5 de maio de 2020

COMO SERÁ QUE SE VIVE?

Quando tinha 18 ou 19 anos e era uma moleca bem "Porra louca", tive uma amiga que se chamava Preta. Ela não era preta, então não sei o porquê do apelido, ou se era mesmo apelido. 
A preta era uma lésbica do tipo que dá "na vista" por não ser muito feminina e era uma poeta e uma pessoa muito agradável e divertida. 
Nossa amizade fez meus pais se perguntarem se eu era lésbica e discutirem se me aceitariam ou não. Minha mãe só meu contou isso anos depois e achei muito engraçado!
Um dia resolvemos escrever a quatro mãos. Uma começava e a outra acrescentava algo. A gente ficava um tempo trocando a folha de papel de mãos uma ou duas vezes por semana até que alguém desistia de continuar. Um dia perdemos contato e eu nunca mais soube nada a respeito dela. 
Fizemos dois textos assim e quando os leio não consigo lembrar quais trechos são meus e quais são dela. Um deles foi esse: 


Será viver caminhar passos incertos
E sofrer em cada esquina
Em cada canto
Em cada sonho?

Será então sorrir aos quatro cantos
Ser a personificação da felicidade
E do bem-estar?

Será viver amar ao próximo
E por ele dar a vida se preciso for
Mas nunca precisar?

Será então não amar ninguém
E viver de deu em deu
Rolando pela estrada
Como pedra lascada?

Como será que se vive?
Como será que se aprende?
Como?
Como será?

Será viver um misto de sentimentos
Diversos e espalhados
Sem certeza de seu próprio mundo?

Será explodir o coração
Num momento de paz
Ou será a procura
Dessa mesma abstração
Numa constante?

Como será viver?
Será unir as mãos
Em infinitos pedidos de perdão
Ao astro maior denominado Deus?

Será que viver é apontar
A arma da desigualdade
Ao infeliz fracassado
E assim se considerar herói
Dessa guerra existencial?


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