2 de outubro de 2020

TRISTEZA

Eu estou deitada
A posição horizontal
Velha como o mundo
Me deixa pequena
Me arrasa
Me obriga a sentir

Meus pés morrem sob os cobertores quentes
As unhas vermelhas são sangue poético
Sangue químico com cheiro de perfume
São a alegria da inutilidade
Do não sei pra quê

Meus olhos indecisos não sabem
Se ficam abertos ou fechados
Se fechados
Pensam inutilidades fúteis
Sonhos que nunca existirão
Se abertos
Passeiam pelo quarto e apagam a mente
Devagar
Conseguiriam sorrir
Se aquela maldita glândula
Não resolvesse trabalhar

As imagens molhadas embaraçam
Minha garganta fabrica um nó
Aranhas fazem teias dentro de mim
O filho que não tive tenta me consolar
Sou um vazio sem coração ou cérebro
Sem nada

A auto piedade
Pensa que pode se chegar
Mas a esperança 
Quase soterrada 
Consegue dar-lhe um piparote
E meu corpo se lança no ar
Ponho-me na vertical
Deixo duas manchas transparentes no chão
Duas mínimas poças d’água
Onde Alice nenhuma se afogará

Saio cantando “Gota de sangue”
E me sinto derramar na vida
O buraco aumenta de tamanho
E meus lábios se colam
Sem poder emitir sons
Apenas aqueles olhinhos
Pequeninos
Aquelas suaves mãozinhas
Fazem cócegas
Na falta do meu coração

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