15 de agosto de 2020

MATAR ANIMAIS

Fico indignada com os grupos evangélicos radicais e intolerantes que vejo pelos noticiários agredindo pessoas, grupos e terreiros das religiões de matriz africana! Também fico indignada quando vejo esses mesmos evangélicos atacarem imagens dos santos católicos. Como o exemplo que vi recentemente em um vídeo: uma mulher quebrando a pauladas enquanto berrava seu discurso intolerante uma estátua de santa que ficava do lado de fora do muro de uma casa. Eu acharia o ato normal e nem um pouco absurdo ou criticável, indigno de ser noticiado ou filmado, se aquela estátua, aquele muro e aquela casa fossem da mulher, mas não era e por isso fiquei indignada! Sou contra a intolerância e o preconceito. Sou contra todo tipo de intolerância e de preconceito. E isso inclui, sem nenhum grau a menos, a intolerância religiosa!

Dito isso, eu não entendo por que as pessoas ficam tão furiosas comigo e me acusam de intolerância religiosa e até mesmo de racismo quando digo que sou contra o assassinato de animais por qualquer razão que não seja a necessidade alimentar.

Eu tento explicar que isso se aplica igualmente ao peru de natal, aos peixes da sexta feira santa, aos “esportes” de caça e pesca e até ao agronegócio, mas não adianta! As pessoas continuam me vendo como uma intolerante e/ou uma racista digna de todo repúdio ou, no mínimo, merecedora de uma aula sobre o significado desses sacrifícios e da explicação de que o animal servirá de alimento depois. Mas o peru e o leitão de natal não servem de alimento também? E o peixe da sexta feira santa não é comprado para ser servido à mesa nesse dia?

Se me manifestar contra a morte de perus pelo natal - como já vi muitos fazerem de várias formas inclusive com belas e divertidas charges - vão dizer que o tema do meu post é legal, terei muitos apoiadores e muitos comentários concordantes.

Se me manifestar contra imagens de leitões inteiros, lembrando cadáveres de bebês recém nascidos, expostos nas vitrines dos açougues nas vésperas do Natal ou com uma maçã na boca sobre cama de farofa nas mesas da ceia, terei muitos apoiadores e muitos comentários concordantes.

Se me manifestar contra a morte de tantos peixes na sexta-feira santa também terei apoiadores e comentários concordantes.

Se me manifestar contra a morte de animais por caçadores que exibem suas armas como falos ou contra a morte dos peixes por pessoas que consideram a pescaria como um passatempo relaxante e divertido, terei muitos apoiadores e muitos comentários concordantes. Certo que mais contra os caçadores do que contra os pescadores, mas terei!

Se me manifestar contra a morte de animais em grandes e desumanizados abatedouros do agronegócio e contra a pesca em escala industrial pelos gigantescos navios que servem aos grandes empresários, aí então terei muitos apoiadores entusiasmados e muitos comentários concordantes. Provavelmente terei também comentários com explicações sociais, filosóficas e biológicas sobre os prejuízos dessas práticas e possivelmente até pode aparecer algum bozominion tentando defender o “mito” e sendo rechaçado pelos meus aliados na indignação contra as indústrias da morte.

Agora, dizer que sou contra o assassinato de QUALQUER animal por QUALQUER razão que não seja a necessidade alimentar e ousar incluir nessa lista os sacrifícios praticados pelas religiões de matriz africana, isso eu não posso fazer!

Como ouso dizer um absurdo desses?

Sou imediatamente vista como um ser abjeto movido pela intolerância religiosa e pelo racismo estrutural ou como uma ignorante que ousa falar mal do que nem se deu ao trabalho de tentar entender.

O que nunca consigo explicar é que sou contra o assassinato de QUALQUER animal por QUALQUER razão que não seja a necessidade alimentar e isso inclui os sacrifícios praticados pelas religiões de matriz africana porque as religiões de matriz africana NÃO SÃO exceção entre os que matam por uma razão diferente da necessidade alimentar. Desculpem os sensíveis, mas isso é fato.

Será que, em lugar de ficarem indignados comigo não seria hora de as pessoas que são adeptas dessas religiões começarem a repensar esses sacrifícios?

Embora, infelizmente, isso em geral aconteça com uma lentidão exasperante, o fato é que religiões também mudam com o tempo. Por que a sua não pode mudar?


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