9 de dezembro de 2019

UMA VEZ EU VI JESUS

             Eu era pequena e estava doente. Estava de cama e minha mãe, para variar, estava desesperada como ela sempre ficava quando um de nós ficava doente. Então eu dormi e sonhei que estava parada, em pé, do lado da cama e que me senti mal a ponto de achar que ia cair, daí eu disse “Ai, meu deus, me ajuda!” e Jesus apareceu na minha frente com um raminho de mato na mão. E Jesus me benzeu igual uma das benzedeiras de onde minha mãe levava a gente sempre. Daí o sonho continuou com Jesus brincando comigo como meus colegas brincavam e acabou. Eu acordei e não estava mais doente. Contei o sonho pra minha mãe e ela, é claro, não teve dúvidas de que Jesus tinha me curado, rezou um monte agradecendo o milagre. 

Eu mesma acreditei nisso durante muito tempo. Mas quando li a bíblia e comecei a questionar a religião, comecei a questionar isso também. Demorou bastante para chegar a uma conclusão porque no começo era bem difícil questionar o que sempre aprendi que não era para questionar. Eram mais pensamentos involuntários que muitas vezes eu afastava rapidamente, mas os pensamentos “hereges” foram se tornando mais teimosos e chegou um tempo em que não fugiam mais quando eu tentava espantá-los.

Leituras de livros de filosofia e de livros religiosos juntamente com outras leituras da bíblia acabaram por me forçar a assumir que a fuga não era mais possível. Eu me descobri ateia depois de pensar em muitas coisas ligadas à religião, entre elas essa vez que vi Jesus.

Pensei melhor nesse sonho e ficou claro que naquele dia a criança que eu era apenas juntou características do Jesus que tinha visto muitas vezes, inclusive em um quadro na frente do qual minha mãe rezava com a benzedeira que era amiga da gente. E concluí também que sarei porque nem estava tão doente assim e sararia de qualquer forma. A continuação do sonho tendo sido tão comum, com Jesus se confundindo com meus coleguinhas de brinquedo confirma totalmente essa certeza.

E, falando como a ateia que sou, se Jesus se deu a todo esse trabalho para me curar de uma doencinha boba, por que não me deixar sarar naturalmente e usar essa energia para curar outra criança que realmente precisava. Morreram, de doença, pelo menos três crianças do meu bairro naquela época.

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