24 de abril de 2020

MAIS ARGUMENTOS CONTRA DEUS


Graças a um amigo descobri que tenho sempre uma posição tomada, uma opinião construída, antes de escrever um texto e que crio esse texto para refletir sobre minha opinião. Ou melhor: Escrevo depois de muito pensar no assunto e para que as pessoas que porventura venham a lê-lo possam refletir sobre essa minha opinião. Acho que é por isso que nunca me ofendo quando me ofendem, quando mandam e-mails ou deixam comentários ofensivos nos meus textos: Quando escrevo é porque já refleti muito sobre aquilo, a ponto de ter segurança e de estar pronta a assumir a responsabilidade pelo que digo.

Estou, é claro, falando principalmente a respeito dos meus textos que criticam e até “ofendem as religiões e deus”. Esse amigo me disse que não posso negar deus simplesmente afirmando que ele teria que conhecer o mal para julgá-lo. Mas eu não disse que deus teria que saber o que é o mal para JULGAR o mal, disse que ele teria que saber o que é o mal para (a partir do nada mais absoluto) CRIAR o mal. Acho que deus não pode ser inteiramente bom porque, se assim fosse, ele não saberia ou não teria desejos de que qualquer criatura sua soubesse ou sentisse na pele, o que é o mal; pelo menos não saberia tão bem a ponto de criá-lo a partir do nada. Ou ainda, caso soubesse, sua bondade o impediria de criar esse mal e, mais ainda, de permitir que ele perdurasse tanto tempo. Posso não precisar saber exatamente o que é uma coisa para julgá-la, mas tenho que saber, ou pelo menos fazer uma boa ideia do que seja essa coisa para criá-la e, pior ainda, a gente normalmente cria apenas aquilo que de alguma forma nos agrada.

E, antes que alguém o use novamente eu aviso: aquele argumento religioso de que deus não criou o mal não me convence: Se ele criou, a partir do nada, tudo o que existe, e se ele tem, como afirmam os crentes, a tal onisciência, então ele obrigatoriamente criou o mal ao criar o homem ou o tal do anjo que se rebelaria contra ele. Aliás, a onisciência que atribuem a ele é comprovação por si mesma de que ele conhece sim o mal, assim como o fato de tê-lo criado e de permitir que esse mal predomine no mundo comprova que, de alguma forma, ele aprecia o mal. É com base nisso que afirmo sempre que o deus bíblico, “talmudiano” e “alcorânico”, se existisse, teria que, obrigatoriamente, ser um sádico.

Tenho outra mania com a qual muitas pessoas não concordam: julgo muitas coisas como sendo boas ou ruins e as pessoas não costumam aceitar bem esse meu pensamento maniqueísta; mas é que não tenho outro parâmetro para julgar e, por mais que as pessoas me afirmem o contrário, eu não consigo ver os furacões, tornados e outros fenômenos naturais que causam mortes como outra coisa senão coisas ruins. E por quê? Porque não apenas alguns mas muitos seres humanos, e não apenas seres humanos mas muitos animais sofrem e morrem em decorrência deles. Tudo bem que uma árvore não é boa ou ruim porque ela não tem uma intenção altruísta e generosa no ato da produção dos seus frutos e na possibilidade de sombra de seus ramos; tudo bem que um furacão não é bom ou ruim porque não é levado por nenhum tipo de decisão consciente e ditada pela maldade pura e simples quando destrói; mas um furacão mata gente, mata bicho, destrói cidades, arrasa casas, ninhos e tocas, por isso, no meu olhar simples de ignorante habitante do planeta, eu julgo o furacão como algo ruim e a árvore como algo bom. Não sei fazer de outro jeito, não sei sentir de outro jeito.

E toda explicação geológica sobre as placas tectônicas e a pressão interna do planeta não cabe como justificativa que desabone meu parâmetro de julgamento quando digo que um terremoto é algo ruim porque estamos falando de deus, lembra? O tal deus que é ONIPOTENTE e que criou tudo a partir do nada mais absoluto. Pois se existe como me afirmam os crentes, então ele criou a terra e deu a ela essa condição geológica que a faria ser, ao mesmo tempo que uma mantenedora, uma destruidora de vidas. Daí, acho que dá para perceber a que meu raciocínio leva: Não julgo o furacão ou o terremoto ruins, em si e conscientemente; julgo deus ruim - se ele existisse - por ter criado o furacão e o terremoto ou, mais especificamente, por ter criado a terra e dado a ela a condição e a necessidade de que nela tenha furacões e terremotos.

O que sinto é que todas as pessoas com quem tenho falado a respeito desse assunto esquecem sempre de que a ideia de deus não pode ser confrontada com leis físicas já que ele teria, como criador de TUDO, que ter criado também essas leis. As pessoas colocam as leis da física, da química, da biologia, da natureza enfim, como se elas fossem anteriores à existência de deus; mas se elas forem - e disso as pessoas se esquecem - elas se tornam apenas mais um argumento a favor da minha tese de que deus não tem como existir; afinal, se ele é todo poderoso não pode estar sujeito às leis da natureza e, se ele está sujeito a essas leis não é todo poderoso, portanto não é deus, portanto não existe.

Sem crer em deus todos os fenômenos se aplicam e se definem como fenômenos pura e simplesmente, sem que caiba a eles qualquer tipo de julgamento de responsabilidade consciente, embora eu, como indivíduo, julgue como um mal toda e qualquer catástrofe que causa sofrimento e ceifa vidas. Mas se admitirmos a ideia de deus, então posso sim julgar os fenômenos como atos bons ou ruins e, principalmente, julgar com esse critério o criador de tais fenômenos. Se deus existe e criou o furacão, então ele é mau porque o furacão é um mal, é algo que destrói vidas no sentido literal e no sentido poético do termo. Não esquecer que o mesmo que estou falando de deus por ter criado o furacão posso dizer desse mesmo deus por ter criado qualquer outro fenômeno natural; e o que estou falando sobre fenômenos naturais posso falar sobre toda e qualquer coisa que faça mal a algum ser vivo, desde um vírus até um ser humano. Existem muitas coisas ruins no planeta e, se deus existisse, ele seria responsável por cada uma delas.

Acho que o fato de eu, e qualquer pessoa, poder pensar e argumentar com respaldo lógico demonstrando as falhas do conceito e da ideia de deus comprova que esse deus não existe. Pelo menos não existe como é definido pelos crentes, principalmente pelos adeptos das três maiores religiões do mundo. Se ele existisse mesmo e se fosse como o definem, o mundo, os animais e as pessoas (suas criações) não seriam sequer parecidos com o que são e, mais ainda, não haveria como duvidar de sua existência porque ele a teria deixado clara e inequivocamente expressa desde sempre e através de um veículo confiável, não de livros velhos e plenos de ranço.

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