Era adolescente, por vezes gritava com um agudo sorriso: Cadelo meu chinelo? Cadela minha blusa vermelha? Cadela minha caneta nova?... O tempo passou, os cabelos são de neve e a pele de pergaminho. Às vezes grita sem som e sem saudades: Cadela minha vida?
29 de abril de 2022
VANTAGEM DE SER ATEIA
Depois de embrulhar tudo e deixar perto da porta pra levar quando terminasse o trabalho, fui limpar a lixeira e, em uma dobra da tampa tinha dois ovinhos de drosófilas, de um deles chegou a sair uma minúscula lagartinha quando comecei a passar sabão pela lixeira.
Limpei tudo e os ovinhos, juntamente com a lagartinha, foram-se; mortos em meio a sabão e desinfetante pelo ralo do tanque.
Com a lixeira limpa e novo saco de lixo no lugar certo, enquanto lavava as mãos, pensei:
Para a natureza, para o deus de Spinoza, para a Evolução darwiniana, aquelas drosófilas abortadas, as centenas de tartarugas que são devoradas pelas aves marinhas antes de chegar ao mar; os ursinhos atacados, estraçalhados e devorados ao sair da caverna com sua mãe magra, fraca e faminta que deu àqueles filhotes todas as reservas de energia que tinha; o filho morto no parto por imperícia médica, infecção hospitalar, complicações incontornáveis; todos os filhotes e todos os filhos mortos prematuramente têm absolutamente o mesmo valor e a mesma importância:
Nenhuma.
Sempre vejo alguém perguntar qual a vantagem de ser ateia.
Posso citar várias, mas...
Por mais terrível que pareça e por mais sofrimento que cause, para mim, a maior delas é essa:
É muito bom não ter que aceitar ou criar desculpas e justificativas para me obrigar a adorar, respeitar ou amar um ser consciente que seja responsável por isso!
25 de abril de 2022
TOLERÂNCIA
Boas, éticas e decentes
Deus é uma questão de fé
Eu não entendo essa tal fé
Capaz de "passar por cima"
De todas as evidências
Mas aceito
E respeito
As pessoas que conseguem fazer isso
Sem impor sua fé a ninguém
E respeitando as diferenças
Tenho o privilégio
De ser amiga
De várias pessoas assim
E filha de uma delas
Me sinto grata
A cada uma dessas pessoas
Pela amizade
Pelo amor e pelo carinho
Que delas recebo
Mas as religiões
Como instituição
Essas em sua maioria
São muito criticáveis
E os líderes religiosos
Que usam essa fé
Para explorar as pessoas
Para incutir o ódio
E o preconceito
Nas mentes mais sugestionáveis
Merecem todo meu repúdio
Quando falo do meu ateísmo
Minha intenção primeira
É combater a crença cega
E manipulável
Que as religiões
E esses líderes
Propagam
E minha outra intenção
Que vem “de mãos dadas”
Com a primeira
É mostrar a quem crê em deus
Que sou uma pessoa comum
Que não acreditar em seu deus
Não me torna um ser maligno
Que ateísmo não é sinônimo
De satanismo
Principalmente porque
Pessoas ateias
Não creem em Satã
Demônios
Capeta
E outros deuses do mal
22 de abril de 2022
EXPLICAÇÃO
Mas não estou imbuída das mesmas razões e não tenho fé no meu ateísmo porque ateísmo não é crença.
A diferença que percebo é que a pregação é uma ação e os meus argumentos ateístas são uma REação.
Eu jamais teria me sentido confortável para falar como falo se não tivesse passado boa parte da minha vida ouvindo tantas pessoas “pregando a palavra”; tantas pessoas me dizendo as mesmas coisas que praticamente toda pessoa religiosa diz.
Coisas que, em muitos casos, as religiões usam para justificar todo tipo de absurdo.
Como preconceito, misoginia, intolerância, megalomania, ganância, desprezo pelas pessoas que pensam ou são diferentes. E até mesmo crimes.
Não estou falando que todas as pessoas teístas fazem isso!
Estou dizendo que o número delas é grande o suficiente para interferir na vida de pessoas como eu, que não creem; de pessoas que creem em deuses diferentes, ou que creem no mesmo deus de forma diferente.
Então, não falo do meu ateísmo para convencer as pessoas de que deus não existe.
Falo para convencer as pessoas de que deus não existe PARA MIM e para muitas outras pessoas.
Falo principalmente para que parem de tentar enfiar o deus delas na vida de todo mundo e nas leis do meu país. Porque isso afeta a mim e a todo mundo que vive aqui.
Por último - mas bem menos importante -, falo porque sou tagarela, porque gosto de escrever, de expor meus pensamentos e opiniões.
E aqui, na internet, é o único lugar onde me dou o direito de fazer isso com mais liberdade.
Ao contrário de muitas pessoas religiosas, eu não saio por aí "pregando a palavra de Darwin".
Dizem que não é deus quem comete injustiças!
Claro que não! Deus não existe e quem não existe não “comete” nada.
Mas SERIA deus sim! SE o deus de que me falam existisse.
De todo mal que a gente aponta, pessoas religiosas dão um jeito de dizer que “são as pessoas”.
Eu pergunto sem ser original: E quem essas mesmas pessoas dizem que criou essa raça humana que cometem as injustiças, os males, os crimes?
Seu deus não é onipotente?
Não podia ter criado diferente; ou simplesmente não ter criado esse animal tão terrível que é o ser humano?
Que raio de onipotência é essa que não pode criar apenas seres que não sentem prazer em matar, subjugar e destruir?
Além disso, como podem colocar todo sofrimento na conta do ser humano se o ser humano não criou nada?
Criamos os vírus que matam crianças?
Criamos as catástrofes naturais que matam crianças e animais inocentes desde muito antes de os animais humanos terem poder de influenciar e destruir a natureza?
Criamos as deformações com que muitas crianças e animais nascem desde muito antes de os seres humanos terem a ciência e a medicina?
Essas pessoas falam dos muitos males criados e mantidos por seres humanos e esquecem dos males que atingem os seres humanos desde sempre e que não só não criamos como - até hoje! - ainda não temos conhecimento nem capacidade de evitar ou amenizar.
Menos ainda as crianças, que são vítimas desses males e não têm poder nenhum.
Se o seu deus existisse e tivesse criado tudo a partir do nada, a culpa desses males não seria dele e apenas dele?
Já me disseram que sou muito “nervosinha”, que sou tão passional quanto uma teísta.
Eu admito essa falha, mas me defendo:
Não tem como não ser passional quando falo do sofrimento que vejo e da indiferença com que, embotadas pela religião, as pessoas olham para esse sofrimento.
Eu vejo pessoas que louvam o deus que teria “dado tudo” a elas e negado o básico a tanta gente. Essas pessoas usam a fé egoísta para desdenhar o sofrimento de crianças!
E vejo que muitas vezes - talvez na maioria das vezes - tais pessoas nem se dão conta disso, tão cegas se tornaram pela crença nesse deus improvável.
Sempre que uma coisa boa que me acontece, não consigo deixar de pensar em quantas coisas ruins estão acontecendo com pessoas que merecem mais coisas boas do que eu.
Não consigo deixar de pensar em como seria injusto um deus que tivesse me dado essa coisa boa e negado o básico - até a mais fundamental necessidade - a tantas crianças inocentes.
Se eu acreditasse que o bem que tenho é presente de deus, eu teria que acreditar que o vírus ou o câncer que matam uma criança depois de muito sofrimento também são “presentes” de deus.
E eu odiaria esse deus!
Isso tudo é impossível de pensar, sentir e falar sem ser de forma passional.
Como não ser passional se estou falando de amor?
Eu sou o que sinto quando escrevo, e estou escrevendo sobre amor.
Sobre o amor que sinto pelas pessoas boas que sofrem, pelos animais inocentes que sofrem, pelas crianças que sofrem.
Não consigo ser tão egoísta a ponto de adorar um deus, atribuindo a ele o bem que tenho, enquanto me forço a esquecer todo sofrimento que vejo diante de mim, e que seria culpa desse mesmo deus.
Não tenho capacidade nem amor próprio suficiente para isso.
Não tive uma decepção, um grande sofrimento ou uma “graça” que pedi e não aconteceu.
Apenas tirei os olhos do meu próprio umbigo e olhei à minha volta.
Olhei DE VERDADE à minha volta.
Foi isso que me deu a certeza de que esse deus de quem tanto me falam não tem como existir.
Por tudo que sou e por tudo que sinto, minha certeza de que deus não existe e de que eu teria que ser muito egoísta para ter fé se tornou parte de mim.
Sou ateia de uma forma que não tem volta.
Porque não existe o verbo nem o ato de “desver”.
17 de abril de 2022
INSPIRAÇÃO
O Veda é "inspirado" por Shiva
E por aí vai...
Prefiro mil vezes A Origem das Espécies
Uma obra inspirada por anos de estudos
Cuidadosos e fundamentados
Feitos por Charles Darwin
Prefiro outras centenas de livros
De filosofia, arte e ciência
Sempre inspirados em estudos criteriosos e aplicados
De pessoas preocupadas em encontrar respostas
(ou mais perguntas)
Que qualquer outra pessoa possa encontrar
Pelos mesmos processos
Pessoas que não precisam de fantasias de poder
Como chapéus esquisitos e vestidos cerimoniais
Pessoas que não se dizem nem se sentem
"iluminadas" ou "escolhidas"
Por nenhum tipo de ente sobrenatural
5 de abril de 2022
EU NÃO PREFIRO NINGUÉM!
Se eu fosse alguém que odeia todos e se arrepia diante da ideia de escolher alguém que despreza, ainda assim eu engoliria a raiva como um remédio amargo e votaria em qualquer um que tivesse mais chance de ir para o segundo turno contra a bozobostice.
Nunca gostei da ideia de "escolher o menos pior", foi por isso parei de votar em 2003 e só voltei a votar em 2018.
Acontece que agora não é só uma questão de "votar em um para tirar outro" nem hora de "não voto em ninguém porque nenhum presta".
Agora é questão de fazer alguma coisa para que as pessoas continuem tendo o direito de escolher entre votar ou não votar, de falar, de se expressar, de criticar, de cobrar, de processar...
É questão de votar para tentar impedir que o terror tome o poder, mesmo sem garantia de conseguir.
Quem sabe pelo menos um pouco sobre ditadura deveria, a meu ver, fazer o que eu disse acima. É o que farei.
Para mim, a pessoa que opta por se omitir ou vota em uma "terceira via" porque prefere esse ou essa e se nega a votar em quem tiver mais chance de chegar ao segundo turno está usando a democracia para livremente correr o risco de perdê-la.
O mesmo que muita gente fez em 2018... infelizmente.
Mas é só minha opinião.
4 de abril de 2022
VITÓRIA DO DIA
Comprei uma bandejinha bem pequena de bacalhau dessalgado em pedaços (quase desfiados) em um mercado aqui perto de casa e levei pra casa. Peguei porque não achei muito caro, já que era tão pouco.
Hoje resolvi fazer o tal bacalhau. Eu tinha uma batata meio grande mas não enorme, meia cebola, um tomate, um saco plástico cheio de pimentões vermelhos e verdes picados que sempre guardo no congelador, um saco plástico com alho descascado que também sempre tenho guardado no congelador.
Em uma vasilha de plástico grande fui colocando:
Um bom punhado dos pimentões congelados, alguns dentes de alho inteiros congelados, a meia cebola picada, três quartos do tomate picado (guardei um quarto para o caso de o marido precisar para um lanche noturno) e a batata picada em cubinhos (a casca eu fritei e dei de presente para o maridão tomar uma cerveja).
Coloquei o bacalhau, salpiquei Fondor (um tempero que sempre tenho em casa) e uma micropitada de pimenta do reino branco (para fazer diferença sem que eu perceba o gosto porque odeio pimenta).
Misturei tudo o melhor possível, coloquei em uma forma do tipo refratário, despejei uma quantidade bem generosa de azeite, tampei a forma (essa tinha tampa) e levei ao forno.
Enquanto assava (depois de um bom tempo na verdade porque tentei organizar os tempos de cozimento e "assação") botei no fogo um arroz branco sem segredos e botei pra cozinhar os únicos dois ovos que tinha na geladeira.
Uma hora depois de colocar o refratário no forno eu estava descascando os ovos cozidos, esperando o arroz ficar pronto (fazer o barulhinho de estalo) e pronta para ver como estava o bacalhau.
Quando o arroz ficou pronto e os dois ovos estavam cozidos (acho que tinha dado mais ou menos uma hora e dez ou quinze de forno) tirei o bacalhau e o maridão já quis fazer o prato porque estava perfeito, fatiei os ovos cozidos e arrumei sobre a forma para decorar.
Abri uma garrafa de vinho e nós dois concordamos que se a gente fosse a um restaurante que servisse uma refeição com esse sabor e esse "balance" a gente certamente voltaria mais vezes.
A garrafa de vinho foi-se e eu estou agora, meio bêbada e muito feliz, porque sou uma cozinheira bem medíocre que acerta algumas vezes, essa foi uma delas.
... Se a gente consegue "esquecer" as m* do mundo por um tempo e consegue acertar um prato para o almoço, a gente repõe as energias para voltar aos noticiários e sofrer mais um pouco sem desmontar completamente...
23 de março de 2022
ZEFINETA E GREGOR
Dias atrás terminei de reler Confissões de Frei Abóbora. Esse livro foi uma parte extremamente importante da minha adolescência, eu o li quando tinha 14 ou 15 anos e fiquei encantada, embevecida, impressionada...
Enquanto lia, deitada no sofá da sala, eu chorava copiosamente e, em seguida, soltava gostosas gargalhadas.
Minha mãe sempre teve muito mais do que dois olhos, por isso, embora eu pensasse que ela cuidava de outras coisas longe da sala enquanto eu lia, minha mãe vê o livro fechado no meu quarto e pergunta:
- Que livro é esse que faz você gargalhar de apertar a barriga e depois “derrubar a tromba” como se fosse velório?
Foi Frei Abóbora e não Meu pé de laranja lima que me fez ler todos os livros do José Mauro de Vasconcelos que consegui encontrar. Foi Frei Abóbora que me tornou uma pessoa encantada por lagartixas; e várias páginas do caderno de frases e poemas, com capa caprichada e desenhos de flores e borboletas que eu carregava para todo lado, estavam lotadas de trechos copiados de Frei Abóbora. Alguns deles sei de cor até hoje.
Reler Frei Abóbora não foi uma decepção!
O livro ainda me agradou, reencontrei muitas das frases e trechos que me encantaram e que estavam no meu inseparável caderno colorido que não existe mais...
Porém, reencontrei algumas coisas que consegui relevar e até achar divertidas naquela época mas que deixaram de ser leves e divertidas para mim.
E meu olhar se tornou mais crítico, menos sugestionável, daí que a religiosidade que me pareceu subversiva naquela época, hoje não parece tão subversiva assim.
Não me arrependi de voltar ao Frei Abóbora. Ainda recomendo a qualquer pessoa que goste de ler, mas o Frei Abóbora da minha adolescência subiu a escada de braços dados com Zefineta B e desapareceu no corredor escuro de um prédio em ruínas.
Mas nem sempre é assim!
Estou relendo A Metamorfose e o sufoco, a angústia, o estranhamento que me fazia “pular” uma respiração ainda estão lá e ainda chegam a mim.
Talvez mais fortes do que quando o li pela primeira vez, mais ou menos na mesma época em que me encantei com Frei Abóbora.
Eu envelheci, Kafka não.
21 de março de 2022
HISTÓRICO
Menos ainda fanática
Cansei de contar
Que perdi qualquer tentação de ser fã do Lula
Uma semana depois da eleição
Que deu a ele o primeiro mandato
Eu o vi apertando a mão do Maluf
A partir daí Lula era apenas mais um político
Dentre tantos políticos
E o PT mais um partido entre tantos outros
Nunca vi razão para mudar de ideia
Não votei mais até ver a insanidade do golpe
E o bozobosta candidato a presidente
Voltei a ser uma eleitora
Para tentar evitar a merda
Que a vitória do coiso com certeza traria
Apesar de não gostar do Lula
De não duvidar de que houvesse corrupção
Como sempre há em praticamente todo lugar
Do Brasil e do mundo
Nunca aderi a esse ódio seletivo
Que a mídia criou contra o PT
E nunca engoli a farsa daquele julgamento
Que levou o Lula à prisão
Ele pode até não ser inocente
Acho que nenhum ex-presidente é
Mas se fosse tão culpado como afirmaram
Não precisariam montar aquele circo todo
Com o juiz de toga cagada como palhaço mor
Enfim...
No Brasil tem crime organizado
Muito bem organizado!
E um dos exemplos é a quadrilha que deu o golpe
E que está no poder agora
Da qual o marreco de Maringá é membro
Eu diria que ainda hoje
DESONESTIDADE É ISSO
Se ter presidente ruim fosse uma boa razão para dar ao primeiro poderoso que tiver interesse o direito de jogar bombas sobre civis e matar crianças, então um deles poderia fazer isso aqui no Brasil.
E eu queria ver essas mesmas pessoas defendendo a "necessidade" dos assassinatos com posts contra o bozobosta.
Dá raiva, viu!
20 de março de 2022
SEM AVISO
Numa tarde em São Paulo
Numa madrugada em Tokio
Num dia em que a Terra toda seguia sua rota e sua dança
Com pessoas e bichos e pedras e plantas
Com suas vidas e não-vidas espalhadas por todos os lados
Num dia comum
Em que amores e guerras começavam e terminavam
Nos sentidos mais reais e mais subjetivos
Dos substantivos e dos verbos
Num dia em que pessoas e animais e aviões e navios e carros e ônibus e caminhões e trens...
Circulavam pelas estradas
Pelas trilhas
Pelas vias e rodovias
Pelo céu e pelas águas de todos os países
Pobres e ricos
Dos continentes e das ilhas
Num dia em que plantas e animais
Estranhos e não tão estranhos
Viviam suas vidas de caça e caçadores
De pesca e pescadores
De colheitas e coletores
Sobre as terras e sob as águas
Num dia assim tão comum e tão único
Como todos os dias costumam ser
De repente
Sem aviso e sem previsões
De gente
De búzios
De orixás
De santos
De bolas de cristal ou das cartas
De baralho ou tarô
De repente
Sem uma única premonição
Uma única sensação estranha
Divinatória ou sexto sentido
De gente ou de bicho
Sem que nenhum Jesus voltasse à Terra
Sem que nenhuma corneta anunciasse o Armagedom
A Terra simplesmente
Explodiu
19 de março de 2022
RESUMO
Porque perdeu a eleição pra uma mulher
Logo os urubus oportunistas começaram a agir
E se articular
Com o temeroso vampirando tudo que podia
Juiz cagando na toga
Bandido chefiando a etapa final do golpe
(Quem esqueceu do Cunha?)
E o Bozobosta homenageando torturador
Como se isso fosse muito lindo
E tanto era "lindo" que veio a eleição dele em 2018
Com toda a sua familícia e sua quadrilha
Incluindo o juizeco de toga cagada
Que abandonou a quadrilha e virou "oposição"
Porque ficou magoadinho
(Tadinho dele!)
Não recebeu o cargo no STF que o bozo prometeu
Em troca da prisão do adversário
Uma beleza de orquestração do crime organizado
Que tomou o país
Quem disse que o Brasil é uma bagunça?
7 de março de 2022
GUERRAS PELO MUNDO
É só delas que tenho pena
Só por elas que lamento
Só com elas que me solidarizo
Crianças estão sendo mortas
Crianças estão sendo torturadas
Crianças estão perdendo segurança
Lar
Família
Enquanto as pessoas discutem qual imperialista
Qual assassino
Qual oportunista
É "bonzinho"
E qual é "demoníaco"
Eu só lamento que façam isso
1 de março de 2022
DEUS É CULPADO SIM!
(Resposta a um texto que circulou na Internet)
A filha de Billy Graham [pastor evangélico] estava sendo
entrevistada no Early Show, nos EUA, quando a apresentadora Jane Clayson
lhe perguntou: – Como é que Deus permitiu que algo horroroso como este dia
11 de setembro acontecesse nos Estados Unidos? Anne Graham deu uma resposta
extremamente estúpida que muitos sites religiosos estão classificando como
“profunda e sábia” sem nenhuma razão plausível.
Anne Graham: Eu creio
que tudo começou desde que Madeline Murray O'hare (que foi assassinada), se
queixou de que era impróprio se fazer oração nas escolas Americanas como se
fazia tradicionalmente, e nós concordamos com a sua opinião.
Divina: Aqui no Brasil, o índice de violência nas
escolas e nas ruas nunca foi tão grande e, no entanto, temos até mesmo a
disciplina Ensino Religioso nas escolas públicas do Rio de Janeiro (Que é um
dos Estado onde a violência é maior). E desde quando o fato da mulher citada no
texto ter sido assassinada é relevante? Ela não teria sido assassinada
justamente por ter dito isso, e o assassino não seria justamente um adepto do “deus de amor” que esse texto defende?
Milhões de pessoas já morreram assassinadas sem que tenham falado ou agido
contra a religião. Ah, sim. E antes da mulher ter dito isso não existiam
horrores no mundo? No tempo em que se fazia orações nas escolas os Estados
Unidos eram um paraíso? Ficam claras demais as falácias dessas argumentações!
Anne Graham: Depois
disso, alguém disse que seria melhor também não ler mais a Bíblia nas
escolas...
Divina: Se é para ser justo, deve-se ler nas escolas,
além da bíblia, o corão, a torah, os textos sagrados do hinduísmo, o Tao te Ching (livro sagrado do taoísmo) e todo e qualquer outro texto de toda
e qualquer religião. Ao Invés disso, esquecendo totalmente qualquer tipo de
tolerância, apenas as citações da bíblia são comuns nas aulas de ensino
religioso das escolas do Rio de Janeiro. Acho que os alunos deveriam estudar
mais, nas aulas de história, as mortes que as leituras da bíblia já provocaram
no mundo.
Anne Graham: A Bíblia
que nos ensina que não devemos matar, roubar e devemos amar o nosso próximo
como a nós mesmos.
Divina: Mas a bíblia ensina também a ser intolerante,
a matar, a ter preconceito, a discriminar a mulher, a desprezar todos os que
são diferentes, a gostar de violência, de morte e de sangue...
Anne Graham: Logo depois
o Dr. Benjamin Spock disse que não deveríamos bater em nossos filhos.
Divina: Bater em filhos nunca foi e nunca será uma
boa forma de educação. Se você tratar seu filho com amor, respeito e atenção;
se você o ensinar com carinho, exemplo e prática, e não apenas com palavras
vazias, broncas e gritos, você certamente não precisará espancá-lo; talvez (um
talvez bem grande, na minha opinião) precise, no máximo, de uma palmadinha em
situação mais crítica, dificilmente mais do que isso. E, ao contrário, se você
não der amor, respeito, atenção, exemplos, por mais que o espanque não terá
educado uma boa pessoa. Trate seu filho como um ser humano que é nisso mesmo
que ele se transformará, trate-o como animal e é também o que ele poderá se
tornar.
Anne Graham: Depois
alguém disse que os professores e diretores das escolas não deveriam
disciplinar nossos filhos quando se comportassem mal.
Divina: Se a criança tem uma boa educação em casa,
nenhum professor vai querer tocar nessa criança a não ser para abraçá-la,
cumprimentá-la ou fazer carinho como se faz carinho em um filho, a não ser que
esse professor seja um sádico e não tenha a mínima ideia do que é educação.
Além disso, parece que a autora do texto confunde disciplinar com espancar.
Tenho pena dos filhos dela, se ela os tiver.
Anne Graham: Aí, alguém
sugeriu que deveríamos deixar que nossas filhas fizessem aborto, se elas assim
o quisessem.
Divina: Se educarmos nossos filhos com amor e
respeito, esclarecermos suas dúvidas e os orientarmos sem preconceito e falsa
moral, eles terão mais chances de saber evitar que uma garota fique em situação
difícil por irresponsabilidade sua; e nossas filhas possivelmente não
precisarão fazer aborto, mesmo que possam, porque terão responsabilidade e
saberão evitar uma gravidez fora de hora. Se uma adolescente engravidar, o fato
de ser amada, orientada e bem informada, fará com que ela certamente tenha
melhor condição de decidir seu futuro. Ao contrário daquela que recebeu dos
pais apenas repressão e que agora está sendo tratada como uma pecadora, digna
apenas de desprezo e crítica. A chance de a segunda fazer um aborto clandestino
e morrer por causa disso é bem maior do que a primeira.
Anne Graham: Então foi
dito que deveríamos dar aos nossos filhos tantas camisinhas, quantas eles
quisessem para que eles pudessem se divertir à vontade.
Divina: Não devemos “dar camisinhas a nossos filhos para que eles se divirtam à vontade”;
devemos dar camisinhas a nossos filhos para que eles cuidem de sua saúde e da
saúde das pessoas com quem se relacionarem. Foi isso que se disse, esse “se divertirem à vontade” é uma expressão
falaciosa cunhada por uma mente maldosa.
Anne Graham: Então
alguém sugeriu que imprimíssemos revistas com fotografias de mulheres nuas, e
disséssemos que isto é uma coisa sadia e uma apreciação natural do corpo
feminino.
Divina: Não precisamos expor a nudez e o sexo a
nossos filhos, eles os encontrarão por conta própria, estando ou não expostos,
assim como faziam nossos pais e avós, ou será que ninguém sabe do sucesso que
faziam os “catecismos” de
antigamente? Não é preciso ser religioso, e muito menos ficar abanando uma
bíblia na cara de todo mundo, para ser contra o excesso de exposição do corpo e
do sexo, mas é preciso ser honesto para ver as coisas de forma realista.
Anne Graham: Depois uma
outra pessoa levou isso um passo mais adiante e publicou fotos de Crianças nuas
e foi mais além ainda, colocando-as à disposição da internet. E nós dissemos:
"Está bem, isto é democracia, e eles
têm o direito de ter liberdade de se expressar e fazer isso".
Divina: Que eu saiba só doentes fazem isso e só
loucos aprovam. Outra conclusão falaciosa de uma mente maldosa e pequena...
Anne Graham: “Senhor, porque não salvaste aquela criança
na escola?" A resposta dele:
"Querida criança, não me deixam entrar nas escolas!!!"
Divina: E por que não salva as milhares de crianças
que sofrem maus tratos e violência fora das escolas, inclusive dentro das igrejas?
Se fosse mesmo verdade o que os religiosos afirmam o tempo todo: “Jesus te ama”, “Deus é bom”, “Jesus disse:
Vinde a mim as criancinhas”, e outras coisas do tipo; se deus soubesse,
pelo menos, reconhecer que crianças são inocentes e não têm que ser castigadas
por atitudes de adultos; ele entraria sim nas escolas sem que fosse preciso
ficar rezando e citando trechos da bíblia, estaria lá porque “está em todos os lugares”, não é isso
que dizem dele?
Anne Graham: É triste
como as pessoas simplesmente culpam a Deus e não entendem por que o mundo está
indo a passos largos para o inferno.
Divina: Acho triste é que nos culpem por tudo quando
algumas aberrações que acontecem não são em absoluto culpa nossa! E mesmo que
fosse nossa culpa: que raio de deus justo é esse que se vinga nas criancinhas?
Anne Graham: É triste
como cremos em tudo que os Jornais e a TV dizem, mas duvidamos do que a Bíblia,
ou do que a sua religião, que você diz que segue, ensina.
Divina: Duvido sim e não sigo nenhuma religião porque
todas estão cheias de abusos e absurdos, a história de todas elas é um livro
banhado em sangue, e ainda hoje é em nome da religião que se está matando e
torturando gente a toda hora em muitos lugares do mundo! E se fosse seguir a
bíblia como o texto sugere, a raça humana ainda estaria vivendo os negros
tempos da Idade Média e queimando gente na fogueira, gente como eu por exemplo.
Anne Graham: É triste
como alguém diz: "Eu creio em
Deus". Mas ainda assim segue a satanás, que, por sinal, também "Crê" em Deus.”
Divina: É com comentários desse tipo que muitos
religiosos ao longo da história e ainda hoje justificam assassinatos e
genocídios, lembra da aberração chamada Inquisição? De todas as pessoas que
torturavam e queimavam os “santos homens”
diziam que o faziam porque essas pessoas estavam seguindo satanás. Se satanás
existisse teria adorado isso!
Anne Graham: Quando
tentamos enviar algum e-mail falando de Deus, as pessoas têm medo de
compartilhar e reenviá-lo a outros!
Divina: Penso meio que o contrário: Muitos passam a
vida tentando ganhar adeptos para as religiões de plantão e não ouvem, não
pensam, não toleram de forma alguma quem tem opinião diferente: Por mais que a
pessoa seja ética e decente em sua vida e seus pensamentos, se ousa contrariar
essas ideias pré-concebidas, sempre dizem que está falando em nome de satanás.
Compartilham sim e lotam as caixas postais da gente com babaquices religiosas
feito esse texto que estou comentando, mas duvido muito que façam o mesmo com
minhas críticas. Democracia nunca foi o forte da religião.
Anne Graham: É triste
ver como o material imoral, obsceno e vulgar corre livremente na internet, mas
uma discussão pública a respeito de Deus é suprimida rapidamente na escola e no
trabalho.
Divina: Pelo contrário, recebo zilhões de textos
religiosos e orações a propósito de tudo e sou cortada sempre que tento expor
minha opinião a respeito e iniciar uma discussão. Algumas escolas, que deveriam
ser laicas, estão cheias de mensagens e figuras religiosas por todos os lados,
e nelas é comum que se constranja as pessoas, alunos e professores, a rezarem,
no mínimo o “Padre Nosso”, em
qualquer cerimônia, isso quando não transformam eventos pedagógicos em
verdadeiros cultos religiosos. E fazem isso sem o mínimo respeito para com quem
não é cristão, tenha ou não outra religião. A minoria que suporte! Estou
falando com conhecimento de causa, já dei aulas em mais de uma escola assim e
nelas fui a minoria que tinha que suportar e que quando reclamava ouvia
argumentos do tipo “Mas a gente só reza o
‘pai nosso’ que serve para qualquer religião”.
Anne Graham: É triste
ver como as pessoas ficam inflamadas a respeito de Cristo no domingo, mas
depois se transformam em cristãos invisíveis pelo resto da semana.
Divina: Pelo contrário! Estão em todos os lugares:
nas ruas, na internet, nas estações de metrô e até nos campos de futebol!
Ninguém é obrigado a ser cristão, mas parece que tem muito cristão que
simplesmente não consegue entender isso. Fazem suas orações, pregam seus
sermões, enviam seus textos falaciosos, formam rodinhas gritando “em nome de Jesus” a plenos pulmões.
Transformam qualquer tipo de efeméride que reúna pessoas em um mesmo lugar em
culto ou missa, sem o mínimo de consideração pelos outros: reuniões
pedagógicas, festas, comunicados, apresentações culturais e até sessões e
assembleias públicas nas prefeituras, câmaras, congresso e senado. O máximo de
tolerância religiosa verdadeira que alguns conhecem é não rezar a “Ave Maria” em cerimônias públicas por
respeito aos evangélicos.
Anne Graham: Garanto que
Ele que enxerga tudo em nosso coração está torcendo para que você, no seu livre
arbítrio, envie estas palavras a outras pessoas.
Divina:
Como é possível alguém fazer uma garantia dessa? Como alguém pode ter a
pretensão de saber se e o que deus pensa, vê ou quer? É muita pretensão mesmo!
Anne Graham: Onde existe
Deus, SE existir fome, encontra-se o alimento; se existir dor, encontra-se o
remédio; se existir guerra, pode-se estabelecer a paz; se existir problemas,
haverá, também, as soluções; pode-se estar só, mas não há solidão. Onde Ele não
está, a fome mata, a dor enlouquece, a guerra dizima, os problemas são senhores
e a solidão é companheira, mesmo no meio da multidão.
Divina: Com tanta gente morrendo de fome, doença,
pobreza, frio, calor, guerras, desastres naturais e não-naturais, não consigo
acreditar nesse tal deus de bondade, é muita utopia pra mim! Mas, se ele
existisse, eu juraria que não está em lugar nenhum por aqui. Afinal, em todos
os lugares da terra, inclusive igrejas e templos, encontramos com a maior
facilidade esses horrores que o texto enumerou como existentes apenas na
ausência de deus. E de um deus que dizem ser onipresente! Haja contradição!
Anne Graham: Deus é o
único que sempre tem os braços abertos para nós, quando o procuramos,
arrependidos, independente do que tenhamos feito ao abandoná-lo e por quanto
tempo estivemos afastados.
Divina: Disso daí eu também não consigo ver muito
não. Essa semana mesmo um senhor que trabalha na escola onde dou aulas e que é
negro, humilde, pobre, sofrido, religioso, educado, gentil e bondoso ao
extremo, uma daquelas pessoas cuja convivência faz a gente acreditar mais na
beleza do ser humano; pois bem, esse senhor viu morrer seu filho de 15 anos. Um
menino que sempre foi bom filho e bom aluno, mas que teve um câncer na perna e,
embora tenha tido por mais de dois anos as orações, os desejos, os votos e tudo
o que poderia ter de seus pais e de todos nós, amigos, conhecidos, parentes e
colegas, não conseguiu evitar que o câncer se alastrasse até não ter mais
possibilidades de cura. Não consigo encontrar nesse senhor algo que o faça
merecedor de um castigo desse tamanho; e ele é só um exemplo entre milhões e
milhões. Aí me vem tentar convencer de que deus é bom, não falha, não nega o
pedido de quem o procura, e outras tantas mentiras do tipo? Desculpe, não sei
acreditar nisso! E não sei pelo simples motivo de que isso não faz nenhum
sentido.
18 de fevereiro de 2022
SOBRE NÃO VOTAR, ANULAR, VOTAR EM BRANCO, ETC.
“Se votar fizesse alguma diferença, fariam-no ilegal”
Essa é atribuída a Emma Goldman, talvez ela tenha sido a primeira pessoa a dizer isso, não sei e não sei se importa.
Embora eu goste muito da ideia de ter sido uma mulher a primeira a ter essa “sacada”.
De qualquer forma, o que quero dizer é que concordo com muitos dos argumentos das pessoas que escolhem não votar.
Tanto concordo que passei muitos anos sem votar.
Eu morava no Rio, transferi meu título para São Paulo e só justificava.
O que eu dizia na época era:
“Quando surgir um candidato que mereça meu voto, eu vou a São Paulo votar”.
Não o fiz, nem uma vez.
Voltei a morar em São Paulo, mas longe o suficiente para continuar justificando.
Parei de votar quando vi o Lula apertando a mão do Maluf logo depois de vencer as eleições para o primeiro mandato.
Voltei a votar quando o bozobosta apareceu como candidato à presidência.
Aí atualizei meu título e votei contra ele.
É o que vou fazer agora.
Então, apesar de concordar muito com a Emma Goldman, não acho MESMO que esse é o momento para omissão.
Acho que agora, excepcionalmente, faz diferença sim!
Para usar como exemplo um tema bem atual,
Se não votasse, eu me sentiria tão mal quanto se aceitasse me sentar à uma mesa na qual está uma pessoa com a suástica no braço.
Mesmo que eu não falasse com essa pessoa,
Mesmo que a abominasse,
Eu me sentiria quase uma nazista.
Posso estar exagerando,
Mas quem manda em sentimentos, né?
6 de fevereiro de 2022
EU SOU VELHA, GORDA, FEIA, BURRA E MÁ
Sou velha porque quase toda pessoa é velha aos olhos de quem tem 20 anos a menos. Para uma criança de 10 anos, as pessoas de trinta anos são velhas, e como já passei dos 60, tem muita gente com uma diferença de idade bem maior do que os 20 anos necessários para me ver como velha, independente do que eu possa pensar de mim mesma e do que as pessoas lindas que são minhas amigas possam dizer para me convencer de que não sou velha nem aparento ser (Ah, como são maravilhosas as sinceras mentiras piedosas!). Lembro bem da minha cabeça de 20 anos! Quando me olho no espelho e alcanço o olhar daquela mocinha amalucada que fui, eu me vejo como velha sim, e só não faço muito isso porque nunca gostei de me olhar no espelho. Mas preciso frisar que a maneira como me vejo não tem importância para o raciocínio que estou tentando desenvolver aqui.
Sou gorda porque vivo em uma sociedade que cultua o “corpo sarado” e a magreza extrema, e para esses padrões eu deveria “perder” pelo menos uns dez quilos, acho (Faz muito tempo que não subo em uma balança). E sou gorda porque tenho o privilégio de poder comer o que e quando me dá vontade (excetuando extravagâncias absurdas como as trufas brancas italianas que, de acordo com o Google, é o alimento mais caro do mundo). Tenho vários privilégios que só são privilégios porque muita gente não tem o que deveria ser direito básico para TODO MUNDO; mas esse “privilégio” que tenho é suficiente para aumentar o peso da gente se a gente não tomar cuidado. E eu não tomo cuidado nenhum!
Sou feia porque passei dos 60 e ninguém nessa idade é considerada bonita sem um “ainda” antes (ou como mais uma sincera mentira piedosa das pessoas lindas que são minhas amigas); e sou feia porque minha aparência, embora não assuste criancinhas, não serve nem pra ser escolhida como entrevistada pela Globo em caso de eu estar passando por perto quando acontece algum fato “digno” de trazer repórteres “muito interessados” em saber a opinião das pessoas comuns que testemunharam, transitam ou vivem por ali.
Sou burra porque todo mundo é burro da mesma forma que ninguém é normal, “olhando de perto”, como disse o Caetano. Tem tanta coisa que eu não sei, tem tanta coisa de que sei só uma parte, um pouco, um ínfimo ou um quase nada; tem tanta coisa que eu sei que nunca vou saber, tem tanta coisa que nem tenho capacidade de aprender. E mesmo as poucas coisas que sei, que estudei, que aprendi, que até ensinei, não são conhecimentos totais, não são conhecimentos engessados, e sobre muitas dessas coisas (ou todas elas), meu conhecimento também é limitado. Daí que me julgar inteligente seria uma grande burrice!
Sou má porque pertenço à raça humana que é má em sua essência. E sou má porque estou aqui no conforto da minha cadeira, sob meu teto aconchegante, na companhia e sob a proteção da pessoa que mais amo no mundo depois do meu filho. Fico aqui, toda tranquila e aconchegada, sabendo que o mundo está cheio de dores terríveis, sofrimentos atrozes, injustiças absurdas, carências inacreditáveis e catástrofes monumentais. E eu sequer estou chorando (nesse momento) por tudo isso! Eu sequer estou doando minhas parcas posses para acabar com algum desses tantos sofrimentos. Se eu fosse boa, sairia daqui agora, daria TUDO o que tenho para quem não tem nada e levaria os restos da minha força de trabalho me engajando totalmente a um grupo qualquer que trabalha pela humanidade. Não faço isso e minhas doações não me tiram do conforto que tantas pessoas e tantos seres vivos não têm. Seria muita maldade me consideram uma boa pessoa!
Agora, se eu quiser reinterpretar as palavras, posso inverter tudo que acabei de escrever. Posso dizer que sou uma senhora lúcida e saudável, que sou bonita porque sei sorrir e apoiar, que sou uma pessoa desapegada de imposições machistas e de bem com meu corpo, que sou tão inteligente que já passei em primeiro lugar em um concurso, que concluí a faculdade sem nunca repetir uma matéria (e outras “carteiradas” bestas do tipo). Posso posar de uma pessoa excelente porque sou uma defensora dos direitos humanos, ajudo quem posso sempre que posso e não me poupo de defender minorias contra maiorias opressoras em meus textos, minhas falas, minhas aulas... Acontece que hipocrisia é maldade, não é?
Então, no final das contas, me limito a ser humana e gosto muito de pensar o pior de mim porque é pensando o pior que a gente consegue tentar não ser tão terrível assim; que a gente consegue melhorar... mesmo que seja só um pouco.