21 de setembro de 2020

GUERRA FRATERNAL

A vida é luta
Disso todos sabemos
Mas quem vence?
Às vezes
Nos momentos de maior otimismo
Nos sentimos vencedores
Outras vezes
Quando tudo em nós parece inadequado
E ao nosso redor tudo parece insuficiente
Sentimos que jamais podemos vencer
Não conhecemos o inimigo
Não há inimigo
O inimigo somos nós mesmos
Já o dizia Borges

E quando o inimigo é o outro?
Quando esquecemos o primeiro mandamento
E o invertemos odiando o próximo
Como não ousaríamos odiar a nós mesmos?
Nesses momentos
Como gatos
Expomos nossas garras
Como cobras envenenamos nossos dentes
E nossas línguas
Como medusas fixamos nossos olhos
E atacamos a nossa imagem ao espelho
Estamos nos defendendo
De quê?
De quem?

Então a vitória
A derrota
É completa
Quanto mais acirrada a luta
Menor é a chance
De haver vitorioso
Maiores são os estragos
As ruínas
A poeira de ambos os lados
Poeira que invade os olhos e traz as lágrimas
Poeira que invade o corpo e impede a voz
Poeira que invade a alma e apaga a luz da razão

Somos um todo humanidade
E qualquer luta
Qualquer disputa
Qualquer guerra que fazemos
É contra nós mesmos
Se derrubarmos um igual
Derrubamos a nós mesmos
Nos vemos caídos
E porque estamos caídos
Não podemos estender a mão
Para nós mesmos
Porque estamos caídos
Não podemos sentir o gosto da vitória
A humilhação
Pior do que estar no chão
Estendendo a mão por ajuda
É estar olhando a si mesmo nessa posição
A vertical torna-se horizontalmente desconfortável
E no vácuo
No vácuo da razão
Não há em cima
Não há embaixo
Todos nós somos corpos caídos
No chão

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