12 de junho de 2020

MINHA PRÓPRIA MORTE


Eu acho que morrer deve ser muito legal. Sinto até uma certa ansiedade de que isso aconteça, como quem antevê o que sentirá quando chegar o dia de fazer aquela viagem previamente marcada para um país que não conhece. O mergulho no nada eterno me parece fascinante! Terrível seria o céu cristão: Sentar à direita do deus bíblico me apavoraria! O pós vida das outras religiões também não me agrada. Saber que só o nada está do outro lado é uma das muitas vantagens de ser ateia.

Não me incomoda deixar meu filho e não me incomoda deixar meu neto porque sei que isso é natural, então não me incomoda. Sei que não sentirei falta deles porque serei nada e o nada não sente, então isso me tranquiliza muito: nenhum aperto de saudade, oh, delícia! Meu filho provavelmente sentirá minha morte, e meu neto, se antes de eu ir a gente chegar a conviver, talvez sinta algo, mas a dor vai passar logo porque a mãezinha ou a vovozinha velhinha morrer é normal. A dor amaina mais rápido diante do natural.

O que não quero mesmo é morrer antes da minha mãe, ela sim teria uma dor maior – a maior de todas as dores na minha opinião – e isso sim, dói em mim pensar. Da mesma forma e pela mesma razão, não quero morrer depois do meu filho, como nenhum pai quer embora tantos passem por essa tortura. Seguindo a ordem natural a morte me parece muito boa, muito tranquila, muito agradável. O único medo que me sobra é o medo da dor, a dor que pode anteceder a morte caso ela venha por uma doença ou acidente sério; por isso, tudo o que desejo é que tenha muita morfina se eu precisar.

Ah! e embora não tenha medo, não tenho nenhuma pressa. Ainda tenho muitos livros pra ler.

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