28 de junho de 2022

DEFENDER O ÓBVIO



Ontem vi novamente a frase “Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?” atribuída a Bertolt Brecht.
Pensei que ela é muito atual nos tempos que vivemos hoje, me indignei e quase parei por aí.
Quase porque depois vi o filme Seberg na Netflix e ele me provocou a pensar mais um pouco, ou um pouco mais a fundo talvez.
Daí acabei concluindo que essa frase sempre foi atual.
A história está cheia de pessoas que defenderam o óbvio.
Na maioria das vezes essas pessoas são minorias numéricas, são minorias em termos de poder, ou são minorias nos dois sentidos.
Na maioria das vezes essas pessoas são atacadas com violência e acabam pagando um preço muito alto pelo “crime” de estarem defendendo o óbvio.
A História está cheia de exemplos, em todas as épocas, em todos os lugares.
Para não me estender demais e porque não sou especialista, cito apenas alguns:

- As pessoas escravizadas da Roma antiga lideradas por um tal Spartacus defendiam o óbvio.
- As pessoas que tentaram lutar contra o domínio e as fogueiras da igreja católica na Idade Média estavam defendendo o óbvio.
- As pessoas escravizadas que fugiam para quilombos e as pessoas nos movimentos abolicionistas defenderam o óbvio.
- As feministas que, desde o século XIX foram ignoradas, desprezadas, espancadas e até mortas para que as mulheres obtivessem os poucos e frágeis direitos que temos estavam (e estamos) defendendo o óbvio.
- As pessoas que se uniram em sindicatos e fizeram greves por direitos trabalhistas estavam defendendo o óbvio.
- As pessoas que iniciaram e as pessoas que mantém e que defendem os movimentos e as lutas LGBT estavam e estão defendendo o óbvio.
- As pessoas que participaram dos movimentos estudantis que combateram a ditadura militar e que acabaram sendo torturadas ou mortas nos porões do DOI CODI estavam defendendo o óbvio.
- E nós, que desde 2016 tentamos evitar a tomada do país pelo capEtalismo ativo e pelo fascismo mal disfarçado estamos defendendo o óbvio.

Sobre cada grupo de pessoas que defendem o óbvio, as “gentes de bem” costumam levantar seus “Ah, mas essas pessoas também...”
E completam com desinformação, fatos exagerados ou mitos que não cabem de forma alguma no todo dessas lutas.
Para as pessoas que se negam a ver, ouvir e entender o óbvio e para suas consciências distorcidas, as invenções, mitos e exageros são suficientes para “justificar” ou tentar justificar as agressões, as mortes e qualquer tipo de violência que as pessoas que defenderam o óbvio sofreram e sofrem.
Incluindo a tirada de direitos conquistados a duras penas e com muita dor.
Mesmo assim algumas pessoas estão sempre defendendo o óbvio...
E quase sempre sofrem repúdio, demonização e ataques.
Mas é ao lado dessas pessoas que quero estar. Sempre!
A única vantagem que vejo em defender o óbvio sem que me deem ouvidos é saber que não me aliei ao que há de pior.
Não é uma grande vantagem, mas é tudo que temos na maioria das vezes.
Porque, ao contrário do que dizem, o mal quase sempre vence.

27 de junho de 2022

DORES



A maternidade deveria ser SEMPRE uma escolha
Um prazer
Um bem
NUNCA uma obrigação
Um peso
Uma prisão
Não entendo quem é contra o aborto
Eu preferia ter sido abortada
A saber que minha mãe me teve por imposição
Que minha existência foi sofrimento para ela

Eu preferia ter sido abortada
A saber que enquanto gametas se dividiam
Para formar a pessoa que eu seria
A mulher que não queria ser minha mãe
Estava sofrendo porque não teve
O seu não querer respeitado

11 de junho de 2022

SOU CONTRA O ABORTO



Acho que a grande maioria das pessoas é contra o aborto.
Eu sou contra o aborto!
Mas sou a favor, e muito, da legalização do aborto.
Aborto é, e tem que ser, um último recurso quando os outros falharam ou por alguma razão não puderam ser usados.
Acho que nenhuma mulher quer usar aborto como anticoncepcional, o que precisa é que todas as mulheres tenham o direito de fazer aborto quando ELAS, pelos motivos que só dizem respeito a elas, decidem fazer.
Simples assim.
Se o aborto é crime porque tira uma vida inocente, matar animais é crime maior ainda porque, ao contrário dos embriões abortados, os animais são mortos quando já estão formados e com capacidade de sentir dor e medo.
Essa coisa de achar que um óvulo humano fecundado tem mais direitos do que um animal senciente adulto é herança religiosa que pessoas ateias ainda carregam.
Essa herança religiosa é tão forte que valorizam mais a "vida" do óvulo fecundado do que a da mulher, que nem querem saber se sofre, se vai sofrer, por que motivo precisa ou quer fazer aborto.
E também valorizam mais a "vida" de um óvulo fecundado do que a de uma criança nascida sem lar, sem amor, sem condições de ter uma vida decente.
O que acho engraçado sobre isso é que muitas pessoas hipócritas que são contra aborto argumentam que se a mulher não tem nenhuma condição de criar o filho, ela pode simplesmente entregar para adoção.
Dentro da visão que a minha parca inteligência alcança, se a adoção fosse algo assim tão simples como parecem pensar essas pessoas que não pensam nos direitos de mais ninguém a não ser nos hipotéticos “direitos” de um óvulo fecundado, não haveria tantos orfanatos pelo mundo, e pelo Brasil, cheios de crianças esperando por uma adoção que em muitos casos nunca acontece.
Além disso, como não pensam na vida da pessoa que com certeza está viva e sente dor - a mulher - para essas pessoas parece fácil, muito fácil, levar até o fim uma gravidez indesejada.
Juro que não entendo como querem que o abandono, a tristeza, o desespero se tornem (ou continuem sendo) crime.
(texto muito antigo, mas infelizmente continua atual, talvez mais do que quando foi escrito)

10 de junho de 2022

VOTE NULO



Caso a possibilidade
Da derrocada da democracia
Não te incomode
Vote nulo
Como disse a Ana do Meteoro
"Se você se imaginar vendo o resultado
E vendo que o bozobosta venceu
Se isso não te incomodar
Se isso parecer aceitável pra você
Então vote nulo ou não vote
"
Talvez graças a essa decisão
Você nunca mais precise se preocupar
Em sair de casa pra votar
Nunca mais obrigado a votar
Nunca mais terá que escolher
"O menos pior"
Porque não haverá mais eleições
Afinal eles defendem a ditadura
Eles defendem o AI5
Que acaba com o direito ao voto
Daí você fica bem
(calado)
Né?

9 de junho de 2022

SER E SABER



Por que TEM que ter um criador?
Não poderia ser simplesmente um evento natural?
Acho "acreditar" um verbo problemático
Tende a eliminar outras possibilidades se fixando em uma
Sem ter razões plausíveis para isso
Por essa razão sou ateia
Não SEI nada
Mas não "acredito" em nada
E também não suspendo o julgamento
Não vejo razão para isso
Se não preciso suspender o julgamento
Com relação a fadas e papai Noel
Não vejo por que fazer isso com relação a deuses

3 de junho de 2022

ARGUMENTAÇÃO



Um teísta tentou justificar o argumento do "livre-arbítrio" com a frase "Seguimos o que é moralmente certo". Essa foi minha resposta a ele:

Quem "seguimos o que é moralmente certo"??? Os padres pedófilos, os bispos e papas que acobertam esses padres pedófilos e os católicos que pagam o dízimo que vai ser usado para "calar a boca" das vítimas não "seguem o que é moralmente certo". 
Os pastores estupradores; os pastores que vomitam preconceito incentivando pessoas a agredirem e até a matarem as pessoas diferentes do padrão que "seu deus" aceita; os pastores que ficam milionários roubando dinheiro das pessoas pobres, ignorantes e ingênuas que caem em sua conversa; os pastores que se aliam a governos como o bozobosta, que substitui o amor de Jesus pelo ódio e pelas armas e as pessoas que, via dízimos e doações, sustentam esses vendilhões da bandidagem "em nome de Jesus" certamente não "seguem o que é moralmente certo". 
Enquanto isso seu deus, caso existisse, seria aquele que não faz NADA contra essa nojeira toda, aquele que permite o uso do seu nome para todo tipo de maldade e ignora todo sofrimento de toda criança que sofre no mundo. 
Porque quem faz as crianças sofrerem (se não forem os microorganismos e as leis da natureza), esses têm livre arbítrio para torturar, estuprar e matar uma criança, mas a criança não tem livre arbítrio nenhum. 
Por mais que as pessoas que amam esse deus tentem me explicar, eu não posso entender como conseguem aceitar tanta maldade, injustiça e aberração como "amor" e "justiça". 
Para mim, essas palavras têm outro significado, que não se aplicaria a esse deus, caso ele existisse.

18 de maio de 2022

MINHA HISTÓRIA COM LULA



Morei em São Bernardo do Campo (SP) até o ano de 1982. Fiz o segundo grau no João Ramalho, escola estadual próxima ao sindicato onde o Lula “nasceu”. Não fui aos comícios da Vila Euclides, mas senti o “perfume” do gás lacrimogênio das manifestações na rua do sindicato quando saía da escola.
Mudei de São Bernardo quando me casei, mais tarde mudei para o Rio, mas sempre acompanhava – sem muito fanatismo porque nunca fui disso – as imagens dos discursos daquele torneiro mecânico que queria ser presidente.
Vi as armações da Globo contra o Lula desde o começo. Vi a farsa do sequestro do Abílio Diniz, vi a “bomba” da “filha fora do casamento”, vi todas as “notícias” desencavadas no auge da campanha sempre que a candidatura do metalúrgico ganhava destaque.
Percebi o processo de fabricação “global” do “caçador de marajá”.
A primeira vez que vi o Collor, fazendo seu discurso para a “babação” do jornalismo da Globo, eu disse ao meu marido: “Credo, que horror! Esse cara parece o Hitler”.
Eu falava do jeito de discursar, do conteúdo populista e dos gestos de mão; não da aparência física.
Trabalhei como mesária na eleição em que o “caçador de marajá” fabricado pela Globo venceu, ouvi várias mocinhas na fila e na sala de votação dizendo: “Vou votar no Collor. Ele é lindo!” e senti muita pena delas.
Votei no Lula em 2002 e comemorei o resultado das urnas; mas minha alegria durou pouco.
Uma semana depois de eleito, vi Lula apertando a mão do Maluf e passei a considerá-lo apenas mais um político, como tantos políticos.
Transferi meu título para São Paulo e tomei a decisão de viajar até lá se aparecesse alguém em quem eu realmente quisesse votar.
Não votei na Dilma mas fui contra o golpe, que identifiquei como golpe desde o começo.
Odiei o temeroso e desejei muito que no país tivesse algum resto de decência capaz de tirar esse ser abjeto do poder... não teve.
Participei de toda a campanha “Ele não” porque abominei o abominável desde os tempos em que o abominável fazia seus discursos abomináveis nos programas de televisão.
Desejei que no país tivesse algum resto de decência capaz de tirar o abominável do plenário no momento em que ele prestou homenagem a um torturador no voto pelo golpe... não teve.
Abominei o marreco de Maringá desde o começo dos atos que a muitos pareciam coisa de “herói” e que me pareceram filhadaputice disfarçada de justiça.
Abominei mais ainda quando, graças às falcatruas do marreco o bozobosta venceu e o marreco ganhou o ministério onde esperaria, se fazendo de morto para os crimes da familícia, até que o Voldemort do planalto desse a ele uma vaga no STF.
O marreco de Maringá foi traído e, como traíra escorregadia que é, deu um jeito de faturar um cargo de consolo nos EUA enquanto aguardava sua “vitória certa” na próxima eleição...
Comemorei cada “voo” frustrado do marreco que aparentemente capotou de vez no chão.
Vi e abominei cada uma das m3rdas que o abominável, sua familícia e sua quadrilha fizeram, disseram e amontoaram.
Lamentei cada colega, cada jovem, cada pessoa que vi caindo na armadilha do bozobostismo. Na escola onde eu dava aulas, nos meus ciclos de amizade, nas minhas redes sociais...
Tentei ser uma voz dissonante e de alerta; infelizmente a doença do fanatismo bozobostístico sempre foi mais forte do que eu.
No segundo turno tive duas certezas:
1 - O Haddad não venceria apesar do meu voto e da minha modesta campanha.
2 - O Ciro foi para Paris posar de “neutro” como recado para que o bozobosta oferecesse um ministério pra ele.
Porque, para mim, até prova em contrário, ainda tô vendo político como político e não como salvador da pátria.
Pela ida a Paris, por mais “explicações” que ele e seus fãs deem, o Ciro passou de político que eu ignorava como só mais um entre tantos para mais um político de quem eu não gosto.
Não mudei minha opinião sobre o Lula, mas apoiei o “Lula livre”, escrevi sobre minhas razões e compartilhei memes e textos em favor da correção da kag4da do marreco e sua corja “juridícula”.
Decidida a votar “até no capeta” contra o bozobostismo, estou de olho nas pesquisas.
Sempre lamentando que ainda exista (30%) tanta gente incapaz de entender o que é empatia e disposta a votar no inominável; apesar, ou por causa de tudo que o inominável kaga pela boca e por tudo que o inominável faz.
Só um nome tem chances de tirar o genocida do poder no primeiro turno; se continuar assim é nesse nome que votarei.
Votarei nele sim!
Por mais que me ponha a pensar que, se apertou a mão do Maluf, se coloca o ladrão de merenda como vice, bem poderia apertar a mão do bozobosta e, sei lá, dar um cargo pra um dos “zeros” bozobostais...
Tomara que não!
Mas votarei assim mesmo e logo no primeiro turno porque, como disse o Gregório Duvivier, uma derrota no primeiro turno seria mais difícil de ser contestada com um golpe bozobostal; provavelmente.
Se com essas mesmas chances estivesse o Ciro eu votaria no Ciro; se fosse o Dória (outro de quem não gosto), eu votaria no Dória; Se fosse a Simone, votaria na Simone...
Posso encher dez parágrafos com nomes de pessoas de quem não gosto mas em quem eu votaria no primeiro turno se tivesse chance de tirar o bozobosta no primeiro turno.
Por agora, o único político que tem essa chance é o Lula.
Por isso, e só por isso, votarei no Lula.
A não ser que os resultados das pesquisas mudem.

16 de maio de 2022

ÚRSULA



Cem anos de solidão...
Cem anos?
Cem anos é pouca solidão

De solidão temos
Milênios
Muitos milênios

Isoladas em nossos corpos
Exploradas em nossos
Sentimentos
Usadas em nossas
Mentes
Desprezadas em nossas
Histórias

Mulher
Fêmea
Menina
Senhora

Esquecida de ser
De ser vista
Olhada
Entendida
Estendida

Mulher...

8 de maio de 2022

MINHA PALAVRA PREFERIDA



Minha palavra preferida de todas as palavras que existem no mundo é RESPEITO
Eu acredito que se a minha palavra preferida fosse mais valorizada e mais aplicada o mundo seria melhor
Mas as pessoas “de bem” não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
As famílias “tradicionais” não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
As religiões não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
A política não costuma ligar muito para a minha palavra preferida
A economia não costuma ligar muito para a minha palavra preferida
Os deuses que as pessoas cultuam não costumam ligar muito para a minha palavra preferida
Li o livro “sagrado” de um deles duas vezes e não me lembro de ter visto a minha palavra preferida lá
Talvez tenha aparecido uma ou duas vezes com significado um tanto restrito e eu nem tenha reparado
Essas são as razões por que eu não acredito que a minha palavra preferida venha a ser mais valorizada um dia
Essa é a razão por que eu não acredito que o mundo será realmente melhor um dia
E fico triste por isso...

29 de abril de 2022

VANTAGEM DE SER ATEIA



Agora há pouco fui tirar o lixo orgânico da cozinha.
Depois de embrulhar tudo e deixar perto da porta pra levar quando terminasse o trabalho, fui limpar a lixeira e, em uma dobra da tampa tinha dois ovinhos de drosófilas, de um deles chegou a sair uma minúscula lagartinha quando comecei a passar sabão pela lixeira.
Limpei tudo e os ovinhos, juntamente com a lagartinha, foram-se; mortos em meio a sabão e desinfetante pelo ralo do tanque.
Com a lixeira limpa e novo saco de lixo no lugar certo, enquanto lavava as mãos, pensei:
Para a natureza, para o deus de Spinoza, para a Evolução darwiniana, aquelas drosófilas abortadas, as centenas de tartarugas que são devoradas pelas aves marinhas antes de chegar ao mar; os ursinhos atacados, estraçalhados e devorados ao sair da caverna com sua mãe magra, fraca e faminta que deu àqueles filhotes todas as reservas de energia que tinha; o filho morto no parto por imperícia médica, infecção hospitalar, complicações incontornáveis; todos os filhotes e todos os filhos mortos prematuramente têm absolutamente o mesmo valor e a mesma importância:
Nenhuma.
Sempre vejo alguém perguntar qual a vantagem de ser ateia.
Posso citar várias, mas...
Por mais terrível que pareça e por mais sofrimento que cause, para mim, a maior delas é essa:
É muito bom não ter que aceitar ou criar desculpas e justificativas para me obrigar a adorar, respeitar ou amar um ser consciente que seja responsável por isso!

25 de abril de 2022

TOLERÂNCIA



Sei que para muitas pessoas
Boas, éticas e decentes
Deus é uma questão de fé
Eu não entendo essa tal fé
Capaz de "passar por cima"
De todas as evidências
Mas aceito
E respeito
As pessoas que conseguem fazer isso
Sem impor sua fé a ninguém
E respeitando as diferenças
Tenho o privilégio
De ser amiga
De várias pessoas assim
E filha de uma delas
Me sinto grata
A cada uma dessas pessoas
Pela amizade
Pelo amor e pelo carinho
Que delas recebo
Mas as religiões
Como instituição
Essas em sua maioria
São muito criticáveis
E os líderes religiosos
Que usam essa fé
Para explorar as pessoas
Para incutir o ódio
E o preconceito
Nas mentes mais sugestionáveis
Merecem todo meu repúdio
Quando falo do meu ateísmo
Minha intenção primeira
É combater a crença cega
E manipulável
Que as religiões
E esses líderes
Propagam
E minha outra intenção
Que vem “de mãos dadas
Com a primeira
É mostrar a quem crê em deus
Que sou uma pessoa comum
Que não acreditar em seu deus
Não me torna um ser maligno
Que ateísmo não é sinônimo
De satanismo
Principalmente porque
Pessoas ateias
Não creem em Satã
Demônios
Capeta
E outros deuses do mal

22 de abril de 2022

EXPLICAÇÃO



De certa forma, quando falo do meu ateísmo, estou fazendo o mesmo que faz uma pessoa que se empenha em “pregar a palavra”.
Mas não estou imbuída das mesmas razões e não tenho fé no meu ateísmo porque ateísmo não é crença.
A diferença que percebo é que a pregação é uma ação e os meus argumentos ateístas são uma REação.
Eu jamais teria me sentido confortável para falar como falo se não tivesse passado boa parte da minha vida ouvindo tantas pessoas “pregando a palavra”; tantas pessoas me dizendo as mesmas coisas que praticamente toda pessoa religiosa diz.
Coisas que, em muitos casos, as religiões usam para justificar todo tipo de absurdo.
Como preconceito, misoginia, intolerância, megalomania, ganância, desprezo pelas pessoas que pensam ou são diferentes. E até mesmo crimes.
Não estou falando que todas as pessoas teístas fazem isso!
Estou dizendo que o número delas é grande o suficiente para interferir na vida de pessoas como eu, que não creem; de pessoas que creem em deuses diferentes, ou que creem no mesmo deus de forma diferente.
Então, não falo do meu ateísmo para convencer as pessoas de que deus não existe.
Falo para convencer as pessoas de que deus não existe PARA MIM e para muitas outras pessoas.
Falo principalmente para que parem de tentar enfiar o deus delas na vida de todo mundo e nas leis do meu país. Porque isso afeta a mim e a todo mundo que vive aqui.
Por último - mas bem menos importante -, falo porque sou tagarela, porque gosto de escrever, de expor meus pensamentos e opiniões.
E aqui, na internet, é o único lugar onde me dou o direito de fazer isso com mais liberdade.
Ao contrário de muitas pessoas religiosas, eu não saio por aí "pregando a palavra de Darwin".

Dizem que não é deus quem comete injustiças!
Claro que não! Deus não existe e quem não existe não “comete” nada.
Mas SERIA deus sim! SE o deus de que me falam existisse.
De todo mal que a gente aponta, pessoas religiosas dão um jeito de dizer que “são as pessoas”.
Eu pergunto sem ser original: E quem essas mesmas pessoas dizem que criou essa raça humana que cometem as injustiças, os males, os crimes?
Seu deus não é onipotente?
Não podia ter criado diferente; ou simplesmente não ter criado esse animal tão terrível que é o ser humano?
Que raio de onipotência é essa que não pode criar apenas seres que não sentem prazer em matar, subjugar e destruir?
Além disso, como podem colocar todo sofrimento na conta do ser humano se o ser humano não criou nada?
Criamos os vírus que matam crianças?
Criamos as catástrofes naturais que matam crianças e animais inocentes desde muito antes de os animais humanos terem poder de influenciar e destruir a natureza?
Criamos as deformações com que muitas crianças e animais nascem desde muito antes de os seres humanos terem a ciência e a medicina?
Essas pessoas falam dos muitos males criados e mantidos por seres humanos e esquecem dos males que atingem os seres humanos desde sempre e que não só não criamos como - até hoje! - ainda não temos conhecimento nem capacidade de evitar ou amenizar.
Menos ainda as crianças, que são vítimas desses males e não têm poder nenhum.
Se o seu deus existisse e tivesse criado tudo a partir do nada, a culpa desses males não seria dele e apenas dele?

Já me disseram que sou muito “nervosinha”, que sou tão passional quanto uma teísta.
Eu admito essa falha, mas me defendo:
Não tem como não ser passional quando falo do sofrimento que vejo e da indiferença com que, embotadas pela religião, as pessoas olham para esse sofrimento.
Eu vejo pessoas que louvam o deus que teria “dado tudo” a elas e negado o básico a tanta gente. Essas pessoas usam a fé egoísta para desdenhar o sofrimento de crianças!
E vejo que muitas vezes - talvez na maioria das vezes - tais pessoas nem se dão conta disso, tão cegas se tornaram pela crença nesse deus improvável.

Sempre que uma coisa boa que me acontece, não consigo deixar de pensar em quantas coisas ruins estão acontecendo com pessoas que merecem mais coisas boas do que eu.
Não consigo deixar de pensar em como seria injusto um deus que tivesse me dado essa coisa boa e negado o básico - até a mais fundamental necessidade - a tantas crianças inocentes.
Se eu acreditasse que o bem que tenho é presente de deus, eu teria que acreditar que o vírus ou o câncer que matam uma criança depois de muito sofrimento também são “presentes” de deus.
E eu odiaria esse deus!

Isso tudo é impossível de pensar, sentir e falar sem ser de forma passional.
Como não ser passional se estou falando de amor?
Eu sou o que sinto quando escrevo, e estou escrevendo sobre amor.
Sobre o amor que sinto pelas pessoas boas que sofrem, pelos animais inocentes que sofrem, pelas crianças que sofrem.

Não consigo ser tão egoísta a ponto de adorar um deus, atribuindo a ele o bem que tenho, enquanto me forço a esquecer todo sofrimento que vejo diante de mim, e que seria culpa desse mesmo deus.
Não tenho capacidade nem amor próprio suficiente para isso.

Foi essa visão, foi esse pensamento, foi essa constatação que me tornou a ateia que sou.
Não tive uma decepção, um grande sofrimento ou uma “graça” que pedi e não aconteceu.
Apenas tirei os olhos do meu próprio umbigo e olhei à minha volta.
Olhei DE VERDADE à minha volta.
Foi isso que me deu a certeza de que esse deus de quem tanto me falam não tem como existir.

Por tudo que sou e por tudo que sinto, minha certeza de que deus não existe e de que eu teria que ser muito egoísta para ter fé se tornou parte de mim.
Sou ateia de uma forma que não tem volta.
Porque não existe o verbo nem o ato de “desver”.

17 de abril de 2022

INSPIRAÇÃO



A bíblia é "inspirada" por Deus
A Ilíada é "inspirada" por Zeus
O Veda é "inspirado" por Shiva
E por aí vai...
Prefiro mil vezes A Origem das Espécies
Uma obra inspirada por anos de estudos
Cuidadosos e fundamentados
Feitos por Charles Darwin
Prefiro outras centenas de livros
De filosofia, arte e ciência
Sempre inspirados em estudos criteriosos e aplicados
De pessoas preocupadas em encontrar respostas
(ou mais perguntas)
Que qualquer outra pessoa possa encontrar
Pelos mesmos processos
Pessoas que não precisam de fantasias de poder
Como chapéus esquisitos e vestidos cerimoniais
Pessoas que não se dizem nem se sentem
"iluminadas" ou "escolhidas"
Por nenhum tipo de ente sobrenatural

5 de abril de 2022

EU NÃO PREFIRO NINGUÉM!



Se eu gostasse de algum político da chamada "terceira via", ainda assim não votaria nele no primeiro turno. Votaria em qualquer um que tivesse mais chance de ir para o segundo turno contra a bozobostice e esqueceria gosto pessoal.
Se eu fosse alguém que odeia todos e se arrepia diante da ideia de escolher alguém que despreza, ainda assim eu engoliria a raiva como um remédio amargo e votaria em qualquer um que tivesse mais chance de ir para o segundo turno contra a bozobostice.
Nunca gostei da ideia de "escolher o menos pior", foi por isso parei de votar em 2003 e só voltei a votar em 2018.
Acontece que agora não é só uma questão de "votar em um para tirar outro" nem hora de "não voto em ninguém porque nenhum presta".
Agora é questão de fazer alguma coisa para que as pessoas continuem tendo o direito de escolher entre votar ou não votar, de falar, de se expressar, de criticar, de cobrar, de processar...
É questão de votar para tentar impedir que o terror tome o poder, mesmo sem garantia de conseguir.
Quem sabe pelo menos um pouco sobre ditadura deveria, a meu ver, fazer o que eu disse acima. É o que farei.
Para mim, a pessoa que opta por se omitir ou vota em uma "terceira via" porque prefere esse ou essa e se nega a votar em quem tiver mais chance de chegar ao segundo turno está usando a democracia para livremente correr o risco de perdê-la.
O mesmo que muita gente fez em 2018... infelizmente.
Mas é só minha opinião.

4 de abril de 2022

VITÓRIA DO DIA



Aqui em casa somos só eu e meu Neguinho tesudo que amo mais do que quase tudo que amo na vida (só meu filho compete), e olha que eu amo muitas coisas e muita gente!
Comprei uma bandejinha bem pequena de bacalhau dessalgado em pedaços (quase desfiados) em um mercado aqui perto de casa e levei pra casa. Peguei porque não achei muito caro, já que era tão pouco.
Hoje resolvi fazer o tal bacalhau. Eu tinha uma batata meio grande mas não enorme, meia cebola, um tomate, um saco plástico cheio de pimentões vermelhos e verdes picados que sempre guardo no congelador, um saco plástico com alho descascado que também sempre tenho guardado no congelador.
Em uma vasilha de plástico grande fui colocando:
Um bom punhado dos pimentões congelados, alguns dentes de alho inteiros congelados, a meia cebola picada, três quartos do tomate picado (guardei um quarto para o caso de o marido precisar para um lanche noturno) e a batata picada em cubinhos (a casca eu fritei e dei de presente para o maridão tomar uma cerveja).
Coloquei o bacalhau, salpiquei Fondor (um tempero que sempre tenho em casa) e uma micropitada de pimenta do reino branco (para fazer diferença sem que eu perceba o gosto porque odeio pimenta).
Misturei tudo o melhor possível, coloquei em uma forma do tipo refratário, despejei uma quantidade bem generosa de azeite, tampei a forma (essa tinha tampa) e levei ao forno.
Enquanto assava (depois de um bom tempo na verdade porque tentei organizar os tempos de cozimento e "assação") botei no fogo um arroz branco sem segredos e botei pra cozinhar os únicos dois ovos que tinha na geladeira.
Uma hora depois de colocar o refratário no forno eu estava descascando os ovos cozidos, esperando o arroz ficar pronto (fazer o barulhinho de estalo) e pronta para ver como estava o bacalhau.
Quando o arroz ficou pronto e os dois ovos estavam cozidos (acho que tinha dado mais ou menos uma hora e dez ou quinze de forno) tirei o bacalhau e o maridão já quis fazer o prato porque estava perfeito, fatiei os ovos cozidos e arrumei sobre a forma para decorar.
Abri uma garrafa de vinho e nós dois concordamos que se a gente fosse a um restaurante que servisse uma refeição com esse sabor e esse "balance" a gente certamente voltaria mais vezes.
A garrafa de vinho foi-se e eu estou agora, meio bêbada e muito feliz, porque sou uma cozinheira bem medíocre que acerta algumas vezes, essa foi uma delas.
... Se a gente consegue "esquecer" as m* do mundo por um tempo e consegue acertar um prato para o almoço, a gente repõe as energias para voltar aos noticiários e sofrer mais um pouco sem desmontar completamente...