Recentemente
me acusaram (de novo!) de não ter “capacidade intelectual” suficiente para
escrever um livro sobre ateísmo porque não me aprofundei “adequadamente” no
campo filosófico e nos autores que julgam fundamentais para que alguém tenha a
audácia de sequer tentar falar sobre esse tema. “Se quiser militar em prol do
ateísmo ou criticar a religião de forma bem embasada e não atacar espantalhos é
preciso ter um bom conhecimento filosófico, caso contrário, que permaneça
calado e guarde seu ateísmo frouxo para si”. É o que pensam e dizem.
Confesso
que, com uma certa maldade, chego a procurar erros de português no texto desse
tipo de comentário (e sempre encontro algum) para pensar com meus botões algo
como “Se é assim, então você não deveria escrever um texto na língua portuguesa,
afinal não se aprofundou o suficiente nela a ponto de usar o acento grave de
forma correta”. Mas a maldade passa, afinal, não é assim que EU penso de
verdade.
Vi gente
do tipo que me manda calar a boca e que ofende fortemente outros ateus atrevidos
por não termos nos aprofundado “o suficiente” em filosofia, afirmando que
Stephen Hawking não foi um "grande cientista" - bem assim, entre
irônicas aspas. E eu fico me perguntando: Se não tenho “capacidade intelectual”
para falar sobre ateísmo mesmo sendo ateia, essa pessoa tem respaldo para falar
de Hawking? Eu só me pergunto, afinal, não sou cientista e, nesse campo, admito
com toda a convicção que realmente não tenho capacidade intelectual para
opinar. Mas suspeito, só suspeito, que a comunidade científica não colocaria um
cientista medíocre na cadeira que foi de Newton.
Não escrevi esse livro para os intelectuais que sabem tudo de filosofia e para
os quais minha pós graduação na matéria não vale nada. Escrevi para o mortal
comum, escrevi tentando e objetivando dar mais ênfase à experiência do mal do
que à hermenêutica ou epistemologia (tentei evitar palavrões desse tipo).
Não quero
com isso dizer que sou "mais sábia" do que deixei transparecer no
livro, deixei meu currículo nele para que ninguém se engane. Sou formada em
letras, tenho pós lato senso em filosofia e sou uma leitora voraz que não vai
muito com a cara de gente metida a intelectual inatingível. Tive professores
nas três pós que fiz que tinham mais títulos do que os que me dizem que não
tenho "capacidade intelectual" para falar sobre ateísmo que eram BEM
menos arrogantes.
Enfim,
posso não ter mesmo "capacidade intelectual" (seria mais correto
dizer conhecimento específico e pesquisa suficiente) para falar sobre ateísmo
em um trabalho acadêmico de nível mais elevado do que o que fiz, que foi um TCC
de pós lato senso, mas sei que se estudasse mais um pouco e lesse mais um pouco
poderia fazê-lo sem ter que abrir mão de ou jogar fora os conhecimentos que
adquiri nos livros que li e que coloquei na bibliografia do livro Deus não
existe.
Então,
não vesti a carapuça, não estou envergonhada, não estou sendo desonesta e, ao
contrário do que dizem os narizes empinados, tenho sim o direito de falar sobre
ateísmo.
E tenho
dito!
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