14 de dezembro de 2023

FILOSOFIA EM PRIMEIRA PESSOA

Escolhi viver como não quero porque quero viver para quem quero.

Não tenho nenhum desejo de escapar da morte e vivo o presente, não porque sou sábia e aprendi a viver superando o medo sem me refugiar no passado ou no futuro, mas porque existe alguém com quem escolhi estar e, para isso, vivo o presente enquanto desejo a morte, não com a pressa agônica de uma suicida mas com a esperança calma de uma pessoa que anseia por chegar em casa ao mesmo tempo em que aprecia a paisagem que se descortina pela janela do ônibus, do carro ou do avião em que está voltando de uma longa viagem que teve momentos agradáveis e momentos ruins em proporções variadas.

18 de novembro de 2023

PARA TEÍSTAS INSISTENTES

Como você consegue não perceber que se existisse um deus que criou o ser humano, a "rebeldia" praticada por esses seres humanos seria parte das características (ou defeitos) da criação?
Como você consegue não perceber que o fato de muitas pessoas não admitirem "seguir as regras e leis” estabelecidas pelo seu deus também seriam características (ou defeitos) da criação desse deus, caso ele existisse?
Como você consegue não perceber que cada pessoa maldosa, egoísta, gananciosa, assassina ou simplesmente má que existiu, existe ou existirá nesse mundo seria criação defeituosa (ou o reflexo da maldade) do seu deus criador, caso esse deus existisse?
Não! O ser humano NÃO é especial, ele apenas se acha especial, se acha tão especial que está destruindo o próprio hábitat sem se importar com o futuro porque para ele só ele importa. E isso seria comprovação de mais um defeito da criação, se criação fosse.
O fato é que a maioria das pessoas do planeta acredita na existência de um “Ser Superior”, criador, supervisor e misericordioso, mas esse ser não existe, ou não mantém "a maioria das pessoas que creem nele com vida e vida em abundância", por mais que você diga e se obrigue a acreditar nisso.
Como você consegue dizer que "A respeito das crianças são os pais que têm a obrigação de dar cuidados adequados" quando em uma quantidade imensa de lugares, países e sociedades as mães e os pais fazem tudo por seus filhos e mesmo assim os veem sofrer e morrer por fatores que não têm poder para impedir, como as guerras ou a ganância dos poderosos, ou que sequer têm a ver com o ser humano, como doenças e acidentes naturais?
Como você consegue não perceber que não existe nenhuma "herança divina" quando milhões de pessoas mal conseguem se alimentar e ter um teto decente sobre suas cabeças?
Se para você tudo deu certo, por que isso te impede de perceber que não "dá certo" para muitas pessoas e que, em MUITOS casos não é por falta de esforço, de trabalho, nem de fé?
Olhar para esses fatos foi o que me fez ateia, e não vou pensar na possibilidade de existir um deus bondoso quando em tantos lugares do mundo crianças são torturadas e mortas, enquanto suas mães e seus pais choram em desespero.
Se você consegue, parabéns, eu não sou capaz.
Espero que essa minha fala (totalmente sincera e verdadeira) consiga fazer com que você veja que não tem chance NENHUMA de me convencer da bondade do seu deus assassino de crianças.

3 de outubro de 2023

PERSONALIDADE

Todo tipo de teste de múltipla escolha
Que serve para você saber
Se é uma pessoa assim ou assado,
Sejam os das revistas femininas
Que tendem a ofender
A inteligência das mulheres,
Sejam os que se afirmam
Elaborados por especialistas,
Para a maioria das perguntas
Não tem nenhuma alternativa
Que me serve, me define
Ou com a qual eu concorde.
E quando tem,
Aquela não é a única.
Por isso nunca defini
A minha personalidade.

1 de outubro de 2023

SAUDADE DA INFÂNCIA

Fui criança em tempos bastante antigos e, como mãe e professora, vi infâncias em vários “antigamentes”. Por isso chamo postagens saudosistas da infância de seletivas, desonestas e mentirosas.
Uma delas fala na delícia da infância que tomava água de torneira, esquecendo da infância que não tinha saneamento básico, que era maioria “antigamente” e é realidade para muitas infâncias ainda hoje.
Fico pasma quando vejo postagem de gente que louva as “chineladas” como “educativas”, não entendo como conseguem brincar com algo tão sério. Espancamento nunca foi educação!
Dizem que as crianças colocavam apelidos umas nas outras e ninguém se importava. Quem diz isso está mentindo ou foi uma criança que colocava apelido nas outras e não ligava para o que elas sentiam. Nunca foi divertido, para nenhuma criança, ser chamada de burra, de cabeção, de banana pintada, de “viadinho”, de preta fedorenta. Vi muitas crianças depreciando a si mesmas ou reclamando do próprio nome por causa dos apelidos e da “zoação”.
Crianças e adolescentes paravam de estudar porque acabavam acreditando nas pessoas que as chamavam de burras, ou porque cansaram de ser saco de pancada de todo mundo sem que as pessoas adultas enxergassem.
Sei que ainda acontece isso, mas acontece menos porque graças às campanhas de inclusão tem menos gente conivente e porque, felizmente, homofobia é crime.
Alguém já reparou que os elogios à infância de antigamente em geral selecionam brincadeiras masculinas? Na “infância de antigamente”, os meninos brincavam na rua e as meninas no quintal de casa, e se uma menina se atrevesse a brincar com os meninos ficava logo "mal falada". Como criança levei surra de cinta por conversar com um menino, e como professora mais de uma vez tive que chamar atenção da sala porque estavam “zoando” com uma menina por jogar futebol.
Ninguém em sã consciência e com um senso razoável deveria dizer, sobre nenhum aspecto, que "antigamente era melhor". Para que essa afirmação faça qualquer sentido é preciso especificar muito bem o "melhor" e, principalmente, onde e para quem.

2 de setembro de 2023

LEMBRANÇAS DE MINHAS AVÓS

Perguntaram de minhas avós
Comecei a lembrar delas
E como acontece sempre
Lamentei não saber mais

Minha avó paterna se chamava
Maria Esperança Morato
Uma espanhola de expressão séria
Que sempre parecia brava
Mas eu sentia
Que tinha alguma coisa
De muito doce nela
Nunca conheci ninguém
Que roncasse tão alto
Ela não se casou por amor
E no dia do casamento
A caminho da igreja
Numa espécie de procissão
Em que ia o casal
Familiares e convidados
Passavam pelo cemitério
E ela disse ao quase marido
“Eu preferia estar indo para lá
Dentro de um caixão”
Não sei se nesse momento
Pela surpresa da declaração
Ou em outro trecho do caminho
Meu futuro avô espirrou
E ela disse: “Mariarosetaogue”
(Era assim que eu, criança, ouvia)
Minha mãe traduzia como
“Maria José te afogue”
Eu ainda era criança
Quando meu avô morreu
Depois de sofrer muito tempo
Com um câncer terrível
Ela cuidou dele até o fim
Sem ajuda e sem reclamar
Eu sempre ouvia alguém dizer
Que minha avó viveria muito tempo
Porque “A Esperança
É a última que morre”

Minha avó materna
Se chamava Lourença Caldeira
Fazia o melhor curau do mundo
E todo legume que ela cozinhava
(chuchu, abobrinha, beringela, etc.)
Tinha ovo mexido no meio
Que ela quebrava e misturava
Quando estava quase cozido
Ficava muito bom!
Como tinha irmãs mais novas
Ela não ficava em casa lavando
Limpando e cozinhando
Como era comum às mulheres
Desde muito nova
Ia à roça com o pai e os irmãos
Onde trabalhava “de sol a sol”
Plantando capinando colhendo
Quando já estava moça
Se apaixonou por um rapaz
Que a pediu em casamento
Mas o pai dela disse
Que ela não podia se casar
Antes da irmã mais velha
Então o rapaz de quem ela gostava
Casou-se com a irmã dela
Não sei quanto tempo depois
Apareceu o meu avô
E ela se casou com ele
Meu avô parece que também
Não era um rapaz comum
Daquela época
Porque quando se casou
Minha avó não sabia
“nem ferver água” como se dizia
E meu avô sabia até costurar
E ensinou tudo a ela
Não sei se minha avó e meu avô
Se amavam quando se casaram
O que sei é que quando ela morreu
Ele se recusou a continuar vivendo
Deixou-se definhar
E poucos meses depois
Morreu também

Essas são minhas lembranças
Que nem sei se estão certas
Provavelmente não

19 de agosto de 2023

O VAZIO DA MÁQUINA

(título roubado do livro de André Cancian, livro que não tem muito a ver com esse texto, mas que li e recomendo muito)

Acho que, por ter lido livros como Anna Karenina, Guerra e Paz e Em busca do tempo perdido e visto séries como The Bridgerton, mais de uma vez me peguei pensando no vazio das pessoas, no exibicionismo absurdo dos títulos de nobreza, na falsidade e futilidade das relações sociais que vi e li nessas obras e comparando com a realidade que a história nos mostra a respeito daquelas e de outras épocas antigas, ou nem tão antigas assim.
Épocas antigas são tantas vezes romantizadas em livros, filmes, séries, textos e comentários! Talvez com algumas dessas obras mais superficiais e menos críticas em mente do que com um mínimo de conhecimento histórico, muitas pessoas usam uma espécie de “saudosismo do imaginário” para tecer críticas a aspectos relacionados aos “dias de hoje”, e à “sociedade atual”.
Principalmente nas redes sociais, é visível que as pessoas que fazem tais críticas, e muitas que as leem, julgam válido o uso desse tipo de saudosismo falsificado como justificativa e comprovação da “verdade” e “profundidade” de suas críticas, que se tornariam muito pertinentes, corretas e graves.
Tais críticas em geral destacam que houve um crescimento terrivelmente anormal e danoso – e até o surgimento - de “relações danosas e erradas”, “juventude perdida” e outras “falhas” que chegaram até nós com o tempo, os avanços tecnológicos e, segundo muitas pessoas, os “retrocessos morais” que temos agora.
Pensando no que li (e em certa medida no que vi e vivi) a respeito “daqueles tempos saudosos”, acho muito difícil concordar com a imensa maioria das análises, levantamentos, críticas e repúdios aos “dias de hoje” que encontro por aí.
O que sempre vejo é uma mistura de memória seletiva que nem mesmo parece ser involuntária com o apagamento nada honesto de aspectos negativos, e até mesmo terríveis, dessa “saudosa” época ideal invocada.
O mais grave, para mim, é o cuidado com que tantas pessoas que viveram ou estudaram os “tempos antigos” que estão romantizando ignoram aspectos negativos e diferenças de todo tipo, fazendo uma seleção e um recorte para listar “maravilhas” inexistentes ou presentes apenas em alguma medida e em uma parte muito pequena de um grupo bastante restrito.
Um exemplo é a “infância livre e feliz” das crianças brancas do sexo masculino das famílias bem estruturadas das classes médias altas nas cidades dos países mais ricos ou “em desenvolvimento”; outro exemplo são as “possibilidades de ascensão social” existentes para os homens brancos das famílias bem estruturadas das classes médias altas com acesso à educação de qualidade nas cidades dos países mais ricos ou “em desenvolvimento”.
Chego a me sentir muito triste ao ver tanta gente propagando, e tanta gente acreditando e reproduzindo, essa mentira tão óbvia de que realmente existiu um tempo em que as pessoas eram felizes porque não havia celular, computador, televisão, feminismo, greve, luta por direitos, paradas LGBTQIA+, ECA... entre outros “vilões” da nossa “pobre” modernidade.

PROVA DE INEXISTÊNCIA

Eu acho que se pode provar a inexistência de deus.
Apenas, a meu ver, antes disso, temos que definir a inexistência de qual deus ou de que tipo de deus estamos provando, e qual é o real "peso" da prova que estamos apresentando.
Porque PROVAR mesmo, com total certeza e sem deixar nenhuma margem para dúvida, não podemos.
Não podemos provar nem mesmo nossa própria existência ou a existência de qualquer coisa que percebemos, ou da nossa própria percepção.
E quanto a "deus", essa palavra é plurissignificativa demais para que apenas o uso dela, sem especificar a que nos referimos quando a usamos, deixaria "fora" do nosso discurso e análise, quase certamente, alguma outra (ou outras) definição existente ou possível da palavra "deus".

7 de agosto de 2023

ESCRITO BASEADO EM UM TEXTO CRÍTICO À JUVENTUDE ATUAL

(Usei o máximo possível de palavras e expressões texto original)


AS TRISTES GERAÇÕES QUE SE ESTRESSAVAM E SE FRUSTRAVAM MAS NÃO SABIAM DISSO

Andavam a pé, de ônibus, a cavalo... Não lavavam suas cuecas, se casavam cedo para a mulher lavar enquanto se consumia sem direito a desejar nada além de ser "do lar". Não buscavam conhecimento porque ele geralmente estava além de suas posses. Nem espiritualidade, só religião porque era tudo que tinha.
Se encantavam com decorações natalinas, quando tinham acesso a isso, e com um ipê florido no meio da avenida ou na roça onde trabalhavam, se houvesse tempo para apreciar. Não reivindicavam direitos de expressão e não ofereciam nada em troca porque nem sabiam que podiam ter direitos. Nenhuma atitude a não ser, em muitos casos, descarregar suas frustrações e problemas espancando esposa e filhos.
Consideravam obrigação seguir os passos dos pais, mesmo quando eles eram péssimos. Julgavam apenas os inferiores sem se atrever a levantar os olhos para qualquer pessoa que estivesse um pouco acima.
Juízes duros e impiedosos para com os filhos, e principalmente as filhas! Condenavam as mulheres e as crianças a escolhas limitadas e obediência irrestrita. Repetiam muito a máxima de que "Criança não tem querer".
Não choravam pelo cachorro maltratado porque "homem não chora" e mulher "tem mais o que fazer", no tanque ou no fogão. Desejavam que o homem considerado inferior fosse esquartejado, escravizado ou morto em uma guerra insana "em nome da pátria".
Compaixão sempre duvidosa porque excluía muita gente e sempre tinha em quem mandar.
Amorosidade mínima, porque "mulher é inferior e criança mimada vira maricas, bandido ou puta".
Preciso disso! Tem que ser aquilo!” era coisa que criança que dissesse apanhava de cinta ou correia até quem batia cansar o braço. E haja insatisfação! Infelicidade. Descontentamento. Adoecimento. Depressão... tudo "engolido" e extravasado na violência. Algumas vezes, se a violência não bastava, restava o suicídio… de que não se falava porque "é pecado mortal", sem direito a enterro e com a certeza do inferno eterno.
Gerações estragadas. Conformadas. Presas em suas culpas e desculpas. Acomodadas em suas gaiolas de mentiras e tabus. Não postavam nada porque não tinha computador, o único consolo era a confissão para o padre, que acreditavam ter o poder de banhá-los no mar curador; mas não tinha! Não limpavam o lixo na praia com os amigos porque tinham que trabalhar, mas arrumavam a própria cama, quando a tinham, porque se não fizessem apanhavam. Em casa, estampavam medo travestido de respeito, escondiam sofrimento, e não tinham o direito de chorar diante da dor… a dor de ter que crescer sem poder escolher outro caminho que não o traçado pelos pais… e ainda tinham que agradecer e "merecer"!”

24 de julho de 2023

COLOCAR-SE EM PRIMEIRO LUGAR

Há tempos ando “comprando briga” na internet por conta de uma louvação ao “Amor próprio” que sempre me pareceu bastante problemática. Tais frases continuam circulando, cheias de compartilhamentos e coraçõezinhos. Sendo essa velhinha chata que sou, às vezes não resisto à tentação de “dar o meu pitaco” correndo o risco de ofender pessoas de quem gosto e com quem tenho muitas coisas em comum. É complicado ter opiniões que contrariam um grande número de pessoas...Recentemente caí na tentação e comentei uma dessas frases. Uma pessoa, discordando do meu comentário, acabou informando que recebeu essa orientação de sua terapeuta. Fiquei realmente preocupada. Essa é a razão desse texto.
Não vejo nada de errado nas pessoas que cuidam da própria saúde e do próprio bem-estar, muito pelo contrário! Acho que cuidar da saúde é uma boa atitude e até uma obrigação. Acho maravilhosas as pessoas que desmontam preconceitos com sua existência, que se envolvem em verdadeiras batalhas contra as opressões de que elas e o grupo ao qual pertencem são vítimas. Gosto de pessoas que se defendem de ataques com inteligência ou com o dedo do meio levantado para as “opiniões” que cagam regras. Acho muito bom que as pessoas procurem atividades que fazem com que elas se sintam bem.
Enfim, não tenho absolutamente nada contra as pessoas que decidem cuidar delas mesmas, isso é o que eu vivo pedindo e desejando que as pessoas que eu amo façam. O problema é que uma frase “motivadora” pode ser apenas uma frase egoísta, e a impressão que tenho é que todos os grandes males da sociedade têm sua raiz no egoísmo.
Afinal, o que é a intolerância religiosa se não a “certeza” de que eu sou superior a você porque escolhi a religião certa e você escolheu a errada ou nem foi capaz de escolher uma? O que é o racismo se não a “certeza” de que eu sou superior a você porque a quantidade menor de melanina da minha pele me torna "mais bonita e mais inteligente" do que você? O que é a xenofobia se não a “certeza” de que eu sou superior a você porque nasci no melhor país (estado, cidade, bairro, vila) do mundo e você nasceu em um "lugar ruim" onde “todas as pessoas são inferiores a mim”?
O que é a miséria se não resultado do descaso de pessoas que esbanjam amor próprio e se colocam em primeiro lugar? De pessoas que têm a certeza de que são ricas, cultas e poderosas porque são superiores às mais pobres? Se acham mais inteligentes, mais "aplicadas" e mais capazes. Para elas, pobres são apenas pessoas "inferiores e fracassadas", em algum nível nem pessoas são. Lembra do “porque eu mereci!”?
Essas pessoas se acham tão superiores que nem cogitam a possibilidade de que tenham recebido uma porção de benefícios a que outras pessoas, que elas consideram inferiores, não tiveram acesso. São exemplos perfeitos de pessoas cheias de amor próprio. Pensando nisso eu pergunto: O que são as frases do tipo “coloque-se em primeiro lugar” se não um incentivo ao mais puro egoísmo?
Prefiro colocar em primeiro lugar o amor, a amizade, o respeito e a empatia. Em primeiro lugar mesmo! Antes de mim. E juro que isso pode ter um efeito de autocuidado em muitos casos maior do que o "Você precisa amar a si mesma antes de amar alguém" ou o “Coloque-se em primeiro lugar” das frases de autoajuda. Deixa eu tentar me exemplificar um pouco melhor.
Quando fico doente, cuido da minha saúde porque amo meu marido e não quero dar trabalho e preocupação a ele. Se tiver um problema muito grande, ou mesmo a impressão de que tenho um problema muito grande, não vou cometer su1cíd1o porque amo minha mãe e não quero fazer com que ela sofra a perda de outra filha. Se estou triste posso encontrar uma pessoa amiga e conversar, falar e ouvir porque essa pessoa também pode ter razões de tristeza e podemos dividir nossas preocupações. Mas nem preciso falar da minha tristeza e das razões dela, posso conversar sobre o dia, lembrar momentos que passamos juntas, contar piadas, ver algumas obras de arte, caminhar por uma rua, comer e beber alguma coisa... Sempre saio melhor desse tipo de encontro, por mais triste que esteja.
Acho que todo mundo já viu exemplos de gente que tinha razões para se sentir mal e que conseguiu superar isso fazendo algo para ajudar outras pessoas. Em sala de aula acontece muito algo parecido. Quantas pessoas já ouvi contando que quando entram na sala de aula deixam os problemas do lado de fora da porta e cuidam de fazer o melhor pelas crianças ou adolescentes que estão diante delas? Quantas vezes eu fiz isso, chegando ao ponto de sair da sala feliz, pronta para encarar a razão da minha tristeza sob outro ponto de vista?
Enfim, nenhuma pessoa precisa ser egoísta para cuidar bem de si mesma e da própria vida, nenhuma pessoa precisa louvar o egoísmo para sentir que cuidar de si mesma é uma coisa boa de se fazer. No dia a dia, basta lembrar que um sorriso, um elogio, um olhar amoroso, uma frase de interesse faz bem às pessoas, principalmente às pessoas que amamos, e que para poder dar esse amor com verdade a gente precisa estar bem.
Esse é meu conselho de “autoajuda”: Cuide-se por amor às pessoas que você ama e que amam você, por respeito às pessoas com quem você convive e por empatia às pessoas que sofrem e que você nem sabe que sofrem nem o tamanho dessa dor. Não se coloque em primeiro lugar! Estar ao lado é bem melhor do que estar na frente.

22 de julho de 2023

TOLERÂNCIA DE RELIGIOSA

Minha mãe é uma senhora semianalfabeta de 84 anos. Ela me contou algumas coisas que aconteceram com ela nos últimos tempos que passamos sem conversar longamente, porque eu moro longe e não a vejo com muita frequência. Dois episódios narrados por ela me comoveram especialmente, vou tentar contar da forma mais fiel possível, destacando as palavras que ela usou para descrever o que aconteceu mais “do jeito dela”.
O primeiro foi em um ônibus. Ela estava sentada ao lado de uma mulher “bem arrumada” quando entrou “um rapazinho com uma mochila nas costas” e ficou parado, em pé, próximo ao banco onde minha mãe estava. Não demorou muito para que a mulher começasse a rir alto e “tirar sarro” do rapazinho só porque ele era “um pouco diferente”. Ela ria alto e “tirava sarro”, “ofendendo muito” o rapazinho, que ficou lá, quieto, sem dizer nada.
A mulher chamou a atenção do motorista e ele também começou a “tirar sarro” do rapazinho, que continuou quieto, só ouvindo as ofensas e as risadas da mulher e do motorista.
Minha mãe se mexeu incomodada, a mulher olhou para ela e, ainda rindo, disse: “A gente precisa se divertir um pouco já que a vida tá tão difícil, não é?”. Minha mãe fez questão de responder bem alto para o motorista e as outras pessoas que estavam ali vendo e ouvindo aquilo sem dizer nada escutarem: “Se fosse um filho ou um neto da senhora, a senhora também sentiria vontade de se divertir tirando sarro dele?”.
A mulher e o motorista não riram mais nem falaram mais nada.

O segundo episódio aconteceu no caminho da igreja. Uma “irmã” com quem ela não tem muito contato “empareou” com ela e começou a falar bem do Bolsonaro. Minha mãe foi andando quieta e deixou a mulher falar durante um bom tempo, até as duas quase chegarem à porta da igreja. Então a mulher disse: “A senhora não acha, irmã?” e minha mãe respondeu: “Não acho não. O Bolsonaro é um homem muito ruim, um homem que só faz maldade. E eu votei no Lula!”.
Eu perguntei: “E ela não brigou com a senhora?”. Minha mãe respondeu: “Não porque a gente já tinha chegado na igreja e eu entrei e fui sentar bem longe dela”.
Minha mãe é uma evangélica das mais fervorosas. Ela vai à igreja todo “santo” dia, e eu tenho muito respeito e sinto uma admiração enorme pela minha mãezinha porque ela consegue conviver com essa mentalidade preconceituosa, intolerante e absurda que tem causado tanto mal ao mundo, principalmente nos últimos anos, sem se deixar atingir.

Por isso, quando pessoas ateias generalizam as pessoas evangélicas como se todas elas fossem burras e intolerantes, penso logo na minha mãezinha, que está muito longe de merecer esse tipo de hostilidade. E tenho certeza de que ela não é a única.

17 de julho de 2023

O ATEÍSMO E A DOR

Como a maioria das pessoas ateias, perdi a conta de quantas vezes me disseram que sou ateia porque sou infeliz e frustrada; que odeio deus porque minha vida é vazia e eu culpo deus por isso; que devo ter feito algum pedido que deus não atendeu e por isso me tornei sua inimiga; que não serei feliz nem um único dia da minha vida se não aceitar deus como verdadeiro... e por aí vai.
Primeiro acho engraçado, respondo que nada disso é verdade e que não odeio deus, apenas não acredito na existência dele. Mas acabo me ofendendo porque a pessoa invariavelmente não acredita em mim e insiste que sou uma infeliz frustrada ou me chama de satanista e sai “voando” como o pombo jogando xadrez. Não adianta nada dizer que o tal satã também é um deus e eu não acredito em deuses.
Para frustração das pessoas que pensam assim, há décadas descobri que eu sou uma tremenda de uma rabuda! Tive mais sorte do que muita gente cheia da grana porque tive e tenho tesouros que valem muito mais do que as maiores fortunas. Eu poderia usar páginas e páginas para relacionar minhas riquezas, mas vou resumi-las em três palavras, com a ressalva de que sobre cada uma delas também poderia escrever páginas e páginas relacionando nomes, fatos, lembranças. Coloco as três palavras em ordem alfabética porque não sou capaz de colocá-las em ordem de importância: Amizade, amor e família.
Dentre essa fortuna, pertencendo ao mesmo tempo às três palavras, tive a incrível sorte de encontrar uma das pessoas mais maravilhosas que já cruzou o meu caminho e de ser amada por ela. Essa pessoa maravilhosa foi minha amiga, minha cunhada e minha irmã muito amada, irmã que não nasceu da mesma mãe nem do mesmo pai mas que não é menos irmã por isso. E essa pessoa que tanto significa para mim, foi embora na última sexta-feira.
Sei que não preciso descrever o que sinto para quem já perdeu uma pessoa amada e que quem já passou por isso sabe que não há como descrever essa dor. Estou escrevendo esse texto para falar do ponto de vista de alguém que não tem o poder de encontrar conforto e consolo em deus ou na fé, como a maioria das pessoas fazem.
Eu choro. Chorei muito e estou chorando agora e sei que isso quem crê também faz quando perde alguém que ama. Eu penso nela. Lembro os momentos de amor e de alegria que dividimos, as tantas conversas, os tantos abraços, os tantos sorrisos e até as lágrimas que algumas vezes derramamos juntas e sei que isso quem crê em deus também faz quando perde alguém que ama. Essas são as duas reações à dor da perda, reações comuns à maioria das pessoas, sejam religiosas ou não.
Para consolo eu lembro que não fiquei devendo demonstrações nem palavras de amor e afeto. Faz bem ter a certeza de que ela sabia que eu a amo, que eu a amo muito! Acho que, mesmo entre as pessoas mais religiosas, não são tantas as que têm esse consolo, por isso me atrevo a dar conselho: não tenha receio nem vergonha de demonstrar amor, é um consolo muito grande saber que a pessoa que se foi sabia o quanto era amada. E a minha piquininha sabia!
Agora o consolo que eu tenho e as pessoas religiosas não têm é que eu sei que ela não sente nada; nenhuma dor, nenhuma saudade, nenhum medo, nenhuma dúvida, nenhuma ansiedade. Ela não vai sofrer nem mesmo se e quando alguém que ela amou sofrer. Ela amou muitas pessoas e se estivesse em algum lugar em que pudesse saber o que acontece com as pessoas que amava, ela sofreria por essas pessoas, ela sofreria se acontecesse alguma coisa ruim comigo. É bom saber que aconteça o que acontecer comigo daqui pra frente, ela não vai sofrer por mim.
E o outro grande consolo é saber que ela não será torturada por um julgamento e não corre nenhum risco de ser mandada para um inferno de dor nem para um “paraíso” de tédio. Eu estaria me sentindo muitíssimo pior se, mesmo que por um momento, acreditasse que existe um deus capaz de permitir que pessoas boas sofram e que, ao mesmo tempo, se sente no direito de julgar a minha piquininha.
Eu não digo “Descanse em paz” para ela porque sei que ela já descansou. É bom saber disso!

29 de junho de 2023

A ÁFRICA NA MINHA PELE

Se sou uma pessoa negra
Tenho a África na minha cor
Tenho a África no meu sangue
Tenho a África na minha dor

Se sou uma pessoa negra
Mesmo sem dela lembrar
Mesmo se nela não penso
Aquela raiz do que sou
Aquela que nem eu vejo
Na África está fundada

Nem é preciso
Que eu sinta orgulho
Não careço disso falar
É mais no fundo
Do que minha alma
Que a África vai estar

Se sou uma pessoa branca
Nem mesmo branca eu sou
Meu orgulho me deu esse nome
Mas a África está no vermelho
Do crime e da vergonha
Que cobre a minha pele
E que não sei disfarçar

O vermelho abrasa meu rosto
Quando olho o povo irmão
Que tem a África na pele
Que foi torturada por mim
Durante séculos e séculos
Sem que eu pedisse perdão

A África está na minha pele
Em forma de consciência
Quando acordo das mentiras
Que eu mesma me contei

Sou uma raça de muitos povos
De muitas cores e muitas lutas
Em uma humanidade só

A minha raça tem que saber
Que a pele de toda cor
É da África que ela vem
Por isso não pode se dizer
Superior a ninguém.

TÔ SÓ PERGUNTANDO

Eu ando muito.
Quase todos os dias saio de casa e ando pelas ruas.
Quase todos os dias passo por muita gente e muita gente passa por mim.
Quase todos os dias vejo muitas dessas pessoas caminhando com o celular na mão, em muitos casos totalmente distraídas, a ponto de bater com a cara em um poste ou cair em um bueiro aberto.
Quase todos os dias me espanto com essas pessoas e quase todos os dias me pergunto por que não acontecem ainda mais roubos de celulares.
Parece tão fácil para uma pessoa que queira, pegar o aparelho e se enfiar entre outras pessoas que caminham distraídas com o celular na mão.
E hoje me ocorreu uma pergunta:
Quantas dessas pessoas que vejo caminhando assim distraídas como em um convite ao roubo postam em seus celulares expostos e convidativos frases, piadas, memes e textos afirmando que mulheres são assediadas e estupradas porque "vivem dando sopa", "usam roupas provocantes", "expõem o corpo como um convite"?
Quantas dessas pessoas postam em seus celulares expostos e convidativos frases, memes e textos pedindo a morte de moleques que roubam celulares enquanto chamam denúncias de assédio e luta contra o feminicídio de mimimi?

28 de junho de 2023

RECUSA

Eu me recuso a aceitar
Que qualquer pessoa ou lei
Por mais "em nome de deus" que seja
Tenha o direito de proibir
Duas pessoas de se amarem!

Eu me recuso a aceitar
Que estupro possa ser justificável
Por qualquer tipo de comportamento
Vestimenta ou brecha na lei!

Eu me recuso a aceitar
Que os animais existem
Apenas para uso e abuso
Dos animais humanos!

Eu me recuso a aceitar
Que sofrimento estupro
Tortura e morte de crianças
Possam ser justificados
Por qualquer tipo de justiça
Por mais “divina” que seja!

Eu me recuso a aceitar
Que uma pessoa
Espancando outra pessoa
Seja em que situação for
Possa ser aceitável
Como definição de esporte!

25 de junho de 2023

MULTIVERSOS

Costumo pensar "viajando" muito... 
E uma das minhas "viagens" é um "espaço" tão infinito quanto os números. Daí haveria um infinito de universos dentro de infinitos universos, dentro de infinitos universos, infinitamente. Ou seja, o nosso universo seria um dos infinitos universos dentro de um dos infinitos elétrons de um universo (mais ou menos como no final do filme Homens de preto, lembra?) e, ao mesmo tempo, haveria um número infinito de elétrons com um número infinito de universos dentro de cada elétron no nosso universo. Consequentemente, haveria um número infinito de universos dentro de mim (de cada corpo animado ou não). Esse seria o multiverso: Infinitos infinitos dentro uns dos outros. 
Louco, né?