No princípio não existia nada, e
com nada queremos dizer nada mesmo, total zero, total ausência. Não existia o
tempo, não existia a forma, não existia a física e nem as leis da física, não
existia natureza, não existia lei da gravidade, não existia matéria. Só existia
deus. E aí vem o primeiro problema: os crentes não aceitam a explicação
científica para a existência do mundo e argumentam que para isso seria preciso
aceitar que algo tão complexo como a natureza e tudo o que vemos à nossa volta
teria surgido do nada, e afirmam, sorrindo "bondosamente" como
se chamassem os cientistas de burros, que isso é totalmente inaceitável; usam
esse argumento para, como dizem, “derrubar Darwin”. Mas esses crentes
conseguem aceitar sem problema que algo como deus, muito mais complexo do que o
universo, surgiu do nada, ou (mais difícil de entender ainda) nunca surgiu
porque sempre existiu. Realmente, olhando dessa forma, os risos sarcásticos que
eles lançam sobre os cientistas ficam parecendo reflexos em um espelho.
Vamos voltar aqui, é coisa demais
pra minha cabecinha limitada entender: Algo tão tremendamente complexo como uma
molécula auto replicante simplesmente não pode ter surgido apenas a partir da
combinação de elementos químicos muitíssimo mais simples que já existiriam em
abundância. Não é possível aceitar que tudo surgiu de uma “sopa” de
substâncias diferentes, em condições propícias, se “relacionando” em reações
diversas, durante milhões e milhões de anos; mas é possível aceitar que algo
complexo, tão complexo, tão tremendamente complexo como deus já existia desde
sempre. Como é que eu posso entender isso? Não posso.
Podemos tentar imaginar toda a
tabela periódica muitas vezes representada e esses muitos elementos zanzando
pelo nada e se combinando, e se descombinando e se combinando novamente e
novamente em milhões de tentativas e formando substâncias mais estáveis que vão
por sua vez se combinando e se descombinando uma e outra vez e muitas vezes até
formarem outras substâncias um pouquinho mais complexas até que, assim, muito
devagar, em muitíssimas tentativas, em combinações e descombinações se vão
formando elementos mais e mais complexos a partir dos elementos mais e mais
simples, e vão, sem pressa, degrau por degrau formando mais e mais elementos.
E esses elementos sempre e sempre
se atraindo e se repelindo, combinando-se uns com os outros e criando elementos
ainda mais complexos e criando juntos as primeiras leis da física vão assim até
que dessas sucessivas combinações se formam moléculas e dessas moléculas se formam
moléculas mais complexas a ponto de formar moléculas auto replicantes, ou seja,
moléculas que conseguem se reproduzir, se dividir em duas outras moléculas
iguais à primeira, e essas moléculas auto replicantes vão se replicando e
replicando e combinando a ponto de produzirem moléculas maiores, e depois
organismos.
Nessas muitas “replicadas”,
as moléculas primeiro e os organismos mais primitivos depois, vão cometendo “erros”,
de repente entre um milhão de “replicadas” uma delas resultou primeiro
em uma outra molécula, mais tarde em um outro organismo, com uma minúscula
diferença da molécula ou do organismo original, por quê? Não sei, de repente na
hora daquela replicação aconteceu que estava passando uma carga elétrica um
pouco mais intensa e essa carga elétrica alterou o processo que estava em
andamento. Mas, carga elétrica? Eu não disse que tinha eletricidade. Não, não
disse, mas tinha que ter, afinal essas duplicações, esses movimentos todos de
substâncias, esse “montão de tabelas periódicas” zanzando no nada tinham
que, obrigatoriamente, gerar eletricidade.
Enfim, do mais simples foi surgindo, muito e muito
devagar, o mais complexo, meio como se a gente imaginasse uma molécula formada
por dois átomos, depois chegou mais um, e depois mais um, e todos diferentes se
juntando e de repente e muito aos poucos teremos moléculas mais complexas
formadas de vários átomos, e essas moléculas começam a se formar com números de
átomos diferentes, com tipos de átomos diferentes, consequentemente com tamanho,
peso, forma e propriedades diferentes (tá vendo as leis da física surgindo
devagar?), e essas moléculas, por sua vez, começam a se aproximar, começam a se
juntar umas às outras formando substâncias de tamanho, peso, forma e
propriedades diferentes, tudo isso muito, muito aos poucos, até que dentre as
moléculas diferentes, num dos “erros” que só acontecem na proporção de
um por milhão, surge uma substância que consegue se reproduzir, consegue
dividir-se em duas e, de repente, voilá! Em lugar de uma substância são duas,
iguaizinhas!
E essas substâncias que conseguem
se reproduzir não têm mais nada a fazer e vão se reproduzindo e se reproduzindo
até que naquela proporção de um erro em um milhão acaba por ter um número
grande de substâncias diferentes que conseguem se reproduzir, e essas substâncias
vão conseguindo se juntar em substâncias mais complexas pouquinha coisa que a
gente já pode de repente chamar de organismo, e esse processo de se duplicar
vai prosseguindo, e esse processo de se unir vai prosseguindo, e esse processo
de um “erro” em um milhão vai prosseguindo e de repente, alguns milhões
de milhões de anos depois eis que temos o primeiro girino nadando nas primeiras
águas.
Impossível aceitar isso? Tá bom!
É mais fácil aceitar que algo tão complexo quanto deus surgiu do nada do que
aceitar que algo complexo como um átomo surgiu de uma poeira de nada e formou
coisas complexas como moléculas que formaram coisas complexas como substâncias
que formaram coisas complexas como organismos, certo? Essa explicação
científica é complexa demais para ser aceita? A de um ser tremendamente
complexo surgido antes de outros seres tremendamente mais simples é mais fácil?
Não sei, a mim me parece que está havendo uma pequena confusão aqui.
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