Faz um tempo que me encasqueto quando
leio ou ouço a frase "perdemos a capacidade da empatia". Será que
perdemos a capacidade da empatia mesmo? Olhando para a história da humanidade
minha tendência é dizer que não podemos perder o que nunca tivemos.
Empatia ao próximo (próximo
mesmo!) é característica antiga da raça humana e até de outros animais, mas
empatia como raça (pela raça) nós nunca tivemos. Uma pequena tribo encontra
outra pequena tribo e surge logo uma guerra. O que quero dizer é que somos
empáticos apenas em âmbito muito restrito, como família, como grupo, não como
raça. Dessa forma não somos empáticos nem nunca fomos, por isso não perdemos a
empatia, não a adquirimos nunca e talvez nunca o façamos. Algumas pessoas têm
esperança de que isso aconteça um dia, mesmo que seja depois de muito tempo,
quando elas já não estarão vivas, eu sou pessimista demais para acreditar que o
ser humano vai se tornar esse animal que "ama o próximo como a si mesmo"
até quando o "próximo" pertence a outro grupo distante ou
diferente. E há muitas maneiras de um grupo humano ser visto por outro grupo
humano como "distante" e como "diferente", e tantas mais
são inventadas de tempos em tempos.
Uso a palavra “raça” no sentido
de raça humana, o único sentido que cabe a essa palavra. Somos uma raça que se
dividiu em grupos e chama alguns grupos de raça em uma separação totalmente
inadequada. De qualquer forma, como raça, continuo dizendo, nunca fomos
empáticos, exceto com os que sentimos como próximos. Sempre tem um grupo que se
separa em "nós" e "eles" para se sentir superior,
escolhido, especial. Isso acontece desde sempre e, a meu ver, vai continuar
acontecendo para sempre até que a raça humana seja parte do passado da Terra.
Tomara que eu esteja errada, mas não acredito que, novamente como raça,
consigamos usar a palavra "nós" para nos referir a todos os seres
humanos do planeta atribuindo a todos os mesmos direitos básicos, de verdade e
não apenas como discurso vazio.
Enquanto existirem fronteiras,
enquanto existir patriotismo, enquanto existir a ideia de que “só o meu deus é
verdadeiro”, enquanto existir a ganância, enquanto existir o "farinha
pouca meu pirão primeiro", não deixaremos de ter as guerras, os países
ricos e os miseráveis, os povos que têm problema de saúde pelo excesso e os que
morrem pela falta, uma única dezena de pessoas detendo a maior porcentagem de
bens disponíveis e trabalhando para acumular mais, os governos que trabalham
para essa dezena e não para a maioria que, iludida, o colocou no cargo. E o que
torna o planeta habitável pela raça humana vai continuar sendo destruído
enquanto essa dezena usará a ciência e todos os avanços tecnológicos futuros (incluindo
os miseráveis que usam desde sempre e que continuarão usando) para dar um jeito
de cair fora do planeta deixando o restante pra trás. De novo e de novo digo:
Torço muito para estar errada, mas não vejo indícios disso. Quanto a odiar os
reaças, penso que eles têm que ser odiados mesmo! Desculpe mas é que só o ódio
aos reaças, a meu ver, tem alguma chance de fazer com que as coisas melhorem. A
tolerância ao intolerante não é uma opção benéfica para os alvos da
intolerância, nunca. Porém, com um restinho de otimismo que consigo reunir,
fico torcendo para que esse ódio não seja o ódio destrutivo que ergue patíbulos
e transforma os "salvadores" em novos algozes. Eu odeio os reaças,
mas não quero matá-los, quero tirar todos os poderes deles, quero que a menor
manifestação de intolerância seja imediatamente rechaçada e o intolerante seja
calado e só lhe seja permitido falar depois de aprender que ele não é superior
a ninguém. Assim como tem cursos para motoristas infratores, quero que tenha
cursos (mais eficientes) de tolerância para humanos infratores. Quero que a
educação seja usada como uma arma para fazer com que as novas pessoas não se
tornem reaças. Esse ódio, eu defendo como um ódio saudável, não acredito que a
raça humana seja capaz dele, mas torço muito para estar enganada e, como
indivíduo, é assim que eu odeio e vou continuar odiando.
2 comentários:
Educação como arma só ensina que aquele que ensina está certo e todos os outros estão errados.
Não sei de onde você tirou isso. Do meu texto não pode ter sido, acho que deixei bem claro que a educação que defendo tem base no respeito, e não existe respeito quando se impõe dessa forma que você sugere no seu comentário. A educação como arma de que falo é o oposto da arma como educação. A arma oprime e exige submissão, a educação liberta e fornece conhecimento para abrir diálogo.
Postar um comentário