7 de dezembro de 2019

A DITADURA MILITAR TEVE UM "LADO BOM".

(O que estou respondendo aqui são falas reais de um defensor desse período)


Reaça: - Todos cantávamos o Hino Nacional todos os dias.

Divina: Nem todos cantávamos o hino nacional todo dia, e a maioria dos que cantavam – eu que só fingia cantar inclusive – não sabiam quanto sofrimento e quanta morte estavam acontecendo naquele exato momento nos porões da ditadura. Aliás, não sabíamos da existência dos porões da ditadura.
E, me desculpe, mas acho que cantar o Hino Nacional não é e nunca foi prova de que vivemos em uma nação civilizada e digna. Nos tempos de Hitler os alemães cantavam o Hino Nacional. Nos tempos de Franco os espanhóis também o faziam... e acho que posso dizer sem errar muito que o Hino Nacional de cada país nunca foi tão cantado quanto nos piores tempos das piores ditaduras.

Reaça: - Respeitávamos nossos professores, os policiais, nossos pais e as autoridades em geral

Divina: Respeitávamos os professores porque tínhamos recebido uma boa educação EM CASA e não por causa dos militares. Respeitávamos os policiais porque não sabíamos o que eles estavam fazendo. Respeitávamos nossos pais porque se não o fizéssemos seríamos espancados por eles, ou porque eles nos educavam melhor, e, novamente, isso não tem NADA a ver com os militares!
Respeitávamos autoridades em geral porque em geral as temíamos e, na minha humilde visão, respeito e temor não é a mesma coisa. E como temíamos as autoridades ou porque nossos pais nos dariam um tapefe de tirar o fôlego caso não o fizéssemos, respeitávamos. E, novamente, isso não tem a ver com os militares.
Respeitávamos ainda, provavelmente, porque nos ensinavam que algumas daquelas autoridades poderiam nos prender, e se isso tem alguma coisa a ver com militares devia ser porque o medo da prisão, e o conhecimento instintivo desse medo, tinha ultrapassado a censura e, mesmo não sabendo exatamente porque, sabíamos que não era preciso muita coisa para sofrer penas indizíveis. Quando criança muito pequena, naquela idade que os adultos acham uma gracinha e brincam com a gente quando estamos em algum lugar público no colo da mãe, eu aceitava brincar com qualquer pessoa, exceto policiais, minha mãe conta que se um homem fardado se aproximava de mim com brincadeirinha eu danava a chorar. 😊
Imagino que algo semelhante deve ter acontecido com as pessoas nos tempos da Inquisição.

Reaça: - Os militares erraram em alguns pontos, mas estavam perseguindo gente que queria implantar o Comunismo Soviético e Cubano aqui no país

Divina: Será mesmo que você consegue colocar o seu senso de ética, de humanidade e de decência tão longe e torná-lo tão pequeno e insignificante a ponto de poder dizer que adversários políticos devem ser derrotados a marteladas e choques nos testículos?
Fora que se você estudar fontes confiáveis (Não Olavo de Carvalho) verá que a esquerda no Brasil nunca teve o poder e a articulação de que é acusada pelos defensores dessa aberração que você também está defendendo agora.

Reaça: - Os inimigos que os militares queriam derrotar são os mesmos que hoje estão no poder e que fizeram toda essa lambança,

Divina: Desculpe, não sou especialista em história e pouco sei de economia, mas acho que escândalos de roubalheiras e de desvios de dinheiro aconteceram INCLUSIVE nos tempos - na sua opinião áureos - dos militares. Eu sou velha, me lembro de alguns deles de que ouvi falar rapidamente, “an passant”, antes de não ter mais uma palavra a respeito em jornal nenhum. A diferença daquele tempo e de hoje, pelo menos por enquanto, é que naqueles tempos os jornais não podiam publicar, a televisão não podia falar e os juízes não podiam condenar.

Reaça: - Os militares abriram estradas, fizeram pontes, fizeram hidroelétricas, linhas de transmissão, melhoraram portos e aeroportos

Divina: Sim? Não sei dizer exatamente se tudo isso foi assim TÃO verdadeiro e TÃO maravilhoso em todo o país (Lembro da música: “Caía a tarde feito um viaduto e lembro de um viaduto “no ar” que ficou anos e anos envelhecendo e inútil na frente da faculdade onde estudei), menos ainda posso pontuar todos os impactos ambientais, étnicos e sociais que toda essa melhoria proporcionou, mas lembro vagamente de alguns poucos casos desastrosos, como a Transamazônica, por exemplo.
E, que eu saiba, qualquer livro de história pode nos contar quanto custou o “Milagre econômico” que tornou o tempo dos militares tão próspero. Eu me lembro da pobreza e da inflação galopante (muito anterior ao PT) que eram resultado da dívida externa gigantesca gerada pelo “milagre econômico”.
Lembro também de ouvir os adultos fazendo piadas sobre a maravilha de ter altos cargos na Petrobrás: o emprego ideal para ladrões e “amiguinhos” de ladrões. Mais tarde soube que teve gente que denunciou a corrupção na Petrobrás na época da ditadura e teve problemas, como o jornal Pasquim e o Paulo Francis, se não me falha a memória.
Daí vem você e esse bando de revoltados acéfalos agindo como se corrupção na Petrobrás (entre outras) fosse invenção do PT só porque nunca viram ninguém ser preso e condenado antes.

Reaça: - As escolas tinham uma qualidade muito superior ao de hoje

Divina: Tinham sim! Mas tinham também muito menos alunos frequentando, muito mais excluídos. Sou uma das críticas mais ferrenhas do estado atual da educação no Brasil, mas NUNCA, (nunca mesmo!) vou querer que a educação pública melhore à custa da liberdade e da exclusão!
Ah, estudei em escola pública nos tempos da ditadura quando a educação era “muito superior” e meu pai, cada vez que via meus cadernos e livros, ficava horrorizado com a baixa qualidade da educação que eu recebia comparada à que ele recebeu quando tinha a minha idade, bem antes da ditadura e também em escola pública. Será mesmo que militares melhoraram o nível da educação ou só não conseguiram piorar o suficiente porque para isso precisavam de um pouco mais de tempo?

Reaça: - Não sou defensor da repressão e do autoritarismo

Divina: Engraçado você dizer que não é defensor de repressão e do autoritarismo enquanto defende a ditadura militar! Parece muito com um aluninho meu de quinta série (atual sexto ano) que uma vez disse, certamente repetindo o que ouvia em casa: “Não sou racista mas não gosto de negros” ou outro aluno mais velho que disse: “Não sou homofóbico mas se encontrar um viado na minha frente em caceto” e fez sinal de soco com a mão. Essa coisa de negar afirmando parece que virou moda ultimamente... é uma pena!

Reaça: - Olha o que seus "amigos" fizeram

Divina: Você relaciona duas coisas até curiosas como as que meus "amigos" fizeram: Primeiro o estatuto do desarmamento, sobre o qual pouco posso dizer além de que sou contra esse pensamento troglodita e, desculpe dizer mas burro, de que uma arma na mão de cada “cidadão” resolve todos os problemas de violência no país; e a outra é que me lembro vagamente de ter acontecido uma votação a respeito e a “não arma”, se não me falha a memória, ganhou.
O outro ponto que ironicamente você coloca como algo terrível que os meus "amigos" fizeram foi, nas suas palavras, “tentativa de controle da imprensa”. Cara, juro que agora fiquei espantada! Então você defende os militares que CONTROLARAM a imprensa criticando a democracia que, “tentou” controlá-la? Onde foi parar a sua lógica?
De onde você tirou isso de que houve essa tentativa eu não tenho certeza, mas imagino, e nem sequer duvido de que tenha havido algo que poderia ser visto dessa forma, mas acho que a simples existência da Globo e da Veja com suas meias verdades, versões elaboradas e palavras escolhidas para – elas sim! – controlarem o que e como o povão pensa e quem e como o povão ama ou odeia já torna claro que essa “tentativa” não deu muito certo. Esse controle DA imprensa sobre o povo é mais do que prova de que a imprensa pode até estar sob controle, mas não do governo!


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