26 de junho de 2020

REFLEXO

Quando preciso suportar as torturas
Impostas por um espírito mesquinho
Sofro a indiferença
Aliada à suprema raiva da impotência
E nada posso fazer
Tenho esperado
Durante horas longas
O dia do espelho mágico
Que a mesquinhez se autodestrua
Que eu não seja mais torturada
Mas o que posso fazer
Quanto à minha própria mesquinhez?
O espelho mágico me falta
Não tenho nada nas mãos
Além da covardia
Do medo baixo e rasteiro
Medo de empunhar o espelho
Qualquer espelho
E perguntar
Espelho, espelho meu
Existe nesse mundo alguém
Mais mesquinho do que eu?
Tenho resposta pronta a essa pergunta
Mas a resposta não deve ser minha
E o perguntado
Pode dizer-me que não
Que sou extremamente mesquinha
Falsa e pequena
Que a mais insignificante das amebas
Tem mais espírito do que eu
Ou pode dizer que não
Que todos os seres humanos
São igualmente mesquinhos
Eu apenas não tive a sorte
De precisar mostrar minha pobreza de espírito
Aprendi a mascará-la
Para que acreditem que sou diferente
Mas nem eu nem ninguém
Acredita nessa mentira.

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