1 de janeiro de 2020

DEPOIS DE TER ACONTECIDO ANTES E POR TER VOLTADO A ACONTECER, PRECISEI DAR UMA RESPOSTA!

Meu livro ‘Deus não Existe’ já foi acusado de ser filosoficamente pobre mais de uma vez, e certamente voltará a ser. As poucas pessoas que o leram devem ter percebido (pelo menos assim espero) que, embora tenha colocado uma bibliografia no final, em nenhum momento me defini como uma filósofa, nem mesmo dei a entender que sou uma profunda conhecedora de ciência ou filosofia.

Recentemente me acusaram (de novo!) de não ter “capacidade intelectual” suficiente para escrever um livro sobre ateísmo porque não me aprofundei “adequadamente” no campo filosófico e nos autores que julgam fundamentais para que alguém tenha a audácia de sequer tentar falar sobre esse tema. “Se quiser militar em prol do ateísmo ou criticar a religião de forma bem embasada e não atacar espantalhos é preciso ter um bom conhecimento filosófico, caso contrário, que permaneça calado e guarde seu ateísmo frouxo para si”. É o que pensam e dizem.

Confesso que, com uma certa maldade, chego a procurar erros de português no texto desse tipo de comentário (e sempre encontro algum) para pensar com meus botões algo como “Se é assim, então você não deveria escrever um texto na língua portuguesa, afinal não se aprofundou o suficiente nela a ponto de usar o acento grave de forma correta”. Mas a maldade passa, afinal, não é assim que EU penso de verdade.

Vi gente do tipo que me manda calar a boca e que ofende fortemente outros ateus atrevidos por não termos nos aprofundado “o suficiente” em filosofia, afirmando que Stephen Hawking não foi um "grande cientista" - bem assim, entre irônicas aspas. E eu fico me perguntando: Se não tenho “capacidade intelectual” para falar sobre ateísmo mesmo sendo ateia, essa pessoa tem respaldo para falar de Hawking? Eu só me pergunto, afinal, não sou cientista e, nesse campo, admito com toda a convicção que realmente não tenho capacidade intelectual para opinar. Mas suspeito, só suspeito, que a comunidade científica não colocaria um cientista medíocre na cadeira que foi de Newton.

Não escrevi esse livro para os intelectuais que sabem tudo de filosofia e para os quais minha pós graduação na matéria não vale nada. Escrevi para o mortal comum, escrevi tentando e objetivando dar mais ênfase à experiência do mal do que à hermenêutica ou epistemologia (tentei evitar palavrões desse tipo).

Não quero com isso dizer que sou "mais sábia" do que deixei transparecer no livro, deixei meu currículo nele para que ninguém se engane. Sou formada em letras, tenho pós lato senso em filosofia e sou uma leitora voraz que não vai muito com a cara de gente metida a intelectual inatingível. Tive professores nas três pós que fiz que tinham mais títulos do que os que me dizem que não tenho "capacidade intelectual" para falar sobre ateísmo que eram BEM menos arrogantes.

Enfim, posso não ter mesmo "capacidade intelectual" (seria mais correto dizer conhecimento específico e pesquisa suficiente) para falar sobre ateísmo em um trabalho acadêmico de nível mais elevado do que o que fiz, que foi um TCC de pós lato senso, mas sei que se estudasse mais um pouco e lesse mais um pouco poderia fazê-lo sem ter que abrir mão de ou jogar fora os conhecimentos que adquiri nos livros que li e que coloquei na bibliografia do livro Deus não existe.

Então, não vesti a carapuça, não estou envergonhada, não estou sendo desonesta e, ao contrário do que dizem os narizes empinados, tenho sim o direito de falar sobre ateísmo.

E tenho dito!

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