2 de março de 2020

MEU (DES)AMOR PRÓPRIO


Não consigo entender essa história de amor-próprio! Por que eu teria que me amar? Onde está o sentido da obrigatoriedade desse amor? Qualquer outra pessoa, animal ou coisa eu posso escolher se amo, se odeio, se gosto ou se "não cheira nem fede", agora quando se trata de mim mesma não tenho direito a opção: Tenho que me amar e pronto! Acho que tem alguma coisa muito errada aí.

Tem gente que diz que se não tiver amor próprio, a pessoa vai sugar alguém. Que história é essa de que vou sugar alguém só porque não me amo como me fazem sentir obrigada a me amar? Acho que posso muito bem não me amar sem ter que ficar sugando ninguém! Mas não, eles não deixam opção: Quem não tem amor-próprio é doente, é vampiro, é um ser digno de piedade e internação, um suicida em potencial, um perigo ambulante. Tudo de ruim!

Sabe, quando penso nesse papo de amor-próprio, sempre acho que é justamente o contrário do que dizem por aí: Acho que no mundo tem é amor-próprio demais. Acho que as pessoas amam tanto a si próprias que se esquecem de olhar pro outro. Acho que amam tanto a si próprias que sentem que os outros têm obrigação de amá-las também. Isso, e não o contrário, é que faz com que as pessoas suguem as outras, sugam porque exigem um amor que acham que o outro tem obrigação de dar, afinal, elas se amam tanto que simplesmente não conseguem aceitar que alguém não as ame.

Os conselhos idiotas dos livros e textos de autoajuda proclamam essa contradição estupenda (e estúpida!): 1 - Se você está triste e deprimido, procure um amigo. 2 - Afaste-se das pessoas tristes e deprimidas, elas vão estragar seu dia. É um hino do amor-próprio! E o sucesso das academias, das cirurgias plástica, dos tratamentos de beleza? Não é porque as pessoas se amem pouco, é o contrário: Elas se amam tanto que preferem, UM MILHÃO DE VEZES mais do que qualquer outra coisa, gastar suas economias com um recurso (mesmo que enganador) para manterem sua aparência jovem, para continuarem se adorando no espelho, para mostrarem ao mundo o quanto são maravilhosas! Se fosse pra escolher entre uma nova cirurgia plástica e acabar com a fome na África, a maioria escolheria a plástica! Acho que na verdade já fizemos essa escolha.

Eu não estou fora desse grupo, também estou a fim de fazer uma plástica, é que estou casada há trinta anos e já que meu marido me aguentou tanto acho que ele merece que eu me cuide um pouco. Mas não tenho, não sinto que tenha, amor próprio. Não gosto de ver minha cara no espelho, não me sinto uma pessoa legal em tempo integral e me acho meio besta, um tanto burra, tagarela demais, preguiçosa e enjoativa. Além disso, muitas vezes me acho incompetente, ignorante e má. A única coisa que não acho é que eu sugue alguém. Não vejo porque alguém possa ser obrigado a gostar de mim e muito menos a aceitar a minha companhia.

Eu me acho ruim e tento melhorar para não ficar impondo às pessoas com quem convivo esse poço de defeitos que sou eu, mas é difícil avaliar a si próprio e sempre acho que estou muito pior do que penso e acho que as pessoas do meu círculo de amizade são boas e tolerantes demais comigo. Não acho que eu suportaria ser minha amiga e tenho toda a certeza de que eu jamais faria sexo comigo! Mas o que vejo é que muitas pessoas se amam tanto que se acham perfeitas e não fazem esforço algum para melhorar; afinal, na visão delas, já são mais do que ótimas.

E olha eu me contradizendo: Estou me julgando melhor do que aqueles que, na minha visão, têm amor-próprio demais. Acho que isso é uma demonstração clara de amor-próprio.

Caí na arapuca!

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