O mais humano de todos é o índio
Índio-estátua
Estátua quase viva
Tem olhar
Segura um arco
E o usaria não houvesse alguém
Talvez uma criança
Quebrado a flecha que o índio apontava
Sei lá para quem
À frente do índio
Apenas um início de construção
Colunas de concreto se erguem
Nuas e vazadas
Esperando paredes
E o índio aponta sua inexistente seta
Talvez para outro Peri que outrora ali esteve
Em posição de guerra
Seus músculos retesados
Seu belo corpo seminu
Integrado a uma natureza demolida
Como um dia será demolido
O pedestal onde agora repousa
Meu índio
Pego uma folha de papel
Um lápis
Sentada no chão tento desenhá-lo
Devo usar o vermelho saudável
De sua tez ensolarada
Ou o cinza esverdeado
Lavado de sol chuva e anos
Que vejo agora?
Devo colocar em seu arco a flecha perdida?
Ou a deixo perdida para sempre
Como está?
O importante é captar seus olhos
Os brilhantes olhos de uma estátua
Que não foi sempre estátua
Conserva mais de humano em si
Que qualquer pessoa que passeia
Nesse parque
Devo ou não desenhar esta garrafa plástica
Que alguém
Nem humano nem civilizado
Jogou aos pés do meu índio?
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