16 de julho de 2019

TUDO EU?

- Seja a mudança que você quer ver no mundo. - Mahatma Gandhi

- Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal. – Kant

- Antes de tentar mudar o mundo, arrume o seu próprio quarto. - William H. McRaven


As frases acima, que têm muito em comum, fazem sucesso em postagens do Facebook, em textos de autoajuda e em palestras motivacionais. Dificilmente se vê alguém discordar de alguma delas, pelo contrário, o que mais se encontra por aí são louvores e paráfrases delas com a ênfase do “Faça isso!”, “Você pode!”, “Você consegue!”, “Vai dar certo!”. E euzinha, que sempre fui rebelde, questionadora e com mania de ser “do contra”, fico aqui pensando com meus botões: Mas que merda é essa? Por que cargas d’água querem jogar tanta culpa e tanta responsabilidade em cima de uma incompetente e incapaz feito eu?

Nunca tive cargo de liderança; nove em cada dez votos que dei foram para candidatos que perderam a eleição; praticamente todas as vezes que tentei dizer como determinada coisa deveria ser feita o grupo, sempre pequeno e com pouco poder, ao qual eu disse isso decidiu fazer outra coisa. Como é que minhas atitudes vão mudar o mundo? Por que EU tenho que me portar e me sentir como se fosse capaz disso só porque respeito as pessoas e separo meu lixo? Colocar toda essa responsabilidade nas minhas costas é peso demais!

Não me entenda mal, não sou contra respeitar o outro, separar o lixo, arrumar o quarto ou qualquer outra atitude, postura ou atividade que seja benéfica para mim sem prejudicar o outro ou, melhor ainda, que seja benéfica para o outro. Pelo contrário, sou MUITO a favor disso! Mas não venham, peço encarecidamente, não venham me dizer que essa minha postura vai mudar o mundo. Não vai!

Se querem usar frases feitas, eu aconselharia outra: “Uma andorinha só não faz verão”, e mais, eu a sobrecarregaria: “Um milhão de andorinhas não fazem verão”, pelo menos não se forem andorinhas incapazes e impotentes feito eu!

O fato é que para tornar esse mundo melhor, uma euzinha não tem força suficiente e é injusto ficar sendo cobrado dela, ficar sendo dito a ela que isso é possível quando não é.

Fico me perguntando (eu me pergunto muitas coisas) se a grande quantidade de pessoas que sofrem de depressão não adquirem essa doença porque o peso da responsabilidade de mudar o mundo foi demais para elas. Às vezes eu me sinto dobrar!

Parem de cobrar dos impotentes! Parem de cobrar de si mesmes! Você não pode e não é culpa sua, não é responsabilidade sua. Você é a ponta mais fraca da corda e mesmo que seja um fio de uma corda mais grossa, essa corda não será grossa e forte o bastante. Não exija o impossível, não pense que o mundo vai melhorar porque você levou seu óleo queimado para a reciclagem, se fizer isso vai se decepcionar e essa decepção dói muito.

Não desista de cuidar de si mesme, da sua vida, das pessoas que você ama, de ajudar quando e como puder ajudar, pense que uma única pessoa ou ser vivo que ficar melhor, ou que não ficar pior, por uma atitude sua já é uma vitória enorme e, muitas vezes, muitos dias, é tudo o que você pode fazer e está bem. Você não criou o mundo por isso não é responsável por ele, você não criou a doença por isso não é obrigade a curá-la. Faça-o se puder. Mas só se puder.

Então vamos concordar que as três frases lá em cimas são ótimas, são lindas, mas são muitíssimo limitadas. Eu posso e quero e tento sempre praticá-las, mas sei que ao fazer isso não estou mudando o mundo. Não me cobre isso! Tire esse peso de cima de mim.

Claro que às vezes alguns de nós conseguem coisas que pensamos que seria impossível e que esses exemplos podem nos ajudar a lutar com mais energia pelo que queremos. Não há nada de errado nisso, mas, como em tudo o mais, temos que tomar MUITO cuidado com o exagero. O que estou dizendo é que acreditar nas conversas comuns nas frases de autoajuda que querem nos fazer parecer superpoderoses aos nossos próprios olhos pode ser frustrante a nos fazer muito mal. Temos que ser conscientes de que podemos e devemos fazer sempre nosso melhor e lutar por nós mesmos e pelos outros, mas que devemos e precisamos saber que somos limitados, que nem sempre conseguiremos e que, quando não conseguirmos, não é culpa nossa.

Essa coisa de autoajuda, essas frases bonitinhas que dizem servir para "levantar nossa moral", ou nosso amor próprio, são terrivelmente danosas. Elas convencem as pessoas de que podem até o impossível, e no final, quando não conseguem, elas se sentem frustradas e culpadas. Elas, para elas mesmas, tornam-se culpadas por tudo, até mesmo pelo fato de que o mundo e a vida não são obrigatoriamente maravilhosos como querem nos convencer de que são, ou serão "se fizermos a nossa parte". Daí a depressão, a frustração, o sentimento de inutilidade, a vontade de se matar.


8 de julho de 2019

CONVERSA COM UM CARA QUE ODEIA A ESQUERDA




DIVINA: “O ódio ao pobre hoje em dia é a continuação do ódio devotado ao escravo de antes. Quando as classes médias indignadas saíram às ruas a partir de junho de 2013, não foi, certamente, pela corrupção do PT, já que os revoltados ficaram em casa quando a corrupção dos partidos da elite veio à tona. Por que a corrupção do PT provocou tanto ódio e a corrupção de partidos elitistas é encarada com tanta naturalidade? É que o ódio ao PT, na realidade, foi o ódio devotado ao único partido que diminuiu as distâncias sociais entre as classes no Brasil moderno. A corrupção foi, portanto, mero pretexto para permitir a expressão socialmente aceitável do sadismo contra os pobres, o covarde ódio de classe que é o verdadeiro DNA da sociedade brasileira.” – A Elite do Atraso – Jessé Souza – Pág. 71

ODIADOR: O Jessé DO ATRAZO

O título é correto (A Elite do Atraso) aplicado ao Brasil mas a identificação desta elite pelo moleque Jessé é totalmente falsa e farseca dentro do estrito manual esquerda de dividir a sociedade em classes e tentar tomar o poder através da arregimentação dos refugos sociais, classe média foi algo que apareceu no Brasil timidamente no começo do século 20 e foi abortada pela verdadeira elite do atraso ou nossa elite mamadora do Estado encastelada no Rio de Janeiro, esta elite jamais foi branca, o Brasil sempre foi desde sua colonização um pais mestiço, embora tente a esquerda escrever sua narrativa de Brasil criado por negros sob escravização dos brancos vindos da Europa, daí o vira-lata tira seu ódio real ao apontar uma classe média cheia de ódio contra ao escravo que se tornou o pobre da atualidade, como disse alguém "no Brasil preto sempre soube seu lugar" sem duvida portugueses e espanhóis raças mestiças desde seu berço europeu sabiam criar uma terra de absoluta estratificação social mas esta estratificação jamais foi racial como a que os ingleses impunham, o PT e demais esquerdopatas foi criação da esquerda internacional com total apoio da elite brasileira mamadora do Estado que viu na evolução natural do Brasil o inimigo a ser combatido ou o Estado sair de suas mãos privadas para a construção de uma nação, esta tentativa ja tinha sido feita em 1932 mas o Rio venceu e então apareceu Getúlio e sua visão socialista alternativa vinda de Mussolini, este imbecil foi finalmente derrotado pela elite carioca mas então a burguesia e classe média brasileira ja tinha se construído como uma força que iria retirar do Rio sua condição de dono do feudo Brasil, a resposta foi 1964 quando o real povo brasileiro foi traído pela suposta ameaça do comunismo cubano então substituir o povo brasileiro pela favela foi o objetivo, lula quando eleito teve seu guru propagandístico intitulando sua agencia de África mostrando a direção que seria imposta ao brasil, o Brasil sempre foi imposto pelos jesuítas o sofrimento de não serem brancos europeus e daí a obrigação de serem espoliados pela matriz a partir de seu "sangue ruim" mas em 1964 o Brasil já tinha construído uma real cultura brasileira retirada da importação da europeia, de Carlos Gomes Santos Dumont escritores e ensaístas o fenômeno bossa nova no começo dos anos 1960 dava a cor da raça brasileira, nossa história e raça foram apagadas na mentira dos jesses da vida de um pais de ódio que nunca existiu, a igualdade comunista só existe na boca dos seus ativistas idiotas que pretendem se vingar de suas deficiências frente a classe media e demais classes pela violência, o resultado sempre é um Estado truculento que começa matando os ativistas que o criaram e então mantendo o povo sob ditadura terminal nas mãos de uma elite plutocrática, o povo brasileiro já acordou para esta realidade resta os jesses oriundos do Estado aparelhado tentando continuar a farsa comunista, a esquerda pode controlar a "imprensa livre", o face book etc. mas ja não consegue sair as ruas, se apelar para a violência perde então tenta sobreviver na desinformação e manutenção das estruturas dominadas enquanto der mas o resultado final será sua aniquilação frente ao mundo do século 21.

DIVINA: Não terminei de ler o livro ainda, mas vou comentar sobre o que percebo até aqui. Primeiro, seu texto diz que "esta elite jamais foi branca", e o Jessé, ao contrário do que seu texto faz perceber, em nenhum momento nega isso, principalmente com respeito à classe média. "esta estratificação jamais foi racial"? Não preciso do livro do Jessé para ver que isso é uma mentira deslavada! Basta abrir um livro de história para saber, se é que olhar para os lados não basta. Dá até vergonha de ver um texto contendo uma mentira tão absurda como essa!

"substituir o povo brasileiro pela favela"? Uai, eu sempre pensei que nas favelas morassem BRASILEIROS e que os brasileiros da favela também fossem POVO, aliás, ainda mais povo porque muita gente usa a palavra "povo" de forma pejorativa justamente para designar os brasileiros que moram nas favelas e que, que eu saiba, têm tanto direito (ou deveria ter) quanto qualquer brasileiro.

"o Brasil sempre foi imposto pelos jesuítas o sofrimento de não serem brancos europeus" Meu, os jesuítas foram expulsos em 1759! Acho que colocar essa culpa neles é meio, no mínimo, estranha, principalmente com esse "sempre".

O texto fala que "o Brasil já tinha construído uma real cultura brasileira" reproduzindo a farsa, para inglês ver, do Brasil miscigenado onde "todos são aceitos, respeitados e têm as mesmas oportunidades independentemente da origem e cor da pele e não existe racismo". Uma mentira absolutamente óbvia que foi criada de maneira hipócrita para vender a ideia de um país que na realidade nunca existiu e não existe até hoje. Alguém reproduzir essa fala como se fosse real parece mais do que ser uma pessoa enganada ou mentirosa, parece coisa de gente sem caráter mesmo! Novamente, não preciso do livro do Jessé para SABER que isso nunca foi verdade, eu sei olhar para os lados sozinha desde criança.

E lá vem o texto falar em comunista! "a igualdade comunista só existe na boca dos seus ativistas", essa é a resposta fácil do mentiroso: "Chama de comunista! Diz que é tudo comunista que está tudo resolvido!" Não precisa ser comunista para estranhar o enorme abismo social que existe no país! Não precisa ser comunista para perceber que a maioria dos negros está entre a maioria da população mais pobre, não precisa ser comunista para perceber que o que esse seu texto chama de "suas deficiências frente a classe média e demais classes" é FALTA DE OPORTUNIDADE ou oportunidades desiguais!

E, para terminar, seu texto fala em "a esquerda" sendo truculenta e se impondo pela ditadura! Caraca! como consegue mentir tanto? As ditaduras no Brasil NUNCA foram da classe baixa, e mais, os que, segundo seu texto, só querem continuar "mamando nas tetas do estado" também nunca foram das classes baixas! Os políticos oriundos das classes baixas são minoria até hoje, e os funcionários públicos concursados de altos salários são, na maioria, da classe média porque as classes baixas não têm acesso à educação de qualidade para conseguir passar em concurso.

Esse texto está nojentamente construído, coisa de MBL e Olavo de Carvalho! E eu não precisei de quase nada do Jessé para perceber.

Agora você provavelmente vai me chamar de "esquerdista", "petista", "comunista" ou os três juntos.

E eu termino com uma frase de Dom Hélder Câmara: “Se dou comida aos pobres, me chamam de santo. Mas quando pergunto por que são pobres, me chamam de comunista.”, que está no livro do Jessé.

ODIADOR: ooh divina,
Teu texto é longo e como todo texto esquerda cheio de falsetes, driblar a realidade é o processo básico dos comunas na tentativa de vender sua violência social, vejamos suas frases:

SEU COMENTARIO: "Primeiro, seu texto diz que "esta elite jamais foi branca", e o Jessé, ao contrário do que seu texto faz perceber, em nenhum momento nega isso."

O Jessé fala que os pobres atuais são os descendentes dos escravos e estes sim eram africanos, assim ele faz racismo ao pretender que não negros escravizaram e escravizam os descendentes desta raça.

SEU COMENTARIO: "Dá até vergonha de ver um texto contendo uma mentira tão absurda como essa! "substituir o povo brasileiro pela favela"?"

Aqui você se esmerou na falsidade ideológica, ao tentar negar que o Brasil esta sofrendo um processo de africanização de sua população, o Brasil até a independência era povoado de jessés então abriram os portos a imigração e o pais foi "branquizado", com a "revolução de 64" e depois com a conquista do poder pelo lula/esquerda o processo foi invertido e acelerado, o achatamento salarial da classe média e estrangulamento econômico da burguesia produtiva levou ao emigração mas principalmente a diminuição de prole do cidadão brasileiro enquanto os favelados foram inclusive instados pela esquerda a procriar sem controle para a conquista do poder já que o Estado iria sustentar suas famílias que deveriam se dirigir aos centros urbanos, urbanização da população brasileira e proletarização acelerada mudando o perfil social do brasileiro só esquerda vagabundo nega quando é necessário para seu discurso mas basta ver qualquer foto de Copacabana por exemplo reduto da classe media brasileira nos anos 60/70 e agora e a mutação do nosso biotipo é evidente, a esquerda mundial sempre adotou o processo de quando tomar o poder exterminar as classes media e burguesa, foi assim na Rússia, Camboja, cuba, agora na Venezuela, etc, você é capaz de citar um pais tomado pelos comunas que não tenha destruído suas classes sociais acima da marginalia?, pretender que os proletários e agora as minorias sejam as classes formadoras da "nova população" é o ideário básico comuno/globalista e vem você aqui dizer todos são "povo brasileiro"! quanta "ingenuidade" santa!

SEU COMENTARIO: "o Brasil sempre foi imposto pelos jesuítas o sofrimento de não serem brancos europeus" Meu, os jesuítas foram expulsos em 1759! Acho que colocar essa culpa neles é meio, no mínimo, estranho, principalmente com esse "sempre"."

No brasil os jesuítas chegaram com os primeiros navios, faziam parte da "resistência" católica ao protestantismo e o Brasil foi culturalmente moldado pelos jesuítas até a chegada da "teoria da libertação", o episódio que você cita foi exclusivamente europeu em nada afetou o Brasil, o Marques de Pombal sabiamente cortou as asinhas dos jesuítas que pretendiam na melhor técnica pré-comuna controlar o reino português, alias eles botaram suas manguinhas de fora aqui na América do Sul ao pretenderem criar um Estado Indígena ligado diretamente a Roma nas terras limítrofes de Portugal/ Espanha, Hollywood talvez no único momento que mentiu para a igreja católica criou o filme farsa "a missão" onde jesuítas piedosos tentaram defender os índios dos agressores europeus, pena que não fizeram o mesmo quando eliminaram toda a cultura sul centro americana, foram se interessar por índios em estado terminal (eram antropófagos)

SEU COMENTARIO: "reproduzindo a farsa, para inglês ver, do Brasil miscigenado onde "todos são aceitos, respeitados e têm as mesmas oportunidades independentemente da origem e cor da pele e não existe racismo". Uma mentira absolutamente óbvia que foi criada de maneira hipócrita para vender a ideia de um país que na realidade nunca existiu e não existe até hoje."

Interessante! você no início admite que não houve uma elite branca dominando o país, agora acusa estes brancos de não dar chance aos afros! classes sociais existem em qualquer latitude do planeta onde os mais capazes ascendem e os menos se nutrem deles pretender que os pobres do brasil são fruto do racismo é delinquência comuna na mentira de que a pobreza é feita pela elite/capitalismo quando o capitalismo trouxe evolução social extraordinária, a fantasia da fraternidade igualitária comuna termina quando estes estrumes tomam o poder, negros ascenderam a presidência do pais e eram senhores em muitas empresas de qualquer tipo, o afro da favela e o afro bem sucedido era questão de neurônio, assim como como hoje americanos branquérrimos estão na miséria e alguns blacks nadam em dinheiro.

SEU COMENTARIO: "Alguém reproduzir essa fala como se fosse real parece mais do que ser uma pessoa enganada ou mentirosa, parece coisa de gente sem caráter mesmo! Novamente, não preciso do livro do Jessé para SABER que isso nunca foi verdade, eu sei olhar para os lados sozinha desde criança. "

divertido! sua maneira de escrever denuncia o treinamento comuna, sem caráter minha senhora é quem inventa que todos seriam iguais se não houvesse as elites, em nenhum momento da história em qualquer continente houve algum agrupamento humano na base do tudo igual, mesmo Israel trazendo sua elite europeia desistiu dos kibbutzes em favor da sociedade capitalista, na África pré chegada do europeu todos eram escravos etnias escravas de etnias dominantes e nas etnias dominantes todos eram escravos de seus chefes, nos quilombos exaltados pela esquerda havia a escravidão africana integral, falar que branco escravizou escraviza o negro é mentira reles comuna, sem caráter é você mentirosa de araque!

SEU COMENTARIO: "E lá vem o texto falar em comunista! "a igualdade comunista só existe na boca dos seus ativistas", essa é a resposta fácil do mentiroso: "Chama de comunista! Diz que é tudo comunista que está tudo resolvido!" Não precisa ser comunista para estranhar o enorme abismo social que existe no país! Não precisa ser comunista para perceber que a maioria dos negros está entre a maioria da população mais pobre, não precisa ser comunista para perceber que o que esse seu texto chama de "suas deficiências frente a classe média e demais classes" é FALTA DE OPORTUNIDADE ou oportunidades desiguais!"

Querida, no EUA trilhões de dólares foram gastos com os blacks americanos, e 70 anos depois eles se encontram no mesmo patamar social e odiando os brancos por serem brancos, a mente tribalista africana e seu emocionalismo acima de qualquer controle mental pode ser negada por comunas mas eles jamais vriam "brancos" todas as raças do mundo cresceram com a chegada da tecnologia excetos os afros que de quebra chacinaram os brancos que criaram uma África viável hoje voltaram ao tribalismo e aprenderam a linguagem fácil de vítimas do sistema, oportunidades os afros brasileiros tiveram e destruíram a nação em nome da vingança social comuna, o excesso de favelados negros principalmente no Rio é o resultado da política comuna de proliferação da marginalia como meio de conquistar o poder, a base da solução deste problema é o nascimento responsável, o Estado quando permitir as mulheres marginais de qualquer raça ter apenas uma cria e esta seja criada pelo Estado em centros educacionais sem PTismo começa a solução.

FALTA DE OPORTUIDADE É MENTIRA COMUNA!! as universidades brasileiras desde os anos 70 foram criadas para abrigar gente de esquerda e só conseguiram formar quadros de ativistas mesmo porque seus Curriculum de humanas visam isto apenas. De qualquer maneira a fabulosa inteligência proletária não se manifestou nas universidades brasileiras e mesmo com a continuação do discurso vitimista de os pobres chegaram a universidade sem estrutura familiar é desmentido pelas famílias milionárias PTistas, os filhos de Lula têm jatos particulares mas não passam de manés e a filha da arrogante Maria do Rosário é uma drogada de periferia embora a mãe tenha muito mais dinheiro que qualquer classe média, o vitimismo esquerda não se comprova na prática, do outro lado Lima Duarte ator global consagrado nasceu sem posses e seu pai o abandonou num bordel por incapacidade financeira de sustentá-lo, a competência individual do ator o transformou numa das maiores estrelas televisivas, não adianta o papo esquerda de oportunidades oportunidades existiam na sociedade brasileira para todos que TIVESSEM TALENTO, agora na mixórdia nacional ninguém tem oportunidade exceto a elite quatrocentona mas mesmo esta está em crise terminal o Brasil ao manter o rumo atual será herança dos globalistas

SEU COMENTARIO: "E, para terminar, seu texto fala em "a esquerda" sendo truculenta e se impondo pela ditadura! Caraca! como consegue mentir tanto? As ditaduras no Brasil NUNCA foram da classe baixa, e mais, os que, segundo seu texto, só querem continuar "mamando nas tetas do estado" também nunca foram das classes baixas! Os políticos oriundos das classes baixas são minoria até hoje, e os funcionários públicos concursados de altos salários são, na maioria, da classe média porque as classes baixas não têm acesso a educação de qualidade para conseguir passar nesses concursos."

Coitada é a tal que dá nó em pingo d’água esquerda nunca foi truculenta!! mesmo tomando o teatro brasileiro como micro espaço da atividade esquerda, guerrilhas desde a coluna prestes sempre evidenciaram a natureza violenta da esquerda na tomada do Estado se não conseguiram é outra coisa, a esquerda brasileira dos anos 60 era decalque da tese cubana e até hoje seus "mártires” são lembrados como heróis quando sua atuação era de criminosos contra a população civil do Brasil, na ditadura comuna disfarçada a partir do FHC frentes "revolucionárias” no campo se formaram e as universidades criaram grupos de militantes que hostilizavam os demais alunos na base do adere ou cai fora. Os ptista não mamaram nas tetas do Estado? os políticos da esquerda são minoria? o atual congresso desmente sua versão mesmo quando a esquerda triunfantes foi apeada da maioria dos cargos políticos, funcionários públicos desde FHC são todos de Esquerda não precisa de competência é o controle da apuração das provas que ditas os futuros guerreiros da causa. Aliás as urnas eletrônicas e o MEC aparelhado criando sua provas induzidas ideologicamente e a FUNAI loteando o Brasil para os globalistas e o INCRA loteando um reforma agraria sem controle dos resultados e o controle do desmatamento amazônico entregue a Marina da Silva etc etc e você vem de vitimismo as esquerdas brasileiras e os afros sempre sofrendo nas mão dos "brancos" né abusada?

SEU COMENTARIO: "Esse texto está nojentamente construído, coisa de MBL e Olavo de Carvalho!"

Isto petelha nojenta, na falta de argumentos polarizar a questão ajuda coisa do manual comuna o Brasil é fruto do Olavo de carvalho e MBL e contra eles se insurge os valente Jessé das quebradas! cois de loco sô!

SEU COMENTARIO: "E eu não precisei de quase nada do Jessé para perceber. Agora você provavelmente vai me chamar de "esquerdista", "petista", "comunista" ou os três juntos"

Claro que não seu texto e o do Jessé das quebradas nascem na mesma fonte de desinformação um repete o outro.

SEU COMENTARIO: "E eu termino com uma frase de Dom Hélder Câmara: “Se dou comida aos pobres, me chamam de santo. Mas quando pergunto por que são pobres, me chamam de comunista.”, que está no livro do Jessé"

O Hélder comuna nunca perguntou por que os pobres são pobres mas dentro da teologia da libertação vendeu a ideia dos "dois mundos" onde os ricos não permitiam os pobres entrar! e assim como você e Jessé apenas repetem a mesma fonte comuna, Tá no livro de Jessé? ele é então a nova bíblia para os brasileiros! qualquer dúvida consultar esta excrecência proselitista difamatória e doutrinadora! que imbecil!!

POR FIM: como uma angelical senhora escreve igual ao Jessé insinuando que é uma brasileira séria que "acordou para a verdade"? quantos Jessés se escondem debaixo desta foto??

DIVINA: Começou mal me chamando de "comuna"! Isso faz até desmerecer resposta! A primeira resposta não responde ao que critiquei no seu texto. Ai, tadinho de você! Está revoltadinho porque tem mais negros em Copacabana! que dózinha! Cara, fico com NOJO desse discurso! E dizer que eles querem "tomar o poder"? Meu, você deve ser realmente muito burro! Então PESSOAS, porque, por mais que você tente negar, negros são pessoas, tá? Pessoas desejarem ter condições decentes de moradia, saúde, educação e trabalho é "tomar o poder"? Novamente, senti NOJO desse discurso! E lá vem você com os "mais capazes ascendem", de novo: Os que ascendem, salvo raras exceções, são os que já partem de uma situação favorável. Não vem com essa da meritocracia não, isso não serve aqui! Quando o ponto de partida não é o mesmo, não há paridade! Oportunidades iguais NÃO EXISTEM no Brasil, só um cego não vê! Lá vem você com "treinamento comuna", deixa de ser babaca, meu! Meu treinamento é ter nascido branca, morar e estudar em escola pública de periferia e ter amigos morando em favela, Eu VI a diferença com que sempre fui tratada em comparação às pessoas negras com quem convivi, desde a infância EU VI, não aprendi isso com Jessé nenhum e não precisei nem saber da existência de uma coisa chamada "comunismo" pra perceber como é! Nunca defendi que se implante o comunismo, a ÚNICA coisa que falo é que deveria diminuir o abismo social que existe, só isso, comunismo já foi experimentado e não deu certo, não sou idiota a ponto de não perceber isso, por mais que gente como você queira chamar qualquer um de comunista só por não concordar com a sua linda meritocracia! Tadinhos dos brancos, né? Gastam dinheiro com os negros e os ingratos ainda reclamam! Seu discurso, de novo, é nojento! Quanta abobrinha! É mesmo estilo Olavo de Carvalho, mente, exagera, ofende e se vitimiza enquanto chama qualquer reivindicação de mimimi. MENTINDO na cara dura! Eu nunca disse que a esquerda é minoria, nem sei se é ou não! Eu disse que a CLASSE BAIXA é minoria na política até hoje! Se para você pobre é sinônimo de esquerda e de "comunista", mais uma razão para ter pena de você e de sua ignorância. Quanto às outras coisas que você diz, sobre os comunistas terem sido ameaça e a esquerda "também" ter torturado e matado, nem vou responder, basta deixar um pouquinho seu Olavo de Carvalho e ver um livro de história sério que poderá ver que não havia movimento comunista organizado em 64 e mais, SE eles tivessem existido no nível que você acha, ainda assim isso NÃO justificaria o ESTADO estar matando e torturando pessoas! Agora vou pedir para você não responder porque nem vou ler, acho que já dei atenção demais para quem não sabe ver nenhuma opinião contrária sem vir com ofensas e conclusões maniqueístas. Chamar todo mundo de comunista e petralha não vai transformar suas mentiras em verdades, você poderia parar com isso... mas sei que não vai.

15 de abril de 2019

PESSIMISMO E REALIDADE

“O mundo é um lugar horrível”, declarou Trump em seu livro Think Big. “Os leões matam por comida, mas as pessoas matam por esporte.” E: “A mesma ganância ardente que faz as pessoas saquearem, matarem e roubarem em situações de emergência, como incêndios e enchentes, opera diariamente nas pessoas comuns. Ela se esconde debaixo da superfície e, quando você menos espera, levanta sua cabeça tenebrosa e morde você. Aceite. O mundo é um lugar brutal. As pessoas vão aniquilar você por pura diversão ou para se exibir para os amigos.”

Nunca vou elogiar Donald Trump porque ele é e representa o oposto do que defendo como ética, decência e tudo que vejo como positivo no que se poderia nomear como humanidade. No entanto, lendo o livro A Morte da Verdade, de Michiko Kakutani, na página 191, trombei com o trecho acima e sou obrigada a dizer que me parece muito correto. O mundo é sim um lugar horrível e as pessoas matam por esporte, discriminam, subjugam e humilham outras pessoas usando os argumentos mais esdrúxulos, contraditórios, falsos e absurdos para “justificar” todo o mal que praticam. O problema com Trump é que escolheu se tornar aquele ser em lugar de combatê-lo, e o problema com todos os seus apoiadores, admiradores, aliados e defensores é que fizeram a mesma escolha. A maioria das pessoas que admiram, defendem e invejam os predadores mais poderosos se comportam, nos níveis a que têm acesso, como esse ser humano que Trump descreveu tão bem. E quando um deles consegue algum poder real, como o governo de um país, o mundo se torna um lugar ainda mais horrível. Essa é a história da humanidade.

Falar em “as pessoas” para destacar as falhas do animal humano pode parecer que estou generalizando e dizendo que todas as pessoas se enquadram nessa classificação de predador abominável, mas sei muito bem que não é assim. Estou lendo também o livro Sapiens – Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari e, na página 26 ele diz que “A tolerância não é uma marca registrada dos Sapiens. Nos tempos modernos, uma pequena diferença em cor de pele, dialeto ou religião tem sido suficiente para levar um grupo de Sapiens a tentar exterminar outro grupo”. E pergunta: “Os Sapiens antigos teriam sido mais tolerantes para com uma espécie humana totalmente diferente?”. É verdade que nós, como animais, não somos tolerantes e adotamos o assassinato e o extermínio corriqueiramente em nossa história, possivelmente desde a época em que éramos caçadores coletores e, no mínimo, ajudamos a exterminar os outros Sapiens que dividiram o planeta conosco naquele período. Mas, isso não quer dizer que não podemos, como indivíduos e como grupos, usar a mesma inteligência da qual temos nos orgulhado tanto a ponto de, por causa dela, nos julgarmos superiores e mais “evoluídos” do que os outros animais para chegarmos à conclusão de que não somos superiores aos outros seres humanos, não somos os donos e senhores do planeta com direito à exploração irrestrita da vida que ele contém e podemos e devemos respeitar o outro, seja humano seja animal, e não causar dano nem nos omitirmos diante do sofrimento de outro ser vivo. Podemos sim usar nossa inteligência para repensarmos nossa animalidade ancestral, e muitos de nós, em vários níveis e de várias formas fazemos isso, e são essas pessoas que tornam possível, depois de tudo, ainda ter alguma esperança na humanidade.

Mas não é fácil, seguramente não é fácil ser otimista quando vemos o quanto a maioria das pessoas está sempre disposta a aderir, a defender e a lutar por qualquer ideia que a favoreça, seja como indivíduo seja como grupo. Principalmente como grupo, porque além do sentimento de superioridade individual há sempre a valiosíssima sensação de pertencimento, de acolhimento, de ser “parte de algo maior”, por mais que esse “maior” seja um mito, uma invenção, uma mentira, uma fraude. Para se sentirem privilegiados, superiores, melhores e mais dignos do que todos os demais, pessoas e grupos são capazes de acreditar em qualquer mentira confortável, não só se recusam a usar a razão naquele quesito como chegam a hostilizar - a ponto de usar a violência mais letal - qualquer um que tente quebrar ou expor essa mentira.

Quase todos os discursos que defendem algum tipo de superioridade de um determinado grupo sobre outro está usando a primeira pessoa, do plural ou do singular. “Eu” sou sempre um membro do grupo que defendo como aquele que tem direitos “inalienáveis”, “sagrados”, “lógicos”, “justificados”, “históricos” e “ele” é sempre um membro do grupo que deve se curvar diante da minha superioridade. Claro que, como sou inteligente, muitas vezes consigo camuflar meu discurso de forma que a dicotomia eu-ele não fique tão clara, e posso até, porque está claro que sou superior, conseguir que “ele” se convença de que meu discurso é impessoal e isento, posso até mesmo conseguir que um ou outro “ele” reproduza meu discurso, se convença e convença outros “eles” a se colocarem sob a minha “proteção”. Afinal, eu sou mais inteligente!

No livro Sapiens, citado acima, páginas 147-148, ficamos sabendo que as razões que levaram os europeus que colonizaram as Américas a escravizarem os africanos em lugar dos europeus do leste ou dos asiáticos não tiveram nada a ver com inferioridade biológica dos negros ou maldição bíblica. De acordo com o livro, três fatores os levaram a optar pelos africanos: a menor distância da América, o fato de já existir um comércio do tipo para o Oriente Médio e a maior resistência dos africanos às doenças tropicais, afinal, transportar pessoas que morreriam de malária antes de dar lucro não era interessante. Ou seja, basicamente, a escolha teve como razão o que costuma ser a razão maior na criação de todo e qualquer mito, mentira ou tabu: Dinheiro e poder.

Todas as demais “razões” são habilmente criadas e habilmente divulgadas depois e, como disse Paul Joseph Goebbels, uma mentira contada muitas vezes se transforma em uma verdade. A mentira que cria e sustenta o preconceito se entranha de tal forma que continua sendo “verdade” para muitas pessoas e grupos e, em muitos aspectos continua determinando a estrutura de uma sociedade, mesmo depois de anos, décadas ou até séculos de acúmulo de evidências e provas de que acreditou em mentiras. Ainda existem nazistas, ainda existem racistas, ao que parece ainda existem parsis e ainda existem pessoas e grupos que defendem a “verdade” irracional que justifica seus preconceitos com a violência mais brutal. Aparentemente não há racionalidade que possa superar o prazer estúpido e animalesco de se sentir superior e de ser parte de um grupo privilegiado. O animal que somos continua sendo o animal que mata e extermina em nome da sua alegada e nunca comprovada superioridade.

Isso é verdade para a mentira de que “Os arianos são superiores e os judeus são a escória que deve ser eliminada”, é verdade para “Os negros nasceram para serem escravos, é da natureza deles” e, pelo que diz a personagem Aban na página 175 de outro livro que estou lendo, A distância entre nós, de Thrity Umrigar: “Esses ghatis são sempre ghatis. Nós, parses, somos os únicos que tratam as empregadas como rainhas. E sempre recebemos o troco”, é verdade para os herdeiros das antigas castas superiores indianas. Nesse capítulo do livro, no qual outros personagens justificam e defendem estupidamente a ideia da supremacia parsi e da inferioridade dos não parsis, o que me pareceu emblemático foi que a mulher que se coloca contra todo o discurso preconceituoso está defendendo uma empregada que ela mesma não permite sequer que se sente em uma cadeira de sua casa. Para mim, essa personagem mostrou de forma muito eficiente a dificuldade que até mesmo as pessoas mais cultas, esclarecidas e sensíveis têm de se livrarem do preconceito internalizado em sua educação e sua cultura.

Sou branca, sou mulher, sou heterossexual, sou paulista, sou brasileira, sou professora, sou classe média, sou velha, tive lar, tive família, tive amor, tive acesso à educação, não tenho nenhum tipo de limitação ou deficiência física, sou casada, nunca fui espancada pelo meu marido, sou mãe de um filho heterossexual e intelectual e fisicamente “perfeito”. Isso tudo e cada uma dessas características me torna uma pessoa pertencente a um determinado grupo e, em alguns deles, tive “permissão” para internalizar algum tipo de preconceito. Em maior ou menor nível foi o que fiz e, com o tempo, tive que observar, questionar, pensar e aprender muito para me livrar deles. Nunca tenho certeza de ter conseguido, por isso continuo afiando minha empatia, me educando e me policiando. A verdade sobre mim, se é que há alguma, é que nunca estarei pronta e sempre serei aquela pessoa que não consegue entender aqueles que não lutam contra seus preconceitos e que, ao contrário, se agarram a eles como animais famintos.

Há pessoas que em lugar de tentar olhar para aquele que é alvo de preconceito, desvia os olhos, aceitando e propagando a “verdade” de que o preconceito não existe porque somos um povo pacífico e tolerante. Há pessoas que em lugar de tentar se colocar no lugar daquele que é alvo de preconceito fica procurando “justificativas” para poder dizer absurdos como “Isso não é natural”, “Homossexuais são todos promíscuos”, “Eu não sou homofóbico, mas...”. Há pessoas que adotam felizes e replicam entusiasticamente frases do tipo “Feministas são mulheres feias e mal-amadas”, “Mas isso é puro mimimi, somos todos iguais e todos podem vencer na vida com o próprio esforço”, “Ela queria o que andando com essa roupa?”, “Tá com pena? Leva pra sua casa!”, “Por que não tem o dia do orgulho hétero?”, “Bandido bom é bandido morto”, “A história comprova, índio é tudo vagabundo”. Há pessoas que replicam, divulgam e, pior, ensinam aos seus filhos todos esses “conceitos”, todas essas “pérolas de sabedoria” e outras “verdades” do tipo, sempre destituídas de empatia, conhecimento, interesse, raciocínio, verificação honesta dos fatos. E, o mais terrível, fazem isso com ênfase e orgulho, sem qualquer resquício de bondade.

Muitas dessas pessoas são aquelas mesmas que mandam mensagens de otimismo, mensagens religiosas, mensagens positivas impregnadas de palavras adocicadas como “amor”, “amizade”, “felicidade”, “carinho”. Muitas dessas pessoas frequentam assiduamente igrejas, templos, sinagogas, terreiros, encontros, retiros espirituais, marchas para Jesus, e outros eventos e lugares de confraternização, sempre em nome de um deus que, dizem, é todo bondade e amor. E elas, as pessoas fiéis, pias, tementes, se comportam nessas ocasiões, e em muitos casos também fora delas, como pessoas que visivelmente se julgam santas, iluminadas, ilibadas. Elas em geral demonstram sentir que são almas puras ou, no mínimo, que estão a caminho da purificação. Espalham a “palavra”, divulgam sua fé, usam camisetas e bijuterias com os símbolos que as distinguem como parte daquele grupo privilegiado que terá direito a um lugar privilegiado “À mão esquerda de deus pai todo poderoso”. Como elas conseguem é, para mim, um mistério maior do que a questão do surgimento do universo.

Essas pessoas são más? São boas? Se não podemos chegar a uma resposta definitiva sobre o que é o bem e o que é o mal, nada mais previsível do que não haver resposta definitiva para essas duas perguntas. Nesse caso, posso dizer o que penso e argumentar a respeito, e o farei: Essas pessoas são más! E, mais. Essas pessoas são hipócritas e egoístas. Principalmente egoístas. Mas, e essa é a parte mais difícil de concluir e assumir: Elas não são assim tão diferentes de cada um dos que, como eu, ficam indignados com esses comportamentos. Cada um de nós, em algum nível, nos comportamos como essas pessoas e o máximo que podemos dizer é que elas, ou algumas delas, são mais nocivas do que nós porque levam seu egoísmo a um grau mais elevado do que a média dos seres humanos o fazem. Isso se chama conviver com contradições, e é o que melhor fazemos, de acordo com Yuval Noah Harari, e eu concordo completamente com ele, apenas lamento muito mais... e isso talvez seja mais uma mostra do meu egoísmo atávico. Quem me autorizou a, com base apenas em um livro de história que tem que cumprir certos requisitos para ser considerado como tal, concluir que EU sou mais sensível às mazelas da minha raça?

Na página 172 de Sapiens lemos que: “Na Europa medieval, um nobre típico ia à igreja pela manhã e ouvia o sacerdote: ‘Riquezas, luxúria e honra são tentações perigosas. É preciso superá-las e seguir os passos de Cristo’. Voltando para casa, o nobre vestia suas melhores sedas e ia a um banquete no castelo de seu soberano. Lá, o vinho fluía como água, o menestrel entoava canções sobre Lancelot e Guinevere e os convidados compartilhavam piadas sujas e narrativas sangrentas de guerra. ‘É preferível morrer a levar uma vida de humilhação. Se alguém questiona sua honra, só o sangue poderá anular o insulto. E o que pode ser melhor do que ver nossos inimigos fugindo e ter suas belas filhas estremecendo a nossos pés?’”. Os senhores de engenho também iam à missa ouvir os mesmos sermões antes de passar no mercado de escravos, antes de mandar chicotear um negro fujão, antes de estuprar uma escrava mais “ajeitadinha”. E sua esposa, lembrando o sermão de domingo e sentindo o “espírito de deus em seu coração”, ajoelhava-se diante do oratório doméstico e rezava até sentir-se uma verdadeira santa, depois caminhava altivamente para a cozinha a fim de verificar como andava a preparação da refeição e, se algo não estivesse a seu gosto, distribuía alguns sopapos enquanto dizia que negros são mesmo animais ignorantes que só conseguem fazer alguma coisa “debaixo de pancada”. Esses, é claro, são apenas dois dos exemplos que se pode colher aos milhares ou milhões na história de nossa contraditória bondade.

Então afirmo: Pessoas que se dizem ou se creem boas são na verdade más, eu sou uma pessoa má e você que está me lendo é uma pessoa má também! Sou uma pessoa má porque faço três refeições ao dia e durante elas nunca penso no fato de que muitíssimas pessoas, incluindo crianças, passam fome. Eu sei disso, tenho consciência disso, lamento tremendamente que isso aconteça, mas não faço nada para que isso deixe de acontecer, exceto escrever muitas vezes a palavra “isso” e dizer ao meu banco que desconte uma quantia irrisória do meu salário para ajudar crianças carentes. No momento das minhas refeições não penso nelas porque – é o que digo a mim mesma – se o fizer vou me sentir mal, porque sei que meu salário de professora não seria suficiente sequer para alimentar as crianças que durante muito tempo vi jogadas pelas ruas de Copacabana, menos ainda para alimentar as pessoas que passam fome ao redor do mundo. E essa é uma verdade que eu poderia usar para me justificar cada vez que entro em minha casa, que compro uma roupa nova, que vou a um restaurante, que sou atendida por um médico do meu convênio, que viajo nas férias e em muitos outros momento em que estou usufruindo de algo que é total ou parcialmente interditado a uma grande quantidade de pessoas.

Posso usar essa verdade como justificativa para todos os meus privilégios porque ela é uma verdade, meu salário de professora realmente não é suficiente para que eu possa dar a todas as pessoas do mundo o mesmo tipo de vida minimamente digna que tenho. Mas se tanta gente não tem sequer o suficiente para levar uma vida minimamente digna, por que aceito morar, trabalhar, me divertir, viver, fazer parte de uma sociedade que permite e tolera que pessoas vivam com fome e morram sem dignidade? Consigo porque sou egoísta e má. Porque lamento mas não faço nada para mudar uma realidade que me incomoda, porque lamento mas consigo viver, consigo sorrir, consigo ser feliz e até mesmo me sentir grata à minha sorte quase da mesma forma que outras pessoas que fazem exatamente o que faço conseguem agradecer a um deus. Eu, do alto da minha racionalidade briguenta e teimosa, chego a perceber a contradição dessas pessoas que agradecem pelo que têm a um deus que acreditam ser todo poderoso e esquecem de culpar esse deus por não ter dado a todas as pessoas do mundo essas mesmas razões para agradecer. Critico as pessoas que egoisticamente aceitam que um deus todo poderoso deixe crianças morrerem de fome, desde que dê a elas aquilo que têm ou que pedem em oração. Mas quem sou eu para me julgar melhor do que elas?

Outra boa justificativa muito verdadeira que posso usar para minha maldade e meu egoísmo é que, se não agisse dessa forma, se não esquecesse as crianças famintas quando estou diante de uma bela fatia de pizza, se não esquecesse as pessoas doentes e abandonadas quando converso, sorrio e sou feliz com meus entes queridos, se não conseguisse abstrair da minha mente todo o mal que atinge milhões de pessoas eu não conseguiria viver. É fato, sou um animal humano e meus instintos de animal humano me impõe esse egoísmo, essa propensão a cuidar primeiro de mim mesma e das pessoas que amo e só depois, se me lembrar, se tiver tempo, se sobrar recursos, pensar em fazer alguma coisa por alguém que sofre. Mas sou também o animal que pensa, o animal que raciocina, pondera, cria linguagens, mitos, conceitos e verdades. E um dos mitos que crio é o de que sou uma pessoa boa e decente porque vivo minha vida sem causar mal a ninguém e procurando ajudar as pessoas sempre que posso, esse é o mito que camufla o meu egoísmo atávico e a maldade que é toda minha e que virá à tona se eu permitir ou se for de alguma forma colocada diante de uma situação na qual meu instinto tiver que gritar mais alto.

No livro 1984, de George Orwell, o personagem Winston tenta lutar contra o sistema, tem conhecimento da opressão em que vive e ama Suzanna, mas quando é torturado por O’Brien chega àquele ponto em que todas as suas resistências são quebradas e, sem mentira, fingimento ou revolta, deseja que toda a dor seja transferida para Suzanna, vê o que O’Brien quer que ele veja e adora sinceramente o Grande Irmão. Winston é um animal humano como eu, e muito provavelmente eu também tenho um ponto em que me entregaria totalmente como ele fez e, para mim, isso não mostra apenas minha fraqueza, mostra principalmente meu egoísmo e minha maldade. E me desculpe ser assim tão direta, mas penso da mesma forma a respeito de você.

O argumento fundamental que estou defendendo aqui é que, dentro do espectro daquilo que nós, animais humanos, costumamos denominar fazendo uso das palavras “maldade” e “egoísmo”, somos maus e egoístas, eu, você e cada um de nós. Acontece que esses conceitos têm nuances como as cores, há aqueles que têm em si essas características mais acentuadas e outros que as têm pouco menos intensas, mas todos nós as temos. O que acontece é que nós tendemos a praticar atos de maldade em diversos níveis - de moto próprio ou influenciad@s por outras pessoas que de alguma forma têm mais poder. E essa tendência a pensar, instigar, aceitar e praticar o mal parece ser mais forte quanto mais forte é o egoísmo. Ou seja, os mais egoístas são mais danosos aos outros e, ao mesmo tempo, tendem a obter maior sucesso. Quando penso no significado das palavras, concluo que estou chamando de egoísmo uma faceta do nosso instinto de preservação, a parte que faz com que a gente procure - e encontre - justificativas para nos preservar e nos preocuparmos acima de tudo com nosso corpo, nosso bem-estar, nossa vida e a qualidade dela. Vendo por esse ângulo, a maldade humana é um subproduto do egoísmo e é inerente a ele porque é também uma faceta do instinto de conservação e preservação que temos como animais que somos. Criamos outras versões e eufemismos para o que é basicamente egoísmo. Amor próprio é só o mais óbvio deles.

Voltando ao livro Sapiens, na página 17, temos que “No Homo Sapiens, o cérebro equivale a 3% do peso corporal, mas consome 25% da energia do corpo quando este está em repouso”. Acrescento ainda o livro Cérebro e Crença, de Michael Shermer que, na página 78, afirma que “Sempre que o custo de acreditar que um falso padrão é real for menor do que o custo de não acreditar em um padrão real, a seleção natural favorecerá a padronicidade”. Então, fico pensando em quanta energia é necessária para procurar fontes, pesquisar a validade das fontes, analisar conhecimentos obtidos e processar tudo isso relacionando conhecimentos novos e antigos entre si até tomar uma decisão, aderir a qualquer linha de pensamento, comportamento, crença ou postura. E, paralelo a isso, quanto de energia um cérebro consome para aceitar como verdade, sem um mínimo de análise, qualquer tipo de informação, opinião ou crença que lhe seja apresentada. Tenho certeza de que há uma diferença consideravelmente grande entre uma e outra situação. Pelo que já vi e li em várias fontes, a economia de energia é característica recorrente no mundo animal, por que seria diferente com o Homo Sapiens?

Daí que, entre a economia de energia, o egoísmo e o instinto de preservação, não parece muito difícil ser uma pessoa que, no mínimo, não se esforça muito para adquirir conhecimentos não práticos, e que em lugar de perceber e analisar contradições e mentiras procura negar a existência de tais contradições, de preferência de forma indireta, ou seja, usando argumentos de terceiros sempre e todas as vezes que essas contradições e mentiras nos favoreçam de alguma forma. Na verdade, arriscaria a dizer que, como indivíduos, os mais egoístas de nós estamos dispostos a gastar mais energia para justificar contradições e criar mentiras que nos favoreçam do que gastaríamos para desvendar essas mentiras e perceber e descartar essas contradições. A economia de energia e o instinto de preservação levam pessoas a se tornarem seguidoras de manada, a não pensarem e não se importarem em saber os danos que causam ou que não se dão ao trabalho de evitar. Não estou pensando apenas em extremos mais danosos e sim no fenômeno em si, que como tal comporta também o mais brando dos egoísmos, do qual um bom exemplo talvez seja a pessoa que passa toda a vida em auto privação praticando “o bem sem olhar a quem” e que talvez o faça com o objetivo de se tornar uma pessoa santa e, quem sabe até, merecer destaque em um livro de história de pessoas “iluminadas”. O egoísmo leva pessoas a serem más, ou a agirem com bondade - ou ilusão de bondade - por ambição, e essa ambição não precisa ser por dinheiro ou poder, pode ser por reconhecimento e simpatia.

Ser um herói ou uma heroína parece algo muito tentador e um mártir é uma espécie de herói. Quando sofro e exponho meu sofrimento, estou também chamando a atenção e me tornando mártir-heroína aos olhos da outra pessoa, quem garante que não estou exagerando esse sofrimento, ou mesmo buscando-o para ser vista dessa forma tão especial? Acho que muita gente faz isso, acho que muita gente FEZ isso. Acho que os mártires de qualquer religião (elas costumam ter muitos deles), além de alcançar o paraíso ou ter direito a setenta e duas virgens, se tornaram mártires também para serem admirados e louvados pela eternidade. Acho também que até mesmo inquisidores se tornaram ativos porque o “trabalho terrivelmente sofrido” deles aos seus próprios olhos (afinal, para um homem santo, infringir dor a alguém é um sofrimento atroz, não é mesmo?) era uma espécie de sacrifício que os levaria aos livros de história como mártires da fé. Madre Tereza de Calcutá é um exemplo recente e bem-sucedido de aparência de bondade egoísta e tremendamente má. Aposto que, enquanto negava alívio ao sofrimento das pessoas de quem “cuidava”, ela se regozijava por ser, além de merecedora do paraíso cristão, digna da imortalidade dada pela história.

Quando éramos crianças, um de meus irmãos tinha bronquite e tinha crises terríveis que algumas vezes obrigava meus pais a levá-lo ao médico e passava a noite no hospital. Como resultado disso e de já ter perdido uma filha, minha mãe tinha uma enorme preocupação com esse meu irmão. Eu e meu outro irmão nos sentíamos negligenciados e, muitas vezes, fingíamos dores e doenças para que nossa mãe desse a nós tanta atenção quanto dava a nosso irmão doente. A bronquite do meu irmão desapareceu quando ele cresceu e adquiriu mais resistência, mas sempre que me sinto doente, antes de dizer a alguém ou de procurar um médico, dou uma parada, procuro pelo sintoma com atenção e me pergunto: “Estou doente mesmo ou estou fingindo?”. Da mesma forma que me vigio para não fingir doença com o objetivo de receber atenção e cuidado do meu marido, preciso checar meus sentimentos, minhas opiniões e minhas ações para saber se não estou agindo pelo puro egoísmo, se não estou escondendo algum desejo ou intenção escusos e inconscientes por trás dessa opinião e dessa ação, preciso me vigiar para saber que não estou expressando - ou concordando com - opiniões que na verdade não tenho para que as pessoas pensem que sou uma pessoa boa, nobre ou inteligente.

Como animais sociais que somos, podemos negar à vontade, mas a opinião dos outros a nosso respeito importa sim! Precisamos trabalhar muito nossa personalidade para que consigamos deixar de valorizar a opinião alheia a ponto de permitir que isso determine nossas ações, mesmo que de forma inconsciente. Se você não o fizer, pode até mesmo ser levado a praticar atos de maldade, casando o egoísmo e a vontade de agradar com a economia de energia. Tento ser muito vigilante, evito expor meus problemas, lamentar minhas dores, reclamar da minha vida, fazer confissões muito íntimas para não correr dois riscos ao mesmo tempo: o de estar causando mal à pessoa com quem falo sobrecarregando-a com meus problemas quando ela certamente tem seus próprios problemas com que se preocupar, e o de estar, inconscientemente, procurando atenção, admiração e deferência, de estar fingindo que minhas dores são maiores do que na realidade são apenas para parecer melhor do que realmente sou. Para mim, o difícil de fazer isso é que nunca tenho uma resposta totalmente confiável porque sei que posso estar “fingindo que não estou fingindo”. Eu não sou confiável, acho que nenhum de nós é.

Como grupo, humano é um animal nocivo e predador que divide a própria raça em grupos denominados "nós" e "eles", sendo "eles" sempre aquele a ser inferiorizado, subjugado, eliminado. Enquanto houver essa divisão - e não vejo nenhum indício de que um dia ela deixará de existir - continuaremos sendo o animal que mata, tortura, extermina, aniquila. Por mais que a gente queira pensar de forma mais "bonitinha" e achar que somos "legais", a verdade é que somos tão terríveis que toda história de toda comunidade humana está plantada sobre a aniquilação completa ou parcial de outra comunidade humana e, se não tiver razão para o ódio, a gente inventa uma. É isso que somos... humanos.

Como indivíduo sempre tem os que são pacíficos - se viverem em condições tais que permitam sobrevivência sem luta - mas como raça somos mais irracionais do que racionais, ou melhor, usamos a racionalidade mais para matar do que para salvar. Na história das civilizações não houve período de paz. Investimos mais na fabricação de armas do que de remédios, e mesmo quando fabricamos remédios o fazemos mais por ambição do que por interesse em salvar vidas. Justificamos assassinato, tortura, preconceito usando invenções confortáveis chamadas religião, pátria e propriedade. Como disse Geoge Carlin e como demonstrou Saramago: Para nossa civilização tão “comportadinha" voltar à barbárie, basta apagar a luz.

Há os que defendem as crenças como solução contra todos os males, mas não acho que isso seja sempre positivo. Não mesmo! As três maiores religiões do planeta têm cada uma delas uma história de horror que é responsável pelo fato de terem se tornado tão grandes. E o que é válido para religião, é válido para outras crenças também. A política, o esporte, a família, a economia. Nossas crenças estão sempre entremeadas pelo "nós" - melhores, superiores, merecedores, eleitos - e o "eles" - inferiores, indignos, subjugáveis, indesejáveis, assassináveis. Tem crença positiva? Sim, com certeza! Mas essas são em geral bastante menos efetivas, menos gerais, mais frágeis e facilmente "porosas" às justificativas que conseguimos encontrar para agirmos de acordo com as crenças mais danosas. Uma pessoa pode acreditar sinceramente que somos todos iguais, que todos os seres humanos têm alma e podem alcançar o "reino de deus", seja qual for esse deus, mas pode, ao mesmo tempo, acreditar que os homossexuais são aberrações e culpados pelas agressões que sofrem; que estrangeiros devem ficar em seus lugares, não importa quanto esses lugares tenham se tornado perigosos; que matar um adolescente que pulou um muro com um tiro certeiro é algo perfeitamente válido e até louvável.

As exceções, que queremos que exista e às quais queremos e temos a pretensão de pertencer, não são insignificantes muito menos destituídas de importância, mas são, em geral, perdedoras. E são perdedoras porque lutam contra o que é padrão e o padrão é apelar para todo e qualquer artifício, por mais injusto, danoso e desonesto que seja, porque tudo podemos justificar com incoerências e artimanhas egoisticamente elaboradas. Para isso nossa racionalidade funciona maravilhosamente bem! O ser humano é capaz de coisas lindas sim, mas é bem mais capaz ainda de coisas horríveis. As guerras, os genocídios, as organizações criminosas travestidas de igrejas e nações, a história toda com seus rios de sangue que nunca pararam de jorrar mostram sempre que não somos uma raça da qual uma pessoa que faça parte dessa minoria perdedora possa se orgulhar. E ter consciência dos fatos pode ser bom: conhecer o inimigo, nesse caso, é conhecer a si próprio.

Sinto uma certa vergonha de me colocar como uma espécie de exceção, tenho consciência de que devo estar sendo prepotente em vários aspectos sobre os quais sequer tenho consciência. Sou professora e continuo lutando, não desisto e ainda tenho esperança de, pelo menos, ajudar a fazer com que a quantidade de exceções não diminua muito. Acho essa luta muito válida e necessária. Mas o fato é que não me deixo enganar, sei que somos animais e animais terríveis. Pode parecer contraditório o que estou dizendo, mas é justamente essa consciência da nossa animalidade que me dá força e vontade de continuar, e que, principalmente, me torna alerta para não permitir que esse lado animalesco determine minhas ações.


2 de março de 2019

QUEM É DEUS? DE QUE DEUS EU FALO?




I



É comum, diante de quaisquer textos com questionamentos que ousem ir contra religiões, religião ou deus, pessoas comentarem esses textos perguntando a que deus o autor do texto se refere; alguns perguntam: “Você está falando de Zeus, de Odin ou de Rá?”. Claro que quem faz essa pergunta quase nunca é um religioso fanático, embora muitas vezes seja um daqueles que são ou se acham muito cultos e por isso pensam que será muito fácil convencer essa ateia aqui de que o deus deles é muito diferente dos acima citados.

Os teístas mais suaves e tolerantes me informam de que mesmo que eu não acredite em deus ele acredita em mim, e afirmam ainda que deus (ou Jesus) me ama. Outros, entre o fanatismo e a tolerância, afirmam que sou uma infeliz, sem amor, frustrada e egoísta, e dizem que odeio deus porque sofri alguma grande perda e, por ser fraca e egoísta, culpei deus por isso; juram que um dia vou “receber uma graça”, enxergar a verdade e me arrepender de tudo o que digo. Já os mais fanáticos lamentam minha ignorância, me ofendem com palavrões e “convites” não muito aceitáveis e, invariavelmente, me ameaçam com o fogo eterno; às vezes acrescentam que eles estarão, no paraíso e envoltos em delícias, me vendo queimar e rindo do meu sofrimento, que será, segundo alguns, um motivo a mais para o seu deleite.

Quanto aos primeiros não tenho como não achar divertida essa ingenuidade contraditória – eles afirmam sempre que ninguém pode saber nada sobre deus, mas sabem que ele me ama e que acredita em mim; quanto ao segundo grupo não entendo como podem tirar tantas conclusões erradas sobre mim e sobre a minha vida com tanta convicção; e quanto aos últimos fico impressionada com a “piedade” deles e do seu deus-todo-bondade.

Os que me perguntam sobre que deus eu falo em alguns casos comentam a existência de vários deuses, citam deuses de várias religiões, relacionam vários conceitos ligados a cultos, mitologias e cerimônias do passado e do presente de várias culturas e de vários povos ao longo da nossa história. São informações válidas, interessantes e muitas vezes trazem novidades que são bastante úteis. Mas basicamente todo ateu sabe que existem e existiram muitos deuses na história da humanidade e eu também sei, não poderia deixar de sabê-lo sendo essa apaixonada por mitologia que fui desde criança, uma paixão que me levou a roubar do meu pai – nota a nota, moeda a moeda em malabarismos de aventuras e mentirinhas bem elaboradas – o dinheiro para completar a coleção Mitologia, publicada em fascículos nos anos 70, que li diversas vezes e que ainda hoje tenho, amarelada e envelhecida, em minha estante.

Também sou apaixonada por literatura e tenho muito interesse por história, inclusive história das religiões. Além disso, eu e muitos ateus também nos interessamos por livros e filmes de ficção científica, do tipo Isaac Azimov e Star Trek, portanto, alguns de nós temos conhecimento até mesmo de algumas projeções de deuses para o futuro, projeções que, diga-se de passagem, pelo menos pelo que vi até agora – e vi muito – não conseguem ser muito diferentes dos deuses de que temos notícias lendo história e atualidades.

Tudo bem que ninguém é obrigado a saber disso tudo a meu respeito apenas lendo um texto crítico de cunho religioso, mas um dos meus argumentos básicos sobre o ateísmo é que ser ateu não é uma ação, uma escolha, um desejo ou uma opção de vida; em geral não escolhemos o ateísmo como quem escolhe uma roupa para sair à noite. Ser ateu é antes de tudo uma reação, portanto, se um ateu tem que explicar de qual deus afinal está falando quando afirma que deus não existe e que as religiões são coleções bem guardadas de absurdos, o ateu, de qualquer lugar do mundo e de qualquer cultura, país ou comunidade – caso lhe seja permitido ser ateu sem que por isso seja punido severamente ou até mesmo morto – dirá ao religioso que fala de todo e qualquer deus, mas que fala especialmente de um deus. E qual seria esse deus? Respondo por mim e acho que por todos os ateus: De que deus eu falo? Ora, gente, falo do deus de que me falam!

No meu caso específico falo principalmente do deus judaico-cristão, isso porque vivo em uma cultura predominantemente católica e predominantemente cristã e, portanto, é do deus judaico-cristão que estiveram me falando desde minha mais tenra infância e é da existência dele que sempre tentaram, e ainda tentam, me convencer. Se tivesse nascido na Arábia, no Iraque, no Egito ou em qualquer outro país muçulmano, e se porventura pudesse fazê-lo sem correr o risco de ser assassinada, estaria falando de Alá; e se tivesse nascido judia, estaria falando do deus judeu, aquele que está na torá e no talmude e que é o mesmo deus dos cristãos, e também o mesmo deus dos muçulmanos, no fim das contas.

Esse é o deus, ou esses são os deuses, cuja existência os teístas tentam afirmar a qualquer custo e que, em alguns casos muito infelizes, tentam – e às vezes conseguem – impor pela força e a custa de muito sofrimento e muitas mortes. É também o deus, ou são os deuses, que os ateus mais radicais tentam negar com veemência, quando podem fazê-lo sem perder a vida.

Dizem – principalmente os teístas que aceitam debater com ateus – que a história mostra que ateus fanáticos podem impor sua não crença com atos de violência tão danosos quanto têm sido os crimes praticados pela intolerância religiosa. Fico sempre muito reticente quanto a isso porque os exemplos que dão não me parecem ser de imposição do ateísmo pura e simplesmente, mas sim de imposição de mais um sistema de governo autoritário e ditatorial que, nesses casos, incluem a proibição de todas as religiões; da mesma forma que outros casos de outros sistemas de governos autoritários incluem a proibição de todas as religiões exceto uma, aquela que esse ditador usa como justificativa para suas práticas.

Quero crer que não estou me comportando como uma ateia radical, principalmente porque tento não ser intolerante e jamais aceitaria participar de qualquer tipo de ação que pudesse ser sequer parecida com uma imposição de crença, de falta de crença ou mesmo da imposição de uma determinada postura, com respeito à religião, à ausência de religião ou a qualquer outro assunto. Na verdade, mesmo os ateus mais radicais, pelo menos até onde eu vi, não tentam impor sua não crença a força como fazem os religiosos fundamentalistas, em geral toda a violência do radicalismo ateu se resume a duvidar, ironizar e negar, algumas vezes de forma equivocada e até muito desrespeitosa, a inteligência de todas as pessoas que acreditam em deus.

Concordo que essas não são atitudes muito pacíficas e educadas, concordo que os teístas menos radicais e até mesmo os próprios ateus mais moderados não deixam de ter uma certa razão quando protestam contra esse “radicalismo ateu”, mas o fato é que os ateus não tentam usar força física para obrigar ninguém a deixar de acreditar. Eu nunca vi radicalismo ateu que fosse além de palavras, em geral escritas.

Então, como disse, procuro não ser e nem parecer uma ateia radical, embora minhas experiências tenham mostrado que para muitos religiosos – principalmente os mais fundamentalistas – apenas dizer-se ateu já é radicalismo suficiente. E não, eles não percebem a contradição.

Vejo-me apenas como uma pessoa que não compreende o que afirmam ser a “verdade”, uma pessoa que pensa muito a respeito do que ouve e lê, uma pessoa que, à força de teimar em pensar sem as travas da fé, tira conclusões diferentes do que comumente percebe na maioria das outras pessoas. Sou alguém que sempre que pode coloca suas questões, fala sobre seus pensamentos e revela suas conclusões; mesmo correndo o risco de irritar muita gente.

O deus defendido pelo teísta e negado por mim é, em geral, definido – pelo teísta, é claro – como um tipo de entidade suprema além e acima da matéria. Ele é o Criador[1] do mundo, do universo, da natureza, do homem. Ele é o criador de tudo que, curiosamente, não criou o mal; ou não é responsável pela existência do mal mesmo que o tenha criado.

Esse argumento não convence quem não tem o privilégio de ter a inabalável fé de um teísta porque, se usamos apenas a lógica em lugar de apenas a fé e o medo, podemos ver que não é possível livrar a responsabilidade de deus pelo mal e pela existência do mal. A verdade racional é que só ateus podem afirmar que deus não criou o mal, já que para o ateu deus não existe e o que não existe não cria nada. Os teístas, por mais que pensem o contrário, não podem dizer isso sem estarem quebrando uma lógica mais do que perceptível; e contrariando a bíblia, claro[2].

Enfim, deus é o criador transcendente basicamente dotado de cinco características que lhe são próprias e essenciais: justiça, bondade, onipotência, onisciência e onipresença. Da mesma forma que quando definimos um quadrado como sendo uma figura geométrica com quatro lados de mesmo comprimento e quatro ângulos retos estamos automaticamente dizendo que qualquer coisa que não seja uma figura geométrica, que não tenha quatro lados iguais e que não tenha quatro ângulos retos não será um quadrado, quando definem deus como sendo o criador justo e bom, onipotente, onisciente e onipresente, estão automaticamente dizendo que qualquer ser, existente ou não, que não tenha essas características – sejam algumas delas ou mesmo uma única – não será O deus.

Podemos, por exemplo, falar de outras figuras geométricas, mas se não tiverem quatro lados iguais e quatro ângulos retos, elas não serão quadrados, da mesma forma podemos falar de um deus que não tenha uma, ou mais de uma, das características que os teístas usam para definir seu deus, esse ser assim, digamos, incompleto pode até ser um deus – como os da mitologia greco-romana – mas não será o deus de que me falam.

Nunca bateram à minha porta para trazer a palavra de um deus que criou uma parte do universo; nunca armaram aparelhos de som na praça aqui do lado de casa para gritar e louvar um deus poderoso mas não muito; nunca entraram em um ônibus em que eu estivesse para dizer que preciso amar e respeitar um deus que é bonzinho só de vez em quando; que eu saiba ninguém vai à igreja para rezar ou orar a um deus que pensa que pode não estar lá; eu nunca soube de alguém que estivesse pedindo uma graça a um deus achando que ele pode não saber como fazer esse milagre; e finalmente, nunca ouvi algum religioso dizer que devemos ser bons porque uma vez ou outra deus é justo.

Enfim, o deus de que me falam tem todas as características que o definem, todas juntas e todas em grau máximo, não falta nenhuma, nenhuma é menos do que o máximo. Um deus que não seja assim será outro deus; será um personagem mitológico, será uma fantasia, será parte do folclore de um povo, será, como gostam de dizer os evangélicos, um falso deus.

O pintor belga René Magritte tem um quadro famoso que nos mostra um desenho muito realista de um cachimbo e sob ele a inscrição “Ceci n’est pas une pipe” – isso não é um cachimbo – alguém que veja o quadro pela primeira vez pode estranhar, afinal, aos olhos de qualquer um, o objeto representado ali é sim um cachimbo. Quando disseram a Magritte que o que ele fez foi sim um cachimbo, ele respondeu: "OK, você deve tentar enchê-lo de tabaco então".

Se alguém me mostrar um dado colorido, piramidal, daqueles usados para jogar RPG e me disser que é um quadrado porque é uma figura geométrica que tem lados e ângulos, não poderei aceitar o argumento. Da mesma forma que a pintura de Magritte apresenta alguns aspectos de um cachimbo mas não o suficiente para SER um cachimbo, um dado de RPG piramidal apresenta algumas características de um quadrado mas não o suficiente para SER um quadrado.

É mais ou menos isso que acontece quando tentam me dizer que não é possível provar a inexistência de deus. Se estivessem tentando me convencer da existência de um deus que não criou tudo, apenas algumas coisas; que não é onipotente, apenas muito poderoso; que não é onisciente, apenas conhece muita coisa; que não é onipresente, apenas passeia muito e, se você der sorte, ele pode estar por perto quando você precisar; aí então eu precisaria de outros argumentos para explicar por que não acredito nele.

Mas se o seu deus é o criador único de tudo que existe, se é onipotente, onipresente, onisciente, onibenevolente e justo então o fato mais do que comprovável logicamente é que esse deus não existe. E essa é a minha tese principal: não é verdade que não se pode provar a inexistência de deus, SE estivermos falando do deus das religiões monoteístas que predominam no mundo, do deus cuja existência é e foi defendida historicamente por muitos filósofos, cientistas e gênios nas mais diversas áreas do conhecimento, então sua inexistência pode ser provada sim.

Dizer que não se pode provar a inexistência não é uma verdade completa. Você pode provar a não existência de um triângulo quadrado definindo essas figuras geométricas e dessa forma mostrando que elas são logicamente excludentes e que a existência de um triângulo quadrado é uma impossibilidade lógica. Alguém que insistisse em afirmar que existe um triângulo quadrado estaria sendo irracional.

A simples definição do que é um quadrado exclui a possibilidade de que um triângulo seja quadrado ou um quadrado seja triangular, a inexistência dessas figuras paradoxais está provada pela definição de cada uma das figuras geométricas independentemente do que alguém possa dizer em favor delas. É claro que não existem pessoas afirmando a existência do triângulo quadrado e ninguém nega que, caso uma criança me perguntasse se isso existe, eu não estaria faltando com a verdade se dissesse que não.

Outro exemplo: Digamos que vou à sua casa e digo que você deve se mudar imediatamente porque eu sou a nova proprietária e tenho um documento que prova isso. Você vai querer ver esse documento e quando eu disser que o documento é invisível e imaterial você pensará que estou louca ou que estou brincando com você. Documentos de propriedade são textos escritos em papel, reconhecidos em cartório e assinados por pessoas em determinadas funções e com determinada autoridade. Qualquer coisa diferente disso não poderá ser um documento de propriedade e não terá valor como tal.

Se eu digo que o meu documento de propriedade foi escrito com uma luz mágica em uma nuvem invisível e que foi assinado pelo extraterrestre que é o proprietário original do planeta, você pode até suspender o julgamento sobre o extraterrestre, mas não vai aceitar que qualquer coisa que ele escreva seja um documento de propriedade válido.

Qualquer coisa que eu apresente e que não seja um papel, um papel de celulose, palpável e visível, registrado e assinado pelos órgãos e pessoas competentes simplesmente não será um documento de propriedade válido e não terá o poder de fazer com que você abandone sua casa legalmente. Você e qualquer pessoa dirá que não existem documentos de propriedade escritos com luz mágica em nuvens invisíveis porque documento de propriedade é definido como papel, reconhecido em cartório e assinado por pessoas em determinadas funções e com determinada autoridade. Você poderá recorrer ao dicionário e com isso provará que esse documento não existe e que eu não posso tirá-lo de sua casa.

Portanto, você pode sim provar a inexistência de algo se o algo que for apresentado como sendo aquele ser ou aquela coisa não corresponder às definições do que seja esse algo. Se uma determinada coisa não possuir as características que definem determinado ser, essa coisa – existindo ou não – não poderá ser aceita como sendo o ser cujas características não possui; ou seja, não existirá como o ser cujas características não possui.

Tentando ser ainda mais clara: se zulix é definido como um objeto octogonal macio e sonoro fabricado pela brinkedix, qualquer coisa que me apresentem e que não seja octogonal macio e sonoro e que não seja fabricado pela brinkedix não será um zulix porque não existe “zulix” octogonal macio e sonoro fabricado pela brinkedix que não seja octogonal macio e sonoro e que não seja fabricado pela brinkedix.

Mesmo que eu não possa provar que o objeto que me foi apresentado como sendo um “zulix” não existe porque podem ter mostrado apenas uma foto ou filme, eu posso provar que “AQUELE zulix” que me apresentaram, porque não é octogonal macio e sonoro e não foi fabricado pela brinkedix não existe, aquele zulix não existe porque não existe zulix que não seja octogonal macio e sonoro e que não seja fabricado pela brinkedix uma vez que a definição de zulix é “um objeto octogonal macio e sonoro fabricado pela brinkedix”.

O tal objeto apresentado pode existir ou não, mas não será um zulix, não existirá como zulix. E se eu souber que não existe nenhum objeto com a definição que foi dada para definir um zulix, por exemplo, porque a brinkedix nunca fabricou um objeto octogonal macio e sonoro então posso concluir – e provar – que zulix não existem. Pronto! Apresentei provas de inexistência!

O problema é que, lendo alguns filósofos com suas teodiceias e ouvindo alguns teístas com seus argumentos de fé, acabei por perceber que, para os que não abrem mão de acreditar e de tentar convencer, vale até mesmo tirar ou enfraquecer algumas das características básicas de deus; desde que isso não fique muito óbvio para o ouvinte ou leitor comum. É como dizer que um zulix octogonal macio e sonoro é um quadrado duro e silencioso; ou só levemente octogonal, um pouco macio e de vez em quando silencioso.

Debati com um teísta que, durante a conversa e para não abrir mão da sua verdade, tirou não uma ou outra mas todas as características definidoras do deus que estava defendendo. Esse teísta me disse que quando deus surgiu o universo já existia e já estava povoado por outros seres, portanto deus não pode ser culpado pela criação de nada; disse que deus é o Tudo e o Nada e que isso significa que deus pode ser bom ou mau, justo ou injusto; disse que deus é onipotente mas não pode tudo “só porque você quer que ele faça isso”; disse que deus é onisciente mas só sabe das coisas depois que elas acontecem ou, nas palavras dele “depois que algo tem início”. Por essas características todas (ou falta delas), defendia ele, deus não é culpado por absolutamente nada do que acontece ou tenha acontecido, nós sim, por o termos desobedecido, somos culpados por tudo.

Esse teísta ficou tremendamente ofendido quando eu disse que ele estava me descrevendo um deus bipolar e inútil e argumentou que deus não existe só para ser útil “como um kit da Kodak”. Ah, e ele usava a bíblia para cada uma de suas afirmações; mais uma prova de que a bíblia pode ser usada para justificar qualquer coisa. Fiquei pensando como pode a necessidade de acreditar levar a tão completa incoerência. Depois disso fica até possível compreender o fato de os outros teístas não conseguirem perceber a incoerência do deus em que creem. Talvez.

Então fico pensando que, no final das contas, as pessoas chamam de deus simplesmente tudo aquilo que querem acreditar que existe e que interfere na vida delas, se importa com elas; querem chamar de deus aquele ser que ama, conhece, aceita e compreende incondicionalmente a maneira como elas são e se comportam, e que as perdoa quando erram. Elas chamam deus a elas mesmas!!



[1] “Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora”. In: Neemias 9:6.
[2] "Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas". In:  Isaías 45:7

17 de janeiro de 2019

ANTEPASSADOS E DESCENDENTES


        Não entendo a importância que algumas pessoas dão às chamadas ligações de sangue. Não consigo perceber qual é a graça da ficar fuçando minha árvore genealógica para descobrir de onde vieram e quem foram meus antepassados. Tenho certeza absoluta de que se fizer isso vou descobrir pessoas comuns, pessoas escrotas e pessoas decididamente abomináveis, tenho certeza de que é isso que tem na árvore genealógica de todo mundo. Por que procurar esse tipo de coisa? Eu, decididamente, não quero saber quantos estupradores agiram durante quanto tempo e quantas vezes até chegar à coincidência de meu pai encontrar minha mãe e eu nascer. Será mesmo que alguém acha que não vai encontrar estupradores em sua árvore genealógica? Tudo bem, filho, você pode não encontrar, mas não porque eles não existiram e sim porque há falta de dados. Eu não quero saber essas coisas!


          “Mas você pode descobrir um nobre!” E daí? Quem fica orgulhoso só porque descobriu que tem um ou mais nobres na sua árvore genealógica, na minha opinião, tem muita chance de ser a pessoa escrota da árvore genealógica de alguém no futuro, se tiver descendentes! Quem disse que um nobre não pode ser justamente a pessoa mais abominável da árvore genealógica de alguém? Para mim a chance de ser assim é muito grande. E, mesmo que você descubra que um casal antepassado seu foi o rei e a rainha mais humanos e mais justos do melhor dos reinos de contos de fadas, o que isso faz de você? Nada! Você não é nem o rei nem a rainha cujos nomes aparecem em uma folhinha da sua árvore! Você é você! Só isso ou tudo isso, independente de quantos reis e rainhas e de quantos estupradores tenham trepado para que você nascesse!


Durante toda a minha vida, em todos os lugares em que vivi, em todos os grupos que encontrei e dos quais fiz parte, sempre houve pessoas das quais gostei muito, pessoas que me foram indiferentes e pessoas das quais não gostei tanto assim. Um desses grupos dos quais estou falando se chama “minha família”, e acho que é a mesma coisa com todo mundo. É normal. Certo que a proporção pode variar, você dar uma sorte “duca” e fazer parte de um grupo no qual não tem gente escrota. Que bom! Mas isso não é regra, e você pode simplesmente não ter percebido a pessoa escrota do grupo, ou pior, você pode ser essa pessoa! 


Pessoas são assim: algumas são maravilhosas, algumas são legais, algumas são absolutamente sem tempero, algumas são desagradáveis, algumas são escrotas, algumas são tremendamente escrotas e algumas são decididamente abomináveis! E não esqueça de que essa escala de classificação que você percebe em um grupo, geralmente e na maioria das vezes, é meramente sua opinião e dificilmente você vai perceber em que ponto dela você está. Aliás, quanto a mim, sempre tenho em mente que meu cérebro é um tremendo trapaceiro e está o tempo todo tentando me convencer de que estou na ponta do “pessoas maravilhosas” mas isso provavelmente não é verdade. Eu não sou besta de acreditar no meu cérebro quanto a isso!


Bem, se é isso o que acontece em todos os grupos, por que cargas d’água na sua árvore genealógica vai ser diferente? E o que isso tem a ver com você? Quanto a mim não vejo nenhum sentido, nenhuma necessidade, nenhum ganho, nenhuma importância nesse tipo de pesquisa. Pelo contrário, eu prefiro não saber! Não quero saber o nome do filho da puta que estuprou minha tetravó e que deixou um rastro enorme dos seus genes nojentos no meu sangue! Não quero saber o nome do assassino ou da assassina, do escravocrata, do pedófilo, do cara ou da mulher que teve frenesi de gozo assistindo a queima de uma “bruxa” ou o apedrejamento de uma adúltera. Eu não quero saber essas coisas! E, pior, eu sei que encontraria isso se procurasse e se pudesse ver todo o caminho de sangue e esperma que me gerou. O meu consolo e prazer é saber que não tenho nada a ver com isso, é saber que o descendente de um serial killer pode ser uma pessoa decentíssima e o descendente de um santo pode ser um serial killer.


E quanto a descendentes o raciocínio não é muito diferente. Se a raça humana durar muito tempo, é possível que serei parte da árvore genealógica de alguém, mas e daí? Que importância tem isso para mim? Eu estarei morta! Não entendo a preocupação que algumas pessoas têm em ter filhos e netos com o objetivo de deixar descendentes. Meu pai uma vez manifestou essa preocupação, ele me disse que achava importante que o sangue dele perdurasse muito além dele, eu não entendi qual a importância disso quando ele falou e eu era pouco mais que uma criança e não entendo a importância disso hoje, quando vejo uma ou outra pessoa manifestando essa mesma ideia. Se tive descendente ou não, isso não vai importar em nada para a minha vida depois que eu não existir, e se tiver uma linha enorme de descendentes ao longo de séculos no futuro, sei que essa linha seguirá a mesma regra dos antepassados, terá gente de todo o tipo, inclusive gente muitíssimo escrota e gente absolutamente abominável. E eu não tô nem aí pra isso porque não vai me afetar!


Acho que o meu caráter não depende de nenhuma pessoa que viveu centenas de anos antes de mim ou de qualquer pessoa que vá viver centenas de anos depois. Claro que posso estar enganada e no futuro a neurociência descobrir que cada traço do caráter de uma pessoa e cada escolha que ela faça já está determinada na sua genética. Não tenho como afirmar que isso não é verdade mas, hoje, o máximo que posso dizer é que não sei e por não saber não vou agir como se assim fosse. Sem provas não acredito, é por isso que sou ateia. Então, se meu caráter não depende nem de meus antepassados longínquos nem de meus longínquos descendentes existirem ou não, simplesmente não vejo nenhum motivo para me preocupar com isso. A única coisa da qual tenho certeza (até prova em contrário) é que um dia não existirei mais, nem como lembrança, nem como registro, nem como sombra, fantasma ou vestígio. E isso me parece muito bom!