e problemas espancando esposa e filhos.
Muitos consideravam obrigação seguir os passos dos pais, mesmo quando eles eram péssimos. Julgavam apenas os inferiores e não se atreviam a levantar os olhos para qualquer pessoa que estivesse um pouco acima na escala social.
Eram juízes duros e impiedosos para com os filhos, e principalmente as filhas! Condenavam as mulheres e as crianças a escolhas limitadas e obediência irrestrita. Repetiam muito a máxima de que "Criança não tem querer".
Não choravam pelo cachorro maltratado porque "homem não chora" e mulher "tem mais o que fazer", no tanque ou no fogão. 
Desejavam que o homem considerado inferior fosse esquartejado, escravizado ou morto em uma guerra insana "em nome da pátria".
As pessoas tinham uma compaixão duvidosa, porque ela excluía muita gente e sempre tinha em quem mandar.
Amorosidade dos homens era mínima, porque "mulher é inferior e criança mimada vira maricas, bandido ou puta".
Preciso disso! Tem que ser aquilo!” era coisa que criança que dissesse apanhava de cinta ou correia até quem batia cansar o braço. E haja insatisfação! Infelicidade. Descontentamento. Adoecimento. Depressão... tudo "engolido" e extravasado na violência. 
Algumas vezes, se a violência não bastava, restava o suicídio… de que não se falava porque "é pecado mortal", sem direito a enterro e com a certeza do inferno eterno.
Gerações estragadas. Conformadas. Presas em suas culpas e desculpas. Acomodadas em suas gaiolas de mentiras e tabus. 
Não postavam nada nas redes sociais porque não tinha computador, o único consolo era a confissão para o padre, que acreditavam ter o poder de banhá-los no mar curador; mas não tinha! 
Os jovens não limpavam o lixo na praia com os amigos porque tinham que trabalhar, mas arrumavam a própria cama, quando a tinham, porque se não fizessem apanhavam. 
Em casa, as crianças estampavam medo travestido de respeito, os meninos escondiam sofrimento porque não tinham o direito de chorar diante da dor… a dor de ter que crescer sem poder escolher outro caminho que não o traçado pelos pais… 
E ainda tinham que agradecer e "merecer"!”
Parem de idealizar um passado que nunca existiu!