17 de outubro de 2024

VEUS E AFINS

Sempre que vejo textos tolerantes que falam dos fundamentos, das tradições, de costumes e vestimentas das religiões; explicando, por exemplo, que determinadas práticas, roupas e cabelos têm como objetivo fazer com que as pessoas “não sejam escravas do desejo sexual” ou que determinada prática “tem a higiene e a saúde como objetivo” na sua raiz tradicional; fico pensando "com meus botões" e me perguntando o quanto há de "CONSCIENTE" e de “VOLUNTÁRIO” na adesão de pessoas adultas aos costumes e tradições das religiões dos países, comunidades e famílias em que foram criadas. Principalmente no caso das mulheres que, praticamente no planeta inteiro, estão desde sempre inseridas no machismo estrutural. Não tenho respostas, só perguntas e um desconforto que não me larga. Até onde é voluntário o uso de roupas e cortes de cabelo "tradicionais" (tanto para homens quanto para mulheres) de determinada religião? Sei que a moda ocidental, comercial, elitista, consumista, mesmo que desvinculada de tradição religiosa, também pode ser vista como um tipo de imposição. Sei que se pode perguntar até onde uma garota que copia as roupas que seu grupo usa é mais livre do que uma muçulmana que "precisa" usar um véu. Será que eu vejo a primeira BEM menos aprisionada do que a segunda porque também sou uma mulher sem liberdade? Acho que não, mas achar basta? Tudo que sei é que todas as "fantasias" religiosas, da burca à costeleta comprida dos homens no judaísmo ortodoxo, passando pelo hábito das freiras e pela careca dos monges budistas, me causam estranheza e desconforto. Nada do que se faz “tradicionalmente” para “agradar”, “louvar” ou “obedecer” a um deus ou a uma religião me parece livre. Sei que, na prática, a mídia também se tornou uma espécie de deus, ou uma “fabricante” de deuses, porque os cria e os esquece o tempo todo. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, acho que as “tradições” das religiões institucionais são mais graves e fazem uma prisão com “grades” mais sólidas e correntes mais “pesadas”. Porque dos deuses criados e propagados pela mídia as pessoas – até certo ponto – ainda podem fugir, mesmo que resolvam substituir por outro e depois outro ao longo da vida. A vantagem é que uma debandada, troca ou fuga pode acontecer (e acontece!) sem que o “deus” rejeitado prejudique as pessoas que o rejeitaram até mesmo após a morte. Enfim, sinto desconforto quando consigo perceber a manipulação das pessoas, me arrepia todo tipo de manipulação criada pela sociedade civil, pelas ideologias políticas, econômicas e sociais excludentes e alienantes, pelo capEtalismo escravagista de corpos e mentes. Sinto desconforto e sinto MUITA raiva! Porém, isso tudo não diminui nem um pouco o desconforto que me causam as exigências limitantes impostas pelas religiões. Principalmente porque, frequentemente e em larga escala, as religiões se tornam aliadas essenciais das manipulações todas, com a participação ativa de suas lideranças na exploração, na ambição e na ganância que marcam todos os sistemas opressores.

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