28 de junho de 2022

DEFENDER O ÓBVIO



Ontem vi novamente a frase “Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?” atribuída a Bertolt Brecht.
Pensei que ela é muito atual nos tempos que vivemos hoje, me indignei e quase parei por aí.
Quase porque depois vi o filme Seberg na Netflix e ele me provocou a pensar mais um pouco, ou um pouco mais a fundo talvez.
Daí acabei concluindo que essa frase sempre foi atual.
A história está cheia de pessoas que defenderam o óbvio.
Na maioria das vezes essas pessoas são minorias numéricas, são minorias em termos de poder, ou são minorias nos dois sentidos.
Na maioria das vezes essas pessoas são atacadas com violência e acabam pagando um preço muito alto pelo “crime” de estarem defendendo o óbvio.
A História está cheia de exemplos, em todas as épocas, em todos os lugares.
Para não me estender demais e porque não sou especialista, cito apenas alguns:

- As pessoas escravizadas da Roma antiga lideradas por um tal Spartacus defendiam o óbvio.
- As pessoas que tentaram lutar contra o domínio e as fogueiras da igreja católica na Idade Média estavam defendendo o óbvio.
- As pessoas escravizadas que fugiam para quilombos e as pessoas nos movimentos abolicionistas defenderam o óbvio.
- As feministas que, desde o século XIX foram ignoradas, desprezadas, espancadas e até mortas para que as mulheres obtivessem os poucos e frágeis direitos que temos estavam (e estamos) defendendo o óbvio.
- As pessoas que se uniram em sindicatos e fizeram greves por direitos trabalhistas estavam defendendo o óbvio.
- As pessoas que iniciaram e as pessoas que mantém e que defendem os movimentos e as lutas LGBT estavam e estão defendendo o óbvio.
- As pessoas que participaram dos movimentos estudantis que combateram a ditadura militar e que acabaram sendo torturadas ou mortas nos porões do DOI CODI estavam defendendo o óbvio.
- E nós, que desde 2016 tentamos evitar a tomada do país pelo capEtalismo ativo e pelo fascismo mal disfarçado estamos defendendo o óbvio.

Sobre cada grupo de pessoas que defendem o óbvio, as “gentes de bem” costumam levantar seus “Ah, mas essas pessoas também...”
E completam com desinformação, fatos exagerados ou mitos que não cabem de forma alguma no todo dessas lutas.
Para as pessoas que se negam a ver, ouvir e entender o óbvio e para suas consciências distorcidas, as invenções, mitos e exageros são suficientes para “justificar” ou tentar justificar as agressões, as mortes e qualquer tipo de violência que as pessoas que defenderam o óbvio sofreram e sofrem.
Incluindo a tirada de direitos conquistados a duras penas e com muita dor.
Mesmo assim algumas pessoas estão sempre defendendo o óbvio...
E quase sempre sofrem repúdio, demonização e ataques.
Mas é ao lado dessas pessoas que quero estar. Sempre!
A única vantagem que vejo em defender o óbvio sem que me deem ouvidos é saber que não me aliei ao que há de pior.
Não é uma grande vantagem, mas é tudo que temos na maioria das vezes.
Porque, ao contrário do que dizem, o mal quase sempre vence.

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