31 de janeiro de 2020

TESTAMENTO VITAL (OU DIRETRIZES ANTECIPADAS)

Eu, Divina de Jesus Scarpim (Professora aposentada), diante de uma situação de doença grave em progressão e fora das possibilidades de reversão, apresento minhas diretrizes antecipadas de cuidados médicos.

Se chegar a padecer de alguma enfermidade manifestamente incurável, que me cause sofrimento ou me torne incapaz para uma vida racional e autônoma, faço constar, com base no princípio da dignidade da pessoa humana e da autonomia da vontade, que aceito a terminalidade de minha vida e repudio qualquer intervenção extraordinária ou inútil. Ou seja, qualquer ação médica pela qual os benefícios sejam nulos ou demasiadamente pequenos e não superem os potenciais malefícios.

As diretrizes incluem os seguintes cuidados: admito permanecer numa UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) somente se tiver alguma chance de sair em menos de dez ou quinze dias. Não aceito que me alimentem. Se não puder demonstrar vontade de comer, recuso qualquer procedimento de suporte à alimentação; não quero ser reanimada no caso de parada respiratória ou cardíaca em situação terminal.

Acrescento que logo após minha morte todos os meus órgãos aproveitáveis (se algum houver) devem ser doados. Meu corpo também deve ser doado para a faculdade de medicina que esteja mais próxima do local de minha morte para que seja usado como objeto de estudo da forma que puder ser útil.

Depois disso, se algo ainda houver, deverá ser cremado ou jogado fora conforme sejam os procedimentos normais da faculdade.

Não desejo, não quero e não permito que haja qualquer satisfação, cerimônia ou destino ritual de meus restos mortais, como velório, enterro, esquife, túmulo ou qualquer outro tipo de cerimônia fúnebre.

Como ateia que sou não quero nenhum tipo de cerimônia religiosa, nem antes nem depois da minha morte. Não quero extrema unção, missa de corpo presente, missa de sétimo dia ou qualquer outro tipo de cerimônia de qualquer religião.

                                                  Subscrevo: Divina de Jesus Scarpim

27 de janeiro de 2020

SÍMBOLOS DE SE ACHAR MELHOR DO QUE OS OUTROS



Estava vendo na televisão um trecho do filme Os dez mandamentos, de Cecil B. DeMille.
Há uma cena na qual o faraó está em seu trono e a mulher que namora o Charlton Heston e depois se casa com o Yul Brynner está em outro trono ao lado dele.
O faraó segura aqueles dois bastões “afrescalhados” cruzados que a gente já viu em muitas fotos e filmes de faraó e a moça segura com a mesma pompa uma enorme pena branca.
Eu comentei “Que coisa mais ridícula essa de ficar segurando esses trecos!”.
Meu marido, que é apaixonado por história, começou a me perguntar se eu sabia o significado e a importância daqueles “trecos” e já ia me dar uma aula que envolveria Alto Egito e Baixo Egito e que já ouvi antes.
Mas eu o interrompi explicando que não estava falando DESSE treco em especial e sim de todas as parafernálias do tipo.
Ele não quis concordar ou discordar de mim porque é apaixonado pelo filme e não queria perder a oportunidade de vê-lo pela centésima vez para me ouvir sendo chata.
Mas fiquei pensando em quanta parafernália o ser humano já criou e cria até hoje com a única utilidade de dizer “Eu sou superior a você”.
Pensei em cetros, brasões, bandeiras, flâmulas, monumentos, roupas, capas, chapéus e até gestos.
Lembra a fantasia que os papas e bispos usam?
Lembra os obeliscos?
Lembra do cetro, coroa e manto da rainha da Inglaterra?
A lista é grande e o objetivo de todos eles é dizer “Eu sou superior a você”.
Muitos desses trecos são fálicos, muitos são espalhafatosos e todos eles são ridículos, pelo menos em sua essência exibicionista e preconceituosa.
E sim, você pode discordar porque é só a minha opinião.


17 de janeiro de 2020

EU NÃO QUERO NINGUÉM!


Sou uma velha, tenho 60 anos, cabelos totalmente brancos, rugas, flacidez e tudo o mais que caracteriza uma pessoa desgastada pelo tempo e sem recauchutagem.

Entre essas características, tenho pelos sobre os lábios e alguns fios inconvenientes no queixo que normalmente as pessoas não veem porque eu costumo retirar.

Tive uma colega de trabalho há mais de vinte anos que disse uma vez que o bom de um casal ficar velho junto é que nenhum dos dois enxerga direito e daí não consegue ter a exata noção do quanto o outro está acabado.

Meio que confirmando isso, meu marido não enxerga muito bem de perto, então às vezes, se vou passar um ou dois dias sem sair de casa, acabo deixando os pelos do rosto crescerem um pouco mais do que o faria se fosse sair para algum lugar.

Pois bem, hoje saí para fazer algumas coisas que precisava e, assim que cheguei na rua, lembrei que tinha esquecido de fazer de conta que os pelos do meu rosto não existem antes de bater a porta do apartamento.

Daí, em lugar de voltar correndo envergonhada, comecei a pensar:

Perái! Eu não estou interessada em encontrar um namorado ou namorada, não estou a fim, e não quero, que alguém me aborde ou me olhe com interesse.

A única coisa que quero das pessoas com quem vou encontrar ou interagir é respeito e, eventualmente, amizade.

Ninguém precisa que uma velha tenha seus pelos depilados para respeitá-la e, se alguém quiser uma amiga, não vai ser um rosto que deixou de ser depilado que vai fazer alguma diferença.

Então phoda-se!

Dei um sorriso satisfeito e fui fazer o que precisava.

7 de janeiro de 2020

HÁ INOCÊNCIA NA CONIVÊNCIA?


Pessoas que votaram nessa quadrilha, pessoas que apoiam esses merdas que estão no poder podem fazer o discurso mais isentão, mais moralistinha ou mais "eu não sabia que ele era assim" que quiserem, mas vão ter que fazer muito mais do que isso para me convencer de que não são o reflexo e a cópia de toda a merda que apoiaram. Para mim, até prova em contrário, são todos mau caráter, trogloditas, fascistoides, falsos e mentirosos igualzinho o "mito" deles!

Agora que a violência contra minorias se tornou política de governo tudo ficou pior. Tem gente que continua apoiando essa merda de governo e tem gente que continua achando que "nem todo mundo que apoia o bozobosta tem culpa". Para mim tem sim!

Não é só pela desinformação que as pessoas apoiam a quadrilha, é pela semelhança de caráter mesmo. Infelizmente esse governo expôs o pior do ser humano e fez a gente descobrir que muita gente que parece boa não é.

Assim como as pessoas mais fanáticas e radicais muitas vezes são racionais em algumas coisas e não em outras, acho que pessoas que se comportam de forma decente em alguns aspectos e com algumas pessoas também são mau caráter e indecentes em outras circunstâncias e com outras pessoas.

Esses eleitores viram um cara dizer que "As minorias têm que se curvar às maiorias. Ou se calam ou desapareçam", “O erro da ditadura foi torturar e não matar”, "Meus filhos não se casariam com uma negra porque foram bem-educados" e outras aberrações do tipo e encararam como normal e aceitável. Esses eleitores decidiram que a pessoa que diz essas aberrações é uma boa opção para governar o país e votaram nele.

E apesar de todas as aberrações que ele e sua quadrilha falaram e fizeram depois de assumirem o poder, provando a todo momento que suas falas não eram "exageros ditos da boca para fora", eles AINDA continuam achando que está tudo bem, que “tem que deixar o homem trabalhar”. Decididamente isso só pode ser mau caratismo!

Continuar apoiando a quadrilha da familícia é não se importar nem um pouco com o outro, é aceitar que pessoas sejam mortas, é aceitar que devem existir "merecedores" e excluídos. Não consigo mais atribuir esse tipo de aceitação ou concordância à inocência, à ignorância ou a um pretenso erro de julgamento. Não consigo! Talvez seja uma falha minha e eu é que esteja errada, mas não consigo mais.

1 de janeiro de 2020

DEPOIS DE TER ACONTECIDO ANTES E POR TER VOLTADO A ACONTECER, PRECISEI DAR UMA RESPOSTA!

Meu livro ‘Deus não Existe’ já foi acusado de ser filosoficamente pobre mais de uma vez, e certamente voltará a ser. As poucas pessoas que o leram devem ter percebido (pelo menos assim espero) que, embora tenha colocado uma bibliografia no final, em nenhum momento me defini como uma filósofa, nem mesmo dei a entender que sou uma profunda conhecedora de ciência ou filosofia.

Recentemente me acusaram (de novo!) de não ter “capacidade intelectual” suficiente para escrever um livro sobre ateísmo porque não me aprofundei “adequadamente” no campo filosófico e nos autores que julgam fundamentais para que alguém tenha a audácia de sequer tentar falar sobre esse tema. “Se quiser militar em prol do ateísmo ou criticar a religião de forma bem embasada e não atacar espantalhos é preciso ter um bom conhecimento filosófico, caso contrário, que permaneça calado e guarde seu ateísmo frouxo para si”. É o que pensam e dizem.

Confesso que, com uma certa maldade, chego a procurar erros de português no texto desse tipo de comentário (e sempre encontro algum) para pensar com meus botões algo como “Se é assim, então você não deveria escrever um texto na língua portuguesa, afinal não se aprofundou o suficiente nela a ponto de usar o acento grave de forma correta”. Mas a maldade passa, afinal, não é assim que EU penso de verdade.

Vi gente do tipo que me manda calar a boca e que ofende fortemente outros ateus atrevidos por não termos nos aprofundado “o suficiente” em filosofia, afirmando que Stephen Hawking não foi um "grande cientista" - bem assim, entre irônicas aspas. E eu fico me perguntando: Se não tenho “capacidade intelectual” para falar sobre ateísmo mesmo sendo ateia, essa pessoa tem respaldo para falar de Hawking? Eu só me pergunto, afinal, não sou cientista e, nesse campo, admito com toda a convicção que realmente não tenho capacidade intelectual para opinar. Mas suspeito, só suspeito, que a comunidade científica não colocaria um cientista medíocre na cadeira que foi de Newton.

Não escrevi esse livro para os intelectuais que sabem tudo de filosofia e para os quais minha pós graduação na matéria não vale nada. Escrevi para o mortal comum, escrevi tentando e objetivando dar mais ênfase à experiência do mal do que à hermenêutica ou epistemologia (tentei evitar palavrões desse tipo).

Não quero com isso dizer que sou "mais sábia" do que deixei transparecer no livro, deixei meu currículo nele para que ninguém se engane. Sou formada em letras, tenho pós lato senso em filosofia e sou uma leitora voraz que não vai muito com a cara de gente metida a intelectual inatingível. Tive professores nas três pós que fiz que tinham mais títulos do que os que me dizem que não tenho "capacidade intelectual" para falar sobre ateísmo que eram BEM menos arrogantes.

Enfim, posso não ter mesmo "capacidade intelectual" (seria mais correto dizer conhecimento específico e pesquisa suficiente) para falar sobre ateísmo em um trabalho acadêmico de nível mais elevado do que o que fiz, que foi um TCC de pós lato senso, mas sei que se estudasse mais um pouco e lesse mais um pouco poderia fazê-lo sem ter que abrir mão de ou jogar fora os conhecimentos que adquiri nos livros que li e que coloquei na bibliografia do livro Deus não existe.

Então, não vesti a carapuça, não estou envergonhada, não estou sendo desonesta e, ao contrário do que dizem os narizes empinados, tenho sim o direito de falar sobre ateísmo.

E tenho dito!