4 de julho de 2022

CARTA NÚMERO UM



Ele é engraçado.
Faz coisas gostosas de lembrar depois, parece até ter sido premeditado.
Fala muito, contando casos, contando coisas; noventa por cento de si mesmo.
É convencido, não se poupando elogios, mas é um convencimento tão carregado de cinismo que parece até estar brincando consigo mesmo.
Os poucos elogios que fez a mim são também duvidosos, não se pode saber com certeza se é isso mesmo que pensa. Mas ele consegue fazer com que a última preocupação seja o fato de comprovar verdades.
É alegre e beberrão sem ser enjoativo e pegajoso.
Mente descaradamente como se quem o ouve tivesse obrigação de acreditar no que diz; mas mente sobre coisas que deveria mentir mesmo.
Tem bom gosto, muito bom gosto, o que me deixou até lisonjeada. E é inteligente, qualidade visível à primeira meia dúzia de palavras.
Não é bonito, embora viva dizendo ser, poderia até ser tachado de feio, se isso tivesse alguma importância.
Conseguiu realmente me interessar a fundo e fazia tempo que ninguém conseguia isso. Me fez sentir livre a seu lado, livre para ser o que sou e o que quero ser.
Fala palavrões com tanta naturalidade que até parecem palavras que se possa dizer numa missa; e isso solta a gente, que consegue ser sem-vergonha também.
Gostei. Aí está todo o resultado, gostei embora saiba, graças a Deus, que não vou me apaixonar, o que torna tudo mais solto e gostoso. Sem amarras, sem possessividade, sem nada. De maneira livre e gostosa.
Mas caso eu consiga fazer logo o tratamento e me tornar fértil, precisarei procurar correndo outro pai pro meu filho; esse é muito perigoso.
Tudo bem, por enquanto vou levando... não tenho mesmo grandes esperanças, não preciso de pai para o meu filho agora, não posso tê-lo ainda, se é que um dia poderei.
Posso então me dar ao luxo de ter um amante.

Saúde Dom!

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