Eu acho que morrer deve ser muito
legal. Sinto até uma certa ansiedade de que isso aconteça, como quem antevê o
que sentirá quando chegar o dia de fazer aquela viagem previamente marcada para
um país que não conhece. O mergulho no nada eterno me parece fascinante!
Terrível seria o céu cristão: Sentar à direita do deus bíblico me apavoraria! O
pós vida das outras religiões também não me agrada. Saber que só o nada está do
outro lado é uma das muitas vantagens de ser ateia.
Não me incomoda deixar meu filho
e não me incomoda deixar meu neto porque sei que isso é natural, então não me
incomoda. Sei que não sentirei falta deles porque serei nada e o nada não
sente, então isso me tranquiliza muito: nenhum aperto de saudade, oh, delícia!
Meu filho provavelmente sentirá minha morte, e meu neto, se antes de eu ir a
gente chegar a conviver, talvez sinta algo, mas a dor vai passar logo porque a
mãezinha ou a vovozinha velhinha morrer é normal. A dor amaina mais rápido
diante do natural.
O que não quero mesmo é morrer
antes da minha mãe, ela sim teria uma dor maior – a maior de todas as dores na
minha opinião – e isso sim, dói em mim pensar. Da mesma forma e pela mesma
razão, não quero morrer depois do meu filho, como nenhum pai quer embora tantos
passem por essa tortura. Seguindo a ordem natural a morte me parece muito boa,
muito tranquila, muito agradável. O único medo que me sobra é o medo da dor, a dor
que pode anteceder a morte caso ela venha por uma doença ou acidente sério; por
isso, tudo o que desejo é que tenha muita morfina se eu precisar.
Ah! e embora não tenha medo, não
tenho nenhuma pressa. Ainda tenho muitos livros pra ler.
Nenhum comentário:
Postar um comentário