18 de junho de 2020

ACEITAR O ENVELHECIMENTO


Nunca, nunquinha mesmo, jamais, em tempo algum vou concordar com qualquer elogio que se faça sobre a velhice.

Acho que a velhice é uma merda! 

Uma tortura, um castigo por crime não cometido, uma doença pior do que todas as doenças porque não tem esperança de cura. 

Nesse ponto sou radical. 

Sou velha, estou velha e fico mais velha a cada dia, mas NUNCA serei uma velha conformada. 

Se assim fizesse sentiria como se estivesse de bom grado dando minhas costas para o chicote do mais terrível dos carrascos, sou rebelde demais para aceitar tortura como se fosse prêmio. 

A razão desse meu comentário não está simplesmente na vaidade, nunca fui nenhum exemplo de vaidade. Não uso maquiagem e quando jovem também não usava, quase nunca usava cremes quando era jovem e agora o “quase nunca” virou nunca mesmo.

Estou me lixando se os homens me acham bonita ou feia. Dizendo de forma mais rasgada, tô cagando e andando para o que os homens pensam da minha aparência. Tenho meu neguinho e já ultrapassamos faz tempo essa superficialidade. É ele que eu amo, é ele que quero e só o que ele vê me importa.

Quando falo da velhice não estou falando só da minha e não estou falando só da aparência; essa, na verdade, é a que menos importa (embora importe sim, no geral).

Um exemplo entre muitos e muitos que estão à vista o tempo todo: a senhorinha que entra no restaurante amparada, quase carregada, pela filha. Não consegue caminhar sozinha, não consegue sentar-se sozinha, não consegue falar direito, tem dificuldade para levar a comida à boca.

Eu olho e penso cheia de raiva: "Que pecado terrível pode ter cometido uma pessoa para merecer isso?”

Quer outro exemplo? Uma conhecida que sempre foi uma leitora apaixonada, como eu, um dia me disse o que me fez sentir quase uma dor física: "Não consigo ler mais, a memória não ajuda, quando estou lendo um parágrafo já esqueci o anterior”.

As mil dores, as deficiências, as impossibilidades, o fato de se tornar um peso, a realidade de milhões de pessoas no mundo que estão longe de ser o "exemplo bonitinho" que alguém sempre desencava.

Isso é o que me faz incapaz de ver beleza na velhice.

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