Graças a um amigo
descobri que tenho sempre uma posição tomada, uma opinião construída, antes de
escrever um texto e que crio esse texto para refletir sobre minha opinião. Ou
melhor: Escrevo depois de muito pensar no assunto e para que as pessoas que
porventura venham a lê-lo possam refletir sobre essa minha opinião. Acho que é
por isso que nunca me ofendo quando me ofendem, quando mandam e-mails ou deixam
comentários ofensivos nos meus textos: Quando escrevo é porque já refleti muito
sobre aquilo, a ponto de ter segurança e de estar pronta a assumir a
responsabilidade pelo que digo.
Estou, é claro, falando
principalmente a respeito dos meus textos que criticam e até “ofendem as
religiões e deus”. Esse amigo me disse que não posso negar deus
simplesmente afirmando que ele teria que conhecer o mal para julgá-lo. Mas eu
não disse que deus teria que saber o que é o mal para JULGAR o mal, disse que
ele teria que saber o que é o mal para (a partir do nada mais absoluto) CRIAR o
mal. Acho que deus não pode ser inteiramente bom porque, se assim fosse, ele
não saberia ou não teria desejos de que qualquer criatura sua soubesse ou
sentisse na pele, o que é o mal; pelo menos não saberia tão bem a ponto de
criá-lo a partir do nada. Ou ainda, caso soubesse, sua bondade o impediria de
criar esse mal e, mais ainda, de permitir que ele perdurasse tanto tempo. Posso
não precisar saber exatamente o que é uma coisa para julgá-la, mas tenho que
saber, ou pelo menos fazer uma boa ideia do que seja essa coisa para criá-la e,
pior ainda, a gente normalmente cria apenas aquilo que de alguma forma nos
agrada.
E, antes que alguém o
use novamente eu aviso: aquele argumento religioso de que deus não criou o mal
não me convence: Se ele criou, a partir do nada, tudo o que existe, e se ele
tem, como afirmam os crentes, a tal onisciência, então ele obrigatoriamente
criou o mal ao criar o homem ou o tal do anjo que se rebelaria contra ele.
Aliás, a onisciência que atribuem a ele é comprovação por si mesma de que ele
conhece sim o mal, assim como o fato de tê-lo criado e de permitir que esse mal
predomine no mundo comprova que, de alguma forma, ele aprecia o mal. É com base
nisso que afirmo sempre que o deus bíblico, “talmudiano” e “alcorânico”, se
existisse, teria que, obrigatoriamente, ser um sádico.
Tenho outra mania com a
qual muitas pessoas não concordam: julgo muitas coisas como sendo boas ou ruins
e as pessoas não costumam aceitar bem esse meu pensamento maniqueísta; mas é
que não tenho outro parâmetro para julgar e, por mais que as pessoas me afirmem
o contrário, eu não consigo ver os furacões, tornados e outros fenômenos naturais
que causam mortes como outra coisa senão coisas ruins. E por quê? Porque não
apenas alguns mas muitos seres humanos, e não apenas seres humanos mas muitos
animais sofrem e morrem em decorrência deles. Tudo bem que uma árvore não é boa
ou ruim porque ela não tem uma intenção altruísta e generosa no ato da produção
dos seus frutos e na possibilidade de sombra de seus ramos; tudo bem que um
furacão não é bom ou ruim porque não é levado por nenhum tipo de decisão
consciente e ditada pela maldade pura e simples quando destrói; mas um furacão
mata gente, mata bicho, destrói cidades, arrasa casas, ninhos e tocas, por
isso, no meu olhar simples de ignorante habitante do planeta, eu julgo o
furacão como algo ruim e a árvore como algo bom. Não sei fazer de outro jeito,
não sei sentir de outro jeito.
E toda explicação
geológica sobre as placas tectônicas e a pressão interna do planeta não cabe como
justificativa que desabone meu parâmetro de julgamento quando digo que um
terremoto é algo ruim porque estamos falando de deus, lembra? O tal deus que é
ONIPOTENTE e que criou tudo a partir do nada mais absoluto. Pois se existe como
me afirmam os crentes, então ele criou a terra e deu a ela essa condição
geológica que a faria ser, ao mesmo tempo que uma mantenedora, uma destruidora
de vidas. Daí, acho que dá para perceber a que meu raciocínio leva: Não julgo o
furacão ou o terremoto ruins, em si e conscientemente; julgo deus ruim - se ele
existisse - por ter criado o furacão e o terremoto ou, mais especificamente,
por ter criado a terra e dado a ela a condição e a necessidade de que nela
tenha furacões e terremotos.
O que sinto é que todas
as pessoas com quem tenho falado a respeito desse assunto esquecem sempre de
que a ideia de deus não pode ser confrontada com leis físicas já que ele teria,
como criador de TUDO, que ter criado também essas leis. As pessoas colocam as
leis da física, da química, da biologia, da natureza enfim, como se elas fossem
anteriores à existência de deus; mas se elas forem - e disso as pessoas se
esquecem - elas se tornam apenas mais um argumento a favor da minha tese de que
deus não tem como existir; afinal, se ele é todo poderoso não pode estar
sujeito às leis da natureza e, se ele está sujeito a essas leis não é todo
poderoso, portanto não é deus, portanto não existe.
Sem crer em deus todos
os fenômenos se aplicam e se definem como fenômenos pura e simplesmente, sem
que caiba a eles qualquer tipo de julgamento de responsabilidade consciente,
embora eu, como indivíduo, julgue como um mal toda e qualquer catástrofe que causa
sofrimento e ceifa vidas. Mas se admitirmos a ideia de deus, então posso sim
julgar os fenômenos como atos bons ou ruins e, principalmente, julgar com esse
critério o criador de tais fenômenos. Se deus existe e criou o furacão, então
ele é mau porque o furacão é um mal, é algo que destrói vidas no sentido
literal e no sentido poético do termo. Não esquecer que o mesmo que estou
falando de deus por ter criado o furacão posso dizer desse mesmo deus por ter
criado qualquer outro fenômeno natural; e o que estou falando sobre fenômenos
naturais posso falar sobre toda e qualquer coisa que faça mal a algum ser vivo,
desde um vírus até um ser humano. Existem muitas coisas ruins no planeta e, se
deus existisse, ele seria responsável por cada uma delas.
Acho que o fato de eu,
e qualquer pessoa, poder pensar e argumentar com respaldo lógico demonstrando
as falhas do conceito e da ideia de deus comprova que esse deus não existe. Pelo
menos não existe como é definido pelos crentes, principalmente pelos adeptos
das três maiores religiões do mundo. Se ele existisse mesmo e se fosse como o
definem, o mundo, os animais e as pessoas (suas criações) não seriam sequer
parecidos com o que são e, mais ainda, não haveria como duvidar de sua
existência porque ele a teria deixado clara e inequivocamente expressa desde
sempre e através de um veículo confiável, não de livros velhos e plenos de ranço.
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