Quando a boca se movia
O batom falava
- Tanto de nada dizia!
A sombra
era azul-bem-clara
Quando os
olhos se moviam A sombra enxergava
- Era tanto de nada que via!
O pó
marrom-clacê
Cobria da
pele as falhas Quando o rosto se mexia
O pó-compacto expressava
- Expressão tão plástica ficava!
E havia o
perfume
“Gloriosa
composição Com notas de chipre
mais essências florais
E um leve toque amadeirado”
Quando o corpo deslizava
Pelos salões elegantes
O perfume deixava ver
A sombra de nada
A esvair-se no ar
Roupa de grife
“Alta costura Prêt-à-Porter
O vestido que rebola sozinho”
O que está dentro
Quem quer ver?
O sapato de marca
“Scarpin legítimo italiano”
O pé que quase não andava
Quando pisava as almas humildes
Só “vestia” do melhor
A bolsa Louis Vuitton
Comprada em Paris
Champs Elisée...
Igualzinha as imitações!
Carregava a chave
Do apartamento vazio
Nas fotos da revista Caras
Nas colunas sociais
Lá estava o nome sem pessoa
O adjetivo sem sujeito
As marcas, as grifes
Os vazios que se uniam
Para definir ninguém
E agora o obituário
Um quadrado negro entre vários
Traz nomes, mentiras
E definições de genealogia
O fim do conjunto batom
Sombra, pó, perfume, grife
Que pelas colunas fluía
Todas as marcas que esculpiam
Aquele nada ambulante.
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