5 de janeiro de 2022

GRAÇAS A DEUS



Eu vi o documentário “Onde eu moro”, na Netflix.

É triste como eu sabia que seria e, o tempo todo, a cada fala e depoimento, eu pensava "No Brasil é pior!".
Para dizer a verdade não sei se é pior ou não porque não tenho números, só imagino que seja porque imagino que tenha mais gente assim aqui do que lá, mas penso também que lá essas pessoas têm mais problemas quanto às temperaturas extremas do que suas irmãs de infortúnio têm aqui.
Enfim, não sei, apenas pensava nisso...
Lembro que quando morava em Copacabana via gente nessa situação o tempo todo, a Barata Ribeiro fica cheia de pessoas dormindo nas calçadas à noite; pelo menos no trecho em que morei.
Se precisava comprar alguma coisa no mercadinho do outro lado da rua ou na padaria na mesma calçada e já tinha anoitecido, inevitavelmente tinha que desviar de pessoas deitadas no chão.
Vi cenas marcantes que me tocaram muito e senti muito fundo a minha impotência e até meu medo quando pensava frases parecidas com o que acabei ouvindo também no documentário:
"Ninguém está livre disso" ou "Qualquer pessoa pode se tornar moradora de rua".
Eu chegava a pensar e meio que "escolher" os pontos do bairro onde dormiria se ou quando chegasse a minha vez.
Ficava muito triste e chocada principalmente por ver crianças, algumas delas com rostos e olhares adultos, deitadas e dormindo sobre pedaços de papelão.
Enfim, são muitos os sentimentos que nos atingem diante dessa realidade, e acho que os principais são a tristeza da impotência e a revolta contra o poder público representado por ricos e regido por milionários que PODERIAM fazer alguma coisa para que isso não existisse, mas não fazem e nunca farão.
Ver tantas pessoas morando na rua, tantas crianças, pequenas e nem tanto, dormindo sobre papelão, algumas vezes mal protegidas de chuva ou garoa, reforçou DEMAIS meu ateísmo.
Eu sempre pensava no quanto odiaria deus por aquilo, se ele existisse.
E chegava a sentir raiva das pessoas que, apesar de ver o que eu estava vendo, embotavam o raciocínio e anulavam qualquer empatia para continuar louvando e agradecendo a "bondade" de um deus que, elas sim, "sabiam" que existe.
O nível de egoísmo necessário para dizer um "Graças a deus!" depois de ver aquelas cenas que eu via era algo que me espantava e me chocava muito.
Na verdade, ainda me sinto assim e interpreto como confissão de egoísmo cada "graças a deus" que ouço ou leio, mesmo quando quem diz isso é minha mãe agradecendo a deus por essa sua filhinha que vos fala estar viva e bem.
O que penso é algo como:
Mãe, eu estou bem sim, mas não é "graças a deus"!

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