27 de setembro de 2020

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO

Era uma vez um ser em tudo diferente
De todo ser conhecido
De todo ser existente

Mas espera!
Ainda não existiam seres
Não existia o bicho
Não existia a pedra
Não existia o homem
Só existia o ser diferente
Mas diferente de quê?

O ser não estava bem
Porque estava sozinho
E resolveu criar um brinquedo
“À sua imagem o fez”
À sua imagem quer dizer
De modo a satisfazê-lo
Contendo todas as coisas
Que queria ter
Para melhor brincar
Suas necessidades satisfeitas
Seu passatempo criado
Sua diversão garantida
Nessa criação bem cuidada

“E viu o ser que isso era bom”

E no brinquedo do ser
Colocou ele outros seres
Em nada parecidos consigo
Pois que era diferente
De todo ser existente
E os seres que criou
Eram pobres eram toscos
Pouco podiam fazer
Mas podiam adorá-lo!

E esse ser fez no brinquedo
Como parte integrante dele
Constar temperos de sal e pimenta
Constar alegrias de açúcar e mel

E os seres desse ser eram tão bobinhos!
O adoravam sem assumir
A existência da pimenta
O adoravam sem assumir
A existência do sal
Viviam a esperar pelo mel
A desejar o açúcar
Que tão poucas vezes tinham
E só para uns poucos dava

É que esse ser era um glutão
Que adorava os doces
E consumia todo o mel
Deixando cair apenas
Uma ou outra gota
Entre os seres que criou
Enquanto com eles brincava

Jogava a pimenta e ria
Jogava o sal gargalhava
Pois que era muito divertido
Ver aqueles serezinhos
Se retorcendo e vazando
E ao mesmo tempo rezando

Dos doces multicoloridos
De açúcar lambuzados
Esse ser deixava às vezes
Sem querer e sem vontade
Que alguns grãos alguns farelos
Algumas migalhas poucas
Caíssem sobre o brinquedo

E se a migalha fosse
Suficientemente grande
Suficientemente sólida
O ser rápida e desastradamente
Enfiava as mãos ávidas
Entre suas criaturas
Para recolher de volta
A migalha que caiu

Mas sua mão era gigante!
E alguns seres esmagava
Outros feria de morte
Outros mais tarde matava
Na ânsia por lhes roubar
A migalha de açúcar perdida

O tempo passou e um dia
Não houve mais sal
Não se derramou pimenta
De mel não se teve notícia
E as migalhas de açúcar
Deixaram de aparecer

Abandonadas a si
As criaturas criadas
Como brinquedos do ser
Se viram abandonadas

Sem saber morriam de tédio
Porque o ser que os fez
Muito gordo inchado e feliz
Morreu de diabetes

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