15 de abril de 2020

PROVA DE INEXISTÊNCIA DO DEUS JUDAICO CRISTÃO


Todo ateu sabe que o crente é refratário a argumentos lógicos e que vai dizer que não provei nada, mesmo assim coloco aqui alguns exemplos de paradoxos que tornam deus um quadrado redondo e, portanto, inexistente:
Quadrado redondo um:

Supondo que existisse um Deus único, o Deus de Abraão, por que ele permitiria que o dividissem em três e que em seu nome se criasse e alimentasse tanta rivalidade? O Deus que os adeptos dos três deuses defendem é, para esses adeptos, único e verdadeiro. Para os adeptos de cada uma das três religiões, seu Deus não é o mesmo deus das outras duas, tanto que sua “palavra” é outra, embora os três livros tenham muitos pontos comuns e derivem da mesma raiz. Cada um desses três deuses – que é um único Deus mas que não é visto dessa forma – é descrito como bom; essa divisão, por todos os crimes que fomentou, é um dos maiores males da história da humanidade, não faz jus, portanto, ao que logicamente se esperaria de um Deus bom.

Quadrado redondo dois:

Os teístas afirmam que Deus criou o mundo, criou a vida, e que a maravilha da vida, por ela mesma, é prova da existência, do poder, da bondade e da perfeição de Deus. Eles apontam as belezas e a harmonia da natureza como provas da existência e da perfeição de Deus.

Mas o mundo também tem bastante desarmonia facilmente detectável; guerras são consequências de desarmonias na convivência entre pessoas e grupos de pessoas; muitas doenças são consequências de desarmonias no funcionamento do corpo vivo, de pessoas e de animais; os defeitos congênitos são consequências de desarmonias na concepção e na formação de novas vidas; muitos acidentes naturais são consequências de desarmonias da Terra, desarmonias climáticas, por exemplo. Portanto, a harmonia que há no mundo pode provar a existência dos opostos, não a existência de Deus.

Mais do que a harmonia e a desarmonia, o bem e o mal são os opostos que colocam a nossa compreensão de mundo em cheque. Embora sirva para maravilhar e espantar, embora sirva para deslumbrar e, muitas vezes, para fazer com que a vida, apesar de suas limitações, pareça ser realmente bela; toda a beleza apontada pelo teísta, diante da realidade do mal, deixa de ter validade como prova da existência – e até mesmo da possibilidade de existência – de um Deus criador, onipotente, perfeito e bom.

Quadrado redondo três:

Agostinho define o mal como sendo a ausência de Deus. Se concordarmos com esse raciocínio, caímos em uma armadilha lógica porque essa afirmação invalida a própria definição do Deus cuja existência Agostinho quer afirmar. Vejamos: O mal é a ausência do bem e Deus – o supremo bem – é onipresente. Acontece que se o mal, que é a ausência do bem, pode ser sentido em algum lugar, momento ou situação, então existe lugar, momento ou situação em que Deus não está presente. Se não está presente, Deus não pode ser onipresente.

A resposta do senso comum para essa questão é que Deus não fica onde não permitem sua permanência, ou seja, quando o homem nega Deus está usando de seu livre arbítrio e “fechando seu coração e sua casa para Deus”. Afirmam que, por ter lhe dado o livre arbítrio, Deus não fica com o homem se esse “fechar sua porta para Deus”. Só que depois – ameaçam – não podemos culpar Deus pelos males que entrarem em nosso lar porque foi escolha nossa não permitir a entrada de Deus em nossos domínios.

Esse argumento, embora à primeira vista pareça bastante válido, e sirva para convencer muitos fiéis, é fraco. Não importa a razão por que Deus não esteja num determinado lugar, o fato é que, logicamente, estão afirmando que existem lugares e momentos em que Deus não está presente; e se existem lugares e momentos em que Deus não está presente, Deus não é onipresente. Sem presença, sem onipresença.

A experiência tem mostrado diversas vezes que os males acontecem também para pessoas e em lugares que não estão e que não foram fechados para Deus; a destruição de igrejas e morte de fieis durante os cultos e orações nos terremotos de Lisboa e do Haiti são comprovações disso. Essa realidade parece mostrar que Deus, se existe, simplesmente não está em todos os lugares, ou porque não pode ou porque não quer. Se não está porque não quer, ele não é bom; se não está porque não pode, ele não é onipotente. Perdendo uma de suas características definidoras Deus perderia sua essência; perdendo duas, Deus, como é definido pelos teístas, deixaria de existir. Agostinho não prova a existência de Deus, pelo contrário, mata-o.

Quadrado redondo quatro:

Nenhum argumento teísta que se esforce por apontar o ser humano como responsável pela existência do mal conseguiria fazer isso se repensasse a existência da cadeia alimentar, se repensasse a existência do parasita que devora e mata não somente o homem, mas também os animais, e não somente desde que começamos a caminhar sobre esse chão e a conspurcá-lo com nossos pecados, mas também antes de existirmos como espécie.

Um Deus que consiga sequer imaginar a possibilidade de criar um mundo com uma base de equilíbrio biológico tão terrível quanto a cadeia alimentar se torna um Deus muito difícil de ser defendido até mesmo por novos adeptos de Leibniz. O melhor dos mundos possíveis, diante da visão realista do que é a cadeia alimentar, pode ser visto por qualquer um que defina o mal de forma não egoísta como um mundo tão terrível que certamente não teria sido criado por um Deus de bondade e de justiça.

Quadrado redondo cinco:

É da nossa natureza nos sentirmos diferentes da raça a que pertencemos, por isso a maioria de nós consegue ignorar a própria imperfeição, a própria mediocridade, a própria insignificância e pequenez e, olhando apenas pelo espelho da vaidade, aceitar sem reservas o absurdo de que esse ser que somos possa ser o ápice da criação de um Deus todo poder e todo bondade.

Reconhecer que somos a prova da não existência de Deus é um esforço que está acima da capacidade da maioria de nós. Se pudéssemos fazê-lo, apesar de tudo o que não conseguimos compreender, apesar de todas as maravilhas e de todos os “milagres”, saberíamos que este mundo em que vivemos não tem como ser criação de um Deus perfeito e bom; e mais, saberíamos que nós mesmos, como indivíduos e como raça, não temos como ser o ápice dessa criação e, menos ainda, o único e privilegiado objeto do amor desse criador. Se pudéssemos nos ver como somos, não poderíamos acreditar em Deus.

Resumindo:

Um Deus bom, se um Deus assim existisse, não criaria o mal e não permitiria que qualquer criatura sua, racional ou irracional, por qualquer que fosse a razão, soubesse ou sentisse o que é o mal, ou mesmo uma parte do mal. Um Deus bom que fosse onipotente certamente teria maneiras de ensinar e de evoluir sua criação sem usar para isso a arma do sofrimento imposto e inexplicável. Um Deus onipotente e justo jamais exigiria, ou toleraria, de qualquer de suas criações, essa adoração submissa, humilhante e muitas vezes até vergonhosa, tão comum entre os teístas das várias religiões do mundo e da história do mundo.

Deus, por ser onisciente saberia o que é o mal; por ser bom não criaria – a partir do nada – nem o mal nem outra coisa qualquer que pudesse gerar ou causar a existência do mal. Deus, por ser onipotente, poderia criar um mundo sem o mal ou a possibilidade do mal, ainda que conservando o tão valorizado livre-arbítrio, que os céticos não conseguem ver mas que os teístas afirmam e reafirmam com tanta ênfase.

A maior prova da impossibilidade da existência do Deus dos teístas é a impossibilidade de contestar o fato de que um Deus tão bom como esses mesmos teístas o definem jamais permitiria o mal, e menos ainda que esse mal perdurasse tanto tempo. Esse Deus Todo Bondade, se existisse, teria usado seu infinito poder para criar um mundo em que não houvesse possibilidade da existência do mal. Ou não teria criado nada.

Extraído do meu TCC do curso de pós graduação em Filosofia

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