13 de junho de 2020

NEM UM DEUS ASSIM EU ACHAVA BACANA


Li um texto no qual deus está “dizendo” como realmente devemos agir. A pessoa que o compartilhou colocou, antes, o aviso de que ”Um deus assim eu achava bacana”. Eu, Divina, como digo no título, não concordo. Minhas razões após cada item das pseudo “orientações” de deus:

Deus: Para de ficar rezando e batendo no peito. O que eu quero que faças é que saias pelo mundo, desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Divina: Você fez “para mim” inclusive as dores, os acidentes, as catástrofes naturais, os predadores, os parasitas, as doenças, os estupradores, os pedófilos, os exploradores, os ladrões, os assassinos, os serial killers? Desculpe, não sei “desfrutar” disso.

Deus: Para de ir a estes templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nas praias. Aí é onde eu vivo e expresso o meu amor por ti.

Divina: Expressa seu amor por mim permitindo que esses lugares sejam povoados por crianças abandonadas, por crianças que sofrem, por animais que vivem de dilacerar outros animais? Desculpe, eu não saberia apreciar esses lugares se acreditasse que pudessem ser a “sua verdadeira casa”.

Deus: Para de me culpar pela tua vida miserável; eu nunca te disse que eras um pecador.

Divina: Nunca te culparia pela MINHA vida miserável, te culparia (se você existisse) pela vida miserável das crianças que você permite que nasçam para sofrer com doenças, má formação, pais negligentes, pessoas capazes de abusar delas e de torturá-las. Te culpo pela vida das outras pessoas que vivem miseravelmente sofrendo efeitos de doenças, guerras, secas, inundações, terremotos e outros horrores que você criou.

Deus: Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos de teu filhinho… não me encontrarás em nenhum livro…

Divina: Se você existisse eu te leria no olhar triste das crianças famintas, te leria nas lágrimas da mãe que vê seu filho morrendo e não pode fazer nada. Na terra tremendo e derrubando casas sobre pessoas indefesas. Eu te leria nos corredores dos hospitais cheios de doentes sem esperanças, nos discursos dos exploradores da fé aos quais você permite vida próspera à custa da miséria que eles exploram. Eu te leria em cada dor vista e conhecida por mim, e te odiaria por isso.

Deus: Para de tanto ter medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem me incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Divina: Não tenho medo de você porque você não existe, mas se você existisse eu teria medo sim, e muito. Teria medo e teria também um profundo ódio e um nojo enorme, porque eu saberia que você é tudo (de ruim), menos amor.

Deus: Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar.

Divina: Eu não te peço perdão, realmente não há nada a perdoar. Comparada com você, caso você existisse e fosse como os religiosos o definem, eu e todos os seres humanos somos anjos de pureza e nossos erros, ou pecados, são apenas resultado da sua maldade, uma vez que poderia nos ter criado perfeitos e não o fez. Você é que teria que pedir perdão e, em nome de cada criança que já sofreu, eu não o perdoaria nunca.

Deus: Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te castigar por seres como és, se fui Eu quem te fez?

Divina: Pois é! Se você existisse VOCÊ é que deveria pedir perdão por ter me feito, por ter criado todos os males, todos os seres maus, todos os sofrimentos, todas as dores. Por permitir que essa fantasia de “livre arbítrio” tenha sido criada e usada como uma desculpa esfarrapada e sem sentido para criar discursos capazes de enganar pessoas crédulas a ponto de fazer com que inocentes se sintam culpados e você, o maior de todos os culpados, seja visto como se fosse inocente e bom. Você teria que pedir perdão e, como disse aí em cima, eu não te perdoaria.

Deus: Esquece qualquer tipo de mandamento, são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Divina: Se você existe e sabe de tudo isso, por que cargas d’água permite, e permitiu desde sempre, que manipuladores usem seu nome para manipular, subjugar, explorar, torturar e matar pessoas usando para isso a desculpa dos seus “mandamentos”? Em existindo, você só pode ser um sádico!

Deus: Respeita o teu próximo e não faças aos outros o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida; que teu estado de alerta seja o teu guia. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Divina: De novo essa fantasia do livre arbítrio! Respeitar o meu próximo não apaga o sofrimento que não tenho o poder de evitar e que você, caso existisse, poderia nem ter criado. Se você existe e o sofrimento do meu próximo existe, então você criou e permite esse sofrimento, portanto, não conte nunca com meu respeito. Não quero seu presente de grego, abro mão desse livre arbítrio mentiroso para que nunca uma criança sofra ou tenha sofrido!

Deus: Para de crer em mim . . . crer é supor, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho de mar.

Divina: Não quero sentir você! Sentir a presença de um ser onipotente e sádico a ponto de ter criado e permitido que se perpetuasse tanto horror quanto o que existe e existiu desde sempre no mundo seria tortura, seria sofrimento, causaria sentimentos de impotência e de raiva em níveis altos demais para manter minha razão e minha serenidade. Sua existência seria algo terrível demais para que eu pudesse sentir qualquer tipo de prazer.

Deus: Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?

Divina: Graças à minha rebeldia que me tornou capaz de libertar minha racionalidade para que ela pudesse olhar e questionar também o que me diziam sobre você, eu não te louvo e não acredito que você seja. E isso me faz muito bem!

Deus: Tu te sentes grato?

Divina: A você seguramente não!

Deus: Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Divina: Tento sempre fazer tudo isso, mas não e nunca com o objetivo de te louvar. Afinal, se você existisse e fosse minimamente digno de algum tipo de louvor, certamente nem eu nem ninguém precisaria cuidar da saúde porque você nunca teria criado as doenças.

Deus: Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. Não me procures fora! Não me acharás.

Divina: Felizmente não preciso tagarelar nada do que me ensinaram sobre você, a não ser para dizer que eram mentiras, mentiras que sequer conseguem ser confortadoras quando a gente se dá o direito de perder o medo das ameaças de seus “representantes” e raciocinar sobre eles, e perceber o quanto esses ensinamentos são absurdos e irracionais.

Deus: Procura-me dentro… Aí é que estou, dentro de ti.

Divina: Mas não mesmo! Você não existe e não está em nenhum lugar a não ser a mente de pessoas crédulas que têm medo demais para te negar, que são carentes demais para abrir mão do privilégio ilusório de ser amado por um ser tão poderoso (mesmo que mau) ou que usam a mentira da sua existência para explorar o outro e se sentir no poder.

O autor do texto disse tê-lo baseado no “deus de Spinoza”

Nenhum comentário: