19 de junho de 2020

CIÊNCIA E CRENÇA


Fazer ciência é basicamente levantar uma hipótese, testá-la diversas vezes, de diversas formas e em diversas condições. Somente depois de a hipótese ser comprovada, em geral por evidências muito fortes - porém nunca definitivas e engessadas - a ciência pode fazer uma afirmação; a essa afirmação amplamente testada dá-se o nome de teoria. A ciência está sempre em processo de aperfeiçoamento, as teorias são constantemente testadas e aperfeiçoadas, o tempo todo novas hipóteses estão sendo pensadas e testadas para depois se tornarem novas teorias, aperfeiçoar teorias solidificadas ou serem descartadas. É sempre de uma hipótese que a ciência parte para chegar a um conhecimento e é graças às teorias, ou seja, hipóteses que foram testadas e comprovadas que nós dois estamos aqui conversando por internet. Então nunca diga que a ciência só faz teoria, ou que a Evolução é “apenas uma teoria”; não esqueça de que, quando liga seu computador, você está usando a ciência e suas teorias.

Ao contrário da religião que tem a pretensão de ser a detentora da verdade, a verdadeira ciência não faz afirmações desse tipo: pesquisa, estuda, testa, procura respostas, erra até, mas não empina o nariz para dizer que tem a resposta final. Estou lendo agora o livro do Marcelo Gleiser, o físico brasileiro que é professor universitário nos EUA e um dos estudiosos mais respeitados da atualidade, o livro se chama “Criação imperfeita” e é muito interessante; em nenhum momento o autor afirma que a ciência sabe tudo, pelo contrário, sobre várias coisas ele chega a afirmar que a ciência provavelmente nunca encontrará resposta. Ao contrário dos padres e pastores o bom cientista é antes de tudo, humilde.

Ah, e ter julgado algo certo e depois descobrir que está errado é uma outra característica própria da ciência. No momento mesmo em que um cientista faz uma experimentação e conclui alguma coisa dali, outros cientistas - e até aquele mesmo - já começam a procurar falsear a afirmação obtida. Isso é ciência. A verdade é provisória e tudo é considerado verdade só até o momento em que alguém consiga provar que não é.

E cientistas sempre estão aprofundando estudos e tentando falsear todas as conclusões a que a ciência já tenha chegado porque é quando não se consegue provar a falsidade de uma teoria que se pode confiar nela, e essa confiança é sempre provisória. É isso que vem acontecendo com a teoria da Evolução desde que Darwin a publicou. Até agora ninguém conseguiu falseá-la, apenas adaptá-la e corrigi-la acrescentando mais detalhes e informações à medida em que novas descobertas são feitas com o uso de tecnologias mais avançadas. Para a frustração dos criacionistas, a teoria da Evolução é mais válida do que nunca.

Houve um tempo em que se afirmava que a ciência não valia nada porque não se conseguia criar em laboratório nenhum dos compostos que estão presentes no e que são produzidos pelo corpo humano, um dia um cientista conseguiu processar a ureia, e mais tarde outros cientistas conseguiram processar outros materiais orgânicos e hoje ninguém mais se atreve a duvidar disso.

Não digo que a ciência possa criar vida do nada, nenhum cientista sério diria isso, mas é fazendo perguntas e procurando respostas que a ciência avança, e para quase todas as questões que a ciência levanta se pode dar como resposta a frase: “Quem sabe um dia...”

Essa frase: “Sabe por que a ciência não consegue tal façanha? É porque só Deus pode fazer isto!” Foi dita várias vezes a respeito de várias coisas que hoje são corriqueiras, desde o caso da ureia que contei aí em cima até falar em tempo real com alguém que está do outro lado do mundo; ou voar com um objeto mais pesado do que o ar, ou até clonar tecido vivo. Várias vezes a afirmação se mostrou falsa, não está na hora de os religiosos serem menos prepotentes?

Não acreditar em deus é não acreditar em absurdos; não acreditar na ciência é não acreditar na realidade.

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