Era adolescente, por vezes gritava com um agudo sorriso: Cadelo meu chinelo? Cadela minha blusa vermelha? Cadela minha caneta nova?... O tempo passou, os cabelos são de neve e a pele de pergaminho. Às vezes grita sem som e sem saudades: Cadela minha vida?
7 de novembro de 2020
OLHAR
Olhar pela janela
De dentro pra fora
Ou de diferente emoção
Olhar de fora pra dentro
E invadir um cotidiano
Muito humano
Olhar de dentro pra fora
Olhar de fora pra dentro
É viajar o olho
No quadro que não é o todo
Uma parte posso ver
Uma parte posso imaginar
Com o olhar
PRODUTOS CONFIÁVEIS
Ler as embalagens
Isso pode ser mesmo garantia?
Não vou me dar mais um motivo de estresse
Descobri há muito que o ser humano não presta
Estão e estarão sempre
Matando e escravizando
Explorando e adulterando
Em algum ou em todos os lugares
Compro o que preciso
Não tenho como fiscalizar
Todas as empresas
Todos os produtos
Todos os processos
E não tenho por que acreditar
Nos que dizem que fiscalizam
Leio as embalagens sim
Mas sei
Que posso estar lendo um texto
Puramente ficcional
JORGE
Parece mais Jorge “Tão”
Um cara tão gente boa
Tão paz e tão pai-amor
Que a gente quer logo
Conhecer
Jorge “Tão”
É Jorge tão fácil de gostar!
Mas que ninguém se engane
O Jorge não é
Um cara tão fácil assim
Se ele discordar de você
O Jorge “Tão”
Sabe defender seu ponto
Com garra e
Mais importante
Com informação
E com respeito
Gente fina esse tal
Jorge “Tão”
Felicidades
Jorjão!
5 de novembro de 2020
O SER HUMANO É NATURALMENTE MAU
Então, podemos dizer que somos maus por natureza.
Estipulamos matar como um mal e esse parâmetro é tão contrário à nossa natureza que criamos também várias justificativas para burlá-lo.
O ser humano, como raça, pode ser dito mau em sua natureza porque determinados comportamentos natos ele mesmo nomeou como mal.
Se a gente chama a busca pelo parceiro de instinto, não podemos dizer que um determinado artifício dessa busca pelo parceiro não é instinto, e o mesmo vale, como paralelo, para a questão do mal.
A maioria das sociedades humanas nomeou matar como mal, mas a maioria das sociedades cria justificativas para matar.
Desde a indiferença pelos que morrerão graças a seus atos até provocar ativamente a morte do outro.
Isso acontece por causa do instinto de grupo, o instinto de grupo é também o instinto de pertencimento e o instinto de pertencimento é também o instinto de aversão, medo e ódio pelo outro.
Ou seja, o animal humano, naturalmente, divide toda a vida do planeta em "nós e eles" e o "eles" e entre “eu” e o “outro”.
E o “eles” e o “outro” é aquele que não tem valor, aquele que deve ou pode ser usado ou eliminado.
Então sim, matar é definido como um mal, mas a natureza humana é ser assassino do outro.
Sem falar em subjugar, usar, permitir que tortura e morte aconteçam sem agir para evitar.
Daí e por isso, podemos sim dizer que o ser humano é naturalmente mal.
3 de novembro de 2020
DIA ÚTIL
A doçura da lembrança
O aconchego do travesseiro
Recebendo minhas lágrimas
Dissolvendo a agonia
Devagar me adormecendo
Pra sonhar
Sozinha sentir o tempo
Passar
Eu quero ter um dia útil
Quero ficar comigo
O ÓDIO É NEGATIVO?
É necessário!
Ódio ao torturador e ao assassino
Que usa a máquina do Estado
Para cometer seus crimes não é negativo
É necessário!
Ódio ao bandido que explora a fé
Para violentar crianças
Para manipular pessoas
Para roubar os poucos recursos
Que as pessoas têm
Não é negativo
É necessário!
Ódio a governo preconceituoso e xenofóbico
Que mata e incita assassinatos
Não é negativo
É necessário!
Ódio a toda empresa e corporação
Que mata em nome de lucro e poder
Não é negativo
É necessário!
Movida pelo ódio não me calo
E quero espalhar esse ódio
Para que ele mude o mundo em que vivo
Porque o mundo em que vivo
Não vai se tornar um mundo melhor
Sem esse ódio
DEUS-MENTIRA
Que me pedem para amar
Odeio esse deus maldade
Que me mandam adorar
Se força existe tal
E tal consciência há
Não pode essa força ser deus
Não pode essa consciência
Ter consciência de mim
Se algo sabe de amor
Essa força consciente
Sabe bem mais de terror
Por isso criou o mundo
O passatempo do sádico
E fora do cosmos ele olha
Esses insetos de dor
E goza e tem delírios
De todo supremo prazer
É de sadismo esse ser
Amebas que arrastam dores
Como se diverte ele!
Todos sofrem e o adoram
Não eu!
A MORTE DESSA ATEIA DIVINA
Eu não estarei mais sentindo nada
E isso é muito bom!
Não faça discursos de louvor
Me transformando no que não fui
Não fui nada de especial
Não fui mais incrível do que você!
Fui apenas alguém que tentou
E que muitas vezes fracassou
Tentei aprender a ver, ouvir, ousar
Tentei aprender a me conter
Errei muito, acertei algumas vezes
Segui o caminho que me coube
Encontrei pedras, mas também havia flores
Não ore por mim, por favor!
Sou ateia, e não quero nada com deus
Mesmo que eu esteja errada e ele exista
Cante uma canção, declame um poema
Aproveite os bons momentos
Curta a vida, os amigos, a família
Não faça velório pra mim!
Não visite minha casca
Aquilo não é mais eu!
Estarei talvez nos meus textos
Nas pessoas que amo e amei
E quando todos eles se forem
Nada mais haverá de mim
Não tenho medo da morte
A morte é só não existir
Eu já não existi antes
E não tive nenhum problema
Não há o que lamentar
2 de novembro de 2020
MEU REBOLADO
Quando era jovem eu rebolava “indecentemente” ao caminhar.
Como
nunca pude me ver andando, não sei como era esse rebolado, sei apenas o que ele
causava nas pessoas porque frequentemente recebia, como uma agressão muito
doída, a reação delas.
Diziam
que meu rebolado era provocativo como se eu estivesse “convidando” e aparentemente
a ninguém nunca ocorreu que meu “rebolado indecente” não era voluntário.
Eu explicava isso para as pessoas que conhecia, mas não tenho como saber
quantas delas acreditavam em mim.
Toda
mulher jovem ouve assovios e palavras “elogiosas” praticamente todas as
vezes que sai de casa. Quanto mais bonita, mais frequentes e mais “entusiastas”
costumam ser essas “homenagens” que ela ouve. Eu ouvia bem mais do que “merecia”
porque meu rebolado “dizia” a eles que eu queria muito ouvir aquilo e
que quanto mais palavras de baixo calão eles conseguissem usar mais feliz eu ficaria.
Quando
em grupo era comum dizerem uns aos outros coisas como: “É magrela, mas sabe
mexer”, “Olha como ela rebola mais ainda quando a gente nota!”, “Vem
cá menina, rebola assim em cima de mim!”. E eu passava sem olhar tentando
desesperadamente não rebolar, o que fazia com que eu rebolasse ainda mais e
fazia com que concluíssem que eu estava gostando dos “elogios” e tentada
pelos convites.
Às
vezes era um casal que passava por mim e o que eu ouvia era a voz da mulher “Quer
parar de rebolar pro meu namorado, sua vagabunda?”.
Quando
a gente não pode evitar, é obrigada a aceitar. Com o tempo concluí que o melhor
a fazer era “fingir de surda” e parar de me esforçar para não rebolar, já
que ficou bem claro que eu só conseguia piorar as coisas.
Não sei se ainda
rebolo, tenho a impressão de que não mais. Talvez eu tenha conseguido de alguma
forma começar a mudar minha passada depois da gravidez. Sei que depois que tive
meu filho os constrangimentos foram diminuindo aos poucos, mas pode ser apenas que
ninguém mais repare no meu jeito de andar. Afinal, quem perde tempo olhando
como uma velha caminha?
Um
episódio emblemático foi o dia em que fui à Ford de São José dos Campos, enviada
pela empresa de autopeças em que trabalhava para fazer um trabalho de inspeção
de qualidade e tive que andar por um corredor que seguia ao lado de uma das
linhas de montagem. Eu estava com o motorista da empresa, que foi mandado para
me acompanhar até lá, e segundo a ironia dele “Você parou linha!”.
Não fiquei olhando para
os homens que trabalhavam na linha, só ouvia os assovios, os convites, as
risadas. Eu estava “escoltada” e atrás de uma parede de vidro, portanto,
sabia que não corria risco, então me ri com o motorista como se estivesse me divertindo
muito com a “atenção dos rapazes”.
O motorista contou que
já tinha feito esse mesmo trajeto com outra menina que trabalhava na empresa e que
eu achava muito bonita e disse que “Ela é muito mais “gostosa” do que você,
mas não teve nem metade dessa atenção!”.
Quando
conheci meu neguinho ele disse que talvez eu tivesse algum problema ortopédico
que me fazia mover o corpo daquela forma, mas só fui consultar um ortopedista
pela primeira vez quando já tinha 40 anos e tive os primeiros sintomas da
fibromialgia, que foram dores em um pé e depois no outro. O que o ortopedista
disse foi que tenho aquele “arco” da sola do pé muito acentuado. Ele quis
me operar, mas enquanto eu tentava decidir se ele estava preocupado com a minha
saúde ou com a grana que receberia pela cirurgia, as dores foram “se
espalhando” pelo corpo todo e tive que procurar outras opiniões.
1 de novembro de 2020
ESTADO LAICO
Vem sendo denunciado e combatido
Apenas pelos ateus e irreligiosos
Mesmo os líderes das religiões menores
Que serão e já são muito prejudicadas
Não mostram real preocupação
E os que pertencem às religiões
Lideradas por bandidos exploradores
Por mais tolerantes que se digam
Em sua significativa maioria
Não os criticam nem combatem
Se comportam como cúmplices
Incentivadores
Ou apáticos coniventes
Estão dando a eles o poder
SÓ A UTOPIA SALVA
Diante dos grandes problemas da vida
O bom mesmo é a imaginação
Pensar em utopias totalmente utópicas
Ajuda a não enlouquecer
Trabalhar por um futuro melhor é bom sim!
Me contento com a luta e torço pela vitória
Mas o que eu gostaria mesmo
É que não existissem países nem fronteiras
Que não existisse patriotismo e ufanismo
Toda essa balela criada com muito esforço
Para isolar as pessoas
E justificar o ódio
SOBRE BOZOMINION
Torna "petralha esquerdopata"
Até o mais conservador antipetista
Não conhece nenhum argumento
Que não envolva falar mal do PT
Se acha sábio e patriota
Mas é gado acéfalo indo pro abate
É a barata louvando o inseticida
Um dia terá que explicar aos netos
Por que roubou o futuro deles
Ou vai negar a cumplicidade
Que teve com essa corja
Como muitos covardes negaram
Ter apoiado Hitler Mussolini Franco
Tenho nojo dessa gente!
ENCONTRO
Nuvens voam pelo azuleite
Beijos voam pelo arbrilho
Jeitos
Medos
Maneiras de voar
Sempre
Pra vocempre chegar
ORGULHO
E com a sem razão do orgulho
Brinco com a cabeça erguida das pessoas
Derrubadas no seu abismo orgulhoso
Faço de conta que entendo
E minhas perguntas eu calo
Nas águas passadas do tempo
Brinco com o futuro vazio
Dos dias de amanhã
E das noites perdidas no tempo
Visto-me com fantasias de orgulho
Na primavera inexistente
As nuvens falsas do orgulho
São os bichos da mentira da ilusão
Sou a que se pergunta “como?”
Porque orgulho sem mérito é bobo
E todo orgulho é besta