22 de dezembro de 2020

DOR DE VIDA

A gente acorda de manhã
E falta coragem pra enfrentar o dia
A chuva a enchente a seca
Tem notícia ruim demais
Na chuva falta coragem
De curtir a água na cara
E o frescor das gotas frias
Porque se põe a alma em suspense
A notícia da enchente tira o prazer
Coloca a culpa instala a dor
Na seca falta vida e falta coragem
De dançar a dança da chuva

Gente sai de casa e não volta
Porque tinha encontro marcado
Com uma bala “perdida”
Com um carro desgovernado
Com o fogo de um incêndio criminoso
A gente lê o jornal e se sente baleada
Atropelada incendiada por dentro
Falta ânimo falta coragem
Sobra impotência
Não dá nem pra ver sentido
Em perguntar por quê

A televisão dá notícias
Que derrubam todo bom humor
E qualquer sombra de fé
No ser humano
Um político um dia vai preso
Mas tem cela especial
E tem pizza na saída
A gente se pergunta como
Falar de ética com nossos filhos
Com nossos alunos
Dizer que o crime não compensa
Mas compensa!

No intervalo ouve-se que o brasil vai bem
Porque você vai comprar e consumir
Os produtos coloridos e alegres e felizes
Dói bem no fundo a indignação impotente

Os terremotos chacoalham abalam
Desestruturam também aqui
Dentro de mim
E vou dormir me perguntando
Se terei coragem de levantar amanhã
De levantar a manhã
Falta ânimo falta vontade
Falta um motivo que realmente valha
Falta castigo pra minha culpa
Porque sou humana e faço parte
Cúmplice involuntária
Sinto dor mas eu sou parte

O horror dos acontecimentos do dia
Faz esquecer o horror do dia anterior
Dia após dia a mídia esquece
E a revolta sangra mais
Minha lembrança seleciona alguns horrores
Falta memória pra guardar todos
São tantos!
São tantos...

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