24 de dezembro de 2020

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA



(Visitando Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
De ficar aqui já cansei
Não tenho nada que eu quero
Nada do que desejei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Quero mais é ser feliz
Tô cheio de procurar cura
Pra tudo que é delinquente
Sou quem da vida só apanha
Enquanto ganha o que mente
E ainda põe todo parente
A emagrecer o meu bife
A madame faz ginástica
Pedala na bicicleta
Pra perder um peso brabo
De tanto comer percebo
E toma banhos de mar
Enquanto eu fico cansado
Do trabalho e me arrepio
Como se entrasse na água
Quando tenho que inventar histórias
E contar pra cada menino
Que da vida vem reclamar
Vou-me embora pra Pasárgada
Já estou cansado de tudo
Nessa criminosa civilização
Que só faz construir muro
Pra impedir a invasão
De pobres mendigos velhos reumáticos
Que acaso tenham vontade
De ver as coisas bonitas
Que nunca poderão comprar
Tudo aqui me deixa tão triste
Porque não posso dar um jeito
Dessa gente do poder
Alguma vergonha tomar
Deixar a pose de rei
Tudo que na vida espero
Sei que ter não poderei
Vou-me embora pra Pasárgada

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