A preta era uma lésbica do tipo que dá "na vista" por não ser muito feminina e era uma poeta e uma pessoa muito agradável e divertida.
Nossa amizade fez meus pais se perguntarem se eu era lésbica e discutirem se me aceitariam ou não. Minha mãe só meu contou isso anos depois e achei muito engraçado!
Um dia resolvemos escrever a quatro mãos. Uma começava e a outra acrescentava algo. A gente ficava um tempo trocando a folha de papel de mãos uma ou duas vezes por semana até que alguém desistia de continuar. Um dia perdemos contato e eu nunca mais soube nada a respeito dela.
Fizemos dois textos assim e quando os leio não consigo lembrar quais trechos são meus e quais são dela. Um deles foi esse:
Será
viver caminhar passos incertos
E sofrer
em cada esquinaEm cada canto
Em cada sonho?
Será
então sorrir aos quatro cantos
Ser a
personificação da felicidade E do bem-estar?
Será
viver amar ao próximo
E por ele
dar a vida se preciso forMas nunca precisar?
Será
então não amar ninguém
E viver
de deu em deuRolando pela estrada
Como pedra lascada?
Como será
que se vive?
Como será
que se aprende? Como?
Como será?
Será
viver um misto de sentimentos
Diversos
e espalhadosSem certeza de seu próprio mundo?
Será explodir o coração
Num momento de paz
Ou será a procura
Dessa mesma abstração
Numa constante?
Como será viver?
Será unir as mãos
Em infinitos pedidos de perdão
Ao astro maior denominado Deus?
Será que viver é apontar
A arma da desigualdade
Ao infeliz fracassado
E assim se considerar herói
Dessa guerra existencial?
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