DOMESTICADA

Acordar cedo e lembrar
Em cada canto da casa
Sempre tem o que limpar
O que varrer
O que espanar

Começar
A arrumação
Ouvindo rádio
Vendo televisão

Dirigidas à mulher
Só propaganda
“Vem gastar o dinheiro
Que seu marido
Nessa mesma hora
Está tentando ganhar”

Lavar roupa
Encher o tanque
E esfregar
Esfregar
Serviço ruim
Doem braços e costas
Serviço bom
Porque pode
Enquanto isso
Ouvir um disco
Cantar bem alto
GRITAR!

Passar o dia
Nem triste nem alegre
Só passar
Como todos os outros
Passar
Sempre a impressão
De que tanto faz

É claro que tem o filho
Maravilhoso e peralta
Que dá momentos
De enorme ternura
E até mesmo
De felicidade

Tem também o marido
A pessoa de quem gosta
Muito
Ele vai chegar logo
À noitinha
Cheiroso de fábrica
Gostoso de rua
Quente de outras pessoas

Mas tem a janta pra fazer
A criança pra atender
E quando finalmente
Pode se deitar
Tem o cansaço

O sexo silencioso
Não é mais tão bom
Invariavelmente percebe
Não sabe mais namorar
Não pode mais ser romântica
E precisa dormir
Porque amanhã
É outro dia
Igualzinho a hoje