Quando era criança e, na escola, aprendi sobre as
células e suas organelas, me apaixonei pela mitocôndria! Uma vez fui à casa de
uma pessoa com um grupo de amigos e, assim que entrei na sala, com a discrição
escandalosa que foi minha marca naqueles tempos e acho que é ainda hoje, gritei:
“Uma mitocôndria!” olhando para um quadro que havia na parede. O dono da casa
disse que aquele quadro estava lá há muito tempo e aquela era a primeira vez
que ele recebia alguém que sabia o que era aquela figura. Mas não fiquei apenas
orgulhosa do meu “feito”, também fiquei fascinada pelo quadro, desejei
ter um como aquele em minha casa e pensei nisso muitas vezes no futuro.
Eu achava a mitocôndria a mais interessante e
bonita das organelas e, ao mesmo tempo, gostava de pensar no quão pequenas todas
elas são e de tentar imaginar o quanto elas eram grandes comparadas com o
tamanho dos átomos. Como um átomo “veria” uma organela? Também pensava
muito sobre os átomos tão diferentes formando substâncias completamente
diferentes que, por sua vez, formam as organelas, as células, o nosso corpo.
Nessa época pensei que deus poderia ser um corpo e
nós poderíamos ser seres mais do que minúsculos habitando um dos elétrons de um
dos átomos de uma das organelas de uma das células de seu corpo. Vendo as
imagens representativas do sistema solar, eu tinha tido quase que uma epifania
pensando na semelhança entre aquele modelo e o modelo que representava os
átomos. Então imaginei que deus poderia sequer ser assim “um deus”,
poderia ser um ser vivo com inteligência como uma pessoa ou com instintos como um
animal vivendo em um grupo ou família como vivemos na terra. Tais seres não seriam
exatamente iguais a nós porque o núcleo de seus átomos teria que ser um tanto incandescente
para que um deles pudesse ser batizado por nós de sol, e eu não tinha visto
nenhum livro ou professor dizer que o núcleo dos átomos brilha. Mas seriam seres
vivos vivendo vidas como as nossas em algum lugar de alguma forma semelhante ao
nosso universo só que extremamente maior. E nós habitaríamos um elétron do
corpo de um desses seres, o ser que chamamos de “deus”. Para mim, isso
explicaria o fato de não termos nenhuma evidência de fato da existência de
deus. Afinal, o que saberia de mim uma criatura que habitasse um elétron de um
átomo do meu corpo? Isso poderia, talvez, explicar também a "impressão"
da “presença” de deus que algumas pessoas, incluindo minha mãe, diziam
sentir; explicaria até mesmo o fato de ele aparentemente ignorar nossa
existência. O que saberia eu sobre a existência de seres minúsculos que
vivessem em um dos elétrons de um átomo do meu corpo? Será que, se tais seres
existissem, nos momentos em que eu sentisse algo mais forte, como raiva quando
meu pai me batia ou felicidade quando ganhava um presente ou tirava uma boa nota,
alguns desses seres que fossem mais sensíveis não poderiam “sentir” algo
e, por não saberem o que estava acontecendo, atribuir isso a uma interferência
minha em suas vidas que eu na verdade ignoro totalmente?
Até hoje acho essa ideia interessante embora não possa
dizer que acredito nela. Mas se fosse habitar um elétron de uma organela de uma
célula de um corpo como o meu, eu escolheria habitar uma mitocôndria!
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