25 de abril de 2020

O PRINCIPAL MANDAMENTO


Que mundo lindo teríamos se metade dos cristãos cumprisse o que eles chamam de “Principal mandamento do cristianismo” e que já me disseram mais de uma vez ser o mandamento único a que Jesus reduziu os dez do velho testamento “simplificando” assim a maneira de seguir a bíblia

O que eles chamam de “simples” é o “Amai ao próximo como a ti mesmo”, chamam de simples porque não o entendem e não o praticam. Em defesa deles devo dizer que não o praticam por total impossibilidade de fazê-lo. Mentem, mas não é por má vontade, é por ignorância (no bom sentido) e impossibilidade; impossibilidade física, psicológica, mental, de formação, atávica, humana, animal, de praticar o que afirmam praticar. Sim, porque se você pensar um pouco não há como um ser humano amar da mesma forma todos os outros seres humanos. Imagine alguém que ama todas as crianças exatamente como ama o próprio filho; alguém que em situação de pânico e estando os dois juntos se preocupa tanto em salvar o estranho completo quanto o próprio irmão de sangue; alguém que gastaria o último centavo e o último esforço para salvar a mulher da qual ouviu falar da mesmíssima forma e com o mesmíssimo desespero e preocupação que dedica naturalmente à sua mãe doente. Há ou houve no mundo alguma pessoa assim? Sou cética e digo que não, o mais crente e iludido Polyana daria uma dúzia de nomes, alguém menos Polyana, mas ainda assim crente, daria o exemplo de uma ou duas pessoas ao longo da história...

Pois bem, se metade daqueles cristãos que dizem praticar esse mandamento e tentam nos convencer de que isso é simples fizesse mesmo o que dizem fazer, nós, pobres mortais ateus, agnósticos, descrentes e não-cristãos, certamente viveríamos em um mundo extremamente melhor.

Olhei no Google agora e vi que no mundo existem aproximadamente 2,1 bilhões de cristãos, quanto é a metade disso? Arredondando pra baixo teremos um bilhão de pessoas espalhadas pelo mundo, sendo a maioria no ocidente. No Brasil temos aproximadamente 26 milhões de cristãos, novamente dividindo ao meio teríamos, no Brasil, 13 milhões de pessoas amando ao próximo como a si mesmas. Esses 13 milhões de pessoas não permitiriam que elas mesmas passassem fome, sofressem maus tratos, vivessem jogadas pelas ruas, morressem abandonadas; portanto alimentariam todos os mendigos e crianças abandonadas do país, já que, seguindo o mandamento único e simples, amam a cada uma dessas pessoas como a si mesmas. Acho que 13 milhões de pessoas, algumas certamente ricas, poderiam acabar com a fome no país sem dificuldade.

Continuando: 13 milhões de pessoas amando ao próximo como a si mesmas não permitiriam jamais que uma criança vivesse sem lar, é só fazer as pesquisas: Quantas crianças abandonadas temos? Fui pesquisar e vi que existem no Brasil por volta de dois milhões de crianças abandonadas, se cada cristão que ama ao próximo como a si mesmo adotasse uma criança, ou duas certamente não teríamos mais crianças jogadas pelas ruas. Olhando os números: se 13 milhões de cristãos que amam ao próximo como a si mesmos resolvessem adotar todos os menores abandonados do país nem teria menor pra todo mundo, daí os que não adotassem crianças poderiam acolher um mendigo ou um velho, porque existem também pessoas que não são menores mas que estão igualmente abandonadas. Tendo 13 milhões de pessoas acolhendo um ser humano abandonado que eles amam como a si mesmos não teríamos mais pessoas, menores ou maiores, jogadas pelas ruas e praças das cidades brasileiras. Problema resolvido.

Ainda teríamos o problema não menos grave das famílias que vivem em condições que os sociólogos chamam de “linha abaixo da pobreza”. Então esses 13 milhões de cristãos que realmente seguem o principal mandamento, de repente poderiam pegar o dízimo que dão para encher o rabo dos líderes de suas igrejas de dinheiro e fazer uma “desviadazinha básica” aplicando essa grana em recursos para ajudar as famílias, primeiro com o urgente e depois dando cursos, profissionalizando e colocando no mercado de trabalho toda essa gente que precisa alimentar, vestir e educar seus filhos mas não pode. Muitos desses 13 milhões de cristãos que amam ao próximo como a si mesmos são empresários e, portanto, poderiam empregar e pagar salários dignos a essas pessoas que eles amam como a si mesmos.

Agora pensem nos outros países de maioria cristã, muitos desses países são ricos, podem portanto, com sua metade de cristãos que realmente seguem o principal mandamento, não só acabar com esses mesmos flagelos, que em seus países existem em números geralmente bem menores, como ainda ajudar, e muito, a acabar com esses problemas nos demais países do mundo. Se metade dos cristãos dos Estados Unidos e da Europa fossem cristãos que seguem o mandamento principal, eu ouso dizer, e duvido estar errada, que não haveria mais crianças morrendo de fome na África, na China, na Índia... Se pararmos por aí já temos o fim de três flagelos: o menor abandonado, o maior abandonado e a família abandonada. No Brasil certamente, no resto do mundo quase com certeza.

Podemos ainda pensar na “contaminação” que essas providências radicais de metade dos cristãos do mundo teria no restante dos cristãos e até nos não-cristãos. Acho que religiosos de outras religiões e seitas ficariam contaminados e sentiriam que seus deuses também querem deles uma atitude de verdadeiro amor ao próximo, então haveria budistas, xaonistas, umbandistas, wicas, e mais milhões de pessoas contagiadas pelo “amai ao próximo como a ti mesmo” trabalhando em tempo integral para tornar o mundo melhor.

Quantos cristãos ou religiosos de outras correntes, amando ao próximo como a si mesmos, conseguiriam pegar em armas e sair a campo matando gente? Acho que os exércitos do mundo seriam muitíssimo menos violentos, menos letais e mais úteis porque ao invés de estarem os soldados de um país, armados até os dentes, distribuindo tiros e coronhadas para “pacificar” revoltas, estariam os soldados de um país, armados do amor ao próximo, distribuindo sorrisos, alimentos, remédios e esperanças para tornar belas as vidas dos habitantes do seu e dos outros países, pessoas que eles amariam como a si mesmos... Além disso, esses soldados estariam obrigatoriamente bem menos armados; sim porque existem também, e deixariam de existir, pelo menos pela metade, cristãos que dizem amar ao próximo como a si mesmos e que são proprietários, dirigentes, engenheiros, criadores e vendedores de armas.

E olha que nem citei os ateus, os agnósticos, os iconoclastas, os descrente que são vistos por muitos cristãos que dizem amar ao próximo como a si mesmos como seres daninhos, crias do mal e entes não humanos que devem ser eliminados da face da terra ou, no mínimo, perderem o direito de serem considerados como cidadãos mas que tenho certeza, teriam muitos de seus representantes (eu inclusive) de mãos dadas com esses cristãos, trabalhando por esse mundo utópico.
Agora dá pra se perguntar: se metade dos cristãos realmente seguisse o mandamento que dizem seguir e que afirmam ser básico, resumo e simplificação da bíblia, viveríamos ou não em um mundo melhor?

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