Resposta
a um texto sobre a infância de antigamente (que transcrevo abaixo):
Eu cresci comendo a comida que meus pais podiam
colocar na mesa, e se tivesse algo que eu não gostava tinha que comer mesmo
assim. Se não comesse apanhava porque "Criança não tem querer!".
Fui obrigada a respeitar meus pais e dizer sim
mesmo quando eles estavam errados porque "Criança não responde!", e
tive que respeitar as pessoas mais velhas mesmo quando eram velhos FDP porque
"Criança não tem opinião!"...
Tive TV só na adolescência, antes disso tinha a
"televizinho" que nem sempre era uma boa porque em geral
“televizinhos” não eram lá muito bem-vindos - exceto na primeira vez, quando os
proprietários exibiam a televisão nova com os ares de “Eu tenho, você não
tem!”.
Criança não escolhia canal, sentava no chão e, se os
donos da casa serviam alguma coisa boa de comer, serviam para os adultos, não para
as crianças. Tínhamos que “engolir” o desejo e ficar quietos porque
"Criança não fala na casa dos outros se não apanha quando chegar em casa!".
Antes de sair para a escola eu não arrumava a minha
cama porque sempre achava uma boa desculpa para não o fazer.
Apenas mexia a boca para fingir que fazia o
juramento à bandeira e para fingir que cantava o Hino Nacional na escola porque
achava isso uma tremenda babaquice. E ainda acho.
Não bebia água de torneira porque não tínhamos água
encanada, bebia água do poço que minha mãe puxava com um balde preso por uma
corda. Um peso desgraçado que a envelheceu antes do tempo.
Andava descalça ou usava chinelos. Tinha também os sapatos
“de uniforme” – horrorosos e pesadões – quando ganhava de um governo mais
“generoso” em troca do voto do meu pai. Não tinha tênis, nem mesmo baratos. As roupas
não só não tinham marca como muitas delas minha mãe fazia, em alguns casos
reformando roupas velhas que ganhava de algum parente mais afortunado.
Não existia celular, nem tablet e muito menos
computador. Para ler um livro era um trabalho enorme porque a biblioteca da
escola ficava trancada e ninguém podia entrar. Fiquei no pé da inspetora muito
tempo até convencê-la a me deixar trancada lá para poder ler. Estudava à tarde mas
ia para a escola no horário da manhã e ficava todo o período trancada na
biblioteca lendo. Li toda a coleção de Monteiro Lobato assim. Só eu tive esse
privilégio porque fui pentelha demais. Os demais alunos não liam nem podiam
ler.
Lia também os livros de jornaleiro, em geral
histórias de “bang bang”, que meu pai comprava ou ganhava dos colegas da
fábrica onde trabalhava. Cheguei a escrever uma história de “bang bang” quando
bem criança, o título era “A cidade escravizada” e tinha todos os chavões dos
“bolsilivros” do meu pai. E lia os gibis do Tio Patinhas e do Mandrake que ele
comprava para mim desde que descobriu que eu já sabia ler. Amei muito meu pai
por isso!
Não ajudava minha mãe nas tarefas de casa se
pudesse evitar, e evitava sempre que conseguia inventar alguma razão, como uma
"dor de barriga" muito bem fingida. E sim, eu achava que era
exploração porque queria brincar e ler!
Eu tinha horário para deitar, mas dormia a hora que
queria porque aprendi a ler com pouca luz e a sonhar acordada.
Quando tirava boas notas não ganhava presentes, por
isso nunca aprendi a andar de bicicleta e não tinha livros em casa, exceto
raros livros emprestados e – lembrança maravilhosa! – um volume em capa dura
dos Doze trabalhos de Hércules, do Monteiro Lobato que um amigo roubou em algum
lugar e me deu de presente. Não sei dizer quantas vezes li esse livro.
Outro amigo me emprestou A moreninha, do Joaquim
Manoel de Macedo e não teve pressa de receber o livro de volta. Li uma meia
dúzia de vezes, pelo menos!
Estudei contrariando a opinião de que "mulher
não precisa estudar”. Notas baixas não eram castigadas uma vez que não
importavam as minhas notas – porque sou mulher - e sim que eu respeitasse o
professor. Mas para ser honesta não tenho muita certeza disso porque não tirava
notas ruins para saber se seria castigada ou não.
Eu apanhava quando aprontava, ou quando “achavam”
que alguma coisa era minha culpa. Apanhava muito, ficava com raiva e aprontava
outra pior para me vingar da surra. Estava quase sempre marcada de cinta e
achava isso terrível, uma humilhação a que fiz questão de não submeter meu
filho.
Conheci muitas crianças que apanhavam e sofriam
muito mais do que eu. Uma pena que naquele tempo espancamento de crianças não
era um caso de polícia!
Não, não sou revoltada porque meus pais não agiam
assim por mal, eles foram criados dessa forma e faziam o que achavam que seria
o melhor para mim.
Por essas razões eu nunca, nunquinha, jamais vou
endossar essa ideia absurda de que a infância de antigamente era melhor!
Certo que hoje há, em muitos casos, um excesso de
permissividade, mas não é louvando as torturas do passado que vamos melhorar
isso.
Sim, eu sobrevivi, mas não sinto nenhuma saudade da
minha infância, ao contrário do meu filho a quem acho que consegui dar uma
infância bem melhor do que a minha, principalmente tentando sempre não cometer
os mesmos erros dos meus pais.
Ordem, Respeito, Disciplina, Bondade, Educação e
Amor podem perfeitamente existir, se essas coisas formarem uma via de mão dupla,
se formarem não uma lista de imposições, mas uma lista de frutos de uma
convivência saudável. Dessa forma se pode incentivar concordância no lugar da obediência
vazia, puro fruto do medo.
Com amor e exemplos é possível formar uma pessoa
decente que sinta saudades da infância que teve e que não fique pensando que é
preciso espancar crianças para ser um bom pai ou uma boa mãe.
Por um mundo onde não haja só direitos e deveres. Nem
para as crianças, nem para os adultos que as têm sob sua guarda.
O texto que originou
minha resposta (Não sei quem é o autor):
Eu cresci comendo a comida que meus pais podiam
colocar na mesa, sempre respeitei meus pais e as pessoas mais velhas... Tive TV
com 7 canais e não mexia para não quebrar, e antes de sair para escola arrumava
a minha cama...
Fazia o juramento à bandeira na escola, bebia
água de torneira, andava descalça, tênis barato e roupas sem marca, não tive
celular, nem tablet e muitos menos computador...
Ajudava minha mãe nas tarefas de casa e não
achava que era exploração infantil, tinha horário
para dormir.
Quando tirava boas
notas não ganhava presentes, porque não tinha feito mais que minha obrigação.
Notas baixas era castigo, apanhava quando aprontava e isso era apenas um
corretivo e não caso de polícia!!
E não sou revoltado e
não faço análise em médico, e não falta nenhum pedaço em mim.
Se você também faz
parte dessa elite, cole isto no seu mural para mostrar que sobreviveu.
Menos frescura e mais
disciplina para essa geração!!!! É disso que o mundo e as crianças estão
precisando!
Ordem, Respeito,
Disciplina, Bondade, Educação, Obediência e Amor...
Por um mundo onde não
haja só direitos, mas também DEVERES!
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