27 de janeiro de 2022

DISCORDANDO DO KARNAL



Leandro Karnal falando sobre “ateus” e a Divininha aqui comentando a fala:

Karnal: “É definitivo: não gosto do termo e ele nunca me descreveu. Como muitos sabem, a origem grega do termo indica uma ausência: “sem Deus”. Dizer que sou ateu (sem Deus) é tão esclarecedor quanto dizer que não sou chinês, não sou mulher, não sou cabeludo e não sou jovem. Existe um essencialismo que define a crença como a condição universal e absoluta e quem não a tem deve ser ateu. O problema é que a palavra ateu fala do crente, não seu oposto.“

Divina: Eu gostava muito do Karnal antes de ele ser famoso, não gosto mais... e não concordo com ele porque, na minha visão, ele usa esse discurso para não carregar o peso que a palavra “ateu” coloca sobre as costas de uma pessoa e que, no caso dele, prejudicaria demais sua ascensão como um guru de autoajuda chic, que foi o que ele se tornou, na minha opinião. Ele omite, a meu ver de propósito, que não tem uma multidão de pessoas, situações, políticas e relações sociais coagindo, constrangendo ou forçando a pessoa a ser chinês, mulher, cabeludo ou jovem (pelo menos não tanto) como acontece com o ser teísta. Não existe "achinês" porque ninguém diz que "Você precisa ter uma origem!", não existe "amulher" porque (quase) ninguém acha que quem não é mulher não é digna de confiança, não existe "acareca" porque ninguém diz que jamais votaria em alguém que não tem cabelo, e, embora tenhamos uma cultura quase criminosa do corpo e da aparência de juventude “sarada”, (quase) ninguém se atreve a dizer que uma pessoa vai pro inferno se morrer velha... E o Karnal faz de conta que ignora tudo isso. É o que eu acho.

24 de janeiro de 2022

BOAS IDEIAS



Estava vendo “de ouvido” enquanto fazia outra coisa
Um programa de televisão
Sobre empreendedorismo
(Ou ideias que deram certo no mundo dos negócios)
No caso destacado do trecho que ouvi
Como exemplo de sucesso absoluto:
A mulher entrevistada teve uma brilhante ideia
Ao abrir seu guarda-roupas
E ver muitas roupas que não usava mais
Que apenas ocupavam espaço
Ela falou sobre sua ideia com o marido
E o casal abriu a empresa de venda online
Começaram com as roupas e deu muito certo
Adicionaram outras pessoas e produtos à empresa
Que hoje é um sucesso incrível de mercado
Com faturamento milionário
(ou bilionário; sei lá, não ouvi direito)
E vem essa euzinha aqui
Pobre burra e ignorante
Vendo aquele grande exemplo
De uma ideia simples
Que se tornou um mega negócio
Concluí de mim pra mim
Com meus parcos e velhos botões
Que não seria capaz de criar tal empresa
Jamais poderia me tornar uma empresária
Como essa mulher se tornou
Sou incompetente demais pra isso
Quando vejo uma roupa que não uso
Ocupando espaço no meu guarda-roupas
Nem me ocorre a ideia de vender
Vou logo a algum lugar apropriado
E faço uma doação
O mesmo vale pra qualquer outra coisa
Que não uso mais e pode servir para alguém
Seja roupa
Livro
Móvel
Ou um shampoo que comprei errado
Não importa!
Parabéns às empreendedoras
E aos empreendedores de sucesso
Que estão felizes com suas ideias geniais
Mas eu fico mais tranquila
E me sinto bem mais humana sem elas

22 de janeiro de 2022

SENTIR GRATIDÃO



SEMPRE tenho a quem agradecer!
E só me sinto grata quando recebo algo de alguém
Coisas boas que não vêm de pessoas
São coincidências ou sorte
Não tem nada que agradecer por isso
Eu apenas comemoro
Fico contente
Mas nunca grata
E se um dia
Contrariando todas as evidências
Eu descobrir que uma coisa boa que me aconteceu
Foi ação de um ente superior
Não me sentirei grata
Me sentirei desconfortável
Porque eu saberia
Que houve uma injustiça
E como digo sempre:
Não sei apreciar a injustiça
Mesmo quando sou favorecida por ela
Taí a razão por que eu não gostaria
Nem respeitaria
O deus do cristianismo
Mesmo se ele existisse


8 de janeiro de 2022

JESUS



Veja o meu nome, o cara tá nele.
Desde muito pequena, minha mãe contava que tem Jesus no meu nome porque ele é meu padrinho de representação, e ela explicava o que é isso e falava dos poderes incríveis, da beleza, da bondade e do amor pelas crianças que Jesus era.
Eu, pequena e ignorante, acreditava nisso e me sentia feliz por ter no meu nome um ser tão maravilhoso assim.
MAS, aos 14 anos li a bíblia pela primeira vez, fiquei horrorizada com muitas coisas do VT e do deus terrível que tem lá, mas a minha maior tristeza foi descobrir que Jesus não era aquela maravilha de que minha mãe falava desde sempre.
Foi uma experiência marcante e o orgulho do meu nome se foi...
Hoje que sou ateia, gosto muito do meu nome porque acho super divertido ser uma contradição.
E dentre tantas coisas que não entendo, uma delas é o porquê de tanta gente, incluindo pessoas que não são religiosas, expressar tanta admiração e reverência por esse personagem.
Eu sei que tem muitas explicações, já ouvi e li diversas, mas continuo não entendendo.
É como aquela brincadeira de "Por que o avião voa?"

- Para quem não conhece, a piada é essa:
Uma pessoa pergunta por que o avião voa; outra pessoa explica detalhadamente todos os mecanismos, explica as correntes de ar, a sustentação, a engenharia envolvida. Enfim, todos os detalhes que, em tese, responderiam à pergunta. Depois de ouvir tudo com a máxima atenção, a pessoa que perguntou diz: “Tá bem, entendi tudo. Mas por que o avião voa?”.

5 de janeiro de 2022

GRAÇAS A DEUS



Eu vi o documentário “Onde eu moro”, na Netflix.

É triste como eu sabia que seria e, o tempo todo, a cada fala e depoimento, eu pensava "No Brasil é pior!".
Para dizer a verdade não sei se é pior ou não porque não tenho números, só imagino que seja porque imagino que tenha mais gente assim aqui do que lá, mas penso também que lá essas pessoas têm mais problemas quanto às temperaturas extremas do que suas irmãs de infortúnio têm aqui.
Enfim, não sei, apenas pensava nisso...
Lembro que quando morava em Copacabana via gente nessa situação o tempo todo, a Barata Ribeiro fica cheia de pessoas dormindo nas calçadas à noite; pelo menos no trecho em que morei.
Se precisava comprar alguma coisa no mercadinho do outro lado da rua ou na padaria na mesma calçada e já tinha anoitecido, inevitavelmente tinha que desviar de pessoas deitadas no chão.
Vi cenas marcantes que me tocaram muito e senti muito fundo a minha impotência e até meu medo quando pensava frases parecidas com o que acabei ouvindo também no documentário:
"Ninguém está livre disso" ou "Qualquer pessoa pode se tornar moradora de rua".
Eu chegava a pensar e meio que "escolher" os pontos do bairro onde dormiria se ou quando chegasse a minha vez.
Ficava muito triste e chocada principalmente por ver crianças, algumas delas com rostos e olhares adultos, deitadas e dormindo sobre pedaços de papelão.
Enfim, são muitos os sentimentos que nos atingem diante dessa realidade, e acho que os principais são a tristeza da impotência e a revolta contra o poder público representado por ricos e regido por milionários que PODERIAM fazer alguma coisa para que isso não existisse, mas não fazem e nunca farão.
Ver tantas pessoas morando na rua, tantas crianças, pequenas e nem tanto, dormindo sobre papelão, algumas vezes mal protegidas de chuva ou garoa, reforçou DEMAIS meu ateísmo.
Eu sempre pensava no quanto odiaria deus por aquilo, se ele existisse.
E chegava a sentir raiva das pessoas que, apesar de ver o que eu estava vendo, embotavam o raciocínio e anulavam qualquer empatia para continuar louvando e agradecendo a "bondade" de um deus que, elas sim, "sabiam" que existe.
O nível de egoísmo necessário para dizer um "Graças a deus!" depois de ver aquelas cenas que eu via era algo que me espantava e me chocava muito.
Na verdade, ainda me sinto assim e interpreto como confissão de egoísmo cada "graças a deus" que ouço ou leio, mesmo quando quem diz isso é minha mãe agradecendo a deus por essa sua filhinha que vos fala estar viva e bem.
O que penso é algo como:
Mãe, eu estou bem sim, mas não é "graças a deus"!