30 de junho de 2020

MANDAR E SER MANDADA


Eu sempre odiei que mandassem em mim!

Desde criança detestava ouvir coisas como “Você tem que obedecer!”, “Vai fazer isso porque eu mandei!” e outras frases do tipo que pais costumam dizer aos filhos. Às vezes eu não obedecia só de raiva pela ordem, mesmo sabendo do risco de apanhar. E muitas dessas vezes eu apanhava mesmo, por desobediência.

Quando era uma mocinha “espevitada” (como as vizinhas fofoqueiras me denominavam), comecei a namorar um rapaz de quem gostava muito. Eu estava apaixonada, fiquei apaixonada um bom tempo antes de conseguir que ele me desse atenção a ponto de querer ser meu namorado, eu estava feliz.

Então, em uma tarde de domingo, fui à casa da irmã dele, onde a gente se encontrava, muito usando uma saia. Quando a gente ficou sozinho ele me disse que não era para eu usar mais aquela saia porque era muito curta. Eu perguntei, para conferir, se ele estava mesmo mandando que eu não usasse a saia, ele confirmou que sim, ele me proibia de usar saia curta como aquela.

Respirei fundo, disse algo como “Ok” ou “Tá bom”, não me lembro bem, e fui para a sala da casa conversar com o cunhado do meu namorado, depois voltei para minha casa.

À noite do mesmo dia fui à casa do meu namorado usando um shortinho jeans bem curto que, segundo minha mãe, mostrava metade da bunda e disse para o, a partir daí, meu ex-namorado: “Eu não aceito nem que meu pai mande em mim, muito menos um cara qualquer, você não é e nunca será meu dono!”.

Confesso que o rompimento doeu, eu estava apaixonada! Mas achei que minha liberdade valia mais.

Ao longo da vida vi muitos casamentos desfeitos ou infelizes e frustrantes por um dos dois ser muito “mandão”. A maioria das vezes os mandões são os homens, mas em alguns casos é a mulher mesmo. Então, assim como não obedeço também não mando, nunca tento controlar e não me deixo controlar, acho isso fundamental.

Não sei se esse é o “segredo” de um casamento de sucesso, eu diria que isso não existe porque as pessoas são diferentes e, consequentemente, os relacionamentos também. Mas eu não suportaria um relacionamento em que um se comporte como proprietário do outro, nem com meu filho me relacionei assim.

Daqui a nove dias eu e meu neguinho comemoramos quarenta anos juntos. Ele nunca sequer tentou mandar em mim. Nessas quatro décadas tivemos brigas sérias, daquelas que me levaram a quase desistir do relacionamento antes de parar, olhar para ele e decidir que ainda o amava , mas e que valei a pena continuar, mas nenhuma dessas brigas foi por ele tentar mandar em mim ou por eu tentar mandar nele.

Mesmo no nosso cotidiano mais rasteiro e simples, esse não mandar é regra: Meu marido não cozinha, se eu resolvo não fazer comida, ele propõe pedir uma pizza, sair para comer alguma coisa fora, nem que seja um lanche na padaria perto de casa ou faz um sanduiche. Se acha que tem algo a ser feito na limpeza ou arrumação da casa, ele faz; se precisa ou quer que eu faça alguma coisa, ele pede e depois agradece. E eu faço a mesma coisa.

          Certamente eu não estaria prestes a completar quarenta anos de vida em comum com um homem mandão, por mais tesudo que ele fosse.

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