MEU FEMINISMO

- Meu feminismo não gosta que a mulher seja designada para exercer papéis que não escolheu porque meu humanismo não gosta que pessoas sejam designadas para exercerem papéis que não escolheram.

- Meu feminismo não gosta que a mulher tenha sua orelha furada assim que nasce e seja vestida apenas com roupinhas cor de rosa porque meu humanismo não gosta que uma criança tenha sua liberdade de escolha - de brinquedos, roupas, acessórios, amigos, brincadeiras e esportes - podada apenas por ter nascido com uma vagina ou com um pênis.

- Meu feminismo não gosta que a mulher tenha como única opção de futuro “respeitável” o casamento com um homem e a maternidade, porque meu humanismo defende que todas as pessoas possam escolher se querem ter filhos ou não, se querem se casar ou não e com quem querem se casar, namorar, se relacionar.

- Meu feminismo não gosta que a mulher seja convencida de que não deve se debruçar sobre qualquer assunto com o argumento de que “seu cérebro não é afeito à lógica e às ciências exatas” porque meu humanismo defende que não deve haver limites para o que uma pessoa pode estudar, aprender ou praticar desde que ela decida que é o que quer e deseja.

- Meu feminismo não gosta que o valor da mulher seja resumido à sua aparência e à sua capacidade de servir de enfeite porque meu humanismo defende que o valor de uma pessoa se resume ao conhecimento e reconhecimento de que cada pessoa tem os mesmos direitos e as mesmas liberdades de qualquer outro ser humano.

- Meu feminismo não gosta que a mulher sinta que só terá valor se for “bonita”, se usar sapatos desconfortáveis que a impedem de se locomover com desenvoltura e roupas que coloquem ênfase nas suas características sexuais secundárias porque meu humanismo defende que todas as pessoas têm o direito de escolher seus sapatos e suas roupas de acordo com seu gosto e sua necessidade sem se prender a padrões impostos pelo artificial e limitador conceito de “feminilidade” ou “masculinidade”.

- Meu feminismo não gosta que a mulher seja forçada a usar maquiagem e cuidar mais do cabelo do que do cérebro porque meu humanismo prefere que todas as pessoas se sintam livres para usar maquiagem ou não, cuidar muito do cabelo ou não sem se sentirem forçadas ou diminuídas por algo tão pessoal.

- Meu feminismo não gosta que que a mulher seja associada com tudo que é pornografia, prostituição, exploração sexual e subemprego porque meu humanismo defende que todas as pessoas sejam vistas como seres humanos livres e com os mesmos direitos, independentemente de sexo, de gênero e de como escolham tratar e viver a própria sexualidade.

- Meu feminismo não gosta que a mulher tenha como única opção de felicidade estar ligada a um homem e como única opção de atividade administrar a vida em família porque meu humanismo defende que todas as pessoas se liguem a quem elas quiserem, ou a ninguém se assim escolherem, e que tenham o direito de exercer a atividade que quiserem.

- Meu feminismo não gosta que a mulher seja forçada a amar homens, casar com eles, transar com eles, criar os filhos deles porque meu humanismo defende que todas as pessoas tenham o direito de amar homens, mulheres, os dois ou nenhum conforme seu coração mandar, e que se casem, transem e tenham filhos com quem quiserem e se quiserem, tendo como única restrição o consenso.

- Meu feminismo não gosta que a mulher não possa exercer posições de comando em qualquer campo porque “elas engravidam” ou “não têm frieza e força para mandar” porque meu humanismo defende que todas as pessoas se libertem de todos os padrões que sejam impostos de forma “tradicional” e mentirosa e que sejam livres e aceitas por suas capacidades e não por seus órgãos genitais.

-  Meu feminismo não gosta que algumas feministas neguem às mulheres trans o direito à feminilidade que é delas tanto quanto de qualquer uma de nós porque meu humanismo não aceita que qualquer pessoa ou grupo tenha direito de determinar, sem nenhum fundamento científico ou humanitário, a obrigatoriedade de alguém ter nascido com vagina para ser mulher ou de ter nascido com pênis ser homem.

FEMINISMO

Eu me defino como muitas coisas sem que esteja de acordo com todas as pessoas que se definem com as mesmas palavras. Sei que em todos os grupos existem várias vertentes, níveis de adesão, concordâncias e discordâncias com pontos específicos. Tenho consciência de que pertencer a uma das designações que uso para me definir não é quesito suficiente para que eu seja uma pessoa seja boa ou má, não é quesito suficiente para que alguém se pareça “demais” comigo e não é quesito suficiente para que alguma pessoa queira ser minha amiga, e vice versa.

Sou mulher mas não gosto de todas as mulheres, sou velha mas não gosto de todos os velhos, sou professora mas não gosto de ninguém apenas por ter essa mesma profissão, sou ateia mas não gosto de todos os ateus... E essa lista pode ficar enorme, mesmo considerando que eu gosto de MUITA gente!

Até aqui parece que estou falando o óbvio porque certamente o que falei de mim vale pra todo mundo e praticamente todos os grupos. Acontece que existe um grupo ao qual pertenço que tem sido julgado e odiado como se fosse uma unidade sem variantes. E tem sido visto assim até por pessoas que se identificam com tudo que eu disse até agora: o feminismo

Sou feminista, tenho o feminismo como uma de minhas bandeiras mais significativas e definidoras. Me revolta demais ver pessoas negando o feminismo por causa de uma ou outra coisa que não concorda e que viram em uma notícia, texto ou vídeo que expõem alguma manifestação ou trecho de manifestação feminista ou que ouviu como opinião e fala de alguma feminista ou de algum “analista” do movimento feminista.

Destaques dados a coisas que boa parte da sociedade considera negativas e que em algum momento surgem ligados de alguma forma ao feminismo costumam aparecer em publicações cuidadosamente selecionadas para “sustentar” os “argumentos” de pessoas e grupos que combatem o feminismo.

Esses grupos e essas pessoas nos “rebatizaram” de “feminazis”, não suportam ver mulheres ocupando espaços porque acham que aquilo “não é para mulher”, ficam muito revoltados quando veem feministas lutando contra atitudes machistas que essas pessoas e grupos consideram normais, lamentam a existência do feminismo porque as feministas denunciam e expõem pessoas ou grupos que agridem as mulheres ou apenas uma mulher.

Esses grupos e pessoas adoram diminuir todas as reclamações, denúncias e depoimentos de mulheres ou grupos feministas sobre atitudes, comportamentos e discursos machistas chamando tudo que dizemos de “mimimi”.

E esses grupos e essas pessoas se aplicam tanto, se esforçam tanto e investem tanto no combate ao feminismo que levam mulheres como eu, que sentem e pensam como eu, a acreditarem em seus discursos viciados a ponto de negarem o feminismo e dizerem “não sou feminista, sou feminina”, como se uma coisa excluísse a outra. 

O DIA E A VIDA

Nunca tive muita paciência
Com o humor das pessoas
Com a minha própria raiva contida
Brinco com as lágrimas de indignação
Derrubadas em nome das injustiças
Faço mais do que posso
E minhas dúvidas se perdem
Nas águas
De um dilúvio inexplicável
Brinco com a pomba da paz
Nos dias que trazem guerras
E nas noites que velam mortos
Visto-me com má vontade
Na primavera quero estar nua
As nuvens formam imagens
São bichos fugindo no azul
Sou o segredo que guardo
Porque não sei revelar
Porque tenho medo de mim

SOBRE REIS E O REI DA ESPANHA

Nunca consegui ver reis e rainhas
Se não como um anacronismo
Que depõe contra a sanidade
Do povo do país que os mantém
Talvez seja exagero
Ignorância da minha parte
Mas não consigo ver sentido
Nessa coisa de "Família Real"
Do alto da minha total ignorância
Acho que se chutassem
Esse caçador de elefantes
De cima do trono
Seria um ato tão elogiável
Quanto proibir as touradas

A PALAVRA SAUDADE

"Nós brasileiros sentimos Saudade
De forma que um simples "I miss"
Não seria capaz de expressar"
Duvido e duvido mesmo!
Que um nativo da língua inglesa
Sinta menos quando diz "I miss"
Do que um brasileiro
Quando diz "Saudade"
Duvido e duvido mesmo!
Que um nativo da língua inglesa
Que ouve um "I miss"
Entenda algo menos intenso
Do que um brasileiro entende
Quando ouve um outro brasileiro
Dizer "Saudade"
Faz tempo que sou encasquetada
Com essa mania
De achar que a palavra "saudade"
Vale mais e nos torna melhores
E mais sensíveis
Do que o resto do mundo
Isso é prepotência!

POR QUE EU GOSTO TANTO DE VOCÊ?

No mundo na vida nas pessoas
Em cada uma delas e em mim mesma
Há tantas coisas que eu não entendo
Tantas

Uma das muitas coisas que não entendo
É por que eu gosto tanto de você

Muitas vezes fico te olhando
(Adoro te olhar!)
E pergunto a mim mesma
O que é isso de gostar tanto assim de você?

Seria porque você é homem
Corpo e jeito diferente do corpo e jeito que é o meu?
Não

Conheço e conheci outros homens
E mesmo daqueles homens de que mais gosto
E de que mais gostei
Colegas namorados amigos

Nunca gostei tanto quanto gosto de você

Será porque você é acordado inteligente e lúcido
Mais pé no chão do que eu?
Não

Conheço e conheci outras pessoas inteligentes
Acordadas e lúcidas
Mais pé no chão do que eu
E mesmo daquelas pessoas inteligentes de que mais gosto
Nunca gostei tanto quanto gosto de você

Seria porque você é marrom?
Por esse tom de marrom-madeira-carne
Que atrai meus olhos e minha cor?
Não

Conheço e conheci outras pessoas marrons
Em belos tons
E mesmo daquelas pessoas marrons de que mais gosto e mais gostei
Nunca gostei tanto quanto gosto de você

Seria a temperatura da sua pele
Que é sempre diferente da temperatura da minha pele?

Mas nem mesmo sei se a sua temperatura é mesmo outra
Ou se sou eu que sinto esse grau a mais de calor
No grau a mais do meu querer
Não sei

Sei que depois que toquei sua pele
Nunca uma pele com tanta força me respondeu

Seria o cheiro que você tem
Diferente e quente
Com gosto e sol?

Mas se nem sei se o seu cheiro é mesmo tão
Mais quente e bom
Ou se é a minha pele que te absorve
Antes de você chegar
Não sei

Sei que tocar você é quase a melhor coisa que faço na vida
Sei que o toque mais casual é feito de um querer quase violento
Quase sagrado

Te tocar é quase um grito que não é meu
Parece que a minha pele quer te vestir

E eu não entendo
Fico pensando e nada parece fazer sentido
Não sei

Não sei por que eu gosto tanto de você

CANTIGA DO BÊBADO

(Visitando Drummond) 

No meio do caminho tinha uma festa
Tinha uma festa no meio do caminho
Tinha uma festa
No meio do caminho tinha uma festa
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma festa
Tinha uma festa no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma festa

UM RAIO DE SOL FURANDO A NUVEM MAIS DENSA

No dia de ser triste uma alegria chegou
Como um intrometido e inadequado monstro
Que tivesse cara
Cheiro e voz
De aberração
Em espírito
Olhar e sentimento
De gente mais que humana
E mais que anjo
Como aqueles seres para os quais
O ser bom é o natural
E naquele dia
Para ver o brilho
Ninguém precisou de sol

DEUSES

Ninguém manifesta espírito maligno
Infelizmente muitos epiléticos
Já foram mortos
Por causa dessa babaquice
Esse tal capeta é um deus
E existe tanto quanto o outro
Ou seja Nada!
Satanistas são religiosos
Que cultuam outro deus
Em certo sentido
São como os muçulmanos
Ou os judeus
A diferença é os dois deuses
E o deus dos cristãos
São diferentes-mas-semelhantes
E o deus dos satanistas
É o oposto (mas não muito)
Só isso!

CRESCENDO

Nenê qué padô!
Divina! eu quelo dêla si vai!
O sol itlagô o nalizinho dele!
Ontubuso! vem aqui!
Geografia é lógica!
Todo mundo é muita gente
Qual é a desse cara morrendo?

EQUIVALÊNCIA

Nem todos os religiosos
Desrespeitam os ateus
Nem todos os ateus
Desrespeitam os religiosos
Mas no meu prédio tem muitas portas
Com plaquinhas do tipo “Jesus te ama”
"Aqui mora Jesus" “Só Jesus salva”
"Jesus é o dono dessa casa"
Nunca ouvi falar
Que algum morador
Tenha sofrido qualquer hostilidade
Por causa da placa religiosa
Eu não pregaria na minha porta
Uma plaquinha dizendo
"Aqui mora uma ateia"
"Jesus NÃO é o dono desta casa"
“Só o ateísmo liberta”
No meu lugar
Você teria coragem?

FÉ E NÃO FÉ

Enquanto estou viva e com saúde
Acho que a chance é grande
De eu acordar amanhã
Então ajusto o despertador
Isso NÃO é fé!

Saio sem a certeza de que voltarei
Saio porque estou viva
E preciso trabalhar
Isso NÃO é fé!

Algumas coisas têm grande chance
De existirem ou de acontecerem
Acreditar em possibilidades
É seguir a lógica dos indícios
Isso NÃO é fé!

Deixo que os religiosos tenham fé
Prefiro conhecimento ou inferências
Com base em conhecimento
Mesmo o mero conhecimento
De que determinado fenômeno
Aconteceu todos os dias até hoje
Portanto tem grande chance
De voltar a acontecer amanhã
E isso NÃO é fé!

CONTRADIÇÕES

Além de todas as contradições
Que se pode pinçar na bíblia e na pregação
Das diferentes religiões e correntes
Há a contradição da variedade de deuses
Detentores de diferentes “verdades”
A fé dá certeza contra toda a lógica
A mesma certeza em deuses diferentes
Em livros escritos em línguas diferentes
E uma fé não é menor do que a outra
Uma certeza não é mais forte que outra
Deuses diferentes dizem coisas diferentes
Se todos param de acreditar em um deus
Esse deus morre como morreu Odin
Os deuses são sustentados pelos homens
E morrerão se ninguém acreditar neles
Se isso não prova que deus é uma fantasia
Certamente é um indício muito forte

RELIGIÃO E ESTADO

Não quero acabar com a religião
Desde que ela não se imponha
Ao que também é meu de direito
Como a igualdade perante a lei
A religião deve ser foro íntimo
Mais um direito igual para todos
Manter a religião fora do Estado
E das leis civis
Certamente mudaria o mundo
Para melhor
Seria um item significativo
De desenvolvimento humano
Mas não sou otimista
Ando vendo o contrário
E isso me preocupa

ATIVISMO X ESCROTICE

Não sou a favor de tortura de animais
Não prego o desprezo e descaso a eles
De forma nenhuma!
Respeito os movimentos e as pessoas
Que vivem o veganismo
Mas dá raiva ver gente
Que faz tudo por um gato ou cachorro
E diz "Foda-se!"
Para pessoas em situação de miséria
Ontem vi o comentário
De uma defensora dos animais
Que em nome de um veganismo
Exacerbado e burro
Estava desconsiderando
Com frases de insensibilidade
Bem ao estilo Maria Antonieta
O fato de que pessoas passam fome
E não podem escolher
O seu limpo e colorido
Veganismo de supermercado

APANHAR NA INFÂNCIA

NÃO!!
Não mesmo!
Se sou razoavelmente legal hoje
Isso não se deve a NENHUMA
Das pancadas que levei!
Odiei cada uma
Me senti impotente e aviltada
TODAS as vezes que apanhei
E o que é pior
Me expus a perigos
E fiz coisas ruins
Que não teria feito
Se não tivesse apanhado
NUNCA vou achar
Que bater em criança
Seja uma opção pedagógica
Sequer medianamente boa
Nesse ponto sou muito
Muito radical!

MELHOR GOVERNO

Me sinto muito desconfortável
Para falar sobre política e economia
Porque não sou especialista no assunto
Mas penso que nenhum sistema político
E nenhum modelo econômico
Sequer chega perto do ideal
Todos os sistemas são discriminatórios
Injustos e feitos sob medida
Para bem de gente sem escrúpulos
Porque são criações humanas
E o homem é isso
E não vai mudar

COMUNISMO

Nenhuma hipótese de comunismo
Me soa viável ou factível
No máximo me seduz e atrai
Como uma aproximação
Do que seria ideal
Comunismo é uma utopia
E como tal irrealizável
O ser humano não é capaz
De deixar de ser egoísta
Egocêntrico e ganancioso
Sedento de poder
E de ilusória superioridade
As melhores propostas
Que o comunismo defende
Estão mortas na raiz

O GRANDE DITADOR

Não há relações aproximativas
Entre as “leis de deus”
E as leis humanas
Para começar deus é o tal
“Todo Poderoso”
Ele só precisa querer e fazer
Dane-se quem não gostar
Nem o mais poderoso
O maior déspota ditador
Da história da humanidade
Chega aos pés do tal deus
Em termos de imposições
E arbitrariedades de leis
Deus pode ser onisciente
Mas não parece saber
O que é democracia
E menos ainda
O que é justiça

CRIADOR

Como afirmar
Que apenas um ser
Sobrenatural
Poderia criar o universo?
Como afirmar
Que o deus bíblico
Ou algum outro deus
Criou o universo?
Antes de afirmar isso
Você precisa provar
Que o universo foi criado
E você não pode!

ESCOLA PÚBLICA

O chamado "Currículo Mínimo"
Não leva em conta as diferenças gritantes
Que há entre escolas turnos e até turmas
As provas sobre esse conteúdo imposto
Contêm erros e questões mal elaboradas
E são uma tijolada na auto estima dos alunos
Que vão mal porque o conteúdo está longe
Do nível em que eles se encontram
Quanto faturam os donos das empresas
Encarregadas das provas e apostilas?
Isso não é desvio de verba da educação?
As provas pretendem “avaliar” o professor
Impondo a eles a responsabilidade
Pelo baixo nível da educação pública
Que foi sucateada pelos políticos

MATERNIDADE

Ser mãe não é obrigação
É amor entrega dor e prazer
Dever de ver a vida viver
E aceitar o custo
Amor que ampara e aquece
E a doce melancolia
Da ausência do filho
Que cresceu e partiu

OBJETO QUE NÃO ENTENDO

Não entendo gaiola!
Por que alguém inventou a gaiola?
Gaiola não faz sentido não tem lógica
Não é usada para conseguir comida
Água ou abrigo
Gaiola não é defesa contra predador
Não serve para fazer mal ou combater
Algo que detestamos ou tememos
Gaiola é um instrumento de tortura
Criado para aprisionar criaturas
Pacíficas frágeis indefesas e belas
Não!
Gaiola não faz o menor sentido

CIÊNCIA E RELIGIÃO

Não entendo os religiosos
Que tentam casar ciência com religião
Afirmando que a evolução foi orquestrada
Por um deus todo benevolente
Creem em deus como o maestro
Da teoria da evolução de Darwin
Sem entender a evolução de Darwin
Não evoluímos nos tornando melhores
Do que todos os animais da Terra
Não há juízo de valor na teoria da evolução
Evoluímos como os outros animais
Mudando nosso corpo e comportamento
Para nos adaptarmos ao nosso habitat
Exatamente como os outros animais
Sobrevivemos sem deus e sem alma
Até que a terra de alguma forma
Se livre de nós

ÓDIO AO PT

Não duvido da existência de corrupção
Envolvendo políticos do PT
Mas não tiveram muito sucesso
Na procura de provas contra o Lula
Isso não é prova de inocência
Mas a lei inocenta por falta de provas
E inocenta mais rápido ainda
Por julgamento corrompido
O ódio seletivo contra o PT
E a farsa do julgamento do Lula
Parece ser a ponta do iceberg
De uma armação muito grande
Que uniu a mais suja elite brasileira

VERDADES

Existem ateus falando da ciência
Como se fosse um deus?
Não são muitos e não sou eu
A ciência não seria um deus capaz
De se prestar a muitos cultos
Como disse Carl Sagan
“Não faz muito sentido
Rezar para a lei da gravidade.”
Deus não admite ser contrariado
Suas “verdades” são impostas
E não devem ser questionadas
O fato científico só se comprova
Depois que tentam provar
A falsidade desses fatos
E falham
Fatos científicos continuam sempre
Disponíveis a pesquisas e contestação
Ao contrário do que acontece com a religião
Não há verdade “engessada” na ciência

NAZISMO NO PLANALTO

Ano 2020 e o secretário da cultura
Do governo bozobostal faz discurso
E recria cenário e trechos de goebbels
Ele foi demitido pelo seu chefe
Só porque o chefe se sentiu acuado
Só porque não disfarçou seu nazismo
A quadrilha fascista colocará outro
Do mesmo calibre porém mais “discreto”
Como os demais membros da SS brasil
Assim que o nazista fez a homenagem
Tinham que ter chutado a bunda dele
E imediatamente começado a chutar
As bundas do resto da quadrilha
O país não vai deixar de ser fascista
Enquanto essa quadrilha fascista
Estiver no poder

SABER E PENSAR

A pessoa que sabe e sabe que sabe
Sabe também que o que sabe é pouco
Diante de tudo que ignora
Por isso está sempre pesquisando
E procurando saber mais
A pessoa que sabe que sabe
Também sabe que não sabe
Pois a principal coisa que ele sabe
É que não sabemos tudo
Tem muita gente que "sabe que sabe"
Mas está enganada
Muitos ignorantes ignoram
O fato de que são ignorantes
Acham que não são ignorantes
A respeito de nada
E vão à escola (ou à faculdade)
Apenas para pegar o canudo

DECIDA O QUE VOCÊ É

Toda decisão que tomamos
Tem mais a ver com o que somos
Do que com o que fazemos
Mas saber isso não muda quem sou
Ou o meu modo de ver a vida
Saber disso nada tem a ver
Com “o que eu vim fazer aqui”
Acreditar que tem pode me levar
A um determinismo simples
Tirando minha livre escolha
Não vim fazer determinada coisa
Minha vinda é mera coincidência
E o que eu faço é uma mistura
Do que me oprime e me influencia
Do que me limita e posso captar
Com o pouco de liberdade
Que consigo ter
"Eu sou eu e a minha circunstância"
Já disse Ortega Y Gasset

GENTE ESCROTA É GENTE SIM!

Não adianta a gente pensar
Dos que riem defendem e praticam
Qualquer tipo de agressão
Que “não são gente”
“Não merecem ser chamados de seres humanos”
Isso não é verdade!
Esses escrotos são gente sim
São seres humanos sim
Por mais abominavelmente nojentos que sejam
São da mesma espécie que eu e você
Dizer que não são gente
É usar o mesmo argumento
Que os nazistas usaram contra os judeus
Que os americanos usaram contra os índios
Que os europeus usaram contra os africanos que escravizaram
E que os nazifascistas da quadrilha que está no governo
Usam agora contra todos os que não são gado

PESADELO

Havia um abismo metafórico
O pé não pisou onde devia
E o mundo veio abaixo
Foi preciso fugir
O caminho escurece
E o sol vai embora
A estrada longa mergulha na noite
E se perde
Com seus pontinhos de luz
A paisagem corre
Em algum lugar
Bem no meio do pesadelo
Aconteceu ali alguma coisa
Que criança não precisa saber
Mas a criança soube
E os olhou com seus olhos
Sem segredos
Antes de desaparecer
Para sempre

NÃO VOU ACREDITAR

Minhas perguntas sobre a "bondade"
O "poder" e os “planos” de deus
Não são respondidas por nenhuma
“Verdade revelada” a algum "mestre" 
Por um “livro sagrado” ou magia
Menos ainda por ameaças
De inferno sofrimento ou morte
Jamais seguirei os “ensinamentos”
De nenhum "mestre" ou "livro" 
Sou teimosa e indignada demais
Para aceitar tantas incoerências
Que tentem outros meios!

20 DE NOVEMBRO

Adoro todos os feriados!
Mas nesse dia os brancos
Deveríamos pensar muito
E fazer com que os negros
Não sejam os que trabalham
Enquanto curtimos a praia
Deveríamos usar o dia
Para pensar que o feriado
Deveria ser deles não nosso
Deixe o dia 20 de novembro
Continuar sendo feriado
Mas pense nele!

RECURSOS ARGUMENTATIVOS TEÍSTAS

 

Nenhuma "prova da existência de deus" que qualquer teísta apresenta prova a existência de deus porque todas as tentativas clássicas foram largamente refutadas inclusive por pensadores teístas de peso como Immanuel Kant.

Quando conversamos com alguém que se propõe a defender a existência de deus, a conversa pode se estender ou ser rapidamente interrompida, mas tende a seguir um ou uma mistura de dois ou mais dos exemplos que apresento abaixo.

Cada um dos “argumentos” e posturas relacionados aconteceram muitas vezes comigo em conversa com pessoas de idade, religião, gênero, nível sociocultural e localização geográfica diferentes.

Para facilitar a unidade do texto, colocarei todos os exemplos como se partissem de religiosas indefinidas, mas muito convictas, que oscilam entre tolerante e “damares”.

 

- Apresento as muitas incoerências do que dizem sobre deus e mostro que tais incoerências serviriam mais para provar a inexistência desse deus do que para louvar suas qualidades.

Ela dá verdadeiros nós no cérebro para dizer que "o que é, na verdade não é!", como por exemplo “Deus é onipotente, bom e justo, mas não pode evitar que uma criança seja estuprada e assassinada porque estaria interferindo no livre arbítrio do agressor”.

Não diz exatamente isso, com essas palavras, mas dá voltas e voltas para, no final das contas, dizer exatamente isso.

 

- Tenta me consolar dizendo que sou apenas uma pessoa infeliz, magoada e frustrada, que estou brigada com deus mas posso voltar a ser feliz e bem aventurada se aceitar Jesus e entregar meus problemas nas mãos de deus porque ele é bom e nunca desampara quem busca por ele.

Depois, por pura falta de resposta, muda totalmente de assunto e parte para outros argumentos quando respondo que não sou infeliz, não estou frustrada e não odeio deus porque não é possível odiar um ser que não existe.

 

- Cria ou retira sabe-se lá de onde um tipo de ateu que não existe ou que não representa nem mesmo uma porcentagem relevante dos ateus reais, coloca a si mesma em um fictício patamar de “humanidade” e “inteligência” superior, como se estivesse diante de uma “turba” de inadequados e desprezíveis opositores, e usa esse espantalho criado para, dessa forma desonesta, ironizar e desmerecer o ateísmo como um todo e cada um dos ateus.

 

- Ela diz que não adianta apresentar provas porque os ateus não vão entender a sofisticação das provas que só ela tem, mas nunca apresenta as tais provas mesmo que passe meses debatendo comigo.

 

- Diz que vou para o inferno se não me arrepender. E se for mais “damares” chega a falar sobre o prazer que sentirá ao me ver implorando perdão em meio ao fogo eterno enquanto ela desfruta as delícias do paraíso “à mão direita de deus pai todo poderoso”.

 

- Ela diz que sou incapaz de entender porque não tenho fé e não tenho fé porque nasci aleijada como alguém que nasceu sem pernas ou sem braços.

Mas nunca aceita continuar a conversa quando pergunto que raio de deus perfeito e todo-bondade é esse que permite que alguém vá para o inferno por toda a eternidade por não usar algo que não tem porque nasceu sem aquilo.

 

- Me ofende com palavras e termos nada piedosos e ameaça apressar com as próprias mãos a minha ida ao inferno explicando claramente o quanto me odeia e como seria feliz se pudesse livrar o mundo de minha presença nefasta... em nome de seu deus de amor.

 

- Começa a “argumentar” com falas que revezam pregações bíblicas com repetição e paráfrases dos argumentos mais batidos e exaustivamente refutados por muitos pensadores, como a aposta de Pascal, o “melhor dos mundos” de Leibniz ou o relógio de Paley, sem esquecer o grande e absurdo recurso de comparar um deus onipotente com uma mãe amorosa mas impotente, como se essa comparação fizesse algum sentido.

 

- Daí ela fica se repetindo e dizendo as mesmas coisas de novo e de novo convencida de que está argumentando logicamente até que se cansa de ser contrariada com argumentos que demonstram claramente que não vou me deixar convencer pelas falácias dela e para de falar comigo.

Mas não sem antes enviar uma mensagem “lacradora” na qual se diz cansada de confrontar sua inteligência e lógica louváveis com minha incapacidade de “sequer entender o que significa a palavra lógica”.

Sim ela diz isso!

VOCÊ NÃO É SEU TRABALHO!

Não somos nenhuma
Das atividades que praticamos
Nem a soma de todas elas
Somos a soma do que fazemos
Do que fazemos com o que fazemos
Do que vemos ouvimos sentimos
Sonhamos temos desejamos
E do que fazemos com tudo isso
Cada um desses aspectos
Cada uma de nossas vivências
Tem influência diferente
Em diferentes pessoas
Com diferentes intensidades
Um trabalho mais prazeroso
Terá influência diferente
Do trabalho por pragmatismo
Nem dá (eu acho) pra dizer
Se a influência do primeiro trabalho
Será maior do que a do segundo
As influências serão diferentes
Para cada detalhe da nossa vida
Somos idiotamente complexos!

VOCÊ NÃO TEM PROVAS!

Provas de que deus não existe eu tenho sim!
Pelo menos um deus definido como onisciente
Onipresente onipotente bom e justo não existe
Se me faltassem meios para observar
Qualquer coisa além de mim mesma
Ainda assim eu teria prova 
De que esse deus não existe
Porque eu mesma sou essa prova
Sou um ser imperfeito e um deus assim
Não teria criado algo imperfeito como eu
Esse deus é um paradoxo tão grande
Quanto um triângulo de dez lados
Um quadrado redondo ou um abstrato concreto
A morte e o sofrimento de crianças
É prova da inexistência de deus
A cadeia alimentar é prova da inexistência de deus
O planeta terra com seus terremotos tsunamis
Furacões enchentes e secas
É prova da inexistência de deus
Todos os vírus bactérias fungos e parasitas
Que causam doenças matam e fazem sofrer
São provas da inexistência de deus
Mas a necessidade de acreditar é tão grande
Que a maioria das pessoas faz questão
De não raciocinar sobre deus com a mesma lógica
Que usam para raciocinar sobre outras coisas
Como raciocinam as crenças de outras pessoas
Ou de outros povos
As provas então à sua volta e em você mesmo
Mas você se recusa a enxergar

GRATIDÃO

Para mim não cabe agradecer
A deus ou seja ao que for
Por algo básico que tenho
E milhões de pessoas não têm
Não posso
Não sei
Não consigo
Agradecer por ter
Um teto sobre minha cabeça
Enquanto milhões de pessoas
Não têm onde morar
Não sei
Não posso
Não consigo
Agradecer por ter um casaco
Um cobertor
Uma cama
Enquanto milhões de pessoas
Morrem de frio todo inverno
Não consigo
Não posso
Não sei
Agradecer porque posso escolher
Entre carne peixe ou feijão
Enquanto milhões de pessoas
Morrem de fome
Não posso
Não sei
Não consigo
Eu não sou capaz

AMEAÇAS E CONSEQUÊNCIAS

Triste ver Felipe Neto
Forte opositor da bozobostice
Que assola o país
Falando em desistir e ir embora
Compreensível mas triste
E quem não pode sair?
O detalhe é que os principais alvos
As principais vítimas
Dessa ditadura bozobostal
Os que não recebem ameaça de morte
Os que simplesmente são assassinados
Assassinados com apoio e indiferença
Da sociedade "do bem"
Os jovens negros os jovens pobres
As crianças os indígenas
Nas favelas nas periferias
Nas terras que deveriam ser suas
Esses não podem sair
São encurralados e assassinados
Sem chance de defesa
Não vivemos uma guerra
Não vivemos uma ditadura
Vivemos um genocídio!

ODEIO FEMINISTAS!

Muitas pessoas que usam o discurso
De que as feministas são "feminazis"
Odeiam feministas sem saber
O que é feminismo!
Essas pessoas só veem manifestações
De feministas mais radicais
Em manchetes cuidadosamente escolhidas
E femistas que pregam ódio aos homens
Pregar ódio aos homens não é o feminismo!
Assim como ter "orgulho de ser macho"
Não é sinônimo de ser homem
Ser feminista é muito mais do que isso
E ser homem é muito mais do que isso
Feministas incomodam os machões
Não os homens!
Por essas campanhas machistas escrotas
Tem gente pensando de mulheres
Que lutam "apenas" por direitos iguais
Sem pregar o ódio aos homens
Que elas não são feministas
Mas somos sim!

ARGUMENTOS

Se não fosse pela cadeia alimentar
Alguns animais se reproduziriam tanto
Que sufocariam a terra dizem os teístas
Por conveniência ou sem se dar conta
Esquecem que seu deus onipotente
Poderia não ter criado esse horror todo
Os biólogos entendem mais do que eu
E dizem o mesmo afirmam os teístas
Não penso o que outros pensam
Mesmo que sejam biólogos
Cientistas filósofos ou deus
A vida é bela comparada com o quê?
Não preciso perguntar a um biólogo
Para ter minha opinião

A ESCURIDÃO QUE EU FIZ

(Escrito por uma eu adolescente, em 1977 ou 78) 

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
Sou preta, como você está vendo
Mas a cor da minha pele foi Deus quem pintou
E a cor da minha alma
Que também é preta
Essa fui eu quem fez

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
Minha casa que era de mansão
Cheia de vozes
Barulho gostoso na orelha e um homem danado de bom
Essa casa foi Deus quem me deu
Mas minha casa de agora
Esse barraco preto, escuro e “fidido”
Que não tem barulho gostoso nem tem homem bom
Essa casa fui eu quem fez

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
E aquele homem que eu tinha
Aquele homem danado de bom
Que me dava comida me dava agasalho e cobria meu chão
Aquele homem foi Deus quem me deu
Esse homem que me tem agora
Feia suja podre e crua
Que me rasga as entranhas como doença que é faca que mata
Que me bate na cara e me joga no chão
Algumas moedas que eu cato me arrastando
Como um animal
Esse homem
Podre como eu
Fui eu mesma quem fiz

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
Aquela criança bonita que eu tinha
Que ria gostoso que dava tapinha e me chamava de mãe
Aquela criança foi Deus quem me deu
Essa saudade de uma criança que tinha o sol no sorriso
Essa saudade de ser chamada de mãe
Que eu sinto agora
Essa saudade fui eu mesma quem fiz

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
Aquela cara bonita que eu tinha
Pele lisinha
Macia como pêssego maduro
Com aquele sorriso de juventude gostosa que eu tinha na boca
Aquela cara bonita foi Deus quem me deu
Essa cara que eu tenho agora
Com essas rugas que rasgam toda a beleza que a gente tinha
Com pelancas caindo e papas nos olhos
Fui eu quem fiz

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
Aquele corpo que eu tinha em mim
Que era esbelto que era torneado arisco e bonito como ele só
Aquele corpo que muita gente quis
Foi Deus quem me deu
Esse corpo de velha que eu tenho agora
Esse corpo que até cheira mal de tanta sujeira
De tanta podridão
Esse corpo fui eu quem fiz

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
O tempo que eu vivia e que era tempo de paz
o tempo que eu tinha bonito cheiroso e que parecia não ter mais fim
Aquele tempo foi Deus quem me deu
O tempo que eu vivo agora
Que se arrasta em longas horas
Sem ter mais fim
Que me deprime
Que me maltrata e me acaba
Fui eu quem fiz

— Muito prazer meu nome é Marta e sou uma mulher feliz
O champanhe que eu bebia
Com espuma branca e clara como uma vida feliz
Aquele champanhe foi Deus quem me deu
Esse veneno que eu bebo agora
Com cor escura com espuma negra
Como a escuridão que eu fiz

— Muito prazer meu nome era Marta e eu era uma mulher feliz

VIDA LINDA

Muitas lágrimas formam nossos rios
Muitas pedras formam nossas dores
No suor o sal e o castigo
Nos músculos as cordas tensas do pavor
A vida é linda!
A vida é linda?
Com o que comparar?
No ar moléculas de sangue
Matar é o verbo
Que mais se sabe conjugar

FIAT LUX

Morrer foi como acender uma luz
Uma luz que ilumina sem cegar
Que não deixa cantinho escuro
Que faz enxergar na frente
Atrás debaixo
Em cima e acima
Sem segredos

Morrer foi como acender uma luz
De repente sem dor ou perda
Como despertar da inconsciência
Como descobrir que tudo é tão simples
Tão simples que palavras não explicam
Palavras são complicadas e pobres
Palavras não definem nada
Como poderiam definir o Tudo?

Morrer foi como acender uma luz
De repente sei tudo e sei mais do que tudo
Simplesmente e totalmente sei
Sei sem a barreira da carne
Sei sem a barreira da vida
Sei sem a barreira do tempo
Sei sem a barreira do conhecimento racional
Tão estreito sinuoso escuro
Sei

Morrer foi como acender uma luz
Quando era cega
Eu sentia pena do pobre e raiva do rico
Cega!
Sou o pobre e o rico
Quando era cega eu sentia pena do torturado
E ódio do torturador
Cega!
Sou o torturado e o torturador
Quando era cega eu sentia pena da caça
E aversão ao caçador
Cega!
Sou a caça e o caçador
Quando era cega eu sentia a dor do desprezado
E mágoa de quem desprezou
Cega!
Sou o desprezado e o que desprezou
Sou

Morrer foi como acender uma luz
Quando era cega sentia saber um pouco do presente
E ignorava o passado
Sou o tempo
Quando era cega sentia estar em um único lugar
Sou todos os lugares
Quando era cega pensava estar limitada
Por uma pele e cinco sentidos
Não tenho nenhum limite
Sou o infinito

Morrer foi como acender uma luz
Eu que sou infinito brinquei de me dividir
Brincando me tornei cega
E me fiz apenas uma parte
Eu que não tenho começo ou fim
Fui pedaço de acontecimento
Estive em uma pequena parte de mim
Cega

Morrer foi como acender uma luz
Quando era cega eu criei um deus
Eu sou esse deus
Quando era cega eu tinha medo da morte
Que piada!
Não há morte
Quando era cega eu tinha medo da dor
Mas se não existe dor
Quando era cega eu pensava
Que havia uma desconhecida realidade
A realidade sou eu

Morrer foi como acender uma luz
Eu que antes pensava ser uma
Me descobri plural
Eu que não sabia nada
(Estava cega)
Das outras partes de mim
Agora sei que sou tudo e sou todos
Sou a que sabia ser
Sou todos os que ignorava
No tempo e além do tempo
Em todos os espaços
Eu sou

Viver foi como brincar de esconde-esconde
Me encolher em um canto escuro
Fechar os olhos
Adormecer todos os membros
Perder quase toda a consciência
Não ser encontrada
Nem me encontrar

Morrer foi como acender uma luz!

CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
Mas aqui na Europa é tão bom
Nem falta eu sinto de lá

Minha terra tem primores
Que também encontro eu cá
Importados e mais caros
Mas aqui se pode pagar

Minha terra tem misérias
Que eu não vejo por cá
Em cismar sozinha à noite
Mais tristeza encontro eu lá
Minha terra mostra horrores
Que doem de magoar

Minha terra tem belezas
Que não encontro por cá
Mas aqui tem maravilhas
Que nem sonho em ver por lá

Me perdoe patriazinha
Mas eu tenho que falar
Aqui na Europa é tão bom
Nem falta eu sinto de lá

TOMA EU

Meu menino malandro
Toma o meu sorriso
Faça dele a tua bandeira
E seja feliz

Meu menino “sacana”
Toma o meu corpo
Enrosque sinta sacie
E descanse

Meu garoto sapeca
Toma a minha esperança
Brinque de driblar o mundo
E vença

Meu preto bonito
Pegue a minha fé no amor
Construa o teu mundo
E esteja bem

Meu “nego” gostoso
Pega o meu branco
Cubra o teu caminho
E viva em paz

Meu menino querido
Toma a minha ternura
Faça dela o teu travesseiro
E durma tranquilo

Meu crioulo fofo
Pegue a minha lembrança
Ande lute brigue com a vida 
Mas não se esqueça de mim

SUICÍDIO

Li que segundo pesquisas todo mundo já pensou em suicídio pelo menos uma vez na vida.

Não sei se essas pesquisas estão certas, mas sei que se estiverem eu poderia ser uma confirmação disso.

Pensei em suicídio uma vez, na adolescência, porque tinha feito uma brincadeira e depois de um fato trágico, achei que tinha que cumprir a fala da brincadeira.

E a fala era eu estar morta.

A vida é uma sequência de acasos sem nenhum sentido ou razão e enquanto alguns encontram forças e superam de forma fantástica os mais terríveis obstáculos outros desistem e “escrevem” o bilhete de Torquato Neto:

“Tô de saco cheio”.

E entre os dois extremos há uma ampla gama de nuances, um rio largo no qual estou inserida.

Como não dá para dar reset e reiniciar a vida, só o que podemos é escolher se continuamos nos carregando nas costas ou não.

Não amo o meu eu e não sinto nenhuma necessidade desse tão propagado e tão valorizado “amor próprio”, apenas tento não fazer nada que me torne um ser escroto e asqueroso, isso é suficiente para que eu não precise de “amor próprio” nenhum.

Autoconhecimento é algo impossível de ser alcançado, a gente tem memória, história, habitat, consciência, e com isso fazemos o que fazemos, sempre meio às cegas e meio “tatibitate”.

Não faço ideia de quem sou eu!

Tem um monte de definições, biológicas, etárias, sociais, convencionais, linguísticas que podem tentar me definir, mas nunca definem.

Sou proprietária dessa coisa chamada “minha vida” e se acontecer de um "belo" dia eu acordar e resolver pôr fim a ela, poderei fazê-lo, mas é muito difícil que isso aconteça porque a consciência de que vou morrer de qualquer jeito me levou a concluir que não faz muito sentido ter pressa.

Sou meio dupla e inconstante, tento ser “gente boa”, mas sou muito boa em fracassar.

Não sei o que quero da vida, acho que tudo que eu quero é não sentir dor.

Acontece que muitas coisas doem e existem muitos tipos de dor.

Tudo é muito complicado e eu não aprendi a não viver.

O OPOSTO DO AGRESSOR

          No meio da noite acordei com um soco bem dado, era ele se debatendo em um pesadelo.

          Chacoalhei-o até acordar e quando ele percebeu o que tinha acontecido ficou terrivelmente chocado, pedindo mil perdões e se recriminando de forma tão dura que fiquei até penalizada.

Afinal ele tinha acabado de sair de um pesadelo e já tive pesadelos vezes suficientes para saber o quanto eles podem ser ruins e o quanto a gente não tem controle sobre o que faz nessas circunstâncias.

          Disse isso a ele, mas não adiantou muito porque ele não parava de repetir “Não, isso não pode acontecer, eu não tenho direito de fazer uma coisa horrível dessas!”.

          Ele já teve sonhos bem agitados, mais de uma vez chegou a cair da cama, mas nunca mais chegou ao ponto de transformar seus debateres do sonho em agressão involuntária.

Acho que de alguma forma a mente dele sabe onde estou mesmo dentro do pesadelo mais intenso.

LEITORES

Acabamos de capturar três bípedes pelados. Preparar as conchas e os sensores, veremos se há algo aproveitável aqui – disse o ser, em uma linguagem de silvos e estalos, olhando com seus seis olhos e manipulando com quatro de seus seis braços os estranhos instrumentos que brilhavam diante de si. Tinha aparência de um grande aracnídeo com uma faixa verde no meio do corpo. Próximos a ele havia outros dois seres como ele que, ao receber o aviso, movimentaram-se em direção às conchas que enchiam dois terços da grande sala metálica na qual estavam, os movimentos deles também eram de aracnídeos. As conchas eram fechadas de tal forma que não se podia ver sinais de abertura ou de possibilidade de abertura, pareciam capsulas ovais inteiriças fabricadas sem emenda, eram transparentes, pouco maiores e mais largas do que uma cama de solteiro, estavam em pé, arrumadas em fileiras e ao lado de cada uma delas havia uma espécie de suporte com uma tela iluminada. Os dois seres começaram a tocar as telas de três conchas. A sala continha 120 conchas e era apenas uma das centenas de salas como aquela que havia naquela nave, fora outras centenas com conchas de tamanhos diferentes. Esses seres tinham capacidade e tecnologia para recolher todos os tesouros de um planeta inteiro em um período de tempo relativamente curto e sem correr nenhum risco. Caso houvesse algum tesouro a ser salvo, claro!

Estavam em uma nave gigantesca na órbita do terceiro planeta de uma pequena estrela amarela. Nenhum dos animais que habitavam o planeta conseguiria perceber que havia algo sobrevoando suas cabeças porque havia um eficiente sistema de camuflagem que a tornava totalmente indetectável para qualquer um dos sentidos naturais ou artificiais que os habitantes de qualquer um dos planetas explorados pudessem ter. Caso pudesse ser vista pareceria um imenso pedaço de cano metálico dobrado ao meio formando um ângulo de aproximadamente 40º. Era uma nave de pesquisa e coleta que, como mais uma de suas missões, estava ali para evitar uma catástrofe universal de grande porte. Os seres em seu interior trabalhavam incessantemente porque não tinham todo tempo do mundo para conseguir evitar a catástrofe iminente.

Quando as três conchas estavam preparadas, o mesmo ser que dera o aviso, ainda olhando e tocando os aparelhos que tinha diante de si e que, com bancadas, visores e painéis, tomava toda aquela parede da sala, deu a autorização de transporte. Enquanto isso os outros dois seres que, aparentemente, se diferenciavam do chefe apenas pelo tom mais claro da faixa verde no meio do corpo, aguardavam atentos aos monitores. Logo após a autorização, um facho estreito de luz branca como uma linha móvel subiu por cada uma das três conchas deixando, à sua passagem, três corpos que um habitante daquele planeta descreveria como uma mulher, um homem e uma criança do sexo feminino aparentando 8 ou 9 anos. Os aracnídeos que observavam o transporte viram três bípedes pelados, um deles menor do que os outros o suficiente para suporem que fosse uma cria.

Sem se voltar para onde estavam as capsulas, manipulando e observando atentamente os aparelhos diante de si com a ajuda das quatro mãos e dos seis olhos, o chefe dava as ordens e fazia as observações enquanto os dois auxiliares, por sua vez, manipulavam e observavam os aparelhos ao lado de cada uma das três capsulas recentemente preenchidas.

- Escaneando corpo desde membros inferiores. Arquivando dados. Analisando tecidos externos e internos. Arquivando dados. Analisando sensibilidades táteis. Arquivando dados. Analisando composição dos órgãos internos. Arquivando dados. Localizando sistemas de interação e captação de dados transferíveis. Arquivando dados. Localizando órgão de armazenamento de dados acumulados. Arquivando dados. Escaneando dados armazenados em órgão de armazenamento de dados...

O chefe aracnídeo continuou a observar e manipular os aparelhos enquanto emitia sons variados que não eram palavras mas que poderiam ser onomatopeias, fez isso durante alguns minutos e então se aproximou mais dos aparelhos, emitiu um som mais alto e se moveu no que pareceu pequenos saltos que chamaram a atenção dos outros dois que se voltaram para ele, que se afastou dos aparelhos, voltou-se para os dois e gritou:

- Encontramos!

Os três correram para o espaço entre os aparelhos e as conchas, abraçaram-se e fizeram uma espécie de dança emitindo sons altos e sincopados, aparentemente dançando e cantando em comemoração, depois voltaram a seus postos e o chefe retomou suas atividades com uma certa urgência.

- Arquivar os últimos dados! Acordar decifradores! Transferir dados para sala de arquivos decifráveis! Transferir informações sobre animais escaneáveis às salas coletoras!

Correu para o outro extremo da bancada onde se postou diante de outros aparelhos que passou a manipular enquanto dava ordens em tom urgente e aparentemente animado:

- Preparar todas as câmaras! Acordar coletores! Recolher bípedes pelados! Escanear órgãos de armazenamento de dados! Localizar tesouros! Armazenar tesouros! Arquivar tesouros! Preparar grupos de pesquisas linguísticas! Iniciar trabalhos! Contar população! Calcular tempo necessário! Calcular tempo disponível! Organizar turnos! Acordar arquivistas! Preparar salas de tesouro! Arquivar tesouro decifrado!

Uma hora depois todas as conchas daquela sala estavam ocupadas, outros oito seres aracnídeos chegaram e, junto com os dois que já lá estavam, passaram a manipular os aparelhos das laterais das conchas de forma organizada enquanto o chefe continuava a manipular freneticamente os instrumentos no outro lado da sala. Quem observasse atentamente veria que cada vez que um dos seres se afastava de uma concha dirigindo-se à seguinte, a faixa de luz descia enquanto o bípede pelado que estava lá dentro desaparecia e, em seguida, subia novamente enquanto outro bípede pelado aparecia no lugar do que desapareceu e assim ficava até que um dos seres chegava àquela concha, manipulava os aparelhos e se afastava, então a faixa de luz descia novamente, o bípede desaparecia, a luz subia em seguida e outro bípede aparecia no lugar. Essa sequência ritmada estava acontecendo igualmente em todas as conchas e a movimentação dos dez seres de uma para a outra também seguia um ritmo organizado. Nenhum bípede pelado poderia entender os símbolos e luzes que apareciam e desapareciam, tanto nos aparelhos colocados nas laterais das conchas quanto nos outros, mais numerosos e maiores, que o outro ser continuava a manipular movimentando-se lateralmente ao longo de uma das paredes da sala metálica em que estavam mas, caso algum deles pudesse ver e entender, saberia que havia ao todo seiscentas salas de conchas iguais naquela nave e que em todas elas estavam acontecendo as mesmas cenas no mesmo ritmo, e havia outras centenas e centenas de salas parecidas porém com capsulas de tamanhos diferentes, em alguns casos tão grandes que caberia um dinossauro em cada uma delas. Veria que todas as salas nas quais as capsulas tinham como receber um bípede pelado estavam sendo usadas. Se pudesse passear pela nave encontraria mais trezentas salas com o dobro do tamanho daquela, em cada uma delas veria uma centena de seres com faixas amarelas no meios do corpo parados e concentrados diante de painéis suspensos com duas grandes telas nas quais havia imagens do que o bípede pelado reconheceria como páginas de livros. Dependendo de quem fosse esse bípede pelado hipotético, ele poderia reconhecer e até ler uma ou mais das páginas e perceberia que a página ao lado da que podia ler estava sendo escrita com caracteres que ele, decididamente, não seria capaz de reconhecer, às vezes uma parte era apagada, depois escrita novamente, até que estivesse completa. Se pudesse esperar tempo suficiente diante de uma das duplas de telas, o bípede pelado veria que quando a tela que estava sendo escrita ficava completa as duas imagens desapareceriam e outra página aparecia em uma das telas enquanto o ser, depois de muito tempo apenas observando, começava a escrever, apagar partes, escrever novamente, até completar mais essa página e o processo reiniciar.

Depois disso, o bípede pelado poderia encontrar mais duzentas e quarenta salas diferentes dos dois tipos anteriores. Essas eram muito altas, cheias de placas grossas como painéis muito altos, largos e finos, colocados em fileiras que formavam longos corredores por onde se movimentavam quatro seres aracnídeos com faixas vermelhas no meio do corpo que seguiam a rotina de ir até um painel, manipular alguns instrumentos, retirar uma pequena placa vítrea do tamanho de uma pastilha de chiclete de um orifício e caminhar até um dos painéis, introduzir a placa, manipular uma espécie de fita de luz vertical na lateral da placa onde uma luz mais intensa partia de onde a placa vítrea foi introduzida e subia a uma altura que variava, depois andava, para a direita ou para a esquerda, parava a uma distância que também variava e se apagava. Então o ser voltava ao painel e repetia a operação, às vezes trazendo duas ou três placas vítreas em lugar de apenas uma. Não seria difícil a um bípede pelado medianamente inteligente perceber que os seres aracnídeos estavam traduzindo páginas de livros, gravando talvez os livros inteiros naquelas placas vítreas e arquivando-as de forma organizada naquelas salas que provavelmente eram grandes bibliotecas.

Durante setenta e dois dias as atividades continuaram ininterruptamente e no mesmo ritmo nos três tipos de salas da imensa nave que nenhum habitante do planeta podia detectar. Os bípedes pelados, que chamavam a si mesmos de humanos, não perceberam que tinham sido transportados um a um enquanto dormiam, a partir do terceiro dia de permanência da nave na órbita do planeta. Os demais animais que habitavam o planeta, incluindo os microscópicos, tiveram apenas uns poucos indivíduos transportados e perceberam menos ainda. Depois desses setenta e dois dias as salas que continham conchas foram abandonadas e a nave começou a se afastar do planeta.

Dentro da nave imensa havia uma sala imensa onde cabiam sem aglomeração todos os seres aracnídeos que trabalharam durante esses setenta e dois dias de coleta e os seres que ainda trabalhavam na decodificação e armazenamento dos tesouros recolhidos no planeta que agora deixavam para trás. Pouco depois de a nave começar a se afastar do planeta, nessa sala imensa houve uma festa que durou todo o tempo necessário para que a nave deixasse o sistema solar e para que quem olhasse para o espaço além das grandes janelas da sala onde a festa acontecia pudesse ver a luz do enorme meteoro que se encaminhava diretamente para o planeta azul que acabaram de deixar. Comemoravam o fato de terem conseguido salvar todos os tesouros existentes antes que os bípedes pelados pudessem detectar a iminente chegada do meteoro e, principalmente, antes da destruição do planeta. Não demoraria muito para que isso acontecesse, mas os tesouros não se perderiam graças àquela nave de pesquisa que tinha toda a tripulação e a tecnologia necessárias para fazer a coleta segura dos tesouros sem entrar em contato direto com nenhum dos animais do planeta e, portanto, sem correr o risco de levar consigo algum micro-organismo capaz de causar qualquer tipo de dano às suas sociedades e colônias. A tripulação da nave tinha uma razão muito boa para a festa da qual todos participavam com entusiasmo. Depois de todo o trabalho que fizeram, seu povo estava muito mais rico. De conhecimento, o maior tesouro do universo!

MILITÂNCIA OU FISCALIZAÇÃO?

Incrível essa mania que as pessoas têm de usar o argumento de apontar um problema grande para desmerecer qualquer opinião, argumento ou postura de pessoas ou grupos em favor de uma determinada pauta.

Não entendo por que ninguém pode se manifestar contra, por exemplo, furar fila porque existem pessoas que escondem dinheiro na cueca porque, se o fizer, pode vir alguém dizer que essa pessoa deveria "deixar de frescura" e se preocupar com problemas mais importantes.

- Esse foi só um exemplo tosco e ilustrativo, tá?

É sempre algo como uma pessoa resolver lutar pela preservação de um micro jardim público do bairro e outra vir dizer que tem uma praça enorme há algumas quadras que também precisa de cuidado e, sem saber se essa pessoa está ou não lutando também pela preservação da praça enorme, fazer discursos, ofensas e ironias para diminuir a luta ou as opiniões dessa pessoa sobre o pequeno jardim porque ela "deveria lutar por coisas mais importantes".

Já vi posturas semelhantes sobre muitos temas vezes suficientes para concluir que as pessoas adoram colocar as "pautas" em uma espécie de ordem hierárquica do que é mais importante, do que é menos importante e do que não tem importância nenhuma, tudo isso, é claro, na opinião delas!

Daí essas pessoas louvam as pessoas que lutam pelo que elas acham importante, são meio indiferentes às pessoas que lutam pelo que elas acham menos importante e desprezam, ironizam e até ofendem as pessoas que lutam pelas coisas que elas decidiram que não tem importância nenhuma.

Às vezes essas pessoas destratam ou se revoltam até mesmo contra quem simplesmente manifesta uma opinião favorável àquela pauta que consideram "inutilidade".

E essas pessoas NUNCA colocam em seus comentários e ironias lacradoras a possibilidade de que toda e qualquer pessoa pode lutar por muitas pautas ao mesmo tempo, tanto pelas que elas acham importantes quanto pelas que elas acham inúteis.

Elas simplesmente "cobram" das pessoas que defendem pautas que elas desprezam dizendo que deveriam se preocupar com isso e aquilo porque é mais urgente e importante.

Sei que é comum em todos os tipos de lutas, ter gente radical que parece tomar qualquer ser humano que não adere às suas ideias como inimigo a ser combatido e, infelizmente, às vezes até a ser eliminado, mas não é disso que estou falando agora, mesmo que você ache que eu deveria falar sobre isso porque esse tema é mais importante.

A mais recente pauta desprezada com o argumento de que "tem coisas muito mais importantes" que ando vendo é a questão do E neutro.

- Veja que eu não troquei o A ou o O pelo E em nenhuma palavra desse meu texto e, mesmo assim, ele está neutro porque usei "as pessoas" e "o ser humano", expressões que contemplam ao mesmo tempo todos os gêneros.

Mas, em um texto em que porventura eu escolha usar outras palavras e queira que qualquer pessoa se sinta alvo desse meu discurso, eu poderia escrever algo como "Sejam todes muito bem vindes nesse meu modestíssimo espaço!" (Como a Jana Viscardi sempre diz)

Por que é tão terrível que eu e qualquer pessoa tenha o direito de escrever assim???????

Em que isso impede que eu ou qualquer pessoa ao mesmo tempo nos juntemos ativamente na luta contra a homofobia, a transfobia, o feminicídio, e tantas outras pautas extremamente importantes???

Em que usar uma simples letra diminui a importância de alguma reivindicação válida???

Finalizando, quero declarar que eu Divina De Jesus Scarpim, vou usar a letra E sempre que eu quiser e achar necessário, e vou apoiar quem opte por fazer o mesmo.

Tenho dito!

FILHOS

          Nosso filho estava crescendo e estávamos bem, então ele sugeriu:
          - A gente podia ter outro filho, né? Quem sabe viria uma menina e a gente teria um casalzinho.
          Respondi no ato:
          - Se você quiser uma menininha, vai ter que arrumar outra menininha, porque com essa menininha aqui, não vai rolar.
          - Depois disso ele me ajudou a procurar médicos para fazer ligadura, não consegui porque nenhum médico aceitava fazer sem a condição de eu ter outro filho e fazer a ligadura junto com o segundo parto.
          Um dia ele se trancou no banheiro e estava demorando muito, fiquei preocupada achando que ele estava passando mal e insisti que abrisse a porta. Ele abriu meio sem jeito, estava se depilando porque tinha resolvido fazer vasectomia, tinha marcado a cirurgia e estava se preparando, mas queria me fazer uma surpresa.
          A raiva pela injustiça de um homem ter toda liberdade para decidir que não quer mais ter filhos e uma mulher não ter esse direito ficou para ser manifestada depois.
          Naquele momento eu só senti amor e gratidão.

DUAS CARAS

Dizem que as pessoas “hoje em dia”
Vivem uma vida nas redes sociais
E outra vida fora delas
Mas as pessoas sempre viveram
Bem mais do que duas vidas
Ninguém é a mesma pessoa
Em todos os lugares onde está
Há uma pessoa dentro de casa
Uma pessoa nas redes sociais
Uma pessoa no trabalho
Uma pessoa nas reuniões de família
Uma pessoa nas reuniões com amigos
Uma pessoa fazendo suas compras
Uma pessoa mergulhada no silêncio
Atrás dos olhos fechados
Há muito mais pessoas ainda 
E todas essas pessoas
São uma mesma pessoa

CONHECIMENTO

A busca pelo inalcançável
É a inquietação de todo cientista
E da própria ciência
O conhecimento é essa busca
Por algo que você sabe
Que não vai encontrar
Mesmo assim paradoxalmente
É muito compensador!
Não saberemos tudo
Mas descobrimos muita coisa
Quando procuramos
Por esse saber
Posso jamais encontrar
O jardim que procuro
Mas é o perfume de suas flores
Que me ajuda a viver!

ARREPENDIDOS

Não tenho respeito por essa cambada
De atores políticos “celebridades”
Classe média e empresários
Não são pessoas ignorantes e ingênuas
Sabiam que bozobosta é um fdp
E o apoiaram porque acharam
Que só "os outros" se ferrariam
São cúmplices de assassinatos
De índios pobres negros e crianças
E eles sabiam antes de votar
Que esses assassinatos aconteceriam
Bozobosta é um fdp
E sempre deixou isso muito claro
Essas pessoas votaram nele
Porque são fdp também!

VIVER OU EXISTIR

Não sei se vivo ou existo
Sei que me sinto no mundo
Respirando vendo sentindo
Sentindo amor ódio tristeza alegria
Excitação indiferença sono
Me sinto convivendo com pessoas
Marchando em direção ao nada
Não faço ideia se vivo ou existo
Não sei sequer se estou mesmo aqui
Em contato com essa realidade
Ou se tudo isso são impressões
Da minha mente que não sei se existe
Não sei nada absolutamente nada
Mas sei reconhecer argumentos lógicos
E deus decididamente não é um deles

MENTIRA

Mentira
Me tira
Me dá
Mentira

Mentira piedosa
Que ajuda e alegra
Na paz do engano
Mentira malvada
Mentira que polui
E apodrece
Mentira que dói
E alegra
Mentira da mente
Que mente
Engana e não sabe
Que é tudo
Mentira!

TRAIDOR TRAINDO TRAIDOR QUE TRAIU TRAIDOR

Me bateu uma dúvida
O marreco traiu o bozobosta
Porque viu que o megalomaníaco
Não ia dar o cargo no STF
Que tinha prometido
Em troca das maracutaias?
Ou o marreco mudou de ideia
Sobre o cargo no STF
Resolveu que prefere ser presidente
E manipulou o bozobosta
Para que o magalomaníaco o traísse
Dando chance de ele trair o traidor?
Tô na dúvida mesmo

DEMISSÃO DO MARRECO

Marreco traidor foi traído!
O (des)governo a que ele se aliou
Cometendo falcatruas
Se mostrou criminoso
O marreco ajudou “fez que não viu”
As falcatruas do Bozo e familícia
Agora o (des)governo o enxota
Cometendo mais um crime
Um crime que ele só denunciou
Porque levou o pé na bunda
Adoro ver o marreco se ferrar!
Bozobosta cometer crime é rotina
Que o marreco tem ignorado
Porque fez parte da quadrilha
Por afinidade

MINHA DEFINIÇÃO DE MAL

Mal é toda e qualquer coisa ou situação
Que cause dor ou prejuízo
A um ser sensiente
Sem que essa dor ou prejuízo
Seja causa de um bem maior
A esse mesmo ser senciente
Sem que tenha o consentimento
Do ser sobre o qual
A dor ou prejuízo recairá
Ou na falta dessa possibilidade
De alguém que tenha
Como interesse primeiro
O bem desse ser senciente
Sobre o qual recairá
A dor ou o prejuízo

SENTIDO DA VIDA

A vida não tem sentido
A vida não tem que ter sentido!
E não tem nada de errado nisso
A falta de sentido torna a vida
Talvez mais interessante
Ela seria nossa única chance
E isso não é pouco!
Querer que a vida tenha sentido
A qualquer custo
É não conseguir suportar
A ideia da própria finitude
É não conseguir aceitar
A ideia de não ser especial
A ponto de merecer outra vida
É o medo da morte definitiva
Que explica a religião
E a religiosidade

VIOLÊNCIA

Um bando de bozominions “de deus”
Invade a privacidade de uma criança
Que viu violência demais
Para vociferar “assassina” culpando a vítima
E convenientemente esquecendo o estuprador
HORROR HORROR
O pior e mais abjeto é que essas pessoas
Não se sentem mal pela violência que praticam
Não sentem remorso!
De asquerosas que são sentem orgulho
E dormem à noite como se tivessem direito
Ao sono dos justos

RESPOSTA

Quando tiramos deus de nossas vidas
Algumas das perguntas ficam sem resposta
Mas prefiro não ter resposta nenhuma
Do que me conformar com uma resposta
Que é imposição e não responde
“Qual é o objetivo da vida?”
Por que a vida precisa ter objetivo?
Posso dar o objetivo que eu quiser
Aprender amar respeitar sorrir
São ótimos objetivos!
“Onde depositaremos a confiança?”
Nas pessoas que amamos
Nos sentimentos que temos por elas
Na nossa capacidade de construir
“O que esperar do futuro?”
Fazer alguma diferença
Na vida de algumas pessoas
E depois morrer em paz
“De onde virão nossas alegrias?”
Das pessoas que amamos
Das coisas que aprendemos
De fazer o que gostamos
Deixar de acreditar em deus
É viver sem o egoísmo e a soberba
De me achar melhor do que o outro
Por crer que um deus que “me ama”
Não acreditar em deus
É ser livre para viver sem dogmas
Não se amarrar a tabus e obrigações
Que não explicam de onde vieram
Que nunca respondem “Por quê?”

MACHOS E HOMENS

Machos são execráveis
Já homem é "outro bicho"
Homem não é fácil de detectar
Assim à primeira vista
No dia em que conheci meu neguinho
Ele me levou para ver uma placa
Na frente de um prédio em construção
E me mostrou "Olha só que lindo!"
Como "Arquiteto responsável"
Havia um nome de mulher
Ele disse que achava maravilhoso
Queria mais placas como aquelas
Mulheres independentes e cultas
Valorizadas em profissões valorizadas
Nesse momento eu percebi
Que tinha acabado de conhecer
Um homem!

LIBERDADE

Liberdade é apenas para o algoz
Entre agressor e agredido
A vítima não tem opção
Não há como se esquivar
Não tem o direito de “escolher”
Uma vez nas mãos do algoz
Não há livre arbítrio para ela
Só o agressor tem livre arbítrio
A vítima não tem nenhuma escolha
“Assaltado por sair de casa à noite”
“Estuprada por usar saia curta”
“Espancado por ser gay”
Se não fosse pelas vítimas
O mundo não seria tão violento!
Acho que essa ironia perfeita
Que roubei do Facebook
Vale para o argumento tosco
Do livre arbítrio também!

LÍGIA

Linda voz
De amor e acalanto
Intensas paixões
Nos olhos brilhando
Gosto de você
Porque você é de verdade!
Incrivelmente amiga
Incrivelmente você!
Ah eu quero como eu quero
Que você seja sempre feliz!

EMPATIA

Levando a vida na flauta
Levando a vida na falta
Olhar ver
Pensar saber

Incluir

RELIGIÃO E ÉTICA

Se deus existe não pode ser bom
Crianças inocentes são violentadas
Torturadas e mortas todos os dias
Um deus onipotente e onipresente
Estaria vendo a criança ser torturada
E não fazendo nada para impedir
"Mas deus faz alguma coisa!
Ele está lá o tempo todo
Segurando a mão dessa criança
E dando ânimo e força
Para que ela possa suportar o sofrimento!"
Quem é mais cruel sádico nojento e abjeto?
O deus que ignora todos e nada vê
Ou esse que minha amiga descreveu?
Acreditar em aberrações desse tipo
E achar isso bonito e confortador
Me faz duvidar muito mesmo
Do senso de ética e de moral
Dessa mentalidade cristã

DELÍRIOS

Jovem no espírito
Amigo amante
Orgia alegria
Loucura
Amor clandestino
Feito de pecado
O que houve comigo?
Onde está você?

JESUS?

Jesus parece alguém que delirou
E conseguiu fazer com que pessoas
Acreditassem no seu delírio
Se é que um Jesus existiu!
Não diferencio Jesus
De Antônio Conselheiro
Ou de qualquer outro profeta
De qualquer outra religião
Criação de Paulo de Tarso
“Ajeitada” por Constantino
Um “inocente útil” usado
Para enriquecimento e poder
Da igreja católica 

E das outras religiões cristãs
Que vieram depois

NÃO EXISTE!

Já ouvi falar do livre arbítrio sim
Que raio de liberdade é essa
Que ninguém pediu?
Uma criancinha de seis meses
Violentada e morta por um maníaco
Não pediu e não teve livre arbítrio
Eu abriria mão do meu “livre arbítrio”
Se pudesse salvar essa criança
Eu abriria mão da minha existência
Se pudesse evitar que crianças
Passem por torturas como essa
Que são e sempre foram tão comuns
Eu tenho esse livre arbítrio?

RACISMO REVERSO

Ser chamada de branquela azeda
Não é racismo!
Quando fui chamada de "Omo total"
Uma amiga sugeriu
Que eu fosse à praia
E me bronzeasse um pouco
Nenhuma pessoa negra
Que é ofendida pela cor da pele
Terá a opção de mudar isso
Como eu poderia mudar
Segundo minha amiga sugeriu
Uma pessoa negra não é ofendida
Apenas pela cor da sua pele
Há uma suposição de inferioridade
De não humanidade e menos valor
De menor importância como gente
Ofensas ao branco da minha pele
São agressões verbais ou bullying
Mas não acho adequado
Chamar isso de racismo

JAMAIS

Jamais te disse
O quanto te amava
Porque um amor
Como o meu
Não se traduz
Em palavras

ADEPTO "PERO NO MUCHO"

Imagina um alemão muito patriota
Ele gostaria que a Alemanha
Fosse o país mais importante do globo
Esse alemão hipotético não é preconceituoso
Não pensa que os negros são uma sub-raça
Não é avesso aos judeus
Nenhum traço de antissemitismo!
Nem gosta de ouvir falar do holocausto
Porque é uma página vergonhosa
Da história da Alemanha
Imagina que esse alemão
Se filia ao partido nazista
E justifica que o fez apenas
Porque concorda com as ideias
Que defendem o bem da Alemanha

Agora eu pergunto
Esse exemplo que inventei
Não tem uma certa semelhança
Com as pessoas serem católicas
Não sendo homofóbicas
Não sendo sexistas
Não acreditando na infalibilidade do papa
Não conseguindo pensar na Inquisição
Sem se sentirem horrorizadas?

DESEJO

O que eu mais desejo
É não ser sobrevivente
De nenhum apocalipse!
Se estourar uma guerra
Quero ser morta pelo primeiro tiro
Se acontecer um apocalipse zumbi
Quero ser morta pelo primeiro zumbi
Que sair andando à procura de cérebros
Se chegarem alienígenas hostis
Quero ser fulminada pelo primeiro raio
Se o planeta for atingido
Por um gigantesco terremoto
Quero que ele caia na minha cabeça
Se um vírus letal se espalhar pelo planeta
Quero ser a primeira vítima

Estou tentando descobrir
Se o que está por aqui
Não é apocalíptico o suficiente
Ou se meu desejo foi ignorado
Pelo azar que tudo rege

MAGALI

Hoje é aniversário do mundo
Foi em um dia de hoje
Nessa mesma hora
Que o mundo começou a existir
E começou completo
Com pessoas animais árvores
Criança barulho e dor

O que importa o antes do mundo?
O que vai importar o depois?
Só o mundo importa
E hoje é aniversário do mundo
E tudo faz aniversário também

Hoje é aniversário do sorriso
Hoje é aniversário do carinho
É aniversário também daquela formiga apressada
É aniversário do Tio Patinhas do Mandrake
Do Sítio do Pica Pau Amarelo do príncipe encantado
É aniversário de deus

Hoje é aniversário do mundo
E porque é aniversário do mundo
É aniversário também do vento
É aniversário do miado do gato
Do raio de sol de Jesus menino
(mas não é Natal)
O que importa o Natal?

Hoje é aniversário do mundo
E tudo faz aniversário também
Até mesmo o Natal
A Páscoa com seus coelhinhos
O dia das mães as estrelas e o céu
Como pode o dia de hoje não ter importância
Se é o aniversário do mundo?

Hoje é meu aniversário
E não importa se o mundo
Se a vida
Já existia antes de mim
Para mim tudo começou a existir comigo
Antes de mim nada existiu
E hoje é meu aniversário

Hoje é aniversário do mundo
Do meu mundo
Hoje é aniversário da vida
Da minha vida

Por que hoje não seria importante?

VERTIGEM

Há um sentimento confuso
Como estar vivendo no passado
Sei que não poderei terminar algo
Sinto que não poderei começar nada
Sensação de que vou acabar

São saudades antecipadas
Sensação de que vou acabar

PERGUNTAS

Graças a deus por que
Se tem tanta gente morrendo?
Levante as mãos para o céu como
Se os braços foram arrancados?
Deus é bom como
Se toda a dor é viva e forte?
Que oração fazer
No dia da máxima miséria?
Que canto de louvor entoar
Em meio aos gritos dos que agonizam?
Ir à igreja fazer o que
Se cá fora há tanta lágrima a secar?
Deus tudo vê?
Se alguém vê
Se alguém pensa
Como dá pra acreditar?

TERNURA PURA

Garanto que posso te olhar nos olhos
No rosto
No cheiro
Na voz
No movimento
E ver você de um jeito
Que você não pode

Garanto que sei de coisas
Sem nenhuma importância
Que se eu te contasse
Você iria rir por dentro
Pra não dizer
Que boba eu sou

Garanto que nunca consegui
Fazer um milhão de coisas
Que você faz tão bem
Coisas que às vezes são grandiosas
Às vezes nem são ação
Mas que são lindas
Porque são só suas

Garanto que se o tempo não fosse tão mau
Se o corpo ainda pudesse
Eu te convidaria
Pra virar cambalhota na grama
E rir até chorar

Garanto que se a gente saísse
De mãos dadas
Correndo na chuva
Não era só chão que a gente ia pisar
Não era só de água
Que a gente ia se molhar

Garanto que não derreto
Feito sorvete que meleca e coça
Mas me dissolvo
Como uma sombra que lá estava
E não está mais

Garanto que sempre

ESPANTO

As revistas e os livros
Que ensinam a bondade
E o poder de deus
Convivem nas prateleiras
Com revistas jornais e livros
Que noticiam as catástrofes
Mais diversas e terríveis
Ilustradas com fotografias
Chocantes e tocantes
As postagens religiosas
Que ensinam a bondade
E o poder de deus
Convivem nas redes sociais
Com postagens que noticiam
As mais diversas catástrofes
Ilustradas com fotos e vídeos
Chocantes e tocantes
As missas e cultos religiosos
Com seus discursos e cantos
Que ensinam a bondade
E o poder de deus
Convivem nos canais de televisão
Com os telejornais que noticiam
As mais diversas catástrofes
Ilustradas com imagens e reportagens
Chocantes e tocantes
Em todo lugar para onde olho
Aqueles que “foram salvos”
E agradecem a interferência
De um deus todo poder
Convivem com as vítimas
Desses horrores todos
E eu fico muito espantada
Com as pessoas que louvam
Esse deus tão “bom” e “justo”
Que só é bom para alguns

SOU MUITO MÁ

20/03/20

Narizes empinados classe média
Se acharam ricos e louvaram o "mito"
Aplaudiram ou não se importaram
Usaram toda sua falta de empatia
E seu mau caráter
Para justificar e praticar aberrações
A expulsão dos médicos cubanos
A violência policial matando (mais ainda)
Pobres e negros
As invasões de terras indígenas
Os incêndios na Amazônia
O sucesso do agronegócio
Com os desmatamentos e os crimes
Praticados por seus capangas
O roubo dos direitos dos trabalhadores
E dos idosos aposentados
As ofensas e agressões
Aos professores e cientistas
Os cortes na educação
Toda e qualquer atitude criminosa
Da familícia e de sua quadrilha
Fico imaginando como estão ficando
Com o cu apertado agora
Temendo por seus empregos
Pelo faturamento de suas lojinhas
Pela saúde dos seus
Enquanto isso o "mito" só faz
A única coisa que sabe fazer
Cagada!
Só que agora as cagadas do "mito"
Podem borrar a vida linda deles
Daí alguns voltaram a bater panela
Há um certo consolo em saber
Que também estão se “fudendo”

RELIGIOSOS X ATEUS

Religiosos decentes e sem preconceitos
E ateus decentes e sem preconceitos
Conseguem debater e conversar
Conseguem inclusive ser amigos
Estão em lados opostos
No que diz respeito à crença
Mas estão desarmados
Porque não são radicais
Religiosos fundamentalistas e preconceituosos
E ateus fundamentalistas e preconceituosos
Não sabem debater nem conversar
Só ofender e odiar
Mas verdade seja dita
Os primeiros são muito mais numerosos!

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM

Existem coisas no universo
Que os olhos não detectam
Mas isso não significa
Que seja válido acreditar
Em qualquer coisa
Que um leigo diga
O que os olhos não detectam
Pode ser detectado por instrumentos
O que os olhos não detectam
Pode ser comprovado
Por cálculos e raciocínio lógico
Com base em indícios
Detectáveis por outros meios
Nada disso acontece com deus
E nunca acontecerá
Porque deus não existe

NATUREZA

A natureza não é bem nem bela
A natureza não é ruim nem feia
Muitas coisas na e da natureza
São terrivelmente feias
A natureza é o horror
Envolto em belas cores
Sons sabores e cheiros
Existem o bem e a beleza
Mas o horror está sempre lá
A natureza não é má
Porque impessoal e amoral
Mas muitos aspectos da natureza
São o próprio mal

CURVAS

 

Eu te sigo
Tu me cegas
Tu me guias
Eu te desvio da rota
Nós chegamos
Ou não

EU

Eu sou um rio
Não sinto as gotas de chuva
Acariciando meu leito
Corro pequeno e cansado
Olho as nuvens indiferentes
No céu a esperança de chuva
Que me fará reviver
A esperança me anima a correr
Alimentar esse resto de vida
À margem

Eu sou um pássaro
Voando sobre o inverno
À procura do verão
Cansado e faminto
Resisto pelo instinto
De conservação
A luz nos olhos
A música viva no peito
Espera um raio de sol
E se tornará minha canção
De liberdade

Eu sou eu
Procuro por mim
Nas estradas
Sinuosas
Imperfeitas
Que eu mesma
Construí