28 de agosto de 2021

VÉUS E AFINS



Sempre que vejo textos tolerantes que falam dos fundamentos, das tradições, de costumes e vestimentas das religiões; explicando, por exemplo, que determinadas roupas e cabelos têm como objetivo fazer com que as pessoas “não sejam escravas do desejo sexual” ou que determinada prática “tem a higiene e a saúde como objetivo” na sua raiz tradicional; fico pensando "com meus botões" e me perguntando o quanto há de "CONSCIENTE" e de “VOLUNTÁRIO” na adesão de pessoas adultas aos costumes e tradições das religiões dos países, comunidades e famílias em que foram criadas. Principalmente no caso das mulheres que, praticamente no planeta inteiro, estão desde sempre inseridas no machismo estrutural.
Não tenho respostas, só perguntas e um desconforto que não me larga...
Até onde é voluntário o uso de roupas e cortes de cabelo (tanto para homens quanto para mulheres) "tradicionais" de determinada religião?
Sei que a moda ocidental, comercial, elitista, consumista e desvinculada de tradição religiosa também pode ser vista como um tipo de imposição... Sei que se pode perguntar até onde uma garota que copia as roupas que seu grupo usa é mais livre do que uma muçulmana que "precisa" usar um véu.
Será que eu vejo a primeira BEM menos aprisionada do que a segunda porque também sou uma mulher sem liberdade? Acho que não, mas achar basta?
Tudo que sei é que todas as "fantasias" religiosas, da burca à costeleta comprida dos judeus ortodoxos, passando pelo hábito das freiras e pela careca dos monges budistas, me causam estranheza e desconforto.
Nada do que se faz “tradicionalmente” para “agradar”, “louvar” ou “obedecer” a um deus me parece livre. 
Sei que, na prática, a mídia também se tornou um deus, mas desse deus eu – até certo ponto – ainda posso fugir sem que ele me prejudique até mesmo após a minha morte.

25 de agosto de 2021

CERTEZAS



Eu sou ateia!
Não tenho total certeza de absolutamente nada
Acho que ninguém tem
Mas dentro do que posso afirmar
Mesmo sem poder dizer que tenho certeza
Posso afirmar que existo e que sou ateia
Não tenho nenhuma fé
Não tenho nenhuma religiosidade
Ouço, penso e faço tantas perguntas
Para as quais não tenho resposta
Que às vezes tenho certeza
De que não existe pergunta
Que eu REALMENTE saiba responder
Mas eu sei
Até onde um animal insignificante feito eu
Pode saber alguma coisa
Que não existe deus nenhum
E que se existir qualquer tipo de "algo"
Responsável pela existência do universo
Se é que o universo existe
Esse "algo" NÃO será deus
Um exercício que faço vez em quando
É pensar uma ameba
Um vírus
Um protozoário
Uma minhoca
Um peixe-palhaço
Seres assim...
E me perguntar por que esses seres
Teriam outra vida ou vida eterna
Fica difícil imaginar que um ser unicelular
Tenha direito a um paraíso
Acho que ninguém nunca pensou
Em um deus Paramecium
Em um paraíso Formicidae
Aí eu "calo minha própria boca"
Dizendo para mim mesma
“Se não faz sentido que eles
Sejam dignos dessa distinção
Quem é você para achar que é?”
E eu me conformo com minha ignorância
E com minha finitude
Sem querer ou esperar mais

24 de agosto de 2021

A CRIAÇÃO DO MAL



Pensando sobre a questão do mal
Não há como não lembrar
A figura polêmica do diabo
Aquele ser que
De acordo com o cristianismo
Foi criado por deus como um anjo de luz
Rebelou-se contra um deus
Tão pouco onisciente
Que não sabia
No ato da criação do anjo
Que ele se rebelaria
O anjo de cujo potencial de maldade
O deus onisciente não sabia
Tentou lutar contra deus
Tomar o seu lugar “de direito”
Agora expulso do céu
Ele vive no inferno e na terra
Se revezando com outros anjos caídos
Na “difícil” tarefa de tentar o homem
Esse bicho que se dá tanta importância
A ponto de se julgar a única preocupação
De dois exércitos de super seres
Poderosos e imortais
Que lutam entre si desde a criação de Adão
E que travarão uma terrível batalha final
Unicamente com o objetivo
De conquistar como máximo prêmio
A alma desse maravilhoso ser
Que somos nós
Ironicamente tem gente que acredita
Que isso é tudo é fato
E mais ironicamente ainda
Essas pessoas se julgam humildes!

23 de agosto de 2021

PRINCIPAL MANDAMENTO



Cristão diz que Jesus simplificou tudo
Resumiu todas as ordens
Em um único mandamento
Amai ao próximo como a ti mesmo
Cristão costuma dizer
Que “próximo” é a humanidade
Porque somos todos irmãos
É o que muitos afirmam
Na prática não parece assim
Muitos cristãos se comportam
Como se “próximo
Fosse apenas os cristãos
E “irmão
Apenas aqueles cristãos
Que pertencem à sua igreja
E grande quantidade de cristãos
Pelo menos na prática
Exclui homossexuais
Umbandistas e ateus
Tanto da definição “próximo
Quanto da definição de “irmãos

22 de agosto de 2021

A "EVOLUÇÃO" HUMANA



Evoluímos a ponto de eliminar a escravidão
Em boa parte do mundo
Mas não evoluímos a ponto de não procurar
Não encontrar e não usar
Outros meios de explorar nossos iguais
Evoluímos a ponto de não termos mais
Nas grandes arenas
Os gladiadores se matando
Em honra de César
E para deleite do povo
Mas não evoluímos a ponto
De deixar de apreciar e de vibrar
Com o sangue os socos e os pontapés
Das lutas de boxe
Ou das lutas estilo combate
UFC e outras modalidades
Evoluímos a ponto de quase
Não sacrificarmos animais
Nos altares dos nossos deuses
Mas não evoluímos a ponto
De deixar de chamar assassinato
De esporte e de lazer prazeroso
Como fazemos com os termos “caça” e “pesca”
Evoluímos a ponto de criar a DUDH
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Mas não evoluímos a ponto de cumpri-la
Estamos BEM longe disso!
E não evoluímos principalmente
A ponto de acabar com as diversas
E cada vez mais variadas e sofisticadas
Espécies de guerra
Desde as guerras de gangues
E de torcidas organizadas
De times de futebol
Até as guerras químicas
As guerras econômicas
As guerras políticas
As guerras “santas”
E para terminar constatamos
Que cada uma dessas “evoluções”
Incompletas e frágeis
São também e desde sempre
Facilmente reversíveis