11 de outubro de 2019

EU SOU QUASE DE MENTIRA

Eu sou quase de mentira
Meu sorriso não vem das alegrias mais profundas
Meu olhar não é uma janela sem cortinas
Há segredos
Minha voz não tem o tom do meu pulsar

Eu sou quase de mentira
Amo para sempre, mas não todo dia
Nunca te esqueço
Mas às vezes passo o dia muito ocupada
Com outras coisas
Sou boa, sou má, sou multifacetada
E hora brilho, hora apago

Eu sou quase de mentira
Quero muito, quero tudo
Quero mais vida
E hoje quero morrer
A curiosidade me consome
E nem quero saber por quê

Eu sou quase de mentira
Digo fórmulas, repito falas, dou exemplos
Sou convicta de coisas sobre as quais nada sei
Durmo sobre minhas certezas
E acordo perdida
Sozinha numa casa cheia

Eu sou quase de mentira
Leio muito, não tenho tempo de ver
Olho, penso, nem tenho tempo de ler
Ai como sou alegre!
Tanta felicidade que choro
E saio da festa antes do fim

Eu sou quase de mentira


2 comentários:

Ivo S. G. Reis disse...

Amiga Divina, que bom encontrá-la aqui! Achei sua postagem por acaso. Lindo poema, profundo, a exigir reflexões. Identifiquei-me com algumas passagens das várias estrofes.
Sobre as convicções, aí nossos sofrimentos diferem um pouco. Sofro porque não consigo tê-las. Durmo com elas em aberto, na esperança de vê-las resolvidas no dia seguinte ou, pelo menos, apagadas da minha memória. Ao acordar, vejo que não só não foram resolvidas nem apagadas, mas foram AUMENTADAS. E assim, o ciclo se repete, dia após dia. Começo a achar que vivo entre enganadores e que eu sou o gato, correndo atrás do rato, um rato muito mais ágil e esperto do que eu. A esperança é que um dia o rato canse, escorregue ou se distraia e aí... Sim, porque eu não vou parar de perseguir ratos enganadores.
Bação, amiga, continue escrevendo, com a mesma força do seu maravilhoso livro "Deus não Existe e Eu posso Provar". Que diria Descartes se fosse seu contemporâneo? Aquele "super-filósofo" (ou seria apenas um "pensador"?) ficaria louco, tentando contestá-la (rs,rs,rs,rs)

Divina disse...

Obrigada pelo comentário tão gentil, Ivo! Fico feliz demais que tenha gostado do meu poema, e feliz demais pelo que disse do meu livro. Só fiquei imaginando o "banho" de conhecimento que Descartes me daria... sem conseguir me convencer. :)