29 de agosto de 2024

SARAU ÍNTIMO



Meu neguinho me chamou da sala:- Vem ver isso!
Eu me aproximei, olhei para a tela do computador que ele exibia, “passei os olhos” pelo parágrafo e fiz cara de “não sei o que é”.
- Então senta aí e escuta – disse ele.
Eu me sentei do outro lado da mesa, ele moveu o mouse, voltando o texto ao início e começou a ler. Logo apareceu o nome Camilo e eu quase pulei na cadeira.
- Ah!!!!!!!!!!!
Ele riu, a gente riu, e ele continuou a leitura do conto A cartomante, do Machadão.
E passamos certamente bem mais de uma hora (talvez mais de duas) com ele lendo o conto e interrompendo ou sendo interrompido por mim, para destacar uma palavra mais rara, uma expressão especialmente bem colocada, uma metáfora perfeita, uma frase especialmente genial do genial escritor...
Muitas vezes o objeto dessas interrupções levava a digressões que evocavam outros textos, artistas, artes... e a gente falava, lembrava, procurava no Google...
Quando ele chegou à última “cena” do conto e disse “Fim”, a gente ainda conversou um bom tempo sobre o conto e seu autor, até que outra digressão levasse à leitura do texto Uma vela para Dario, do Trevisan, dessa vez feita por mim.
Então, falamos mais um pouco e encerramos nosso “sarau”.
- Coisas assim sempre fazem com que eu entenda o porquê de um amor sobreviver a mais de quatro décadas de convivência.

***

Para quem porventura tiver curiosidade, vou tentar lembrar algumas das nossas digressões.

Músicas:
Rita, Chico Buarque
Resposta da Rita, Ana Carolina e Chico Buarque
Todo menino é um rei, Roberto Ribeiro
É hoje, Caetano Veloso

Contos:
Noite de almirante, Machado de Assis
Uma vela para Dario, Dalton Trevisan

Livros:
Primo Basílio, Eça de Queiroz
Madame Bovary, Gustave Flaubert
Trilogia senhor dos anéis, Tolkien

Filme/série:
Laranja mecânica, Stanley Kubrick
Star trek, Gene Roddenberry

Poemas:
Poema tirado de uma notícia de jornal, Manuel Bandeira
Construção, Cesário Verde

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