20 de dezembro de 2020

CASAMENTO

Se o tesão existisse misturado
Unido casado com o amor
Tudo estaria salvo
Não é preciso que o amor apareça
Nessa mistura pode estar tão embrulhado
Em tesão
A ponto de se tornar difícil de identificar
Mas estará lá e será o tempero de tudo
Aquela pitadinha mágica
Que é todo o segredo do prato
Não seria uma massa ensanguentada por dentro
Seca desértica amortecida por fora
Teria prazer esperança e uma razão
Mesmo que indizível
Para tentar

Mas não existe nem vestígio de amor
Ele não está misturado ao tesão
Porque mesmo o tesão vai evaporando
Sobrará ao final um resto de água
Insossa e sem uso
Que será virada no ralo mais próximo
E esquecida de imediato

Não existe nada
Não existe ninguém no sonho
O sono é pesado e dolorido
É pouco e triste e tenso
E não dá ao corpo o descanso esperado
Não raspa da alma esse ranço de fastio
Não tem esperança não tem saudade
Não tem desejo
Quer ser deixada em paz
Mas não tem paz
Quer ser abandonada
Mas recusa-se a morrer

Sabe tudo que voa invisível a seu redor
Sabe-se alvo de amores e ódios inexplicáveis
Alguns aconchegantes e bons
Outros tão inexplicáveis quanto inúteis
Mas sabe-se solitária sabe-se inutilizada
É uma deficiente espiritual
E o amor que um dia pensou sentir
Nem como falso pode ficar dentro de si

Não tem o que dar não sabe mais receber
Uma mão passeia pelo seu corpo
E essa mão não tem ossos
É a mão gelada da tortura do desamor
É sensual desumana e a deixa fria e muda
Tem sono tem tédio
Tem o mundo se dilatando dentro de si
E não sabe crescer o bastante para conter tudo
É tão pobre!

Oh Deus socorra-a
Porque nem sabe mais chorar!

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