21 de fevereiro de 2021

CARNAVAL E FILME

 


Não sei quanto a você, mas eu nunca fui entusiasta dessa festa, sempre gostei do feriado, como sempre gostei de todos os feriados, mas a festa mesmo nunca me atraiu. Quando jovem eu brincava de ameaçar meu pai dizendo: "Periga de a gente se encontrar em algum salão!". É que eu soube que meu pai (um "galinheiro", típico da sociedade machista), costumava ir a bailes de salão. Ele ficava bravo, dizia que eu não podia frequentar esses lugares, que se me pegasse eu apanharia muito, e eu só ria. A chance na verdade era zero porque eu não gostava de bailes de salão nem fora do carnaval. Fui uma vez, quando ainda era menor de idade, com uma amiga, a um salão da moda da época. Entramos porque a irmã dela trabalhava no bar que tinha lá dentro e ela quis me mostrar como era. Forcei minha amiga a sair o mais rápido possível, mal acabei de tomar minha Cuba-libre gratuita. Um tempo depois, depois que fiz 18 anos e já podia mostrar a identidade, fui mais duas vezes (no auge das discotecas), uma com algumas amigas e outra com o namorado, detestei as duas e não fui mais. Não gosto mesmo de lugares barulhentos e não consigo ver nenhum sentido em ficar me chacoalhando ao lado de uma multidão aglomerada em um lugar tão barulhento que ninguém consegue nem ouvir música nem conversar. 

Mas, quando morei no Rio de Janeiro, eu e meu marido gostávamos de sair às ruas à tarde para acompanhar a pé o pessoal que estava indo para a Rio Branco ver os blocos, às vezes chegávamos até lá, pegávamos uma cerveja e ficávamos um pouco olhando um dos desfiles e depois voltávamos passando pelo Largo do Machado onde a gente via as crianças fantasiadas para o bloquinho infantil que sai de lá. O gostoso é ver as fantasias criativas e a alegria das pessoas. Até ficamos uma vez no gramado ouvindo um pouco do Sargento Pimenta. Também não gosto dos desfiles de escola de samba. Vejo a arquibancada do sambódromo como uma possibilidade de tortura e não de diversão e não tenho paciência para ficar horas na frente da televisão vendo o "Desfile das Campeãs". Mas adoro ver gente feliz!

Mudando de assunto, vi o filme Adú. É muito bom e muito triste. Um daqueles filmes que me provocam sentimento oposto à caminhada das pessoas para ver os blocos no carnaval. É terrível pensar que tudo aquilo é real, que tem muitas histórias como a do filme, e muitas outras piores ainda. Ver aquele cenário de miséria dá uma total desesperança na humanidade. Sempre que vejo filmes que retratam tragédias como exploração, escravidão, miséria, penso que a humanidade nunca será mais do que isso! E penso também que se existisse uma entidade criadora consciente qualquer, ela seria uma coisa tão abominável que superaria minha capacidade de imaginar o abominável só pelo fato de ter criado a vida como ela é. Para mim o maior e mais terrível gesto do personagem deus da bíblia não foi destruir a humanidade no dilúvio nem mandar Josué cometer genocídio. Foi dizer "Faça-se a luz".

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