25 de dezembro de 2022

SOBRE O "ANIVERSARIANTE"



O nome desse cara está no meu nome. 
Desde muito pequena ouvia minha mãe dizer o quanto ele é maravilhoso e foi por isso que ela colocou o nome dele no meu nome... e porque ela dizia, eu acreditava que ele era toda perfeição. 
Aos 14 anos li a bíblia para saber mais sobre ele e descobri que esse cara "tão maravilhoso" não respeitava a própria mãe! Fiquei profundamente decepcionada. 
Demorou muitos anos para que eu parasse de me obrigar a acreditar que ele era maravilhoso sim e a bíblia é que estava errada, mas acho que a semente do meu ateísmo começou aí. 
Depois, lendo mais e pensando mais, deixei minha decepção de lado porque deixei de acreditar na possibilidade de existência dele, deixei de acreditar até mesmo na existência de um Jesus histórico. 
E, para melhorar, descobri a existência de pessoas que são apenas humanas, mas que (ou justamente por isso), a meu ver, são mais dignas de admiração do que esse cara cujo nome está no meu nome. 
Albert Sabin e Betinho, por exemplo.

7 de dezembro de 2022

DIFERENÇAS



Sempre encontro pessoas religiosas tolerantes e decentes
Pessoas que são defensoras da laicidade
Pessoas "crentes" no direito de acreditar e de não acreditar
Sempre encontro pessoas ateias que definem seu ateísmo como
Tenho fé apenas em mim” ou “Sou o meu próprio deus
Sou ateia e não acredito em mim mesma tanto assim
E sem acreditar em deuses não vejo como me sentir deusa
Existe sim uma sensação de liberdade
Uma sensação de ter saído da Caverna de Platão
Mas não de ser superior por ser ateia
Nunca fiz nenhuma tentativa de “eliminar deus da minha vida
Apenas descobri que não tenho necessidade dessa ideia
Não há frustração nem rebeldia nem raiva
O único sentimento negativo é contra a intolerância
É contra o abuso religioso
Não tenho nada contra as pessoas que acreditam
(Se elas não tentarem me enfiar seu deus goela abaixo)
Falo dessa "ideia deus" como disse Saramago
Porque vejo muita gente falando disso
O tempo todo...
Muitas vezes usando a "ideia deus" de uma forma que afeta
A minha vida ou a vida de outras pessoas
De forma muito negativa
Eu digo sempre que falar em deus e religião não é uma ação
É uma REação!
A luta pelo estado laico é a luta contra a opressão religiosa
Opressão de que até mesmo pessoas religiosas são vítimas
A palavra “respeito” é muito mais linda do que a palavra “
RESPEITO é a minha palavra predileta dentre todas as palavras
E na palavra “” eu sinto “cheiro” de exclusão e de mentira

24 de novembro de 2022

REFLEXÕES NO BANHO



Meu corpo é como uma panela
Daquelas mais caras pouca coisa
A panela foi o presente que ganhei da minha mãe no dia em que fui morar sozinha
Ela serve para preparar os alimentos que me mantém viva
Mas não tudo
Porque existem alimentos cujo preparo dispensa cozimento
Desde pequena me ensinaram que preciso cuidar bem da panela
Preciso mantê-la limpa por dentro e por fora
Para não correr o risco de ter o alimento contaminado pela presença de substâncias estranhas
Substâncias que se instalam e se reproduzem em panelas malcuidadas.
Embora eu tenha tentado cuidar dela
A panela começou a dar sinais de envelhecimento
Os sinais surgiram mais rapidamente
E se tornaram mais visíveis
E ficaram mais incrustrados
Na parte externa.
Por mais que eu tenha tentado cuidar bem da panela
(Sem excesso porque sou uma cuidadora um tanto incompetente)
Por mais que tenha tentado me lembrar de manter o fogo na temperatura ideal
Por mais que eu tenha tentado evitar a preparação de substâncias que podem acelerar o envelhecimento
Ou danificar o material de que a panela é feita
Os sinais de envelhecimento começaram a tomar conta do interior da panela
E chegou um tempo em que ela não podia mais ser confundida com uma nova
Nem mesmo pelos olhares mais distraídos.
Talvez porque a panela não foi escolhida por mim
A verdade é que nunca gostei muito dela
E fui gostando menos e menos ainda com o passar do tempo
Até que deixei de gostar
Completamente.
Mas fico com esta mesmo
Porque não gosto dela mas também não a odeio
E porque não tenho outra.
A maior diferença entre meu corpo e a panela
É que eu posso jogar uma panela velha fora e comprar uma nova
Já esse corpo...

23 de novembro de 2022

REFUTAÇÃO DAS CINCO VIAS DE TOMÁS DE AQUINO



O que se diz comumente é que o tomismo usa argumentos de cunho empírico porque emprega a razão a serviço da fé cristã. Dizem que com fatos que se demonstram por via da experiência Tomás de Aquino teria provado a existência de Deus. Uma parte dessas chamadas provas empíricas são as Cinco Vias que Levam a Deus.

Mas, analisando de forma menos apaixonada, o que se nota é que esses argumentos não são realmente empíricos porque na verdade não se demonstram por via da experiência. O que eles fazem é refletir explicações arduamente procuradas e trabalhadas para dar lógica – uma lógica discutível por sinal – a uma opinião formada: a afirmação de uma “verdade”, para a época e para o autor, inquestionável.

Em Tomás de Aquino e nos demais pensadores religiosos, desde Agostinho até C. S. Lewis, e antes de um e depois do outro, os argumentos e toda a construção argumentativa, via de regra, não partem da dúvida, o ponto fundamental de todo estudo que se possa chamar de imparcial. Todos eles partem de uma certeza e usam todos os subterfúgios de uma aparente racionalidade para confirmar essa certeza.

Não há uma verdadeira pesquisa racional sobre se deus existe ou não, essa questão jamais é levantada seriamente; há uma construção de argumentos deliberada e cuidadosamente preparados com o objetivo de convencer qualquer pessoa que ouse duvidar. Apenas e tão-somente isso.

E essa construção de argumentos, para mim, é uma inversão de caminho. A filosofia, que nas demais investigações parte das perguntas para, na tentativa de respondê-las, construir um arcabouço teórico, nesse caso, inverte a ordem e parte de uma resposta “inquestionável” – o que em geral as respostas filosóficas não são – para construir toda uma gama de explicações que corroborem essa resposta prévia. Despreza-se qualquer argumento, por mais razoável que seja, se esse argumento trouxer algum perigo para a confirmação dessa “verdade” preestabelecida. Isso, a meu ver, não é filosofia.
Mas vamos às cinco vias:

1 - A primeira é a Via do Movimento: o argumento parte da constatação de que as coisas se movem. Todas as coisas se movem, desde as galáxias até as moléculas – não que Tomás de Aquino tivesse lá muito conhecimento sobre galáxias e moléculas, claro, mas Eppur si muove – tudo na natureza, homens animais, plantas rochas, planetas, tudo está em constante movimento e em constante transformação. Para Tomás de Aquino, se existe movimento existe também a causa desse movimento, existe aquilo que provoca o movimento, existe um “Primeiro motor”.

Ele explica que um jogador que impulsiona uma bola, que um raio que cai na terra e incendeia uma árvore ou uma floresta; ou a força da gravidade que nos mantém sobre a superfície e que mantém corpos celestes em órbita; são os motores desses movimentos relacionados. Novamente: não consta que Tomás de Aquino tivesse conhecimentos precisos sobre a lei da gravidade, ainda faltava muito tempo para que Isaac Newton fosse atingido por uma maçã.

E Tomás de Aquino constata que o agente do movimento é externo ao objeto movido, ou seja, nada pode mover-se a si próprio, nada pode ser motor e movido ao mesmo tempo; nenhum carro se locomove sem algum tipo de combustível.

Porém, esse raciocínio conduz a um absurdo lógico e parece que Tomaz de Aquino não o percebe tão bem assim. O que ele conclui é simplesmente que se todo movido possui um motor, teria que obrigatoriamente haver uma sucessão quase infinita de motores e movidos; daí, pela necessidade de chegar a algum lugar e retrocedendo até um determinado ponto que ele julga necessário, Tomás de Aquino conclui que teria que haver um primeiro motor e que não havendo um primeiro motor, também não haveria um primeiro movido e um segundo motor e assim por diante.

Resumindo: de acordo com esse raciocínio, sem um primeiro motor o movimento seria impossível. Daí que, para ele, a única forma de explicar o movimento é conceber um primeiro motor e esse primeiro motor seria obrigatoriamente deus. Portanto, deus seria a causa primeira de todas as coisas, seria esse primeiro motor que não é movido por nenhum outro.

Mas a própria lógica de Tomás de Aquino se embaraça e tropeça nessa teia de argumentação; se nada se move sem uma causa externa e se pode ter uma causa primeira, então temos um problema que pode ser insolúvel porque poderíamos perguntar qual é a causa primeira de deus uma vez que, logicamente e racionalmente, nada nos obrigaria a “parar” em deus o raciocínio que Tomás de Aquino construiu. Daí que podemos perguntar, com todo o direito lógico de fazê-lo: Se nada se move sem uma causa externa não há razão para que deus seja exceção à regra, portanto, quem move deus? E eu estou muito longe de ser a primeira pessoa a fazer essa pergunta.

Outra hipótese possível, e que não foi considerada por Tomás de Aquino porque a existência de deus não era algo questionável para ele, é essa simples e lógica dúvida: Se pode ter uma causa primeira, essa causa primeira precisa mesmo ser deus? E precisa ser ESSE deus? Aparentemente não, ela pode ser, por exemplo, a lei da gravidade, ou a força de atração; ou uma força outra qualquer que nem sequer conhecemos. Afinal, se tudo que podemos afirmar com toda convicção sobre o universo é que não conhecemos tudo sobre o universo, por que não pode existir uma força externa e não consciente desconhecida de nós e que foi o primeiro motor?

2 - A segunda via é chamada de Causalidade e é parecida com a primeira. Observa-se na natureza uma ordem segundo uma relação de causa e efeito. O jogador que chuta é a causa, a bola que entra no gol é o efeito. Da mesma forma que é impossível algo mover a si próprio, é impossível algo ser causa e efeito ao mesmo tempo: a bola não entra no gol sozinha.

Então, se todo efeito tem uma causa, novamente haveria uma sequência infinita de causa e efeito até chegar a um determinado ponto, estipulado por Tomás de Aquino como sendo deus, mas que, da mesma forma e com os mesmos argumentos da teoria do Primeiro motor, pode ser discutido e refutado. Ele diz novamente que a relação causa-efeito não seria possível a menos que admitamos uma causa primeira no universo, e que essa primeira causa é deus.
E vemos que o problema e a resposta são similares à teoria do Primeiro motor:

1 – Se todo efeito tem que obrigatoriamente ter uma causa, deus é um PUTA efeito: Qual seria a causa?
2 – Se pode ter uma causa primeira para todos os efeitos, nada obriga, logicamente, a que essa causa primeira seja a que Tomás de Aquino estipulou que seria.

Tomás de Aquino parou a corrente onde quis e onde era conveniente para ele nos dois casos; parou onde serviria para tornar seus argumentos suficientes para o que ele queria. Na verdade, e de novo, essa primeira causa, mesmo que precise existir não precisa ser obrigatoriamente deus e não precisa ser obrigatoriamente ESSE deus; pode ser qualquer outra coisa mais simples como, por exemplo, aquela mesma força desconhecida e não consciente de que falei acima.

3 - Na terceira via, chamada de Possível e Necessário, Tomás de Aquino diz que todas as coisas podem ser e podem não ser. Todas as pessoas que conhecemos, todas as coisas que vemos, e nós que as vemos, não existimos desde sempre e para sempre. As coisas todas, animadas ou inanimadas, nascem, se transformam e morrem ou se acabam. Em outras palavras: seres vivos ou coisas têm existências finitas e efêmeras.

E isso nos leva a pensar que houve um momento ou um tempo-sem-tempo infinito em que nada existia, um instante ou uma eternidade de puro nada, que os astrônomos, atualmente, localizariam antes do "Big Bang", se é que se pode falar em “antes” quando o tempo ainda não existia. De qualquer forma, de acordo com a ciência moderna, esse puro nada nem seria um “puro nada” assim tão absoluto. Mas, para Tomás de Aquino, houve um puro nada, e nesse tempo de puro nada algo aconteceu e deu origem a tudo que há no universo.

Para que o universo saísse da mera possibilidade – a “potência” de que fala Aristóteles – para a existência, ou o “ato” aristotélico, é preciso imaginar que algo tenha provocado isso, caso contrário o nada continuaria sempre e para sempre sendo nada. 

Consequentemente, na visão de Tomás de Aquino, entre todos os seres possíveis, animados ou inanimados, todos os seres em potência, ou, entre todos os seres que podem ser e podem não ser, é razoável acreditar que haja um ser que seja necessário, e que esse necessário seja puro ato.
Adivinhe que ser é esse!

É necessário acreditar que nessa cadeia de potência-ato tem que existir algo que nunca tenha sido em potência, isto é, um ser não contingente, um ser que nunca foi possibilidade, que foi sempre realidade. Daí, a menos que deus exista como sendo esse ato puro, como esse ser necessário por si mesmo, segundo Tomás de Aquino, retornaremos ao absurdo das cadeias causais infinitas dos dois argumentos anteriores.

Mas Tomás de Aquino não atenta para o detalhe lógico de que se existia deus antes de tudo, então não existia o nada; nada para Tomás de Aquino é ausência de toda e qualquer coisa e deus é alguma coisa, portanto, se existe “apenas” não existe o nada.

Repetindo: Uma vez que o nada é a ausência de toda e qualquer coisa e uma vez que deus é alguma coisa, mesmo com a ausência de tudo o mais que foi criado por deus, com a presença de deus existe apenas deus, que é alguma coisa, e essa presença única é mais do que suficiente para anular a “presença” do nada porque o nada mesmo seria o “antes de deus”.

Daí que se existiu um nada existiu um momento ou um infinito de tempo-sem-tempo em que deus não existia. E volta a questão: se nada cria a si mesmo e se nada move a si mesmo, o que criou deus? Se existiu um nada existiu um antes de deus que foi o nada, e não um nada antes de tudo que veio depois de deus porque esse não seria nada. Se existia um nada, o nada deixou de existir quando deus passou a existir e não quando deus criou o universo, daí temos que voltar à pergunta: quem criou deus?

4 - O quarto argumento, chamado de Graus de Perfeição, é mais fácil de entender. Diz Tomás de Aquino: "Encontram-se nas coisas algo mais ou menos bom, mais ou menos verdadeiro, mais ou menos nobre, etc." Por exemplo, Marisa é mais simpática que Luísa, o leão é mais feroz que o cachorro, o produto fabricado pela empresa X é mais confiável que o produto fabricado pela empresa Y. "Ora, ‘mais’ ou ‘menos’ se dizem de coisas diversas conforme elas se aproximam diferentemente daquilo que é em si o máximo".

Ou seja, a gente diz que uma coisa é mais ou é menos algo aproximando ou afastando mais essa coisa da ideia de perfeição; é necessário, portanto, que se tenha algo como parâmetro comparativo, esse algo seria a perfeição absoluta, como um belo absoluto que me permite afirmar que Marina é muito bela e Luzia é apenas bonita. Tomás de Aquino conclui a partir desse argumento que: "Existe algo que é, para todos os outros entes, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: nós o chamamos deus".

Mas esse argumento nos leva de volta às refutações, que fiz, das provas da existência de deus de Descartes: minha ideia de perfeição, sobre qualquer aspecto, não é igual à ideia de perfeição de outra pessoa e nenhuma das duas ideias de perfeição é confiável. Além disso, afirmar que alguma coisa existe não faz com que ela exista, posso afirmar que existe uma cobra azul abraçando o universo; o que essa afirmação acrescentaria aos conhecimentos que temos do universo? Absolutamente nada, uma vez que a minha afirmação da existência de uma cobra azul abraçando o universo não tem o poder de fazer com que efetivamente exista uma cobra azul abraçando o universo.

A mesma coisa vale para a perfeição: afirmar que deve existir um perfeito Bem, uma perfeita Beleza, etc., não obriga a que essas perfeições existam nem obriga a que sejam absolutas e não relativas, particulares e variáveis de pessoa para pessoa, como elas parecem efetivamente ser.

Sei o que é “quente”, mas é fato que o contato com um determinado grau de “quente” eliminaria minha existência, portanto, é lógico que eu sei o que é quente sem nunca ter o conhecimento empírico do grau máximo de quente. Se não tenho e não posso ter esse contato empírico, estou autorizada a pensar que esse grau máximo não precisa existir. A partir daí, posso concluir que não precisa existir nenhum “grau máximo” do tipo que Tomás de Aquino aponta; e o mesmo posso dizer da perfeição, que dizem ser deus.

Tantas pessoas vemos dizendo que têm ou tiveram o pai perfeito, a mãe perfeita, o amor perfeito, a filha perfeita ou o filho perfeito, e basta olhar para essas perfeições para concluir que a noção de perfeição das pessoas varia muito. Fora isso, e para fechar minha contraprova da quarta via, posso dizer que tenho uma ideia de deus perfeito e que absolutamente nenhum deus sobre o qual eu tenha tido algum conhecimento sequer chega perto da minha ideia de perfeição, menos ainda o deus cuja existência Tomás de Aquino tenta provar.

5 - A quinta e última via, chamada Finalidade, trata dos seres que se movem em uma direção, dos seres que possuem uma finalidade; o que, de acordo com Tomás de Aquino, é facilmente verificável na vida existente no planeta Terra, que, ainda de acordo com ele, progride rumo a maiores níveis de organização, desde simples bactérias até modernas sociedades humanas.

Tomás de Aquino usa como exemplo o arqueiro: a flecha só parte em direção ao alvo porque existe o arqueiro que mira e dispara, isto é, porque há uma inteligência guiando a flecha. O "arqueiro" do universo, por assim dizer, é deus.

Acontece que não há nenhuma prova de que todas as coisas e todos os seres realmente possuam uma finalidade ou mesmo de que progridam. Na verdade, observando com mais cuidado a própria vida e existência das pessoas, o que parece é justamente o contrário; a vida da grande maioria das pessoas, olhada de uma certa distância, em nada, absolutamente nada, parece ter mudado ou se transformado e, olhada de uma distância maior, a própria vida na terra e até a própria terra não parecem ter nenhuma importância, caminho ou objetivo.

Essa afirmação de Tomás de Aquino está aparentemente baseada apenas em uma opinião e, como toda opinião, pode perfeitamente não ser aceita. Em especial a afirmação de que as coisas progridem, que é inclusive refutável pela ciência. A Teoria da Evolução fala em mudança, em adaptação, não em progresso; e mesmo a sociologia e a antropologia podem contestar com argumentos bastante fortes esse conceito de que haja uma evolução, no sentido de progresso, do ser humano. Daí se conclui que não há como uma opinião discutível como essa ser prova de nada.

Se o que parece haver na verdade é uma sequência de acasos, azares e coincidências, não fica tão óbvio assim detectar uma “mão de arqueiro” dirigindo essa flecha que seria a existência. Com tantas causalidades e relações aleatórias fica na verdade muito difícil perceber uma inteligência conscientemente boa ou má; menos ainda perfeita, nos vários sentidos que o ser humano pode dar ao conceito de perfeição.

Parece mais lógico que não exista nada, ou então que exista ou tenha existido alguma coisa tão diferente desse deus cuja existência Tomás de Aquino defende e que tantas pessoas vão às igrejas, às sinagogas e aos templos cultuar que essa outra coisa pode não ter nenhum juízo de valor ou então ter ou ter tido juízos de valor totalmente diferentes e alheios à nossa existência. Essa coisa, seja ou tenha sido o que for, a meu ver, teria que ser diferentemente nomeada.

Esse algo tão diferente pode ser uma força inconsciente e desconhecida comparável à gravidade, pode ser algo coletivo comparável a uma nuvem de elétrons, ou pode ser partes de nada, sem materialidade e constituído de pura energia, um tipo de força comparável à eletricidade. Na minha opinião nenhum desses tais seres, conscientes ou não – entre outros que consigo imaginar e entre outros ainda que penso que seriam possíveis mesmo que eu não consiga imaginá-los – pode ser chamado “deus”.

Isso porque o ser a que as pessoas chamam deus é tão humanamente identificável, tão apto a ser criação da mente de pessoas que querem resposta e consolo para suas questões e seus medos que, mesmo com toda a variedade que gera conflitos e guerras, se pode apontar uma unidade nos conceitos de “deus”. Daí que qualquer possibilidade de força, consciência, energia ou o que seja, caso exista ou tenha existido, não seria identificável como deus.

20 de novembro de 2022

RECADO



Nenhuma mulher PRECISA de marido ou de filhos.
Quando acontece de ter
Porque encontrou alguém especial
Desejou e se tornou mãe
Ótimo!
Quando não acontece e não desejou
Ótimo também!
Essa coisa de que
"A mulher se completa no casamento e na maternidade"
É uma das maiores MENTIRAS que já inventaram
SIM
Você pode ser feliz sem isso!
E completa você sempre foi!

7 de novembro de 2022

EU NÃO ESCOLHI



Ateísmo não é escolha... eu nunca pensei assim:
"A partir de hoje eu vou ser ateia!"
Apenas não acredito, apenas não consigo ver sentido nem em deus nem nessa tal fé.
Sei que existem pessoas ateias que lamentam não conseguir acreditar, principalmente em momentos mais tristes, como quando morre um ente querido.
Eu me consolei quando meu pai morreu pensando que ele não existe mais, portanto, não tem mais nenhum tipo de sofrimento.
Mas tem pessoas não cristãs para quem o que serve de consolo para mim não parece suficiente...
Algumas dessas pessoas acabam encontrando outra forma de religião, como o budismo por exemplo...
Ou voltam a uma religião com deus e se forçam a acreditar.
Daí elas passam a se definir como ex-ateias.
Não sei mesmo se essas pessoas já foram ateias um dia, tenho sérias dúvidas.
Porque tenho certeza de que eu nunca serei uma Ex-ateia assim tão fácil.
Para que isso aconteça precisarei de provas MUITO convincentes!
Tão convincente que nenhuma "experiência espiritual" servirá.
Se um ser aparecesse agora na minha frente e se declarasse deus eu não acreditaria.
Pensaria que meu cérebro deu um bug.
Ou que tem um holograma aqui.
Talvez algum ET tenha chegado à Terra.
Mas para acreditar no ET eu teria que ver a nave e todo mundo ver também.
Tipo aparecer no Plantão do Jornal Nacional.
O mesmo vale pra deus.
Se existir e quiser que eu acredite que apareça!
Mas apareça mesmo!
Essa de "se manifestar" não cola pra mim.
E se aparecer mesmo e for o deus das religiões abraônicas eu deixarei de ser ateia sim.
E passarei a ser oposição! 

4 de novembro de 2022

PENSAR E FRITAR OVOS




Entre muitas outras coisas, fritar ovos eu aprendi observando como minha mãe fazia. Quando eu era pequena, ela quebrava o ovo com cuidado no óleo já um tanto quente e logo que a clara começava a ficar branca ela jogava colheradas de óleo quente sobre a gema até o ovo ficar no ponto que ela queria, então tirava da frigideira, colocava o sal e pronto.
Quando eu já era adulta, minha mãe aprendeu e me ensinou uma nova maneira: quebrar o ovo com apenas um pouquinho de óleo e tampar a frigideira, não precisava mais jogar óleo quente sobre a gema porque o calor da frigideira tampada era suficiente para deixar o ovo no ponto certo, tirar da frigideira e salgar. Simples, prático e econômico.
Fritar ovos é algo que faço muito porque adoro pão com ovo!
Semana passada, ao colocar o ovo na frigideira, pensei algo totalmente novo e absurdamente simples, uma daquelas coisas que fazem a gente se perguntar “Por que cargas d’água eu não tinha pensado nisso antes?”.
Me ocorreu polvilhar o sal antes de tampar a frigideira e acender o fogo!
Depois da primeira vez, além do sal eu passei a colocar também outros temperos, e meu pão com ovo ficou ainda mais gostoso.
O que me impressionou nessa mudança tardia não foi ter pensado em uma maneira nova de fazer algo que faço desde sempre, foi a associação que me ocorreu praticamente na mesma hora em que salguei o ovo antes de fritar.
Eu estava invertendo uma ordem que até aquele momento nunca tinha sequer pensado em questionar! 
Eu mudei algo banal, algo que sempre fiz de forma automática, sem nunca lembrar de pensar em fazer diferente.
Fritar ovo era um ato corriqueiro que nunca mereceu minha atenção. Era uma versão caseira do “Sempre foi assim, então é assim que é bom!”.
Quantos preconceitos a gente leva pela vida afora, quantos problemas a gente nem vê que existem apenas porque nunca nos ocorreu imaginar a possibilidade de fazer diferente, de olhar diferente, de pensar diferente, de inverter uma ordem?
Enquanto saboreava meu lanche, decidi procurar com mais cuidado ainda dentro de mim, das minhas ideias, dos meus conceitos... novas maneiras de “fritar ovos”.

30 de setembro de 2022

VOTO CONTRA!



Não! Eu não acredito que o Lula é inocente.
Eu apenas não sei SE ou O QUANTO ele é culpado
Eu vi que o julgamento e a prisão dele foram claramente armação.
Por isso mesmo eu NÃO vou votar NO Lula
Eu vou votar CONTRA o bozobosta.
Porque quanto à culpa do bozobosta eu não tenho a MENOR dúvida!
Quanto ao perigo de ter esse miliciano fascista genocida no poder mais quatro anos eu não tenho a MENOR dúvida!
Se qualquer uma das pessoas da tal "terceira via" estivesse na posição do Lula nas pesquisas.
QUALQUER UMA!
(Não vale para o tal padre porque ele não é nem terceira via nem padre)
Eu votaria nela com o mesmo sentimento e o mesmo objetivo:
Evitar o que eu NÃO TENHO A MENOR DÚVIDA de que é o mal maior.

25 de setembro de 2022

SALVAR O PLANETA?



Não!

Não é verdade que nós estamos destruindo o planeta!
Estamos destruindo a espécie humana
Estamos destruindo muitas outras espécies
E se continuarmos "evoluindo"
Exatamente como estamos "evoluindo"
Talvez um dia a gente consiga destruir
Toda a vida do planeta
Mas o planeta
(Provavelmente)
Continuará seguindo
Sua rota ao redor do sol
Um planeta sem vida
Ainda é um planeta
Não é mesmo?

1 de agosto de 2022

O QUE É SER LIVRE?



“Liberdade é uma calça velha
Azul e desbotada
Que você pode usar
Do jeito que quiser”

Esse é o jingle de uma propaganda antiga de calça jeans. Um dia, não lembro onde, li um texto no qual a pessoa argumentava que liberdade mesmo seria não usar calça. Isso me marcou muito e nunca esqueci.
Sempre que vejo ou leio alguém que fala sobre liberdade esse jingle e essa contestação dele me vêm à mente porque a “calça azul e desbotada” e o “não ter que usar calças” são duas ideias que, na minha opinião, podem ser substituídas por TANTA coisa!
Talvez por todas e cada uma das nossas ideias e das nossas visões do mundo e de nós mesmEs.

31 de julho de 2022

NÓS



Pergunta que "peguei" por aí:
Na sua opinião 
somos tudo ou nada?
Minha resposta:
Na minha opinião 
somos um aglomerado de matéria que,
acidentalmente,
criou vida e,
talvez,
consciência.

27 de julho de 2022

CRENÇA E FÉ



O poeta Mário Quintana disse: "Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor".
Ou seja, sinônimos, via de regra, são palavras que podem ser usadas com o mesmo sentido em determinados contextos, mas não em todos.
Daí que, para mim, crença não é sinônimo de fé quando se fala em religião, em deuses, em coisas transcendentais.
Porque no contexto religioso "" significa acreditar sem provas nem evidências.
Eu posso dizer, por exemplo: "Acredito que o sol vai nascer amanhã", e isso não quer dizer que eu tenho "" de que o sol vai nascer amanhã.
Porque, nesse caso, a minha crença é baseada em evidências.
O fato de que o sol tem nascido no horizonte todos os dias não serve como prova de que ele nascerá amanhã, mas serve como uma evidência que corrobora minha crença de que ele vai nascer amanhã.
Se eu vejo uma pessoa estudando muito e digo: "Tenho fé em você!" quando essa pessoa vai prestar um concurso ou vestibular, aí sim, além de tentar animá-la, eu estou usando a palavra "" como sinônimo de crença!
Eu NÃO estou usando a palavra "" no sentido religioso porque eu vi essa pessoa estudando e acredito que ela tem condições de passar.
Em nenhum dos casos acima usei a palavra sem ter alguma evidência que justificasse seu uso.
Em nenhum dos casos usei as palavras no sentido que as religiões dão a elas.
É por isso que eu fico MUITO P.U.T.A quando pessoas religiosas vêm me acusar de ter fé na inexistência de deus.
Elas estão usando a palavra "" no sentido religioso que dão a ela, e colocando meu ateísmo como uma crença religiosa.
E ateísmo NÃO É comparável à religião nesse contexto!
Será que consegui me explicar?

ADORO cores!



Uma das coisas mais erradas é o mundo preferir
"Cores neutras porque combinam com tudo"...
Esse raciocínio torna tudo bege, preto, cinza...
Seria lindo se os carros fossem todos coloridos,
Cada porta de uma cor e capô de outra...
Os prédios, as casas, as lojas...
Tudo pintado com cores fortes e variadas...
Uma arte bem colorida em cada parede e muro...
Edifícios multicoloridos por toda parte...
As calçadas e o asfalto sempre bem coloridos...
Pinturas coloridas e lindas nas paredes e nos tetos das casas...
Interna e externamente...
Muitas cores nos móveis e eletrodomésticos...

Por que as pessoas não usam roupas coloridas?
Por que uma calça toda colorida “exige” uma blusa neutra ou de uma cor só?
E vice-versa...
Por que a pessoa que veste o corpo todo com muitas cores
Em lugar de alegre é vista como "palhaça"?
Por mim todo mundo usaria muitas cores sempre...
Cores lisas ou neutras denotariam tristeza...
Porque elas SÃO tristes quando sozinhas...
Acho terno e gravata horrível e sem graça...
Tenho muita pena dos homens...
Só estão "bem-vestidos" quando fantasiados de pinguins...

Talvez por isso sejamos tão tristes, egoístas e ignorantes...
Eu ADORARIA viver em um mundo mais colorido!

15 de julho de 2022

TEMPOS DIFÍCEIS



Ando sentindo muita dor
O meu sonho tá doendo bem aqui
Na altura do meu olhar
Tem uma pontada aguda
Perturbando meu desejo
Minha alegria dói
Quando respiro mais fundo
Minha tranquilidade
Palpita dolorida e barulhenta
No fundo da minha vontade
Mora uma dor teimosa
O sorriso que usei como analgésico
Perdeu o efeito e a dor persiste
O chá de indiferença
Bem quentinho
Também não tem funcionado
Preciso de algo mais forte
Talvez abraço de mãe

9 de julho de 2022

MACHISMO DETECTÁVEL



Não importa o que eu esteja lendo, não consigo mais ver a palavra "homem" como sinônimo de humanidade.
Primeiro sinto o estranhamento, depois respiro fundo, lembro que a palavra está ali em função do machismo estrutural e só então continuo a leitura.
Minha cabeça não aceita mais isso com naturalidade, e eu acho ótimo que seja assim porque meu nível de compreensão dos textos ganha uma dimensão a mais.

6 de julho de 2022

OTIMISMO AGORA?



Não, o brasil não ficará melhor no dia em que o bozobosta perder a eleição, menos ainda uma maravilha!
Não ficará melhor porque mesmo com a derrota do bozobosta o bozobostismo continuará existindo e atuando.
Não ficará melhor porque mudar só o presidente e uma ou outra pessoa no legislativo não é e nunca será suficiente para tornar o brasil melhor.
Não ficará melhor porque quem ocupar o cargo vai ter pouco espaço de manobra depois de todas as filhadaputices que o bozobosta e sua quadrilha fizeram.
Não ficará melhor porque a estrutura do capEtalismo não permite melhora rápida quando quem tem muito lucrando tanto à custa de quem não tem nada.
Não ficará melhor porque só pra desfazer uma parte dos danos desse governo bozobostal quem assumir demorará anos. Isso se quem vencer conseguir assumir, né?
Não ficará melhor porque militares, líderes religiosos fdp e milicianos não abrirão mão do poder que a quadrilha bozobostal deu a eles.
Não ficará melhor porque o novo governo não será de esquerda e não governará para o povo, porque não é tão pelo povo como seria necessário para conseguir isso e porque, mesmo que fosse, não é possível governar para o povo em um país totalmente entregue às elites.
Mas, apesar de tudo isso, caso ele continue a ser o único com chance de vitória, votarei no Lula torcendo muito para que ele vença no primeiro turno, assim como votaria em qualquer outra pessoa que tivesse chance de derrotar o fdp que tanta gente achou que seria "uma boa opção" em 2018!

4 de julho de 2022

CARTA NÚMERO DOIS



Brrr(eve) e Xxxxx (l) dor de cotovelo suburbana

Ainda não sei se vale a pena escrever para alguém que talvez não se veja mais, mas provavelmente vale sempre escrever sobre alguém que, de uma forma tanto inesperada como gostosa, deu-se a conhecer me (te) fazendo crer que afinal, pessoas agradáveis às quais é desnecessário agradar com palavras proporcionalmente vazias e convenientes, mas delicioso e convincente açúcar. Quem não gosta e não precisa?
O sábado, porra, logo você?! Me deixar com um fim de semana besta, me dispondo a transar o que aparecesse numa ereção gratuita sem tesão emocional, apenas descarga nervosa biológica.
Puxa vida, você me fodeu, quem diria?
Num saturday night fever (puta merda, como estou ultrapassado!) ou qualquer caca semelhante tão chata.
Nesses nossos dias onde se (te) me encontra e se tem prazer em tentar (me) te conhecer e você (eu?) não aparece, e combinamos e concordamos e nos preparamos, por quê?
Claro que minha (sentei no chão, a letra ficou estranha) preocupação é egoísta. Fiquei puto e minha súbita solidão a dois a dez a cem na ABC noite.
Mas, porra, quem seria diferente?
O fato é que tuas diferentes curvas de corpo e cuca, cobrinha, me enamoraram, feito uma cozinheira descobrindo novas receitas nos mesmos ingredientes, e quis, quero te provar, te misturar, me empanturrar de você até, talvez, enjoar ou me acostumar num afinal feijão com arroz que ninguém sente o gosto mas sente falta.
É isso, acho, mas quanta frescura! Ou pode não ser, que diferença faz?
A minha vontade, desfiada e trançada pra novamente te enlaçar, até quando?
Cacilda! Tô tesudo por mim mesmo!
Cansei
Dá um tempo
Vide
Verso
Tem outro treco pedestal. É o cacete, esse mesmo, quando você senta n’eu te fazendo sentir minha e eu me sentir teu.
Porra só me faltava essa, virei poeta! além de um tanto corneado procurando adivinhar, lembrando as vezes que nos vimos, um toque, um sinal de que eu te aborrecia a ponto de me deixar esperando atrasado, não te julgava capaz disso.
Podia ter vindo e falado, pois não?
Por isso, querendo entender quem sabe o óbvio, é que feito cavaleiro contemporâneo, atravesso com meu Corcel vales e montanhas até teu porão-castelo pra tentar te ver, te ouvir, te tocar a orelha, a boca, o pescoço, o seio, a vontade.
E porque quero que você queira, te convidar de novo a sair, a ver o Elomar esse fim de semana, lembra? Veremos?
Eu te espero hoje, quarta-feira, entre 7:30 e 8:00 no Vila Velha, vem...

PS1 – Desculpe o envelope. Era pra desbaratinar, espero que não tenham aberto antes de você.

PS2 – Outra coisa: precisando falar comigo, ligue XXX XXXX ramal XX – engenharia de xxxxxxxxxx – Xxxx,SA – Sto Xxxx. Xxxx (xxxxxxx).
Sou eu o “Alô?”

PS3 – O molhado no alto é suor de cerveja.

Chega. Até

CARTA NÚMERO UM



Ele é engraçado.
Faz coisas gostosas de lembrar depois, parece até ter sido premeditado.
Fala muito, contando casos, contando coisas; noventa por cento de si mesmo.
É convencido, não se poupando elogios, mas é um convencimento tão carregado de cinismo que parece até estar brincando consigo mesmo.
Os poucos elogios que fez a mim são também duvidosos, não se pode saber com certeza se é isso mesmo que pensa. Mas ele consegue fazer com que a última preocupação seja o fato de comprovar verdades.
É alegre e beberrão sem ser enjoativo e pegajoso.
Mente descaradamente como se quem o ouve tivesse obrigação de acreditar no que diz; mas mente sobre coisas que deveria mentir mesmo.
Tem bom gosto, muito bom gosto, o que me deixou até lisonjeada. E é inteligente, qualidade visível à primeira meia dúzia de palavras.
Não é bonito, embora viva dizendo ser, poderia até ser tachado de feio, se isso tivesse alguma importância.
Conseguiu realmente me interessar a fundo e fazia tempo que ninguém conseguia isso. Me fez sentir livre a seu lado, livre para ser o que sou e o que quero ser.
Fala palavrões com tanta naturalidade que até parecem palavras que se possa dizer numa missa; e isso solta a gente, que consegue ser sem-vergonha também.
Gostei. Aí está todo o resultado, gostei embora saiba, graças a Deus, que não vou me apaixonar, o que torna tudo mais solto e gostoso. Sem amarras, sem possessividade, sem nada. De maneira livre e gostosa.
Mas caso eu consiga fazer logo o tratamento e me tornar fértil, precisarei procurar correndo outro pai pro meu filho; esse é muito perigoso.
Tudo bem, por enquanto vou levando... não tenho mesmo grandes esperanças, não preciso de pai para o meu filho agora, não posso tê-lo ainda, se é que um dia poderei.
Posso então me dar ao luxo de ter um amante.

Saúde Dom!

3 de julho de 2022

SUA "COLHER ENFERRUJADA"



Decreto lei nº 2.848 . Art. 124
Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque”.
Pena: detenção, de um a três anos.

Essa lei é de 1940! Tá mais do que na hora de cair... mas, infelizmente, parece que a racionalidade e a empatia do ser humano não evoluirá a esse nível tão cedo.

Você já se perguntou por que as mulheres abortam? Eu já e fiz essa lista, que quase certamente está incompleta.

- A mulher foi descuidada como muitos homens costumam ser sem sofrer as consequências.
- A mulher acreditou no “amor eterno” do namorado que caiu fora assim que soube da gravidez.
- A mulher é casada, foi mãe mais de uma vez e não tem como sustentar sua família caso chegue mais alguém.
- A mulher engravidou porque a tabelinha falhou e a religião proíbe pílula e camisinha.
- O marido tem o hábito de usar espancamento como método didático e ela não quer ver mais uma criança apanhando.
- Tudo ia bem no relacionamento, mas o namorado morreu assassinado pela polícia quando voltava do trabalho e ela não tem como criar uma criança ou passar pela gravidez sozinha (isso aconteceu com uma pessoa que conheci).
- A mulher foi diagnosticada como estéril e parou com a pílula (isso aconteceu comigo).

Não coloquei na minha lista os casos de estupro, risco de vida da mulher e feto anencefálico porque, por mais que gente sem noção negue e tente impedir, são direitos. Pelo menos por enquanto.

Agora a pergunta: Por que você se acha no direito de condenar todas essas mulheres, ou mesmo uma delas à prisão ou à morte?
Que merda de pró-vida é você?

EU



Canto no canto da vida
Penso a ferida enquanto penso
Na causa da dor
Queria saber na língua
O doce sabor
Da aventura de respeitar
O outro ser
A outra vida 
No seu básico esplendor

28 de junho de 2022

DEFENDER O ÓBVIO



Ontem vi novamente a frase “Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?” atribuída a Bertolt Brecht.
Pensei que ela é muito atual nos tempos que vivemos hoje, me indignei e quase parei por aí.
Quase porque depois vi o filme Seberg na Netflix e ele me provocou a pensar mais um pouco, ou um pouco mais a fundo talvez.
Daí acabei concluindo que essa frase sempre foi atual.
A história está cheia de pessoas que defenderam o óbvio.
Na maioria das vezes essas pessoas são minorias numéricas, são minorias em termos de poder, ou são minorias nos dois sentidos.
Na maioria das vezes essas pessoas são atacadas com violência e acabam pagando um preço muito alto pelo “crime” de estarem defendendo o óbvio.
A História está cheia de exemplos, em todas as épocas, em todos os lugares.
Para não me estender demais e porque não sou especialista, cito apenas alguns:

- As pessoas escravizadas da Roma antiga lideradas por um tal Spartacus defendiam o óbvio.
- As pessoas que tentaram lutar contra o domínio e as fogueiras da igreja católica na Idade Média estavam defendendo o óbvio.
- As pessoas escravizadas que fugiam para quilombos e as pessoas nos movimentos abolicionistas defenderam o óbvio.
- As feministas que, desde o século XIX foram ignoradas, desprezadas, espancadas e até mortas para que as mulheres obtivessem os poucos e frágeis direitos que temos estavam (e estamos) defendendo o óbvio.
- As pessoas que se uniram em sindicatos e fizeram greves por direitos trabalhistas estavam defendendo o óbvio.
- As pessoas que iniciaram e as pessoas que mantém e que defendem os movimentos e as lutas LGBT estavam e estão defendendo o óbvio.
- As pessoas que participaram dos movimentos estudantis que combateram a ditadura militar e que acabaram sendo torturadas ou mortas nos porões do DOI CODI estavam defendendo o óbvio.
- E nós, que desde 2016 tentamos evitar a tomada do país pelo capEtalismo ativo e pelo fascismo mal disfarçado estamos defendendo o óbvio.

Sobre cada grupo de pessoas que defendem o óbvio, as “gentes de bem” costumam levantar seus “Ah, mas essas pessoas também...”
E completam com desinformação, fatos exagerados ou mitos que não cabem de forma alguma no todo dessas lutas.
Para as pessoas que se negam a ver, ouvir e entender o óbvio e para suas consciências distorcidas, as invenções, mitos e exageros são suficientes para “justificar” ou tentar justificar as agressões, as mortes e qualquer tipo de violência que as pessoas que defenderam o óbvio sofreram e sofrem.
Incluindo a tirada de direitos conquistados a duras penas e com muita dor.
Mesmo assim algumas pessoas estão sempre defendendo o óbvio...
E quase sempre sofrem repúdio, demonização e ataques.
Mas é ao lado dessas pessoas que quero estar. Sempre!
A única vantagem que vejo em defender o óbvio sem que me deem ouvidos é saber que não me aliei ao que há de pior.
Não é uma grande vantagem, mas é tudo que temos na maioria das vezes.
Porque, ao contrário do que dizem, o mal quase sempre vence.

27 de junho de 2022

DORES



A maternidade deveria ser SEMPRE uma escolha
Um prazer
Um bem
NUNCA uma obrigação
Um peso
Uma prisão
Não entendo quem é contra o aborto
Eu preferia ter sido abortada
A saber que minha mãe me teve por imposição
Que minha existência foi sofrimento para ela

Eu preferia ter sido abortada
A saber que enquanto gametas se dividiam
Para formar a pessoa que eu seria
A mulher que não queria ser minha mãe
Estava sofrendo porque não teve
O seu não querer respeitado

11 de junho de 2022

SOU CONTRA O ABORTO



Acho que a grande maioria das pessoas é contra o aborto.
Eu sou contra o aborto!
Mas sou a favor, e muito, da legalização do aborto.
Aborto é, e tem que ser, um último recurso quando os outros falharam ou por alguma razão não puderam ser usados.
Acho que nenhuma mulher quer usar aborto como anticoncepcional, o que precisa é que todas as mulheres tenham o direito de fazer aborto quando ELAS, pelos motivos que só dizem respeito a elas, decidem fazer.
Simples assim.
Se o aborto é crime porque tira uma vida inocente, matar animais é crime maior ainda porque, ao contrário dos embriões abortados, os animais são mortos quando já estão formados e com capacidade de sentir dor e medo.
Essa coisa de achar que um óvulo humano fecundado tem mais direitos do que um animal senciente adulto é herança religiosa que pessoas ateias ainda carregam.
Essa herança religiosa é tão forte que valorizam mais a "vida" do óvulo fecundado do que a da mulher, que nem querem saber se sofre, se vai sofrer, por que motivo precisa ou quer fazer aborto.
E também valorizam mais a "vida" de um óvulo fecundado do que a de uma criança nascida sem lar, sem amor, sem condições de ter uma vida decente.
O que acho engraçado sobre isso é que muitas pessoas hipócritas que são contra aborto argumentam que se a mulher não tem nenhuma condição de criar o filho, ela pode simplesmente entregar para adoção.
Dentro da visão que a minha parca inteligência alcança, se a adoção fosse algo assim tão simples como parecem pensar essas pessoas que não pensam nos direitos de mais ninguém a não ser nos hipotéticos “direitos” de um óvulo fecundado, não haveria tantos orfanatos pelo mundo, e pelo Brasil, cheios de crianças esperando por uma adoção que em muitos casos nunca acontece.
Além disso, como não pensam na vida da pessoa que com certeza está viva e sente dor - a mulher - para essas pessoas parece fácil, muito fácil, levar até o fim uma gravidez indesejada.
Juro que não entendo como querem que o abandono, a tristeza, o desespero se tornem (ou continuem sendo) crime.
(texto muito antigo, mas infelizmente continua atual, talvez mais do que quando foi escrito)

10 de junho de 2022

VOTE NULO



Caso a possibilidade
Da derrocada da democracia
Não te incomode
Vote nulo
Como disse a Ana do Meteoro
"Se você se imaginar vendo o resultado
E vendo que o bozobosta venceu
Se isso não te incomodar
Se isso parecer aceitável pra você
Então vote nulo ou não vote
"
Talvez graças a essa decisão
Você nunca mais precise se preocupar
Em sair de casa pra votar
Nunca mais obrigado a votar
Nunca mais terá que escolher
"O menos pior"
Porque não haverá mais eleições
Afinal eles defendem a ditadura
Eles defendem o AI5
Que acaba com o direito ao voto
Daí você fica bem
(calado)
Né?

9 de junho de 2022

SER E SABER



Por que TEM que ter um criador?
Não poderia ser simplesmente um evento natural?
Acho "acreditar" um verbo problemático
Tende a eliminar outras possibilidades se fixando em uma
Sem ter razões plausíveis para isso
Por essa razão sou ateia
Não SEI nada
Mas não "acredito" em nada
E também não suspendo o julgamento
Não vejo razão para isso
Se não preciso suspender o julgamento
Com relação a fadas e papai Noel
Não vejo por que fazer isso com relação a deuses

3 de junho de 2022

ARGUMENTAÇÃO



Um teísta tentou justificar o argumento do "livre-arbítrio" com a frase "Seguimos o que é moralmente certo". Essa foi minha resposta a ele:

Quem "seguimos o que é moralmente certo"??? Os padres pedófilos, os bispos e papas que acobertam esses padres pedófilos e os católicos que pagam o dízimo que vai ser usado para "calar a boca" das vítimas não "seguem o que é moralmente certo". 
Os pastores estupradores; os pastores que vomitam preconceito incentivando pessoas a agredirem e até a matarem as pessoas diferentes do padrão que "seu deus" aceita; os pastores que ficam milionários roubando dinheiro das pessoas pobres, ignorantes e ingênuas que caem em sua conversa; os pastores que se aliam a governos como o bozobosta, que substitui o amor de Jesus pelo ódio e pelas armas e as pessoas que, via dízimos e doações, sustentam esses vendilhões da bandidagem "em nome de Jesus" certamente não "seguem o que é moralmente certo". 
Enquanto isso seu deus, caso existisse, seria aquele que não faz NADA contra essa nojeira toda, aquele que permite o uso do seu nome para todo tipo de maldade e ignora todo sofrimento de toda criança que sofre no mundo. 
Porque quem faz as crianças sofrerem (se não forem os microorganismos e as leis da natureza), esses têm livre arbítrio para torturar, estuprar e matar uma criança, mas a criança não tem livre arbítrio nenhum. 
Por mais que as pessoas que amam esse deus tentem me explicar, eu não posso entender como conseguem aceitar tanta maldade, injustiça e aberração como "amor" e "justiça". 
Para mim, essas palavras têm outro significado, que não se aplicaria a esse deus, caso ele existisse.

18 de maio de 2022

MINHA HISTÓRIA COM LULA



Morei em São Bernardo do Campo (SP) até o ano de 1982. Fiz o segundo grau no João Ramalho, escola estadual próxima ao sindicato onde o Lula “nasceu”. Não fui aos comícios da Vila Euclides, mas senti o “perfume” do gás lacrimogênio das manifestações na rua do sindicato quando saía da escola.
Mudei de São Bernardo quando me casei, mais tarde mudei para o Rio, mas sempre acompanhava – sem muito fanatismo porque nunca fui disso – as imagens dos discursos daquele torneiro mecânico que queria ser presidente.
Vi as armações da Globo contra o Lula desde o começo. Vi a farsa do sequestro do Abílio Diniz, vi a “bomba” da “filha fora do casamento”, vi todas as “notícias” desencavadas no auge da campanha sempre que a candidatura do metalúrgico ganhava destaque.
Percebi o processo de fabricação “global” do “caçador de marajá”.
A primeira vez que vi o Collor, fazendo seu discurso para a “babação” do jornalismo da Globo, eu disse ao meu marido: “Credo, que horror! Esse cara parece o Hitler”.
Eu falava do jeito de discursar, do conteúdo populista e dos gestos de mão; não da aparência física.
Trabalhei como mesária na eleição em que o “caçador de marajá” fabricado pela Globo venceu, ouvi várias mocinhas na fila e na sala de votação dizendo: “Vou votar no Collor. Ele é lindo!” e senti muita pena delas.
Votei no Lula em 2002 e comemorei o resultado das urnas; mas minha alegria durou pouco.
Uma semana depois de eleito, vi Lula apertando a mão do Maluf e passei a considerá-lo apenas mais um político, como tantos políticos.
Transferi meu título para São Paulo e tomei a decisão de viajar até lá se aparecesse alguém em quem eu realmente quisesse votar.
Não votei na Dilma mas fui contra o golpe, que identifiquei como golpe desde o começo.
Odiei o temeroso e desejei muito que no país tivesse algum resto de decência capaz de tirar esse ser abjeto do poder... não teve.
Participei de toda a campanha “Ele não” porque abominei o abominável desde os tempos em que o abominável fazia seus discursos abomináveis nos programas de televisão.
Desejei que no país tivesse algum resto de decência capaz de tirar o abominável do plenário no momento em que ele prestou homenagem a um torturador no voto pelo golpe... não teve.
Abominei o marreco de Maringá desde o começo dos atos que a muitos pareciam coisa de “herói” e que me pareceram filhadaputice disfarçada de justiça.
Abominei mais ainda quando, graças às falcatruas do marreco o bozobosta venceu e o marreco ganhou o ministério onde esperaria, se fazendo de morto para os crimes da familícia, até que o Voldemort do planalto desse a ele uma vaga no STF.
O marreco de Maringá foi traído e, como traíra escorregadia que é, deu um jeito de faturar um cargo de consolo nos EUA enquanto aguardava sua “vitória certa” na próxima eleição...
Comemorei cada “voo” frustrado do marreco que aparentemente capotou de vez no chão.
Vi e abominei cada uma das m3rdas que o abominável, sua familícia e sua quadrilha fizeram, disseram e amontoaram.
Lamentei cada colega, cada jovem, cada pessoa que vi caindo na armadilha do bozobostismo. Na escola onde eu dava aulas, nos meus ciclos de amizade, nas minhas redes sociais...
Tentei ser uma voz dissonante e de alerta; infelizmente a doença do fanatismo bozobostístico sempre foi mais forte do que eu.
No segundo turno tive duas certezas:
1 - O Haddad não venceria apesar do meu voto e da minha modesta campanha.
2 - O Ciro foi para Paris posar de “neutro” como recado para que o bozobosta oferecesse um ministério pra ele.
Porque, para mim, até prova em contrário, ainda tô vendo político como político e não como salvador da pátria.
Pela ida a Paris, por mais “explicações” que ele e seus fãs deem, o Ciro passou de político que eu ignorava como só mais um entre tantos para mais um político de quem eu não gosto.
Não mudei minha opinião sobre o Lula, mas apoiei o “Lula livre”, escrevi sobre minhas razões e compartilhei memes e textos em favor da correção da kag4da do marreco e sua corja “juridícula”.
Decidida a votar “até no capeta” contra o bozobostismo, estou de olho nas pesquisas.
Sempre lamentando que ainda exista (30%) tanta gente incapaz de entender o que é empatia e disposta a votar no inominável; apesar, ou por causa de tudo que o inominável kaga pela boca e por tudo que o inominável faz.
Só um nome tem chances de tirar o genocida do poder no primeiro turno; se continuar assim é nesse nome que votarei.
Votarei nele sim!
Por mais que me ponha a pensar que, se apertou a mão do Maluf, se coloca o ladrão de merenda como vice, bem poderia apertar a mão do bozobosta e, sei lá, dar um cargo pra um dos “zeros” bozobostais...
Tomara que não!
Mas votarei assim mesmo e logo no primeiro turno porque, como disse o Gregório Duvivier, uma derrota no primeiro turno seria mais difícil de ser contestada com um golpe bozobostal; provavelmente.
Se com essas mesmas chances estivesse o Ciro eu votaria no Ciro; se fosse o Dória (outro de quem não gosto), eu votaria no Dória; Se fosse a Simone, votaria na Simone...
Posso encher dez parágrafos com nomes de pessoas de quem não gosto mas em quem eu votaria no primeiro turno se tivesse chance de tirar o bozobosta no primeiro turno.
Por agora, o único político que tem essa chance é o Lula.
Por isso, e só por isso, votarei no Lula.
A não ser que os resultados das pesquisas mudem.

16 de maio de 2022

ÚRSULA



Cem anos de solidão...
Cem anos?
Cem anos é pouca solidão

De solidão temos
Milênios
Muitos milênios

Isoladas em nossos corpos
Exploradas em nossos
Sentimentos
Usadas em nossas
Mentes
Desprezadas em nossas
Histórias

Mulher
Fêmea
Menina
Senhora

Esquecida de ser
De ser vista
Olhada
Entendida
Estendida

Mulher...

8 de maio de 2022

MINHA PALAVRA PREFERIDA



Minha palavra preferida de todas as palavras que existem no mundo é RESPEITO
Eu acredito que se a minha palavra preferida fosse mais valorizada e mais aplicada o mundo seria melhor
Mas as pessoas “de bem” não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
As famílias “tradicionais” não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
As religiões não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
A política não costuma ligar muito para a minha palavra preferida
A economia não costuma ligar muito para a minha palavra preferida
Os deuses que as pessoas cultuam não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
Li o livro “sagrado” de um deles duas vezes e não me lembro de ter visto a minha palavra preferida lá
Talvez tenha aparecido uma ou duas vezes com significado um tanto restrito e eu nem tenha reparado
Essas são as razões por que eu não acredito que a minha palavra preferida venha a ser mais valorizada um dia
Essa é a razão por que eu não acredito que o mundo será realmente melhor um dia
E fico triste por isso...

29 de abril de 2022

VANTAGEM DE SER ATEIA



Agora há pouco fui tirar o lixo orgânico da cozinha.
Depois de embrulhar tudo e deixar perto da porta pra levar quando terminasse o trabalho, fui limpar a lixeira e, em uma dobra da tampa tinha dois ovinhos de drosófilas, de um deles chegou a sair uma minúscula lagartinha quando comecei a passar sabão pela lixeira.
Limpei tudo e os ovinhos, juntamente com a lagartinha, foram-se; mortos em meio a sabão e desinfetante pelo ralo do tanque.
Com a lixeira limpa e novo saco de lixo no lugar certo, enquanto lavava as mãos, pensei:
Para a natureza, para o deus de Spinoza, para a Evolução darwiniana, aquelas drosófilas abortadas, as centenas de tartarugas que são devoradas pelas aves marinhas antes de chegar ao mar; os ursinhos atacados, estraçalhados e devorados ao sair da caverna com sua mãe magra, fraca e faminta que deu àqueles filhotes todas as reservas de energia que tinha; o filho morto no parto por imperícia médica, infecção hospitalar, complicações incontornáveis; todos os filhotes e todos os filhos mortos prematuramente têm absolutamente o mesmo valor e a mesma importância:
Nenhuma.
Sempre vejo alguém perguntar qual a vantagem de ser ateia.
Posso citar várias, mas...
Por mais terrível que pareça e por mais sofrimento que cause, para mim, a maior delas é essa:
É muito bom não ter que aceitar ou criar desculpas e justificativas para me obrigar a adorar, respeitar ou amar um ser consciente que seja responsável por isso!

25 de abril de 2022

TOLERÂNCIA



Sei que para muitas pessoas
Boas, éticas e decentes
Deus é uma questão de fé
Eu não entendo essa tal fé
Capaz de "passar por cima"
De todas as evidências
Mas aceito
E respeito
As pessoas que conseguem fazer isso
Sem impor sua fé a ninguém
E respeitando as diferenças
Tenho o privilégio
De ser amiga
De várias pessoas assim
E filha de uma delas
Me sinto grata
A cada uma dessas pessoas
Pela amizade
Pelo amor e pelo carinho
Que delas recebo
Mas as religiões
Como instituição
Essas em sua maioria
São muito criticáveis
E os líderes religiosos
Que usam essa fé
Para explorar as pessoas
Para incutir o ódio
E o preconceito
Nas mentes mais sugestionáveis
Merecem todo meu repúdio
Quando falo do meu ateísmo
Minha intenção primeira
É combater a crença cega
E manipulável
Que as religiões
E esses líderes
Propagam
E minha outra intenção
Que vem “de mãos dadas
Com a primeira
É mostrar a quem crê em deus
Que sou uma pessoa comum
Que não acreditar em seu deus
Não me torna um ser maligno
Que ateísmo não é sinônimo
De satanismo
Principalmente porque
Pessoas ateias
Não creem em Satã
Demônios
Capeta
E outros deuses do mal

22 de abril de 2022

EXPLICAÇÃO



De certa forma, quando falo do meu ateísmo, estou fazendo o mesmo que faz uma pessoa que se empenha em “pregar a palavra”.
Mas não estou imbuída das mesmas razões e não tenho fé no meu ateísmo porque ateísmo não é crença.
A diferença que percebo é que a pregação é uma ação e os meus argumentos ateístas são uma REação.
Eu jamais teria me sentido confortável para falar como falo se não tivesse passado boa parte da minha vida ouvindo tantas pessoas “pregando a palavra”; tantas pessoas me dizendo as mesmas coisas que praticamente toda pessoa religiosa diz.
Coisas que, em muitos casos, as religiões usam para justificar todo tipo de absurdo.
Como preconceito, misoginia, intolerância, megalomania, ganância, desprezo pelas pessoas que pensam ou são diferentes. E até mesmo crimes.
Não estou falando que todas as pessoas teístas fazem isso!
Estou dizendo que o número delas é grande o suficiente para interferir na vida de pessoas como eu, que não creem; de pessoas que creem em deuses diferentes, ou que creem no mesmo deus de forma diferente.
Então, não falo do meu ateísmo para convencer as pessoas de que deus não existe.
Falo para convencer as pessoas de que deus não existe PARA MIM e para muitas outras pessoas.
Falo principalmente para que parem de tentar enfiar o deus delas na vida de todo mundo e nas leis do meu país. Porque isso afeta a mim e a todo mundo que vive aqui.
Por último - mas bem menos importante -, falo porque sou tagarela, porque gosto de escrever, de expor meus pensamentos e opiniões.
E aqui, na internet, é o único lugar onde me dou o direito de fazer isso com mais liberdade.
Ao contrário de muitas pessoas religiosas, eu não saio por aí "pregando a palavra de Darwin".

Dizem que não é deus quem comete injustiças!
Claro que não! Deus não existe e quem não existe não “comete” nada.
Mas SERIA deus sim! SE o deus de que me falam existisse.
De todo mal que a gente aponta, pessoas religiosas dão um jeito de dizer que “são as pessoas”.
Eu pergunto sem ser original: E quem essas mesmas pessoas dizem que criou essa raça humana que cometem as injustiças, os males, os crimes?
Seu deus não é onipotente?
Não podia ter criado diferente; ou simplesmente não ter criado esse animal tão terrível que é o ser humano?
Que raio de onipotência é essa que não pode criar apenas seres que não sentem prazer em matar, subjugar e destruir?
Além disso, como podem colocar todo sofrimento na conta do ser humano se o ser humano não criou nada?
Criamos os vírus que matam crianças?
Criamos as catástrofes naturais que matam crianças e animais inocentes desde muito antes de os animais humanos terem poder de influenciar e destruir a natureza?
Criamos as deformações com que muitas crianças e animais nascem desde muito antes de os seres humanos terem a ciência e a medicina?
Essas pessoas falam dos muitos males criados e mantidos por seres humanos e esquecem dos males que atingem os seres humanos desde sempre e que não só não criamos como - até hoje! - ainda não temos conhecimento nem capacidade de evitar ou amenizar.
Menos ainda as crianças, que são vítimas desses males e não têm poder nenhum.
Se o seu deus existisse e tivesse criado tudo a partir do nada, a culpa desses males não seria dele e apenas dele?

Já me disseram que sou muito “nervosinha”, que sou tão passional quanto uma teísta.
Eu admito essa falha, mas me defendo:
Não tem como não ser passional quando falo do sofrimento que vejo e da indiferença com que, embotadas pela religião, as pessoas olham para esse sofrimento.
Eu vejo pessoas que louvam o deus que teria “dado tudo” a elas e negado o básico a tanta gente. Essas pessoas usam a fé egoísta para desdenhar o sofrimento de crianças!
E vejo que muitas vezes - talvez na maioria das vezes - tais pessoas nem se dão conta disso, tão cegas se tornaram pela crença nesse deus improvável.

Sempre que uma coisa boa que me acontece, não consigo deixar de pensar em quantas coisas ruins estão acontecendo com pessoas que merecem mais coisas boas do que eu.
Não consigo deixar de pensar em como seria injusto um deus que tivesse me dado essa coisa boa e negado o básico - até a mais fundamental necessidade - a tantas crianças inocentes.
Se eu acreditasse que o bem que tenho é presente de deus, eu teria que acreditar que o vírus ou o câncer que matam uma criança depois de muito sofrimento também são “presentes” de deus.
E eu odiaria esse deus!

Isso tudo é impossível de pensar, sentir e falar sem ser de forma passional.
Como não ser passional se estou falando de amor?
Eu sou o que sinto quando escrevo, e estou escrevendo sobre amor.
Sobre o amor que sinto pelas pessoas boas que sofrem, pelos animais inocentes que sofrem, pelas crianças que sofrem.

Não consigo ser tão egoísta a ponto de adorar um deus, atribuindo a ele o bem que tenho, enquanto me forço a esquecer todo sofrimento que vejo diante de mim, e que seria culpa desse mesmo deus.
Não tenho capacidade nem amor próprio suficiente para isso.

Foi essa visão, foi esse pensamento, foi essa constatação que me tornou a ateia que sou.
Não tive uma decepção, um grande sofrimento ou uma “graça” que pedi e não aconteceu.
Apenas tirei os olhos do meu próprio umbigo e olhei à minha volta.
Olhei DE VERDADE à minha volta.
Foi isso que me deu a certeza de que esse deus de quem tanto me falam não tem como existir.

Por tudo que sou e por tudo que sinto, minha certeza de que deus não existe e de que eu teria que ser muito egoísta para ter fé se tornou parte de mim.
Sou ateia de uma forma que não tem volta.
Porque não existe o verbo nem o ato de “desver”.